terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

O que não foi dito

Eu acho que entendi por que não conseguia sentir algumas coisas que são apenas perceptíveis aos mais sensíveis.

É por que a dor é grande demais. 

Pra fugir dela, vivemos com sedativo debaixo da pele, sem esperança por uma cura.  
Estivemos sedados mesmo da percepção de qual seria a cura.
E eu não vi que a cura para a dor, obviamente, não poderia ser o sedativo.
Vivendo de colecionar figurinhas de aprovação que sedam a pele quando coladas.
Vivemos de fotos que guardam o passado e não vivemos o presente.

A dor é grande demais. E quando é assim, às vezes o passado continua voltando.
Se eu abraçar a dor, ninguém mais poderá me machucar, por que a dor é parte de mim, eu sei. Mas eu queria mesmo que ela fosse embora, ela é um parente indesejado. 
Um pouquinho a mais um pouquinho a menos não vai fazer muita diferença agora. 
Ou será que vai? Será que parar de alimentá-la, ela morre de fome?
Mas qual é a diferença entre fazer isso e se sedar?

A dor é grande demais. Isso está nas músicas e em tudo mais. 
Quando a gente projeta em alguém ou algo, parece que é um pedaço de nós que vai embora junto com esse algo ou alguém, quando ele vai. 
E a dor é o vazio que resta, como que a carne que falta em uma ferida.
Parece que tem sempre uma ferida sangrando, sempre uma rua por onde eu ando, e esses algos e alguéns, eu sei, nunca voltarão.
E mesmo se eles voltassem, será que a ferida estancaria?

Como eu posso me despedir dessas memórias para viver no presente e cessar a dor, se ela me continua a lembrar delas?
Talvez pudesse ajudar a curar as feridas um pouco de amor. Mas o fato de amar alguém te faz querer que a pessoa seja feliz de verdade, independente de ser com você.

O que não foi dito é que, na verdade eu não consegui evitar de projetar dessa vez, mesmo tendo sido relembrado disso. Eu não consegui evitar nada. Eu estive sob sedativo esse tempo todo.
A ferida sempre esteve aberta, exposta, mas sedada... até que algo encostou na minha ferida de novo.

O que não foi dito é que, na verdade, eu nunca entendi direito nada disso, sempre fui como um moleque curioso que cola adesivos no seu caderno da banda favorita, mas não entende nada de música. Sedado, nem poderia.

O que não foi dito é que eu acreditei cegamente por que eu não tinha outra escolha, era isso ou o fim, e eu me convenci a continuar (eu diria que você me convenceu, mas isso tem cara de projeção). Mas eu não poderia acreditar de verdade em algo que não entendo, e tenho que confessar: duvidei inúmeras vezes de tudo, por conta disso. E é por isso que eu e ele continuamos sem avançar, sem vontade, por que nós não fizemos nada além de nos sedar.

O que não foi dito é que, no entanto eu sou profundamente grato por tudo, mesmo. Talvez isso soe incoerente, mas eu sempre quis dizer isso do fundo do coração e nunca tive coragem.

O que não foi dito é que eu sinto a dor agora. Eu acordei com ela no peito, e na garganta.
O que não foi dito é que eu fiz o que fiz achando que era a coisa certa, mas eu estou morrendo de dor, por que ela não está aqui. Na verdade, ninguém está mais aqui.

No final, sou escravizado pelo meu sonho de encontrar as figuras do passado e reviver os momentos de felicidade, de uma maneira que eu não consigo viver no presente direito. O presente é como um grande sonho torto do qual eu não sei acordar. Achei que soubesse, mas eu só estava me sedando.

O que não foi dito é que eu amo profundamente a todos esses alguéns em quem eu projetei, apesar da projeção. Você com quem eu converso toda noite, vocês que me ajudaram a salvar a mim mesmo, vocês que parecem comigo na dor. Eu sou só um cara e não pude evitar. Eu diria que eu sou mais do que isso, mas eu não sei o que é pra dizer de verdade.

Desculpem, mas a dor era grande demais.

O sofrimento agora acaba, desistindo dele e de tudo que dele vem.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Enfim só

Venho metaescrever da contraditória vontade de se dizer que se está de bem com o silêncio.

Estou sozinho e sem mente ligada. E assim não existe nada. Por que, não sendo eu um indivíduo - como um braço não é - nada pode perceber o resto senão como a si, de uma maneira que não é externa (EX iste), o que faz com que nada exista.

Somos pernas que ouvem sobre os meios dos braços, os quais ouviram sobre os meios dos olhos, que ouviram sobre os meios do cérebro e do coração. Até quando estaremos seguindo os passos de outros?

As minhas projeções nos outros deixam de existir quando eu deixo de existir. Então assim será.

Não interessa a composição àquele que não tem necessidade de se expressar e nem necessita de ouvir senão a verdade que há no silêncio. Assim como a música da vida pode ter inúmeras passagens com propósitos diversos, o propósito da música ainda é a própria música - o propósito divino da criação é ser.

E no silêncio eu não mais existirei, apenas seremos.