sexta-feira, 2 de abril de 2010

Retratos de um abandono emocional: Dossier 1: Do teto pra carne

Originalmente nomeado "Love Sea Dolphins".
Eu deitei na minha cama e vi um grande clarão, que me cegou. Era um sol que explodia meu teto e penetrava minha alma, me fazendo transcender a uma consciência nunca antes atingida, marcada pela inexistência do tempo e pela languidez com a qual eu me movia no não-espaço. E tudo isso na minha cama. Era um grande fuzuê. E eu libertei minha mente. E os nomes batiam como martelos nas palavras que saiam hesitantes da minha boca. Eles queriam pará-las e impor a sua pronúncia a minha vida e sair da transcendência numa materialização vulgar da verdade.

Mas eu não deixei, e a música que começou rápida, com vozes e fúria na minha cabeça, se transformou num requiem downtempo, marcado pela inexistência de começo ou fim. Ela sempre havia estado lá, ao meu lado, e foi mero fulgor que me fez desviar os olhos da sombra em prol da consumação que se daria comigo ao olhar pra chama. Eterno enquanto dure o caralho.

Dói até hoje e só troca a máscara. Mulheres são meu Karma. A luz se revelou mera inexistência de sentimento, pois, ainda que bela, era fria. Morra, bastarda! Tudo incomoda agora e essa música feliz e pretensamente indie até me incomoda. Violenzia Domestica, por favor. E de repente vejo luz, um trovão ilumina a janela negra e ela está lá fora, na chuva. Abro a porta, ela me abraça, me beija. Fazemos amor. Quando acordo, estou acorrentado numa cama e há um crocodilo no quarto. Que merda é essa?

Quando o crocodilo abrea a boca, vejo muitas pessoas dentro dele, que lutam para se salvar. Luto contra ele, o submeto. Mato-o. Me banho em seu sangue. Agora sou invulnerável, sou o crocodilo.
Coloco meu terno e saio da casa. Cansei de ouvir mentiras, piranha. É hora de ir embora. Ela corre em minha direção, antes que eu entre no carro. Dou-lhe um tiro, ela cai em cima do capô. Mereceu, por tentar me fazer ser engolido por esse monstro que chamam paixão.

There Shall Be Blood.

Corro até a Igreja, busco abrigo. Vozes gritam em minha mente, chove muito. Tudo é preto e branco. Evidências? Eu as busco. Evidências de quem eu sou, onde estou. Quando acordo, de um sono pesado, estou num buraco no teto de minha casa. Sou pequena chama e sou imortal, eterna, foda-se o poeta.

Viva L'Italia!

Amore, no hai mais jeito. Vou ter de te deixar na terra que te pertences, partir para colher meus damascos na minha terra. Essa invasão, todo esse saque, muito bonito. Ver o cheiro de corações queimados e sentir o cheiro de desolação.

Ao som de: And The Glass Handed Kites (CD) - Mew
Violenzia Domestica - Mr. Bungle

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