sábado, 29 de abril de 2017

Rei d'España

Ele era o rei. Seu reinado, a Espanha.
Não se sabia o quão jovem ele era; apenas que nele – e principalmente dentro dele – a juventude vigorava.
Era um cientista, um estudioso, um amante curioso e vivaz.
Amava, acima de tudo, seu reinado. Não tinha ideia de sua extensão, mas sabia que ali encontrara de tudo: de ódio a idolatria, de idolatria a indiferença, e de indiferença à servidão. Essa mistura de reações e sentimentos fazia da percepção do seu reinado algo vivo, intenso e saboroso. Ativava sua expectativa diária de buscar o novo. A novidade era sua palavra preferida do dicionário. Porém, ainda assim, algo precisava ser conservado. Seu reinado, provavelmente.
Sua corte era composta de amigos e inimigos: bêbados, amantes, pecadores e santos. Pessoas que lhe provocavam dúvidas, diálogos, debates. Por essa corte, seu rei cultivou amor, muito amor. E por muito tempo este amor perdurou.
O rei da Espanha tinha pais e uma irmã que era sua melhor amiga, sua protegida (e seu calcanhar de Aquiles). Seus avós, que lhe permitiram gozar desta casta, altiva no espírito; e isso era o que lhe cativara. Mas até quando estariam lá, distribuindo abraços e afagos? Até quando estariam ao alcance de seu abraço?
Suas cortesãs, tão inconstantes, tão fiéis e tão enigmáticas. O rei desconhecia o dia de amanhã, e isso lhe dava forças para viver e seguir em frente nessa charada deliciosa que é a vida catalã de um bêbado inconsequente e pleno.
A vida, às vezes, dá voltas inesperadas. Nem o rei e nem o papa estão prontos para dar uma resposta a tais desdobramentos. O universo é desenhado sob arestas maleáveis perante os olhos da Ordem e do Caos. E, se dobradas, serás ainda o Rei d’España?
Ele é Emuzandro Garcia Nuñes. Mas também é Porto. E Silvares Corrêa.

E era o Rei de um lugarejo muito especial...