domingo, 12 de fevereiro de 2017

Um post do Facebook que eu desisti de fazer: turbantes e o "movimento negro".

Não tão cedo quanto alguns queriam eu reparei que minhas reflexões eram desprezadas por uma parcela pequena, mas emocionalmente significativa, de amigos no Facebook. Logo, parei de expô-las, porque achava desnecessário ficar entrando em conflito em razão de ideias que advinham da reflexão sobre fatos que, bastando uma pequena pesquisa, eram passíveis de serem descobertos rapidamente.
No entanto, o movimento negro - e falo isso de forma geral, não supondo que todos que lutam contra as mais diversas formas de opressão com base na cor de pele ou composição genética tenham esta posição - está fazendo uma campanha intensa nos últimos dias para afirmar a "propriedade intelectual" (as aspas são para indicar o uso do termo em sentido lato) do turbante pelos povos que diz, em sua representatividade, abarcar. 

Esta arguição de "propriedade intelectual" - e eu já postei isso antes, e isso continua, não sei o porquê, me motivando a sair da minha inércia postativa - carece de QUALQUER fundamento histórico. Os relatos mais antigos do uso do turbante são da região da Capadócia, na atual Turquia, e da Pérsia, atual Irã. A palavra "turbante" deriva do persa! Tudo indica que os turbantes chegaram na África com os invasores muçulmanos. Então, por favor, PONHAM A MÃO NAS SUAS CONSCIÊNCIAS, VOCÊS QUE ALEGAM A EXISTÊNCIA DESSA "PROPRIEDADE INTELECTUAL", e parem de celebrar a cultura de (mais) um invasor. 

Eu realmente acredito que há uma espécie de preconceito insidioso em muitos discursos comuns na sociedade brasileira, um preconceito que não seria propriamente racismo, vez que racismo é uma ideia de certa forma vinculada a um discurso darwinista, em minha opinião (que deriva do meu estudo sobre o tema - que não é nenhum grande estudo, mas que também não é absolutamente desprezível), mais propriamente um clubismo com justificativas de pertença variáveis (classe média alta, classe média branca, classe média parda, classe baixa parda, classe baixa branca, baianos, cariocas, paulistas, palmeirenses, corintianos... Enfim, todos os possíveis clubismos brasileiros), mas sempre hostil aquilo que, em um determinado grupo, não se considera aceitável. Estes clubismos, por vezes, se associam e criam "discursos preconceituosos" contra os de etnia negra ou de composição genética miscigenada e esta hostilidade agridoce, vez que mistura jocosidade e real intenção de ofender, creio eu, deve ser racionalizada e enfrentada sempre em seus excessos. 

Outra coisa que vem me incomodando, e isso deve ser dito, porque se relaciona com o explicitado acima, como o todo no qual a parte se encaixa, é como este mesmo movimento vem pasteurizando a história dos diversos povos africanos, como se a única coisa que marcasse sua significância histórica mundial fosse a escravidão, e como se os povos africanos vivessem antes da chegada violenta dos povos europeus em um Éden, inconscientes do pecado, da guerra, da escravidão e de todas as outras vicissitudes que todos os grandes povos enfrentam historicamente. O desprezo por qualquer coisa que não seja um orgulho étnico absolutamente emulado dos orgulhos nacionais europeus do século XIX faz com que os adeptos - novamente, não todos, uma minoria, minha esperança leva a crer, mas uma minoria barulhenta - ignorem a história de grandes nações de existência milenar, como Mali e Etiópia - para falar só da África subsaariana - e de heróis que lutaram pela soberania dos povos africanos, como Gaddafi (por mais estranho que o sujeito tenha sido, por mais tirânico, seus esforços pela modernização da cooperação política entre os Estados africanos não podem ser esquecidos).

Na verdade, como o feminismo, que é, da mesma forma, muitas vezes manipulado por uma cultura maciçamente voltada para a informação rápida através da criação de palavras de ordem e topoi de discursos facilmente memorizáveis, o movimento negro também está sendo transformado em uma palhaçada onde o idiota, no sentido mais original da palavra, prospera. Essa crítica não invalida a luta nem o combate ao preconceito, muito pelo contrário: é o alerta de um "caro homem branco" que confia na justiça da causa e, mais, acredita na grandeza dos povos da África, o chamado continente negro, aqui lembrado com este epíteto não só pela cor de pele da maior parte de seus habitantes, mas pela nossa ignorância em relação aos processos históricos que nele se deram.