segunda-feira, 12 de novembro de 2018

That's allright

Oi. Eu sei que você está aí, e sei porque você está aí. Você não sabe aonde mais olhar. Você viu, já percebeu que há algo errado com o mundo, e infelizmente não há muito o que fazer. Talvez só o tempo, talvez nem isso, possa consertar ele.

É por isso que você passa tanto tempo distraído, perdido entre as imagens e as luzes. É por isso que você procura as músicas, e fica voltando sempre na mesma voz e na mesma melodia. É um pedacinho do outro mundo que você quer, um pedacinho de verdade, um pedacinho de alma. A arte tem esse poder.

Eu quero te dizer que eu também sou um desses. Eu passei muito tempo da minha vida distraído, que nem você. Eu achei várias vezes que eu tinha encontrado, a verdade, a solução, a coisa em si, enfim, mas não. Não tem resposta para o que você está procurando. Você é a resposta.

Não tem lugar nenhum aonde você vá, pessoa nenhuma com quem você se deite, filme nenhum que você assista, essa dor vai continuar com você; e ela vai piorar, pode até ser. Não há outro jeito, é assim que o mundo é. O que eu fiz foi abraçar ela.

Uma vez que você tenta o suicídio pela primeira vez, o pensamento vem te assombrar as vezes, mas você tem medo dele. Quando você chega à beira da segunda vez, não há mais nada que você possa fazer; ele é já uma confirmação. A confirmação de que você quer, desesperadamente, ir embora. Todo mundo quer, no fundo, ir embora. Quem não quer, ou viu algo que nós não vemos, ou perdeu a alma e se tornou uma peça desse xadrez macabro.

Essa sensação nunca irá embora. Eu acho que, e ouso dizer, que nem se você de fato ir embora, essa sensação vai passar. Porque ela é você. Ela é sua alma chamando você de volta. Ela significa que você ainda tem uma.

Tem uma coisa que você pode fazer, e é o que eu decidi fazer. Um estrago. Eu quero deixar um rastro de estrago.

Eu estou morrendo de vontade de ir embora, e às vezes eu não quero sair da cama. Eu não quero falar com ninguém. Eu só quero escrever umas músicas, mas até nisso às vezes o sono ou a dor batem.
Eu decidi que não importa mais o que aconteça, eu vou escrever músicas e deixar elas como um rastro de pão. Para me dirigir a pessoas como você e quem quer mais que esteja escutando, para que você saiba que não está sozinho.

Você não está sozinho. Esse mundo é uma prisão.
Uma prisão para sua alma. E sua mente é parte dela.

Eu estou morrendo de vontade de ir embora, mas eu não vou até que seja a hora de ir. E até lá, eu vou deixar essa dor me queimar e vou colocar ela pra fora em peças de música. Eu não sei outra coisa a que fazer. Nada mais vale apena.

Um conselho, não tente se salvar. Isso não é possível. Eu não sei se você está pronto pra ouvir isso, ou melhor ler isso, mas a parte de você que você quer salvar não é realmente você.

Talvez você esteja deprimido por uma perda, talvez achando que você não tem conserto e não quer mais viver. Prende o nariz por 3 minutos e fique sem respirar. Seu corpo vai gritar "que se foda, eu quero viver". Quem é você que quer ir embora e quem é você que não quer?

Eu digo pra você, que se foda. Que se foda. Faz o que você ama. Você já vai morrer. Você já vai morrer, isso é a única coisa que é certa. Deixe um estrago antes. Prove pra todo mundo que estava todo mundo errado. E se você morrer tentando, você talvez tenha o descanso que sempre quis.