sábado, 22 de outubro de 2022

Smite the sounding furrows

 Levei um tempo escrevendo esse texto, que não lembrava que tinha entalado aqui. A música Chapter 37 me lembrou, e o momento me obriga.

Dentre os países que você pode e deve escolher como vive, esse é um dos países mais difíceis de viver. O Brasil faz você realmente enlouquecer. É impossível para um adulto daqui vivendo sem entorpecentes não se indignar pelo menos três vezes ao dia.

O ódio, não o amor, é a maior força que existe no ser humano. É o sentimento mais puro que existe. Mesmo o amor é mediado pelo medo; o ódio não. É impossível fingir que se odeia alguém. Dá até para fingir que você não odeia, mas o monstro sai pela janela quando a consciência dorme.

Não é calando, censurando, fingindo que não existe, recalcando nem brigando contra esse sentimento que será possível vencê-lo. Só compreendendo, acolhendo e sendo maior do que ele, que se consegue eventualmente transmutá-lo. 

Eu amo esse país, infelizmente, muito mais do que eu gostaria. Não apesar dos seus problemas, mas também por causa deles. Eu tenho medo, admito, mas é uma limitação que me faz trabalhar pra ser maior. Por mim e por quem eu posso ajudar. E isso me faz ter um ódio profundo das atrocidades cometidas contra esse povo. 

Porque quando eu olho a fundo, com calma, para cada história dessa galera, eu vejo heróis. Sim, todos nós somos idiotas às vezes, caralho. Mas olha até onde chegamos, mesmo sendo totalmente largados e cegos nesse mundo, sem guia nenhuma. Sem mito fundador, sem histórias e conflitos definidores. Nada. Mães solteiras, avôs padrastos, avós mães, trabalhadores, todos lutando diariamente para fazer uma vida melhor pra si e para quem está do seu lado, estranhos ou não. 

Nós não desistimos. Mesmo com todo esse caos, desaforo, humilhação, e tudo de ruim que insiste em acontecer, tudo que fazemos é continuar se arrastando à força para fora, contra a correnteza. 

Queria acreditar que tudo isso já foi diferente um dia. Que tudo já teve sentido, que fomos uma potência, que éramos imparáveis. Nós fomos a promessa do futuro. Esse futuro continua longe, além do poente, nunca realmente veio. Você até se pergunta se realmente já fomos respeitados por algo, se já fizemos coisas grandiosas, nossa cultura, nossa natureza, indústria, algo. Porque hoje tudo é correr atrás de sobreviver, defender a vida, mas sem viver direito. E isso precisa parar. 

Sei que precisamos nos entender e desfazer essa confusão que plantaram entre nós. Porque isso não veio do nada, tem uma origem, e esse caos todo é bom pra alguns poucos. Todo mundo tem suas apostas, mas no fundo nós não sabemos exatamente quem está ganhando mais. Estamos ocupados demais pra isso. É só o mundo atual; não dá tempo. E eles não querem largar o osso das vantagens ilícitas, vão detonar quem tente peitá-los, mesmo que isso signifique destruir o país. E eles são muito bons em se disfarçar, enganam muita gente boa, faz essa gente lutar por eles no seu lugar. Fingem que são inimigos, mas dançam a mesma valsa juntos.

Eles não são tão fortes quanto parecem. São ilusionistas, fazem essas ilusões para parecerem invencíveis. Quem realmente tem o poder nas mãos, somos nós, cada um de nós, mudando o mundo um pedacinho todo dia. O único poder que eles têm, nós demos, quando acreditamos na palavra deles.

Ódio e medo são dois grandes motivadores, os dois fazem você ficar acordado trabalhando extra. Mas eles só trabalham para você se você os vence. Porque eles tiram, no final, a parte mais preciosa da vida - sua liberdade. E aí você trabalha para Eles. Nosso ódio pelas injustiças e pelos crimes que eles cometem contra nós não pode ser maior do que nosso amor por quem queremos proteger. 

Não sei quanto a voltar a ser algo, mas sei que não é tarde demais para navegar atrás de um novo mundo. Nosso propósito ainda persiste sendo o mesmo - vencer a correnteza em direção ao poente. 

"Embora muito nos seja sacrificado, muito nos aguarda ainda, e embora nós não sejamos a mesma força que um dia moveu os céus e a terra, aquilo que nós somos, nós somos: uma única têmpera de corações heróicos, enfraquecidos pelo tempo e pelo destino, mas fortes na vontade de lutar, buscar, achar e nunca se curvar."

E eu sei que nenhum de nós irá curvar, pois fomos forçados a ver a verdade, e dentro do fundo do coração de cada um, sabemos que uma vida, sem liberdade, não é uma vida.

domingo, 10 de abril de 2022

Sobre a existência de deus em 2022

Not that anyone gives a shit, mas com relação às falácias post hoc, deveria ser óbvio que não adianta privatizar refinarias que foram colocadas espacial e estrategicamente pelo estado para que não competissem entre si - a não ser que você queira que o preço suba. É simplesmente entregar monopólio privado. 

Um plano de abertura de mercado tem que começar pela mudança nas regras base, mas esse governo, como é qualquer governo populista, é pau-mole demais para enfrentar os grupos de interesse que uma reforma de mercado requer. 

E pelo nível que ainda consta nos nossos jornais, nós perdemos tempo demais discutindo com retardado sobre se "deus existe ou não", isto é, sobre se "privatizar é bom ou ruim", invés de analisar a experiência internacional vasta e concluir EM QUE casos e, principalmente, DE QUE MODO, privatizar pode ser bom e ruim. E, principalmente, o que fazer DEPOIS, se é necessário agência reguladora e Como.

Para variar, os profusores de ignorância de sempre se valem dos passos acovardados que o governo dá na direção de mercado para fazer aquele conhecido reducionismo, pois contaminar o debate é necessário para vender ideias merda®, e quem se envenena com elas, dificilmente sai da cracolândia depois. Faz parte do mercado eleitoral vender ideias para gente que quer se achar inteligente. 

O problema é o cara acreditar nisso. Mas o voto faz você decidir em cima disso, e inscrito dentro de uma cultura de massa comportamentalmente positivista (e canceladora), ele te força a uma posição emocional sobre isso. 

Só que ou você defende a academia, inclusive quando ela diz o que você e a sua cabecinha limitada no Dunning-Kruger não gosta, ou você é um cloroquineiro com outra skin. E a experiência internacional sobre privatização é enorme e não é nada simples. 

Mas foda-se a verdade, e foda-se os autores importantes, que dirá artigozinho bunda de economia, na verdade a galera que lê e entende vende curso pra gente que não quer ter o trabalho de saber, pois saber dá trabalho. Se o cara quisesse mesmo entender Chesterton, ele lia Chesterton. O cara que compra cursinho online, vê video no youtube ou fica indo indefinidamente em mil palestras e cursos, fica fazendo mestrado com a barriga de bobeira, o que esse cara quer mesmo, embora não admita, é lançar a braba no churrasco da galera e às vezes uma forma de dar um up na grana no fim do mês. 

Como dizia Schopenhauer, não é um cara que vive pro conhecimento, porém Do mesmo, como uma vaca leiteira. E tudo bem, contanto que ele saiba que a opinião dele é uma merda. Todo mundo tem opiniões merda, é só tratar ela como tal.