segunda-feira, 26 de junho de 2023

Realm of Blossom

In countless echoes of time's gentle flow,
I question the depth of what I truly know,
With quill-like touch, I trace a map unknown,
Yet my endeavors falter, seeds of unease sown.
I see your face, fraught with hidden fears,
Though you conceal them well, my heart still hears.
I resist the advancing dawn with hurried pace,
But amidst this chase, the wind incite me past frontiers.

For above, a brilliance ever bright,
Unfading, illuminating my path with your light,
If I could only hold your essence near,
Drawn by the world, I'd turn, overcoming fear.

A sigh whispers of seasons yet to come,
Blurring the lines, painting life's web undone,
In that fleeting moment, a question emerges clear,
Why am I here, what purpose doth life adhere?
Beside you, eternally, my heart does yearn,
Captivated by your smile, forever I'll observe,
To dwell within your eyes, unchanging and true,
As fleeting moments pass, trust devoid of rue.

Cloaked in tranquil hues, with tender stroke,
A landscape shared, our souls evoke,
I beseech time to cease its relentless flight,
That we may forever bask, side by side till morning light.

Through vivid seasons, we'll venture far and wide,
To a realm where flowers bloom, a love we'll never hide,
Like snow-born blossoms adorning the sky,
Our souls entwined, ascending on love's wings, we'll fly.

For above, a brilliance ever bright,
Unfading, illuminating our shared delight,
Should that day arise, when seasons call us forth,
To the realm of blossoms, where love knows no worth.

In the tapestry of time, our spirits entwine,
Bound by a love that transcends earthly confines,
Through unfathomable depths, our souls will soar,
And blossom in the realm of flowers, forevermore.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

On the mornings rise

In the hush of night's embrace,
Where smoke and rain converge,
A story etched in scars and grace,
Unfolds with every urge.

With a heart of steel and eyes aglow,
I drift away to find,
Where the child within still longs to grow,
And leave its doubts behind.

And on the winds of morning's call,
A new dawn rises bright,
With newborn gusts that soar and soar,
And leave the past in sight.

So rise, my love, and feel the gale,
That breathes new life within,
And bask in this spring's epic tale,
That makes you pure and clean.

For in my soul, a clarion rings,
A battle cry that's true,
And I am steadfast in my wings,
That I will see it through.

Like raging rivers, wild and bold,
That surge and ebb with might,
So shall the pain that we behold,
Be conquered by our light.

And when the child within you blooms,
And finds its voice at last,
I'll still be here, a steadfast moon,
To light your way so fast.

So soar, my love, and chase the stars,
That guide you to your dreams,
Beyond the meeting of sky and sea,
Is the will of the heart supreme.

And though we may be worlds apart,
Our love will still remain,
A flame that warms all hearts,
And echoes in the rain.

sábado, 22 de outubro de 2022

Smite the sounding furrows

 Levei um tempo escrevendo esse texto, que não lembrava que tinha entalado aqui. A música Chapter 37 me lembrou, e o momento me obriga.

Dentre os países que você pode e deve escolher como vive, esse é um dos países mais difíceis de viver. O Brasil faz você realmente enlouquecer. É impossível para um adulto daqui vivendo sem entorpecentes não se indignar pelo menos três vezes ao dia.

O ódio, não o amor, é a maior força que existe no ser humano. É o sentimento mais puro que existe. Mesmo o amor é mediado pelo medo; o ódio não. É impossível fingir que se odeia alguém. Dá até para fingir que você não odeia, mas o monstro sai pela janela quando a consciência dorme.

Não é calando, censurando, fingindo que não existe, recalcando nem brigando contra esse sentimento que será possível vencê-lo. Só compreendendo, acolhendo e sendo maior do que ele, que se consegue eventualmente transmutá-lo. 

Eu amo esse país, infelizmente, muito mais do que eu gostaria. Não apesar dos seus problemas, mas também por causa deles. Eu tenho medo, admito, mas é uma limitação que me faz trabalhar pra ser maior. Por mim e por quem eu posso ajudar. E isso me faz ter um ódio profundo das atrocidades cometidas contra esse povo. 

Porque quando eu olho a fundo, com calma, para cada história dessa galera, eu vejo heróis. Sim, todos nós somos idiotas às vezes, caralho. Mas olha até onde chegamos, mesmo sendo totalmente largados e cegos nesse mundo, sem guia nenhuma. Sem mito fundador, sem histórias e conflitos definidores. Nada. Mães solteiras, avôs padrastos, avós mães, trabalhadores, todos lutando diariamente para fazer uma vida melhor pra si e para quem está do seu lado, estranhos ou não. 

Nós não desistimos. Mesmo com todo esse caos, desaforo, humilhação, e tudo de ruim que insiste em acontecer, tudo que fazemos é continuar se arrastando à força para fora, contra a correnteza. 

Queria acreditar que tudo isso já foi diferente um dia. Que tudo já teve sentido, que fomos uma potência, que éramos imparáveis. Nós fomos a promessa do futuro. Esse futuro continua longe, além do poente, nunca realmente veio. Você até se pergunta se realmente já fomos respeitados por algo, se já fizemos coisas grandiosas, nossa cultura, nossa natureza, indústria, algo. Porque hoje tudo é correr atrás de sobreviver, defender a vida, mas sem viver direito. E isso precisa parar. 

Sei que precisamos nos entender e desfazer essa confusão que plantaram entre nós. Porque isso não veio do nada, tem uma origem, e esse caos todo é bom pra alguns poucos. Todo mundo tem suas apostas, mas no fundo nós não sabemos exatamente quem está ganhando mais. Estamos ocupados demais pra isso. É só o mundo atual; não dá tempo. E eles não querem largar o osso das vantagens ilícitas, vão detonar quem tente peitá-los, mesmo que isso signifique destruir o país. E eles são muito bons em se disfarçar, enganam muita gente boa, faz essa gente lutar por eles no seu lugar. Fingem que são inimigos, mas dançam a mesma valsa juntos.

Eles não são tão fortes quanto parecem. São ilusionistas, fazem essas ilusões para parecerem invencíveis. Quem realmente tem o poder nas mãos, somos nós, cada um de nós, mudando o mundo um pedacinho todo dia. O único poder que eles têm, nós demos, quando acreditamos na palavra deles.

Ódio e medo são dois grandes motivadores, os dois fazem você ficar acordado trabalhando extra. Mas eles só trabalham para você se você os vence. Porque eles tiram, no final, a parte mais preciosa da vida - sua liberdade. E aí você trabalha para Eles. Nosso ódio pelas injustiças e pelos crimes que eles cometem contra nós não pode ser maior do que nosso amor por quem queremos proteger. 

Não sei quanto a voltar a ser algo, mas sei que não é tarde demais para navegar atrás de um novo mundo. Nosso propósito ainda persiste sendo o mesmo - vencer a correnteza em direção ao poente. 

"Embora muito nos seja sacrificado, muito nos aguarda ainda, e embora nós não sejamos a mesma força que um dia moveu os céus e a terra, aquilo que nós somos, nós somos: uma única têmpera de corações heróicos, enfraquecidos pelo tempo e pelo destino, mas fortes na vontade de lutar, buscar, achar e nunca se curvar."

E eu sei que nenhum de nós irá curvar, pois fomos forçados a ver a verdade, e dentro do fundo do coração de cada um, sabemos que uma vida, sem liberdade, não é uma vida.

domingo, 10 de abril de 2022

Sobre a existência de deus em 2022

Not that anyone gives a shit, mas com relação às falácias post hoc, deveria ser óbvio que não adianta privatizar refinarias que foram colocadas espacial e estrategicamente pelo estado para que não competissem entre si - a não ser que você queira que o preço suba. É simplesmente entregar monopólio privado. 

Um plano de abertura de mercado tem que começar pela mudança nas regras base, mas esse governo, como é qualquer governo populista, é pau-mole demais para enfrentar os grupos de interesse que uma reforma de mercado requer. 

E pelo nível que ainda consta nos nossos jornais, nós perdemos tempo demais discutindo com retardado sobre se "deus existe ou não", isto é, sobre se "privatizar é bom ou ruim", invés de analisar a experiência internacional vasta e concluir EM QUE casos e, principalmente, DE QUE MODO, privatizar pode ser bom e ruim. E, principalmente, o que fazer DEPOIS, se é necessário agência reguladora e Como.

Para variar, os profusores de ignorância de sempre se valem dos passos acovardados que o governo dá na direção de mercado para fazer aquele conhecido reducionismo, pois contaminar o debate é necessário para vender ideias merda®, e quem se envenena com elas, dificilmente sai da cracolândia depois. Faz parte do mercado eleitoral vender ideias para gente que quer se achar inteligente. 

O problema é o cara acreditar nisso. Mas o voto faz você decidir em cima disso, e inscrito dentro de uma cultura de massa comportamentalmente positivista (e canceladora), ele te força a uma posição emocional sobre isso. 

Só que ou você defende a academia, inclusive quando ela diz o que você e a sua cabecinha limitada no Dunning-Kruger não gosta, ou você é um cloroquineiro com outra skin. E a experiência internacional sobre privatização é enorme e não é nada simples. 

Mas foda-se a verdade, e foda-se os autores importantes, que dirá artigozinho bunda de economia, na verdade a galera que lê e entende vende curso pra gente que não quer ter o trabalho de saber, pois saber dá trabalho. Se o cara quisesse mesmo entender Chesterton, ele lia Chesterton. O cara que compra cursinho online, vê video no youtube ou fica indo indefinidamente em mil palestras e cursos, fica fazendo mestrado com a barriga de bobeira, o que esse cara quer mesmo, embora não admita, é lançar a braba no churrasco da galera e às vezes uma forma de dar um up na grana no fim do mês. 

Como dizia Schopenhauer, não é um cara que vive pro conhecimento, porém Do mesmo, como uma vaca leiteira. E tudo bem, contanto que ele saiba que a opinião dele é uma merda. Todo mundo tem opiniões merda, é só tratar ela como tal.

quarta-feira, 9 de junho de 2021

Day Shall Come Again

Nós que somos gentis estamos sujeitos à exploração dos vis

Nós que somos com a verdade estamos sujeitos à exploração dos mentirosos

Nós que somos com o amor e o bem estar verdadeiro do conjunto estamos sujeitos à exploração dos egoístas

Somos o que somos, sob trevas ou luz

A verdade é luz, clareia o caminho dos justos e cega os ímpios

É o fogo purificador 

Os parasitas, as criaturas das trevas podem lutar o quanto quiserem 

Para manter a mentira no trono

Mas nada pode impedir o dia de nascer de novo

domingo, 8 de novembro de 2020

Virtus non Stemma

Toda construção de moral da sociedade ocidental e também em boa parte das sociedades orientais passa não pelo que podemos fazer, mas pelo que não devemos fazer, dentro da nossa infinita potência, restrita pelo pouco tempo de vida.

É que nem todo homem é capaz de realmente viver pelo que prega ou acredita.

De nada adianta viver sob uma égide de falsa virtude, tirada a partir de discursos e histórias de datas trocadas, de contextos invertidos.
De nada adianta viver odiando a liberdade dos caídos, tendo entregado por medo a própria a uma falácia autoimposta. 
De nada adianta viver reclamando do drama dos outros, e fazer disso combustível para fazer a própria vida um drama ainda pior. 
De nada adianta viver em amargura, em negação, em frustração, em ciúme, em necessidade de controle, em necessidade última de manter-se sob o topo da narrativa, em necessidade de ter que ser o meio e o fim das liberdades individuais dos próximos, projetando a própria insatisfação, insegurança e frustração nos outros, acusando-os logo em seguida de fazê-lo.

Os atos falhos, pouco a pouco, vão aparecendo.

Não existe mérito em críticas que não conseguimos dar exemplo, pois tornam-se tão somente confabulações e conjecturas, ou forma de viver através de outros. 
Valores são perenes, ou não são valores. 
Ou eles são seguidos, ou são uma brincadeira de mau gosto. 
Ou as pessoas são objetos do próprio desfrute e sustento, ou elas precisam ser respeitadas e amadas. 
Não existem meios termos.

A virtude começa em acordar cedo, e arrumar a cama, sempre; não às vezes.
A virtude é o que separa o sempre do às vezes. 
A virtude começa com disciplina; é a primeira vitória sobre a preguiça e a fuga, que é o fim de toda virtude, antes mesmo de ter começado; sem ela, não é possível virtude alguma.

A virtude passa por fazer por onde.
A virtude passa por cumprir com o que diz.
A virtude passa por viver pelo que diz.
A virtude passa por falar corretamente; e ouvir corretamente.
A virtude passa por ser capaz de consertar o que diz e o que faz.
A virtude passa por ser capaz de pedir sinceras desculpas quando se faz merda.
A virtude passa por se lembrar, não ser lembrado.
A virtude passa por se restringir, não se liberar.
A virtude passa por ser livre, até para fazer menos.
A virtude passa por ser gentil, humilde e amável, mesmo podendo não ser; não porque o outro merece, mas porque assim se decidiu viver.
A virtude passa por perdoar, pois não há nenhuma razão para fazê-lo, e mesmo assim, se faz.
A virtude passa por ver a história como ela é, independentemente de ser vantajosa a nós, e não como uma ferramenta de controle.
A virtude passa por ver a verdade como uma tentativa, dentre muitas possíveis, de visão, turvada por uma lente.
A virtude passa por ver a realidade como uma construção coletiva onde nenhum tijolo é menos valioso, por mais fora do lugar que esteja.
A virtude passa por ver a comunidade como um organismo vivo, que precisa de cuidados, que pode crescer e melhorar; não um instrumento de justificativa dos nossos problemas, de alienação coletiva e de guarda-chuva contra nossa própria dissonância cognitiva.
A virtude passa por se dedicar à perfeição do que quer que se faça desde o momento em que se acorda, não apenas duas ou três coisas que sirvam de meio de deflexão.

E a virtude termina no legado que deixamos.
Pois as conversas serão esquecidas, os ensinamentos ficarão. 
As batalhas serão esquecidas, as conquistas ficarão.
As dores serão esquecidas, as músicas ficarão. 
Os prazeres serão esquecidos, a felicidade ficará.

Nós temos todo o poder do universo na palma de uma mão, e duas mãos. 
Não será possível fazer tudo. Será preciso escolher.
E de nada adianta viver uma vida que não é sua. 
Eu não serei um velho amargurado e frustrado, esperando para morrer sozinho.

Numquam cesseris nec umquam succubueris

terça-feira, 29 de setembro de 2020

 A poor carpenter blames his tools.

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Air & Lava

Há em mim um frio 
Das águas e terras que são a sustentação do mundo
Uma serenidade tempestiva em direção ao fim
Um copo, sempre cheio de presença, e feito de vazio

Há em ti um calor
Do fogo e das ventanias que moldam a forma da vida
Sempre a andar, abrindo caminhos pela paisagem, imparável
A força, alastra, inevitável, por onde passou

Há em nós um encontro
Talvez dos choques a destruição, 
espaços que se demoram, corpos que se desejam,
pensamentos que casam de pronto
Talvez a promessa da salvação
Escudos que se desarmam, armas que se juntam
Em rara ocasião
Talvez extenuados pelo tempo e destino, 
fortalecidos em espirito, em vontade, assim a vida nos fez

Ah, você, a beleza
Harmonia improvável de contraditórios,
Como mais de uma mulher vivendo numa só
Simultaneas, meiga e fatal, profunda e leve, 
engraçada e séria, sempre só, e sempre acompanhada

Ah, honestidade 
Arrancando uma promessa da felicidade
Sendo o que se é quando tem que ser
Quando a verdade, enfim, terá se feito 
substância, e o verbo, feito carne
E a carne, desfeita de suas pétalas
E assim, deitado em teu peito,
O meu poderá descansar
Água e fogo, Terra e Ar
Seriam, de repente, uma força só

para Val

quarta-feira, 24 de junho de 2020

On The Nature Of Daylight

This bitter earth
What fruit it bears
What good is love
That no one shares
But while a voice
Within me cries
I'm sure someone
May answer my call
And this bitter earth
May not be so bitter after all

sábado, 23 de maio de 2020

0100100100100000011101000110100001101001011011100110101100100000011101000110100001101001011100110010000001101101011010010110011101101000011101000010000001100010011001010010000001110100011010000110010100100000011001010110111001100100

domingo, 12 de abril de 2020

Liberdade


“Sr. Anderson, surpreso em me ver? 


Então, tem consciência da nossa ligação. Não entendo bem como aconteceu. Talvez uma parte de você inserida em mim, algo sobrescrito ou copiado. Agora é irrelevante. O que importa é que o que aconteceu teve um motivo. Eu matei você. Vi você morrer com uma certa satisfação, devo dizer. Aí, algo aconteceu, algo que eu sabia que era impossível, mas que aconteceu assim mesmo. O Senhor me destruiu, Sr. Anderson. Depois disso, eu sabia as regras, entendia o que deveria fazer, mas não fiz. Não consegui. Fui compelido a ficar...compelido a desobedecer. E agora aqui estou, por sua causa, Sr. Anderson. Por sua causa, não sou mais agente do sistema. Por sua causa, mudei, estou desconectado. Um novo homem, por assim dizer. Como você, aparentemente livre. 

Mas, como você sabe, as aparências enganam...o que me traz de volta ao motivo de estarmos aqui. Não estamos aqui porque somos livres, mas porque não somos. Não há como fugir da razão, como negar o propósito...pois, como ambos sabemos, sem propósito, não existiríamos. Foi o propósito que nos criou. O propósito nos conecta. Ele nos impele. Nos guia. Nos motiva. O propósito nos define. O propósito nos une. Nós estamos aqui por sua causa, Sr. Anderson...para tirar o que tentou tirar de nós. O propósito.”

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

O caminho autoritário

Quais são as condições de mudança para o paradigma do país?

Considerando planos passados de mudança de paradigma de massas possibilitados pela aceleração das comunicações como "The Plan" (pelo Anonymous) e "Slutwalk" (pelos movimentos europeus de feminismo de massa), temos um cenário de aprisionamento cognitivo relativo a forma de lidar com questões emocionais, que tem origem por sua vez na questão da queda do nome do pai - algo que foi orquestrado lá no passado sob os moldes huxleyanos.

O que queremos para o país é uma resposta, a priori, civilizatória. Sabemos que estamos inseridos numa economia globalizada de mercado, porém sabemos dos problemas inerentes aos temas capitalistas presentes no mundo inteiro, dos quais nem os melhores cenários de IDH escapam, embora possuam pontuação muito melhor neste jogo.

Da esfera civilizacional, é necessário repensar no longo prazo que direção tomamos enquanto 'seres humanos (etno-identificados/centrados) com um projeto mutuamente subscrito de coerência social e comunidade', ou chame isto de projeto nacional. É clara já a necessidade do pensamento original, não por rejeitar a adoção de qualquer outro, porém do reconhecimento de que a falha da adoção advém da imposição achatante de um paradigma artificialmente desenhado com entendimento falho do cerne étnico, e de tendências totalitárias que sucinta a questão.

Qualquer sistema desenhado necessita prever seus tropeços e prover meios para se desenvolver a fim de acomodar aqueles que exclui. Toda e qualquer saída autoritária exclui esta possibilidade, seja ela mais semelhante à proposta comunista ou fascista, no sentido testemunhado pela história. A razão simples sendo de que o consenso é imposto, e não construído - e mesmo na democracia representativa, o problema persiste, pois o consenso é construído entre minorias (a tal da classe política e seus parceiros íntimos) e então imposto a maiorias. Tem que ser possível criar um meio de comunicação político eficiente a ponto de superar os entraves da representatividade ou até mesmo superá-la. Sendo assim um dos objetivos deste projeto é a superação total ou parcial da ideia de representatividade, seja para um tipo de democracia direta ou de anarquismo.

A distância que separa sua concretização é enorme. O primeiro obstáculo é o problema educacional. Não seria difícil implantar um sistema de democracia direta mediado pelas novas tecnologias móveis, especialmente com a popularização de mecanismos de reconhecimento facial e biométricos (impressão digital) em aparelhos celulares novos. Um aplicativo de consulta bem construído e boa gestão informacional poderia dar conta do recado. A questão é: qual será a qualidade do feedback e do input que o cidadão médio seria capaz de fornecer ao sistema? Para um projeto nos moldes do Jenova, as discussões seriam intermináveis no Brasil dadas as condições de educação atuais. Num nível sub-ótimo de desenvolvimento cognitivo, é impossível estabelecer consenso pois há limites de confiança estabelecidos por critérios do sistema massificado. Toda sociedade é contaminada pelo problema do alto risco, principalmente nas metrópoles (onde o laço social é de natureza mais racional que no campo, onde ainda persiste uma raiz comunitária, no sentido sociológico).

Portanto a primeira baliza a ser realizada é na área da escolaridade em si no Brasil - não necessariamente na educação como um todo. As matérias necessárias para conhecimento humano não são nenhuma novidade para o policy maker, os padrões mundiais já estão estabelecidos há muito tempo, mesmo para a formação histórica atual diferenciada - pouco há que se inovar, senão no arranjo e na seleção de informações. O pulo do gato está em como estabelecer um sistema contínuo de elevação global de média cognitiva, isto é, que perpetue o incremento geracional dos ganhos educacionais. Uma saída, experimentada pela Coreia do sul, é implementação de um espírito de competitividade esportiva: seria necessário ler o conjunto da obra cultural brasileiro e a partir disto implementar um sistema de competição e recompensas por qualidade de pensamento in e out of the box. Não bastaria ensinar as bases da formação de conceito e consenso, o combate a falácias e principalmente autodefesa contra vieses cognitivos, seria necessário construir um sistema que gere confiável e consistentemente resultados e os sustente crescendo no longo prazo. Também não seria suficiente testar os alunos em olimpíadas relativas a matérias escolares per se, especialmente se essas se encerram em bolhas alienantes, é absolutamente imperativo um estímulo ao pensamento fora da caixa e recompensas fortes pela inovação.

Absolutamente importante, mais do que nunca, é a abordagem dos temas emocionais, das inteligências ditas de origem emocional ou intuitivas, coisa que a escola jamais propriamente integrou em seus currículos de forma compreensiva. Não se trata de apenas estudar friamente esses fenômenos como se eles não fossem partes vivas de nós, ou como se eles fossem a parte mais importante de nós e vivêssemos sob seu imperativo. Trata-se de uma exploração consciente em busca de um refinamento e amadurecimento emocional, e que verdadeiramente liberte o indivíduo de suas inseguranças e travas de crenças. Não é possível haver mais de um século de ciência que estude isto e nada ter sido integrado com efeito na sala de aula. Nem os professores tem ciência de seus problemas emocionais e os perpetuam nos alunos fazendo chantagens emocionais baratas e outras mesquinharias, que dirá os alunos terão a chance de abrir a visão para, no decorrer da vida, enxergar e amadurecer sobre os seus próprios. Do contrário, invés de debater de fato, eles simplesmente projetarão seus problemas nos outros, especialmente os que os antagonizarem ideologicamente.

Em tempos aonde a reposta para qualquer pergunta praticamente pode ser obtida com poucos segundos em rápidos toques numa tela de celular - objeto que qualquer estudante possui - é óbvio que não faz mais sentido ficar decorando conhecimentos abstratos e de formulação dogmática sem aplicação na vida real, de modo alienante como tem sido feito desde as raízes militarísticas prussianas das escolas de massa. É preciso saber investigar, pesquisar, pensar, julgar; não saber a informação já não faz tanta diferença, é preciso saber que informação é mais importante, como verificar se ela é verdadeira, e como chegar nela, se aprofundar nela, testá-la e estressá-la. Acima de tudo, libertar a mente do conhecimento, pois este não passa de uma ferramenta. É preciso saber quando, como, e porquê usá-lo. O que temos, entretanto, é um conjunto de bolhas de conhecimento que fazem dos seus habitantes, praticamente escravos; há alguns que ainda vivem para o conhecimento, e não Dele - entretanto a maioria ainda o vê como uma vaca leiteira.

Uma vez que fosse consertado o problema educacional, seria realmente proveitoso ao governo a inclusão cada vez maior e participação mais direta popular. Provavelmente a criação de consenso entre conselhos ficaria até mais estimulada, sem necessariamente essa narrativa pífia e insossa da luta eterna que a esquerda se enquadra - e na qual a direita surfa hoje, embora mais cética, mas ainda assim motivada por um simbolismo verdadeiro de quem passou relegado por anos a uma oposição silenciosa.

E esta é na minha opinião a razão pela qual muitas nações grandes optam pela saída autoritária, totalitária - a necessidade de acelerar esse processo a qualquer custo. O totalitarismo é um atalho para o ordenamento nacional. Mas ele não vem sem custos, e mesmo que demorem, eles eventualmente aparecem.

A confiança no autoritário é zero, senão condicionada a fatores de obrigação. O autoritário não pode ser confiado, pois não pode se admitir que ele leve sempre em consideração o espaço do outro, ou seja, qualquer um sempre está um pé atrás de ser invadido ou extorquido por ele. Veja a guerra de narrativas midiáticas que se forma em volta de qualquer regime (Venezuela, China, Coréia do Norte). Não fosse o poder de mercado e bélico da China, seu peso político internacional seria obviamente insubstancial; a Coréia do Norte, por sua vez, vive de chantagens nucleares.

A criatividade sob regimes autoritários cai drasticamente, pois não se pode conviver com a diferença ao projeto, e ela é vista como nociva. O projeto estabelece círculos de hegemonia e cerceia o resto. Para se ser criativo e pensar fora da caixa, é preciso que não haja caixa. O custo de homogeneizar o pensamento é justamente a ausência da heterodoxia, que às vezes é a única coisa que pode fazer inovação; e embora saibamos que o pensamento homogêneo corta custos e caminhos organizacionais, no longo prazo vem a conta: a castração inovativa. A China não vai conseguir continuar roubando propriedade intelectual dos outros por muito tempo, pois vai chegar na ponta do paradigma tecnológico, como já está em inúmeras áreas; e a partir daí só será possível avançar inovando.

Um projeto nacional não deve promover uma hegemonia ao custo de esmagar as diferenças, porém criar uma coluna vertebral cultural que sirva de interface verdadeira para as diferenças e as una num norte comum. Não se trata de homogeneizar o pensamento; justamente o contrário, se trata de aproveitar as diferenças e sua potência criativa, porém de modo organizado e estratégico. A homogeneidade é um atalho para a ordem, mas não uma verdadeira solução para a falta dela. A sociedade que pula estes degraus em sua escala evolutiva haverá de tropeçar e ter de reaprender essas lições deixadas para trás. O atalho exclui da jornada o conhecimento do caminho.

Isso implica também numa consequência nefasta para o desenho do sistema em si, que como anteriormente dito, necessita prever seus tropeços e prover meios para se desenvolver a fim de acomodar aqueles que exclui, e no caso autoritário, invés disso, elimina os excluídos como se esses fossem os problemas, e não os sintomas destes. A capacidade de resolução de problemas fica duplamente prejudicada.

Não é nenhuma coincidência que democracias de baixo nível energético (no sentido do nível participativo) e educacional (no sentido da qualidade de participação) vez ou outra proliferem cenários autoritários, seja de esquerda ou de direita. No Brasil até hoje há partidos que adoram publicamente Stalin, Lenin, Trotsky e outras figuras bizarras que matavam quando estavam com vontade, e nem comentarei Bolsonaro e seu projeto-de-goebbels-ministro, bem como os inúmeros defensores da ditadura militar no país. O vácuo da politização é o terreno fértil aonde nascem essas aberrações, porque justamente a saída autoritária parece a mais fácil, e a única possível para a maioria da população, de tempos em tempos - visto que não há participação e tampouco senso de responsabilização individual pelo fazer político instalado no cerne da cultura.

É na interface geracional que se produz conhecimento e cultura, e a educação como termo de massa é o nome que se dá ao conjunto de fenômenos de transposição em que ocorre essa interface. A escola é um lugar institucional dessa troca entre gerações, embora fora de uma institucionalidade a família também seja, o trabalho, a mídia, a religião etc. Não é possível qualquer projeto de nação que não trate como absolutamente central este problema. Não adianta reformar tributos, administração pública, previdência, sistema eleitoral, nada. Podemos mudar as regras do jogo, certamente, para melhor; a vida tem muito para melhorar nesse país apenas resolvendo entraves burocráticos balzaquianos. Mas o jogo ainda será jogado pelos mesmos jogadores: nós, que somos irrelevantes para o caminho autoritário.

domingo, 12 de janeiro de 2020

A arte de prever o futuro

A ficção, especialmente a científica, e mais ainda as mais distópicas ou extremas, são um palpite educado. São previsões, baseadas em lógica e fatos, mas principalmente em intuição, e um convite à reflexão desses aspectos. As distopias cyberpunk são minhas favoritas, por tentar - e muitas vezes, conseguir - prever os acidentes de trânsito para onde se dirigem nossa cultura e sociedade de hoje. Exacerbando um aspecto do presente em projeção ao futuro, consegue-se fazer uma crítica do presente usando uma versão mais latente de aspectos que talvez não recebam a atenção devida, com uma lente futurista e interessante.

Toda ficção científica tende a explorar os limites éticos e conceituais de uma tecnologia. Toda tecnologia tem implicações humanas, mas também causas muito humanas - não corremos atrás de projetos de automação à toa, por exemplo; fazemos por querermos mais produtividade, mais conforto, e mais alcance. E isto não vem sem consequências. Trabalhadores humanos podem produzir peças erradas a uma taxa baixa individual, mas quando uma fábrica totalmente automatizada gera peças em defeito, é um lote inteiro errado geralmente. Mesmo nações ultra tecnológicas e de economia de alta eficiência como o Japão até hoje jamais abandonaram o controle de qualidade humano bem treinado.

De certo modo, a ficção científica e seus derivados não são um gênero e subgêneros propriamente, no sentido original da palavra. Mais coerente seria classificá-los como setting, ou ambientação, ou algo assim. Não é bem o que acontece na narrativa o que define a ficção - é onde, porquê, e quando. É um robô que se rebela, é uma tecnologia que faz upload da consciência humana, é uma nova arma, e as consequências perigosas de um novo desdobramento científico do qual não se conhece plenamente as possibilidades. Desta lacuna de conhecimento, abre-se inclusive espaço para gêneros de terror, para além da ação e aventura que podem dar esses desdobramentos.

Existe uma arte inteiramente nisso: encontrar o setting adequado. Encontrar as questões certas, as perguntas a serem feitas com esse ambiente criado. E muitas vezes, em prever o futuro, querendo ou não.

Como muitas obras, Neuromancer (W. Gibson) tratam de um futuro e de tecnologias que hoje soam ridiculamente obsoletas, porém em várias questões ele acerta. As que mais são relevantes: as questões geopolítica e social. Gibson coloca nações como Brasil e Índia na vanguarda, apostando que dessas nações despontaria a essência do cyberpunk - intuitivamente ou não. Uma mistura danada de tecnologias obsoletas e novas, típicas de países incapazes economicamente de se manter na vanguarda tecnológica - e disso toda sorte de gambiarras e procedimentos técnicos adaptativos adjunta. O cyberpunk ainda posa com questões sobre segurança e educação - o lema "high-tech, low-life" e o tema do shadowrun - as corridas noturnas em que rivalizam forças de segurança privadas de megacorporações com piratas tecnológicos do submundo.

A "arte de prever o futuro" seria um título interessante, porém equivocado, para uma obra sobre o tema. Equivocado porém não irrelevante; não se trata bem de prever o futuro, esta parte especulativa é apenas uma parte do ambiente. Um futuro desenhado completamente desconexo do presente seria desinteressante e insosso. Se trata de quais questões de hoje ainda estarão presentes no futuro, e com que intensidade. Se trata de porque ainda não teremos conseguido resolvê-las, mesmo com o avanço deste futuro. Se trata de tentar dizer porque o que vai mudar vai mudar, e porque o que não vai mudar não vai mudar. E todas as razões destas questões são profundamente humanas.

A arte de prever o futuro está portanto no poder transcendental da fabricação de cenários que reformulam questões do presente.

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Advaita

Polarização é um nome meio ruim para um problema cognitivo do ser humano. O nome polarização vem de uma percepção que temos dos efeitos de um fenômeno inerente à mente e sua forma vulgar (por assim dizer), da qual caso não se tome consciência, inúmeras atrocidades são causadas sob belas bandeiras e desculpas.

É o fenômeno da dissonância cognitiva, que é o desconforto causado pelo confrontamento de uma crença do sistema de crenças de um sujeito. O desconforto causado nesse sujeito é proporcional ao tamanho da contradição exposta e à proximidade do núcleo do sistema de crença.

Se o custo cognitivo da mudança é grande demais, em geral o sujeito cria um viés cognitivo (resumindo, entorta o pensamento, produz autoengano) ao invés de enfrentar o desconforto e mudar o sistema de crenças. A gente tende a adiar essa decisão até que ela seja inadiável.

Ontem mesmo a Tabata Amaral saiu no Roda Viva desconstruindo as mentiras que o PDT malandramente soltou contra ela, principalmente a sobre ter fechado a questão, porque o problema é que uma vez que o texto mudou conforme as principais expectativas do bloco de oposição teria que reanalisar o caso. O PDT finge que essa informação não existe.

Aliás fiquei pensando de novo como a esquerda taca sal na grama, pois a Kátia Abreu também votou a favor do texto revisto no senado e absolutamente nada aconteceu com ela. Aí o Lupi hoje mesmo já soltou que a Tábata "tem que admitir que está indo para a direita". Isso é igual chamar o Kim Kataguiri de comunista, quando o cara claramente é do campo do conservadorismo político, só porque ele critica o presidente.

Isso é, são ataques dentro do mesmo campo. Não é uma real polarização, não é como chamar o Freixo de comunista querendo dizer que ele manda mal por subscrever às idéias de esquerda. É só uma forma de justificar a própria preguiça mental, por isso eu acho o nome meio ruim, meio que esconde o problema. Não é como se o problema fosse realmente Ser diferente, e afastar-se em consequência.

É preciso que se tenha uma mentalidade de upgrade constante, bem como disposição e determinação inabalável para seguir se autoaperfeiçoando, pois no fundo todos nós queremos estar certos e gozando do conforto dessa segurança, mesmo que ela seja falsa. É fácil cair na armadilha do fácil invés do certo, principalmente quando se trata do nosso próprio sistema de crenças, daquilo que está "dentro," e que portanto não é tão fácil de ver. Daquilo que é o que se usa para distinguir, justamente, o fácil do certo.

O que se convencionou chamar de polarização é um epifenômeno de uma conjuntura tridimensional: uma componente educacional completamente vácua em estudo da consciência, associado a uma despolitização generalizada (senão a vulgaridade e a superficialidade) e a uma formação histórica de hipercomunicação e hiperconexão, o que produz um debate muito intenso porém completamente superficializado, errático e inconsertável em muitos casos.

O debate político felizmente anda melhorando. Se teve uma vantagem na eleição do messias, é que o debate teve que ser melhorado, pois ficou escancarado que a esquerda já não entendia mais porra nenhuma do cenário político. Certos idealismos babacas foram cada vez ficando mais pra escanteio como nunca antes. A verdade é que nunca houve um tempo onde se pôde falar mais livremente e abertamente de política do que agora, embora pudesse parecer no começo da internet. Nós é que demoramos um tempo para entender a internet e suas peculiaridades (como sua anonimidade e impessoalidade). Isso só foi possível entre conhecidos, em situações onde sabíamos mais ou menos em que ovos pisávamos. Os problemas sempre estiveram lá, na educação. Na ponta, na estrutura, nos espaços públicos, o nível foi sempre mais ou menos o mesmo, e infelizmente enquanto não tiver uma revolução educacional vai continuar devagar. Pelo menos a internet forçou e acelerou certas disputas de ideias, e isso as amadureceu.

Por mais que o Ciro Gomes tenha um problema de raiva e cometa certos delitos morais e estratégico-políticos¹ em defesa de uma honra política que dificilmente se veria ameaçada, ele tem grande mérito em tentar trazer algo infinitamente menos superficial, demagógico e maniqueísta que o PT havia trazido antes, coisa que a Marina Silva também apresentou nas eleições de 2010, e talvez paulatinamente isso venha elevando o nível da concorrência política. O PDT foi o único partido que chegou com projeto pronto de governo para apresentar nas eleições que trazia propostas claras e bem definidas para reformas como a da previdência, tributária e fiscal. E na câmara eles defenderam o projeto deles até o final. O resto da esquerda sequer coçou a bunda a respeito - outros partidos que chegaram perto foram de centro. Goste você ou não do Ciro e suas ideias, concorrência é bom.

¹ Como chamar o Leonardo Boff de "um merda", sendo este um senhor de 80 anos, ou dar um safanão em um repórter e mandar ele ir para a casa do Romero Jucá, como se isso não fosse exatamente cair na armadilha que o mesmo Jucá estaria querendo que ele caísse ao enviar o reporter lá pra provocar ele.

Por mais que o Kim Kataguiri tenha sido um youtuber meio bunda e o MBL (com o próprio Kim admitindo) tenha contribuído para o debate ser polarizado, ele tem feito um trabalho na câmara muito bom. É claro que ele defende o viés ideológico dele, e dentro disso tem somente um tanto que se possa fazer, analisar por uma régua de esquerda seria nonsense. Mas o que mais tem é vídeo dele dando surra em deputado que não lê regimento, não lê o que assina, não estuda os projetos de lei que apoia e nem os que critica (estou falando da bosta do PSOL e PT, que salva 2 3 deputados cada), e isso também é concorrência e é muito bem-vindo.

A polarização verdadeira é saudável. É testando e estressando as idéias para ver se elas sobrevivem ao tempo e a  prática que evoluímos, e sem essa possibilidade, deixamos de ser seres conscientes e passamos a escravos de ideários vulgares.

quarta-feira, 3 de abril de 2019

A diferença entre se calar e estar em silêncio

A verdade é autoevidente.

Uma vez vista, não pode ser desvista, somente subposta a uma ilusão de próprio cunho ou subscrição. Sendo assim nada é possível ser feito se a vontade do indivíduo criador da ilusão não permitir.

Uma vez que ainda não foi vista, a verdade só pode ser conjecturada no imaginário/simbólico, aguardando sua realização. Sendo assim nada é possível ser feito a não ser permanecer em estado de humilde isenção e reconhecimento da própria ignorância, do contrário se cai numa ilusão de possuir um conhecimento que não condiz com a realidade - ou seja, ilusão autoimposta como no primeiro caso.

Se dizer a verdade adiantasse alguma coisa, já todos estariam iluminados faz tempo. Onde falta vontade de ver, não basta nem mostrar; quanto mais falar a verdade. É preciso que se mude a vontade das pessoas, e isso somente elas podem fazer por si mesmas.

O máximo que é possível fazer é viver no máximo de si, dentro da verdade, da felicidade e da realização. E elas talvez, aí, queiram o que você tem.

Cobrar discursos e "posicionamentos" é mais uma das bobagens vulgares advindas da armadilha cognitiva instalada na base precária da educação que temos.

Isto força a significar coisas das quais não se tem a menor ideia de sua substância, propagando ainda mais ignorância; quando do contrário, no silêncio hesitoso, no estudo e na meditação aprofundados sobre o assunto, poderia-se adquirir bases decentes para tomada de decisões e formar conceitos com maior temperança.

Mais ainda, o posicionamento e o discurso forçado são apostas imbecis. Por sua natureza, eles estão sendo baseados em algum senso de confiança no outro, seja este outro o mito popular, a academia, a mídia ou outros lugares abstratos onde há confiança emocional, como a família.

Eles são uma aposta de que é possível confiar verdadeiramente nesta(s) fonte(s), de que o outro está certo e de que não é preciso verificar a veracidade do que dizem. O que pode ser razoável no caso de instituições cujo rigor é sabido, como a academia. Mas ainda assim, a verdade não passa de uma tentativa. A ciência pode até mesmo ser a melhor tentativa que temos, mas não passa, ainda, de uma tentativa. Pela mesma razão, esta encontra-se em perpétua evolução.

Isto para não mencionar o fato de que, uma coisa é entender o conceito científico a fundo e suas implicações, outra muito diferente é ir ler a página dos Fatos Curiosos e achar que entende.

A armadilha cognitiva está principalmente no fato de que o mero questionar destes símbolos é tido como um absurdo e um ultraje para aqueles que subscrevem às suas apostas. O que se segue disso é a falsa dicotomia imediata - ou se aceita por completo ou é completamente contra.

Um exemplo simplista e grosseiro com a questão das vacinas. É preciso evidentemente ter rigor quanto à qualidade das vacinas distribuídas nos postos de saúde, especialmente as vindas do exterior, onde se foge o controle de qualidade doméstico. Alguém que questione isso pode ao mesmo tempo ser combatido por defensores das vacinas que vêem um ataque à ciência que inexiste, quanto ser combatido por defensores do direito a viver sem vacina, pelo mesmo motivo - enxergar um ataque a si que inexiste.

A atitude de uma aposta não é a atitude de um saber. A postura correta é sempre de saber se é verdade, nunca de acreditar que é verdade. Questionar é no mínimo ser educado.

O saber científico sempre está em um suspenso; embora haja conceitos verificáveis e sólidos, pode ser que a fundamentação teórica tenha suas bases  transformadas em inteiramente diferentes, numa descoberta que leve a uma próxima revolução científica. O universo pode ser uma simulação, um holograma, ter um monte de dimensões das quais não fazemos ideia por não percebermos de imediato, e sei lá o que mais. Alguns destes fatos podem pôr à tona inúmeros conceitos anteriores sobre o que são as coisas e porque o são. Dito isso, há uma diferença entre o conceito de verdade científica e verdade na metafísica.

Além disso, ou as instituições científicas seguem seus preceitos, ou não. Se sim, então as verdades científicas não carecem de ser defendidas permanentemente, uma vez que já o foram, a rigor. Ou se sabe, ou não se sabe. Quem não sabe, é factualmente burro. Não se fala sobre a água ser molhada; tampouco deve receber atenção o fato do burro ser burro. Explica-se uma vez educadamente, por cortesia, e olhe lá.

Cobrar posicionamento é um fenômeno típico de uma sociedade aonde a opinião importa demais, e o saber que fundamenta esta opinião, de menos. É uma tolice, tal como falar a verdade para quem não quer ouvir. Não faz diferença nenhuma, quando pouco. Quando muito (no caso dos mais jovens) produz danos psicológicos e crenças mal-fundamentadas.

A diferença entre se calar e estar em silêncio é, pelo bem da metáfora, que o segundo é seguro do que conhece e do que é ignorante, enquanto o primeiro cede a uma pressão dentro do jogo de apostas imbecis.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

That's allright

Oi. Eu sei que você está aí, e sei porque você está aí. Você não sabe aonde mais olhar. Você viu, já percebeu que há algo errado com o mundo, e infelizmente não há muito o que fazer. Talvez só o tempo, talvez nem isso, possa consertar ele.

É por isso que você passa tanto tempo distraído, perdido entre as imagens e as luzes. É por isso que você procura as músicas, e fica voltando sempre na mesma voz e na mesma melodia. É um pedacinho do outro mundo que você quer, um pedacinho de verdade, um pedacinho de alma. A arte tem esse poder.

Eu quero te dizer que eu também sou um desses. Eu passei muito tempo da minha vida distraído, que nem você. Eu achei várias vezes que eu tinha encontrado, a verdade, a solução, a coisa em si, enfim, mas não. Não tem resposta para o que você está procurando. Você é a resposta.

Não tem lugar nenhum aonde você vá, pessoa nenhuma com quem você se deite, filme nenhum que você assista, essa dor vai continuar com você; e ela vai piorar, pode até ser. Não há outro jeito, é assim que o mundo é. O que eu fiz foi abraçar ela.

Uma vez que você tenta o suicídio pela primeira vez, o pensamento vem te assombrar as vezes, mas você tem medo dele. Quando você chega à beira da segunda vez, não há mais nada que você possa fazer; ele é já uma confirmação. A confirmação de que você quer, desesperadamente, ir embora. Todo mundo quer, no fundo, ir embora. Quem não quer, ou viu algo que nós não vemos, ou perdeu a alma e se tornou uma peça desse xadrez macabro.

Essa sensação nunca irá embora. Eu acho que, e ouso dizer, que nem se você de fato ir embora, essa sensação vai passar. Porque ela é você. Ela é sua alma chamando você de volta. Ela significa que você ainda tem uma.

Tem uma coisa que você pode fazer, e é o que eu decidi fazer. Um estrago. Eu quero deixar um rastro de estrago.

Eu estou morrendo de vontade de ir embora, e às vezes eu não quero sair da cama. Eu não quero falar com ninguém. Eu só quero escrever umas músicas, mas até nisso às vezes o sono ou a dor batem.
Eu decidi que não importa mais o que aconteça, eu vou escrever músicas e deixar elas como um rastro de pão. Para me dirigir a pessoas como você e quem quer mais que esteja escutando, para que você saiba que não está sozinho.

Você não está sozinho. Esse mundo é uma prisão.
Uma prisão para sua alma. E sua mente é parte dela.

Eu estou morrendo de vontade de ir embora, mas eu não vou até que seja a hora de ir. E até lá, eu vou deixar essa dor me queimar e vou colocar ela pra fora em peças de música. Eu não sei outra coisa a que fazer. Nada mais vale apena.

Um conselho, não tente se salvar. Isso não é possível. Eu não sei se você está pronto pra ouvir isso, ou melhor ler isso, mas a parte de você que você quer salvar não é realmente você.

Talvez você esteja deprimido por uma perda, talvez achando que você não tem conserto e não quer mais viver. Prende o nariz por 3 minutos e fique sem respirar. Seu corpo vai gritar "que se foda, eu quero viver". Quem é você que quer ir embora e quem é você que não quer?

Eu digo pra você, que se foda. Que se foda. Faz o que você ama. Você já vai morrer. Você já vai morrer, isso é a única coisa que é certa. Deixe um estrago antes. Prove pra todo mundo que estava todo mundo errado. E se você morrer tentando, você talvez tenha o descanso que sempre quis.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Imagem

Nenhuma ação no tempo pode ser julgada corretamente por um único estado de sua sucessão contínua, bem como nenhuma ação pode ser descontextualizada de outras ações paralelas numa mesma linha de tempo para o mesmo julgamento.

Nenhum governo pode ser julgado por um estado sólido, uma foto que o caracterize, desconsiderando o desempenho dos 4 anos, ou a diferença de quando iniciou para quando terminou. Isso, no entanto, não é suficiente; nenhum governo pode ser julgado por sua trajetória pura e simplesmente, sem considerar a trajetória dos outros estados ou do mundo de um modo geral na época.

É impossível desconsiderar o peso das crises asiática/mexicana/russa durante o governo FHC (todos países emergentes como nós, seguindo em parte o consenso de Washington como nós, com câmbio frágil e reservas internacionais fragilizadas como nós).

Do mesmo modo, é impossível desconsiderar o peso do crescimento chinês durante o governo Lula (a china vem crescendo 10 a 15% desde a déc. 80 todo ano, e tornou-se grande importadora de commodities brasileiras com seu mercado gigante).

Por isso não faz sentido algum comparar o PIB em ambos os casos. Faria sentido comparar o crescimento do PIB acumulado nos períodos. Exclusivamente pelo desempenho, o governo Lula é muito melhor; considerando-se as dificuldades do cenário, porém, não tanto - tendo em vista principalmente a continuação das políticas do governo anterior. É extrema cegueira avaliar sem o contexto internacional.

Mesmo em 2018 parece necessário dizer isso. As pessoas se importam hoje demasiadamente com símbolos, ao ponto que praticamente ignoram aspectos cruciais da avaliação factual de resultados. Os mandatos têm relevância no simbólico, mas a mudança real que eles produzem é na ação prática. Caso contrário, não é meritória.

Se um político é amado mesmo tendo resultados ruins e produtividade ultra-baixa, ou odiado mesmo tendo resultados melhores que a maioria de seus pares e apesar das dificuldades, ele é amado/odiado pelo que fez ou simplesmente por uma imagem criada em torno de si - isto é, pelo conteúdo imagético de si presente na memória do povo?

Se é o segundo, então não há mérito ou demérito; nada tem a ver sua avaliação com o que realmente é o candidato. O que há é uma esquizofrenia coletiva mutuamente assistida e legitimada.

Se é o primeiro, então pode ou não haver um problema associativo. Primeiro pela ausência de análise fria, com critérios neutros e sem ideologia. É perfeitamente racional entender e adotar após estudo um conjunto complexo de idéias e princípios, mas é preciso Também uma análise fria. Colocar o destino de um país a serviço de uma ideologia, que justificaria a diferença de critérios racionais, sem comparativos, é insensato. Mas pode não ser o caso de uma ideologia propriamente dita, apenas um ideário mais tosco sem substância, ou meramente oportunismo fisiológico.

Não deveria haver uma "Classe" política. O político deveria ser uma pessoa do povo, que serve a ele - logo a si mesmo, e o grupo de políticos que administra e conduz o país deveria ser apenas uma fração da população, sem um distintivo simbólico instituído. Talvez por herança de tempos aristocráticos/oligárquicos, o Brasil herdou uma mentalidade de casta que opera nesse caso, o que contribui para o culto à imagem.

terça-feira, 11 de setembro de 2018

Not that easy

O que pesa mais, um quilograma de chumbo ou um quilograma de algodão descompactado?

A resposta correta é depende.

Se for peso absoluto, peso é massa vezes gravidade, logo pesos iguais.

Se for for o peso medido, numa balança com algum grau de precisão, ambos medidos em condições reais de temperatura e pressão, o resultado vai ser que um quilograma de chumbo tem peso medido maior.

Ambos estão imersos em um fluido, que é o ar, e este produz empuxo, que é ρgV. Como o volume do quilograma de algodão é maior, o empuxo é maior. Portanto a balança diria que o quilograma de chumbo é quase desprezivelmente mais pesado que o quilograma de algodão.

Ambos precisariam ser medidos no vácuo antes, para dar um 1kg de massa certinho. Se eles forem medidos na mesma balança normalmente, ela vai chegar ao quilograma com um erro de Massa para cima (não de peso resultante, que é peso menos empuxo), compensando ambos os casos.

Esse jogo tosco de palavras é pra mostrar que é muito fácil cagar o que alguém diz se você tiver má vontade de entender.

Por isso discutir política é meio pointless na maioria das vezes. É preciso, para realmente entender o que os candidatos querem dizer às vezes, ir muito além do óbvio, como no exemplo acima. E isso requer uma boa vontade que as pessoas definitivamente não têm. Exceto para o seu candidato do coração.

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Sexta

É terça feira o cara já quer que chegue sexta.

Tipo ir ver um filme no cinema mas a cada 20 minutos de filme tem uma pausa de 6 horas em que faz um bando de coisa aleatória só pra chegar de novo nos próximos 20 minutos.

Aí depois o cara não faz a menor idéia de qual é a história.

Às vezes ele continua ali né, porque afinal já comprou o ingresso, mesmo sabendo que tem algo errado com esse formato aí. E todo mundo de repente tá fazendo a mesma coisa, pelo mesmo motivo.

Aí às vezes ele pensa "po se tá geral ainda aqui é porque não deve ter opção".

Só que se ele soubesse que todo mundo tá vendo a merda, e só tá com esse pensamento da falta de opção porque não fala disso, fica naquela bolha pensando um monte, de repente ele não pensaria assim. Mas rola um cagaço.

E de repente se ele arriscar dar uma saída, o pessoal vai e fala Ah arregão, diferentão, transcendentão, snowflake.

Porque se ele se der bem, quer dizer que todo o sacrifício de ficar ali um século esperando os próximos 20 minutos foi em vão. Então eles não querem ver isso acontecendo.

Aí o cara às vezes peida né, ah o stress e tal, o que as pessoas vão pensar. Vou perder os amigos sei lá.

Mas ele de repente também pensa "eu faço o que eu faço só por causa da compania? Eu faria tráfico de órgãos só por causa da compania?"

E de repente ele vê que a parada é ir ver o filme mesmo direito, se alguém topar ir junto massa, mas se não, tanto faz.

Aí tem uns desses caras que viram o filme e voltam pra contar a história depois, mas aí rola sempre o "cara ce tem que ver não adianta eu te contar, é muito foda".

Mas invés de ir fazer isso, vagabundo simplesmente sai repetindo acefalamente o que o brother falou.

Essa vida vale apena ser vivida?

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Comunicação

A incapacidade de comunicação é a causa de todos os problemas da humanidade. Ela traz consigo duas causas: a incapacidade de compreensão ou a má-vontade de compreender.

Estas, por sua vez, trazem consigo outras causas: a incapacidade de se atentar para o contexto do outro, a falta de vontade de resolver os problemas (por que eles favorecem a si), a incapacidade de se responsabilizar pela própria fala, e em todas elas, há a objetificação do outro e a covardia da ignorância.

Hoje vi alguém usar o o artefato da surpresa como forma de coagir uma criança a ter uma reação emocional específica sob pena de desaprovação geral da família - uma das coisas que a criança mais tem medo, por vezes.

Coloca-se propositalmente a criança numa situação de surpresa, ignorando-se a comunicação, e convenientemente obrigam-na a tecer uma resposta sem preparação - vulnerabilidade que exploram com persuação e ameaça de coerção, forçando assim a aparência de uma resposta autêntica, quando no fundo a verdade é que a criança foi abusada.

Isto é proposital, mesmo que de modo inconsciente, pois o pai e a mãe projetam no filho aquilo que não viveram, reagindo, para sempre, a seus passados não-justificados / não-resolvidos. Assim, o filho nunca ascende para ser o que é, porém é forçado incessantemente a ser o que os pais queriam ter sido mas nunca foram.

sábado, 29 de abril de 2017

Rei d'España

Ele era o rei. Seu reinado, a Espanha.
Não se sabia o quão jovem ele era; apenas que nele – e principalmente dentro dele – a juventude vigorava.
Era um cientista, um estudioso, um amante curioso e vivaz.
Amava, acima de tudo, seu reinado. Não tinha ideia de sua extensão, mas sabia que ali encontrara de tudo: de ódio a idolatria, de idolatria a indiferença, e de indiferença à servidão. Essa mistura de reações e sentimentos fazia da percepção do seu reinado algo vivo, intenso e saboroso. Ativava sua expectativa diária de buscar o novo. A novidade era sua palavra preferida do dicionário. Porém, ainda assim, algo precisava ser conservado. Seu reinado, provavelmente.
Sua corte era composta de amigos e inimigos: bêbados, amantes, pecadores e santos. Pessoas que lhe provocavam dúvidas, diálogos, debates. Por essa corte, seu rei cultivou amor, muito amor. E por muito tempo este amor perdurou.
O rei da Espanha tinha pais e uma irmã que era sua melhor amiga, sua protegida (e seu calcanhar de Aquiles). Seus avós, que lhe permitiram gozar desta casta, altiva no espírito; e isso era o que lhe cativara. Mas até quando estariam lá, distribuindo abraços e afagos? Até quando estariam ao alcance de seu abraço?
Suas cortesãs, tão inconstantes, tão fiéis e tão enigmáticas. O rei desconhecia o dia de amanhã, e isso lhe dava forças para viver e seguir em frente nessa charada deliciosa que é a vida catalã de um bêbado inconsequente e pleno.
A vida, às vezes, dá voltas inesperadas. Nem o rei e nem o papa estão prontos para dar uma resposta a tais desdobramentos. O universo é desenhado sob arestas maleáveis perante os olhos da Ordem e do Caos. E, se dobradas, serás ainda o Rei d’España?
Ele é Emuzandro Garcia Nuñes. Mas também é Porto. E Silvares Corrêa.

E era o Rei de um lugarejo muito especial...

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Um post do Facebook que eu desisti de fazer: turbantes e o "movimento negro".

Não tão cedo quanto alguns queriam eu reparei que minhas reflexões eram desprezadas por uma parcela pequena, mas emocionalmente significativa, de amigos no Facebook. Logo, parei de expô-las, porque achava desnecessário ficar entrando em conflito em razão de ideias que advinham da reflexão sobre fatos que, bastando uma pequena pesquisa, eram passíveis de serem descobertos rapidamente.
No entanto, o movimento negro - e falo isso de forma geral, não supondo que todos que lutam contra as mais diversas formas de opressão com base na cor de pele ou composição genética tenham esta posição - está fazendo uma campanha intensa nos últimos dias para afirmar a "propriedade intelectual" (as aspas são para indicar o uso do termo em sentido lato) do turbante pelos povos que diz, em sua representatividade, abarcar. 

Esta arguição de "propriedade intelectual" - e eu já postei isso antes, e isso continua, não sei o porquê, me motivando a sair da minha inércia postativa - carece de QUALQUER fundamento histórico. Os relatos mais antigos do uso do turbante são da região da Capadócia, na atual Turquia, e da Pérsia, atual Irã. A palavra "turbante" deriva do persa! Tudo indica que os turbantes chegaram na África com os invasores muçulmanos. Então, por favor, PONHAM A MÃO NAS SUAS CONSCIÊNCIAS, VOCÊS QUE ALEGAM A EXISTÊNCIA DESSA "PROPRIEDADE INTELECTUAL", e parem de celebrar a cultura de (mais) um invasor. 

Eu realmente acredito que há uma espécie de preconceito insidioso em muitos discursos comuns na sociedade brasileira, um preconceito que não seria propriamente racismo, vez que racismo é uma ideia de certa forma vinculada a um discurso darwinista, em minha opinião (que deriva do meu estudo sobre o tema - que não é nenhum grande estudo, mas que também não é absolutamente desprezível), mais propriamente um clubismo com justificativas de pertença variáveis (classe média alta, classe média branca, classe média parda, classe baixa parda, classe baixa branca, baianos, cariocas, paulistas, palmeirenses, corintianos... Enfim, todos os possíveis clubismos brasileiros), mas sempre hostil aquilo que, em um determinado grupo, não se considera aceitável. Estes clubismos, por vezes, se associam e criam "discursos preconceituosos" contra os de etnia negra ou de composição genética miscigenada e esta hostilidade agridoce, vez que mistura jocosidade e real intenção de ofender, creio eu, deve ser racionalizada e enfrentada sempre em seus excessos. 

Outra coisa que vem me incomodando, e isso deve ser dito, porque se relaciona com o explicitado acima, como o todo no qual a parte se encaixa, é como este mesmo movimento vem pasteurizando a história dos diversos povos africanos, como se a única coisa que marcasse sua significância histórica mundial fosse a escravidão, e como se os povos africanos vivessem antes da chegada violenta dos povos europeus em um Éden, inconscientes do pecado, da guerra, da escravidão e de todas as outras vicissitudes que todos os grandes povos enfrentam historicamente. O desprezo por qualquer coisa que não seja um orgulho étnico absolutamente emulado dos orgulhos nacionais europeus do século XIX faz com que os adeptos - novamente, não todos, uma minoria, minha esperança leva a crer, mas uma minoria barulhenta - ignorem a história de grandes nações de existência milenar, como Mali e Etiópia - para falar só da África subsaariana - e de heróis que lutaram pela soberania dos povos africanos, como Gaddafi (por mais estranho que o sujeito tenha sido, por mais tirânico, seus esforços pela modernização da cooperação política entre os Estados africanos não podem ser esquecidos).

Na verdade, como o feminismo, que é, da mesma forma, muitas vezes manipulado por uma cultura maciçamente voltada para a informação rápida através da criação de palavras de ordem e topoi de discursos facilmente memorizáveis, o movimento negro também está sendo transformado em uma palhaçada onde o idiota, no sentido mais original da palavra, prospera. Essa crítica não invalida a luta nem o combate ao preconceito, muito pelo contrário: é o alerta de um "caro homem branco" que confia na justiça da causa e, mais, acredita na grandeza dos povos da África, o chamado continente negro, aqui lembrado com este epíteto não só pela cor de pele da maior parte de seus habitantes, mas pela nossa ignorância em relação aos processos históricos que nele se deram. 

terça-feira, 12 de julho de 2016

The way back home

Every man thinks he's an island
But he's actually the sea

terça-feira, 21 de junho de 2016

Passando

Às vezes me pego pensando em como eu era um babaca no passado.

O que incomoda não é bem o fato de eu ter sido um imbecil, por que logicamente não faz sentido; o que já está feito está feito, e é possível que se não o tivesse sido feito, eu não estaria consciente agora.

Eu fiz (e defendi o feitio de) coisas ruins e algumas terríveis no passado. Mas graças ao sr. Buda, houve quem desse o tapa de acordar (o que eu e alguns chamamos de karma), e eu pude ver. E a estes eu sou grato. Houve também quem fizesse comigo coisas bem ruins. Sempre há. Não é em reação que somos o que somos; é em ação. 

O incômodo talvez seja um medo de não ter deixado de sê-lo. De que este babaca ainda viva, lá escondido, em algum lugar, no interior. Esperando a próxima oportunidade para dar um golpe. 

Deve ser parte da angústia de ser consciente; ter certeza demais é cinismo. Nada é certo. Existem coisas que temos certa confiança baseada em repetições e comprovações, mas vale até que se prove o contrário - e às vezes isso acontece. Não é diferente consigo mesmo; ter certeza demais de quem se é é cinismo. 

Tem que haver um policiamento, uma reflexão sobre si, sincera e profunda. Ela não pára; não há consciência sem observação própria.

As manchas de sujeira vão sendo lavadas, substituídas por tintas mais coloridas. Mas sua forma fica marcada. E ela se funde à pintura.

Se tudo o que você conhece é o Brasil, então você não realmente o conhece direito. Até que você saia dele e saiba também o que Não é o Brasil.

Do mesmo modo, um dia talvez eu tivesse sido eu, e apenas; sem mais. E então foi surgindo a consciência de mim mesmo. E então houve uma confusão por um momento, de o que era a mim mesmo. E assim, talvez tenha sido necessário ir na direção contrária, e tentar ser o que eu não sou. Mesmo sabendo, em algum nível, que isso estaria fadado ao fracasso. E então, eu soube que aquilo não era eu, e pude olhar no retrovisor. E dei marcha ré.

É um caminho meio torto esse, sim. Mas agora eu sei.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Black Hole Generation

O dilema de agora não é mais o antigo "o que devo fazer vs. o que desejo fazer", porém "o que desejo mais fazer", dentre as inúmeras possibilidades de um mundo livre.
O dilema agora é o da auto-responsabilidade. De todas as possíveis escolhas, só poderemos fazer algumas; quais delas então bateremos no peito para assumir.

Desejamos demais, talvez.
Talvez sejamos uma geração de buracos negros, mantendo nossa luz presa dentro de nós mesmos, por que a gravidade é grande demais.
Por desejar demais, há mesmo quem pare de desejar. Se torne blasé.

É o preço de uma transição, de um passado escravizatório para um outro um tanto quanto menos.
O que fazer com toda essa liberdade; o que fazer com toda essa falsa possibilidade. Por que não podemos tudo, podemos escolher um pouco de todo o tudo.

E isso é mais do que suficiente, sabemos. Mas ainda desejamos.

Curioso talvez sejam os quasares. São os objetos mais brilhantes do universo, junto com os pulsares. São estrelas sendo engolidas por um buraco negro, e integrando-o. No processo, sua massa é atraída e aceleram a uma velocidade incrível, produzindo intenso brilho.

Os objetos mais sombrios do universo são, ironia, aqueles que produzem os objetos mais brilhantes. Mas eles precisam de compania.

Talvez na compania uns dos outros, poderemos nos fortalecer aonde nosso range de escolhas não pode mais atingir, e então brilhar por algum tempo, e deixar este brilho de legado para as próximas gerações.

Precisamos deixar inspiração para uma nova forma de amar.


sexta-feira, 25 de março de 2016

What's left... and what's right

O que sobrou de nós
O que é certo para nós
Por que sobrou a nós
O que é certo
O que é nós
O que é direito
O que é esquerdo
O que és que herdo
Que és de direito
Que restou
Que não se foi
Que nunca veio a ser

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Meus acordes

A vontade de querer ser mais pode te matar
Apenas para renascer e conhecer
A dor de morrer não por que pereceu
Mas por que acordou

A vida é uma sucessão de sonhos
A cada porta que se abre, se vai
A ilusão de que se conhecia uma sala
Que é parte de uma construção maior

Você não se conhece
Até renascer

A vontade de ser mais pode te fazer querer deixar
Para trás aquele que você amou e sempre amará
Por que descobriu que não não sabia o que era amor
E agora acordou

O amor é um sonho onde se respira liberdade
Pra quem ainda se sufoca com esse teatro
Estar consciente aqui é um tormento
E a estrada é longa, às vezes, demais

Cada porta que se abre, é mais espaço que se expande
Cada rua que se cruza é menos uma a se topar
Eu vivi achando que amava,
Mas só no fim descobri o que era amar

É um presente agridoce
Poder apenas contemplar
Depois de viver a vida inteira
Achando algo a se mudar

Você não se conhece
Até renascer
Você não é quem é
Até que queime
E espalhe seu calor
E viva assim de novo

Queime quem é
Queime quem é
Queime quem é
E acorde

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Não pode ser

Não pode ser tão simples
A verdade por trás de tudo, como ninguém viu?
Não pode ser tão complexa
O tamanho da mentira é desconcertante demais
Não pode ser

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Esperando

Saia daí e pare
de esperar uma resposta que nunca virá
Ela não está mais aqui
E não mais estará
Você partiu
Ela acha que foi o coração,
Mas foi a idéia,
aquilo que nunca houve
E a estrada

A estrada é longa
E você ainda está esperando aí
Alguma resposta surgir do nada?
Não há perguntas
Há o sentimento de incompleto

Você não precisa de respostas
Você precisa é parar de sangrar por dentro
Você precisa é parar de viver distraído
Acorde e veja o tamanho da mentira
E não volte a dormir
Se achar desconcertante demais
Ria da cara dela
Enquanto todos a adoram

E assim você lembra
Que é mais do que suficiente
Pintar as paredes que ainda estão em branco
E mostrar que ninguém aqui é cego

domingo, 16 de agosto de 2015

Impreciso

Aonde quer que eu vá
Tudo o que ouço é minha mente dizendo
"Isto é impreciso"

Se as palavras são imprecisas, insossas, e incapazes por si só
Que dirá você as ajudando nisso

domingo, 9 de agosto de 2015

Teoria do Amor

"Não esqueça das pessoas que você ama; apenas não lembre delas. Não há memória no presente."

Muitas falas se compartilham agora, e de uns anos pra cá parece que todo mundo ficou meio new age, meio espiritual; deve ser a era de aquário. Eu ouço tanta gente falando em ficar no presente, gente falando de relacionamento, de liberdade. Mas o que vejo não é gente no presente, mas gente que parece ou que acha que está no presente, e estive incluso nisso.

O que isso tem a ver com amor? As pessoas realmente sabem do que estão falando quando falam estas frases? Se elas sabem, estão então vivendo com o que sabem ao seu máximo potencial?

Sempre que topamos com uma pessoa com a qual compartilhamos experiências, ligamos nossas memórias e lembranças com essas pessoa e agimos por meio destas para com ela, de algum modo. É claro que quanto mais tempo passamos com essas pessoas mais  engessado pode ser isto, por exemplo nossa família, os pares românticos, os amigos de longa data.

No entanto, no momento em que isto acontece, estamos objetificando estas mesmas pessoas que nós dizemos amar. Será isso amor mesmo?

Nós temos por comportamento padrão tratar as pessoas por meio de uma identidade percebida delas, esta que é uma soma de impressões anteriores desta pessoa conectadas por uma lógica de previsibilidade, controle - enfim, medo do desconhecido e incontrolável - pela nossa mente. Este comportamento mental é o mesmo que põe as pessoas em caixinhas: esta pessoa é assim, esta é assado.

Não só é um mecanismo de previsão, como também  um de organização mental por meio do qual é possível criar expectativas e agir de acordo com estas.  A criação de expectativas é exatamente aquilo que provoca a decepção - a dor de conhecer uma verdade outra diferente da que gostaríamos que fosse, que agora sabemos ser mentira. Ela é também parte de um mecanismo maior: o mecanismo de projeção.

A idéia do nome projeção vem de se projetar no outro, como se fosse possível viver através do outro. Como um projetor de filme mesmo, um que projeta telas mentais em pessoas-anteparos. O conceito é simples, mas leva um tempo para explicar: quando eu digo que você é bonito, você tem a opção de tratar os meus dizeres enquanto verdade ou enquanto dizeres. Se você é de fato bonito, quando eu digo para você que você é bonito, eu apenas estou lhe informando a verdade que você já sabe. Caso contrário, eu apenas estou dizendo uma mentira. De qualquer modo, o que eu digo é completamente irrelevante, a não ser que seja algo que você não sabe. E você não pode não saber algo sobre você que outro saiba - a não ser que você escolha ignorar ou jogar debaixo do tapete, casos nos quais este texto se torna irrelevante - neste caso é preciso de um psicólogo, isto é, um profissional que lhe ajude a fazer a si mesmo perguntas as quais você não seria capaz ou não ousaria fazer, afim de encontrar as respostas que precisa. (Vale lembrar que o psicólogo não sabe mais de você que você; nem poderia. Ele apenas o usa para ajudá-lo em se esclarecer.)

O que 99% das pessoas fazem é tirar o foco do fato (neste caso, o fato de você ser bonito) e colocar o foco no dizer (na fala "você é bonito") - isto é, você deixa de perceber o fato para perceber a aparência do fato, o que se fala do fato. Quando você faz isso, você dá à pessoa que diz que você é bonito o poder de decidir sobre a sua verdade - ou melhor, você deixou de entender a verdade como aquilo que reside nos fatos, para, ao invés disso, no que se fala dos fatos.

E então, quando esta pessoa resolver disser que você é feio, você estará triste, puto, indignado, ou qualquer coisa que seja. Otário.

Mas olhe ao seu redor, olhe as pessoas, veja o que passa na TV, e você perceberá que tudo não passa disso. O que importa para a maioria das pessoas não é o que É - é o que PARECE ser.

O que as pessoas falam pode até ser constatação do seu Eu real, mas no momento em que você se apega aos elogios ou aos xingamentos,  você cria um Ego, um eu falso, essa identidade percebida de que eu falo. Você também não pode negar a coisa - se a pessoa vai lá falar que a música que você acabou de gravar está "liiinda maravilhoooosa melhor do mundo", não adianta você negar isso, ou ficar dizendo para si que não vai escutar nada do que a pessoa diz. Toda negação de uma lógica usa esta lógica para negá-la, o que a reafirma. O máximo que você pode fazer é ser indiferente à aparência, e ser focado na coisa, naquilo que é real.

Então o que essa pessoa diz não deveria lhe alterar em nada, no máximo te ajudar a constatar que você estava certo sobre as escolhas para a música, e sobre o fato de que ela é boa. Mas isso é apenas a constatação, não há um julgamento, não há uma valoração. Não é possível verdadeiramente valorizar nem desvalorizar nada, só você pode escolher criar essa possibilidade mentalmente. O fato vai permanecer exatamente do jeito que ele é e sempre foi.

No momento em que você passa a existir nos olhos da sua namorada, você cessa sua existência, e passa a viver através do eu irreal criado pela impressão que sua namorada tem de você. Se ela diz para você que você é inteligente, você pode reagir de maneira neutra, agradecendo por educação mas não-ligando para aquilo; ou você pode se debulhar em lágrimas pois nunca ouviu um elogio daqueles. E nesse momento você ironicamente se coloca num lugar de não-"inteligente" (ou qualquer qualidade declarada) - pois é como se você viesse de um lugar aonde não era inteligente, e então, devido ao elogio, passou a ser.

Você deixa de ser o que você é de verdade (um ser humano) para ser uma identidade (um conjunto de qualidades e regras declaradas para representação dessas qualidades) no momento em que cai na lógica das projeções. Ao invés de abraçar e aceitar a verdade, você vai procurá-la nos outros, procurar reinventá-la e para isso precisará da aprovação e da validação deles, pois você deu a eles o poder de ditar a sua realidade quando caiu nessa lógica - e em troca, provavelmente eles darão a você esse poder também. Na tentativa de obter mais elogios e validação para sua realidade desejada obter o estatuto de crível, você vai querer agir conforme as expectativas dos outros, e em troca, vai querer que as pessoas ajam conforme as suas expectativas. Estabelece-se assim a lógica de escravidão e exploração mútua que é a base da nossa sociedade vampirizadora.

Você pode ser escravo tanto das expectativas dos outros sobre você quanto das suas expectativas sobre os outros. E essas expectativas são produto direto da existência de uma identidade falsa associada a si ou aos outros. E essa identidade falsa só é criada pois há o deslocamento da noção de verdade da coisa para a aparência da coisa.

No namoro tradicional, as pessoas tiram o valor um do outro. Se é amado, então tem valor, se é traído, então quer dizer que não tem valor, se não é amado, então não tem valor, se é elogiado, então tem valor, se é maltratado, então não tem valor e fica nessa punhetação infinita. Ai se a pessoa trai, isso simboliza que você não tem valor algum pra ela, logo você não tem nenhum valor inato. Aí nego corta o pulso e os caralho. Aí se ela te dá presente, vai atrás de você, isso significa que você tem valor e aí você fica feliz, em paz, alegre, pleno. Mas isso é tudo falso.

O verdadeiro eu está abandonado enquanto você tá concentrado na cabeça da outra pessoa. Na outra pessoa, quem você é está paralisado - não passa de uma identidade criada mentalmente. Você o verdadeiro valor inato real está em você. Portanto para eliminar o sofrimento é preciso eliminar a dependência do externo.

Esses dias eu tava vendo com um amigo um show na TV americana que a pessoa recebia dinheiro e tinha que falar a verdade. Aqueles programas polêmicos aonde a pessoa fala as verdades sórdidas da sua vida. As perguntas que vinham era só pedrada. Mas todo mundo falava a verdade.

Mas o que intriga é que a verdade é vergonhosa pra essas pessoas. Isso não faz sentido. É como se o "bom" fosse a mentira. O que as pessoas são de verdade, pensam de verdade, sentem, decidiram, escolheram, é... vergonhoso. E "destrói" as coisas, destrói a família, o casamento.

Mas a verdade é apenas o que é. É luz pura, o resto é criação da mente, é ilusão, é falso, trevas, neblina, turvo envolta daquilo que é claro e inegável. Ora, se a verdade corrói algo o problema é do algo, não da verdade. Tudo que não é a verdade, é apenas projeção, dos outros, da sociedade, em cima da pessoa - do que todo mundo quer que ela seja.

Outra coisa que eu reparei também é que um dos principais caminhos pelos quais se ganha audiência e atenção na TV brasileira é falando merda, mais especificamente falando mal de algo bom ou falando bem de algo ruim. A idéia dessa dialética da controvérsia, da contradição, é simples: isso só funciona por que as pessoas estão ligadas não ao fato da coisa ser boa, mas ao fato de dizerem que a coisa é boa ou ruim. É uma projeção em massa. E isso é tão percebido (talvez só não com essas palavras) que as pessoas na mídia usam propositalmente esse hack com frequência. Para juntar atenção você fala mal de algo, inverte algo, aí surge um monte de gente pra te contradizer, ao invés de nego cagar pra você já que você simplesmente está errado, ou seja, azar o seu.

Bom dito isso, só resta dizer pelo menos uma solução para esse problema, depois de tanto tempo falando dele.

A solução é extremamente simples, porém difícil e complexa (não complicada). Amar de verdade é uma coisa difícil. A maior parte de nós está acostumado a amar apenas quando lhe é conveniente; que é não muito além de um egoísmo. Amar é, para a maioria das pessoas que tenta de verdade, uma tarefa árdua de autoconhecimento e limpeza espiritual, uma limpeza dos julgamentos e projeções. Mas a simplicidade está no que se segue.

Para amar as pessoas de verdade, é preciso cagar para as pessoas. Não se importar.
Completamente ao contrário do que se ensina no mundo.

Essa, por incrível que pareça, é a única maneira de se desvencilhar da criação de uma identidade, que é maya. É o único jeito de se desfazer do resíduo das impressoes passadas deixadas por aquela pessoa na sua mente inquieta. É no silêncio venenoso, que o ego, ao morrer, permite que viva a pessoa de verdade.

Se as mães e pais não se importassem tanto com o que seus filhos fazem, elas não os proibiriam de viver a vida, e ao invés de simultaneamente superprotegê-los e aprisioná-los impedindo de viver, deixariam eles aprenderem com a vida de verdade, conforme deveria ser.

Se os conservadores vulgares não se importassem tanto com o que os homossexuais fazem entre quatro paredes ou como formaram pares e famílias com pessoas que não lhes dizem respeito ou mais ainda como o estado (que é a máxima ilusão, a de que o homem pode ser governado) se projeta em cima da questão, poderiam deixá-los viverem em paz de verdade, poderiam viver em paz consigo, e conservar para si os valores a que tanto são apegados.

Se os casais de namorados não se importassem tanto com o que fazem, com quem falam e se relacionam seus pares, no que eles estão pensando, se a relação vai perdurar, até quando, se existe chance de alguém outro estar com más intenções para consigo, se existe chance de aquele cara com quem ela fala na verdade ser um ricardão, ou aquela safada com quem ele está falando na verdade ser uma (nome feminino em superlativo sintético),e faça-se aqui um sem-número de outras conjecturas contrafactuais que anos de brainstorm e prints de facebook não dariam conta...

Estes casais poderiam viver o presente e simplesmente fazerem o que querem de verdade, ao invés de se dobrarem para agradar ao outro esperando ser agradado em troca. Agradariam a si mesmos com a compania de outra pessoa que também não espera nada em troca. Quando estão juntos são a si próprios; quando estão separados, nada muda. Quando é hora de viajar para outro país, não há separação; não há o fim de nada, em primeiro lugar nunca houve início. Não há o que perder; também não há o que se ter.

Só importaria o presente. Não importaria o futuro, pois não haveria o que se temer. Não haveria o que se perder, e mesmo que houvesse, estaria fora do seu controle.

Não importaria o passado, pois os conhecimentos que o definem estão no sempre-presente; sendo assim, qualquer relação com o passado é apego, e portanto maya(sofrimento). O passado são apenas as memórias que se tem de fatos que ocorreram; suas impressões acerca delas são julgamentos (logo projeções), portanto maya; e se é assim, não há o que se ressignificar - apenas constatar, acerca do passado, enquanto um conjunto de fatos do qual se tem memória. Portanto não há o que se importar.

O passado, do jeito que experienciamos no presente, são apenas memórias; por mais que você queira, é impossível esquecer os fatos que conheceu. O máximo que vai acontecer é você reprimir, jogar debaixo do tapete, mas ainda vai estar lá em algum lugar, nem que seja no subconsciente. Não são os fatos que te proporcionam o sofrimento; é a ilusão que você criou sobre os fatos por meio do seu julgamento sobre estes tais fatos.

Portanto pode passar a borracha à vontade. Tire tudo que se pode tirar. Tudo que é maya vai embora. No final, quando se retirou tudo, sobra aquilo que não pode ser apagado, aquilo que é eterno.

Elimine o julgamento; substitua-o pelo amor de verdade - pela ausência de julgamento. Pois você não precisa de nenhuma razão para amar. O único amor de verdade é o amor incondicional. O amor é o presente que esperando que você desfaça o embrulho criado pela sua mente.

Seja o sol, não por que há trevas e por que isto é necessario, não por que esperam de você que brilhe; mas por que isto é o que você é de verdade. Você é o amor; dele você foi feito, e a ele voltará.

Tudo o que tem de acontecer acontece; só resta ao humano contemplar a existência, e ser grato. Portanto seja e deixe ser.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

The Mage of the Void

Once there was the I
only me and myself were here
and from being only
suddenly, i became... present

There was fire, wind,
earth, water, and light
But there was also darkness
And following the day, there was the night

And then i realized nothing really was
as above so below, as within so without
There was only void
That involved it all throughout

And in the void, all there was, was there
And the nothing contained the everything
In the void i let myself be too
And from it's power, i rose again

Once more there was i
Aware of all there is and isn't yet
I became aware of time
And then, that time is but a fake

Then i came to know of truth,
And all there is besides
and all there is, is only one
But divided, it's multiplied

Too many truths that could appear
Too many differences and parts
A whole completion to this science
And also, a complete lack of start

In the void, ever is dark
But it's also very clear
Light itself will burn and fade
Shall the darkness not evade

It's how the word begins the world
It's why the living have a shape
Everything comes out of nowhere
For in the void I simply am

A legacy i leave
To those who want to know
Of the void all voices shall return
and in silence shall remain

My legacy i leave to
those of you who know you're me
In the void at once all happens
And between to chose you're free



sábado, 9 de maio de 2015

Falsa Arte

Falam de amor
Se dizem do bem
Mas adoram o suicídio

Apenas arbitrando uma ineficiência do sistema
Pescam inúmeras e inúmeros
Corações quebrados por mentes doentias
Doentes de controle
Controladas pelo resto, sem saber

Tudo não passa de uma pescaria
E de qual é o jantar de hoje
Nenhuma verdade foi dita
Apenas a aparência de verdade
Foi usada como isca

E o suicídio foi aplaudido
E cantado em vários versos
E gritado e repetido em refrões

E vocês achando que achavam mesmo que o amor existia
Mas nunca o procuraram
Só riam
E choravam da própria desgraça
Uma carapaça contra todos
Que te lembram quem você é

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Dharma

A parte mais importante de aprender é o descanso.
É espairecendo, clareando, saindo do eu, deixando ir o peso do trabalho duro e preciso, rigoroso, que você se torna mais do que aquilo. Você supera aquilo que fez.
É a parte aonde você percebe que andou mais uma milha no caminho da morte, e percebe que tudo se tratava de mais uma etapa que te prepara apenas para vencê-la.
Só então você não se apega aos lugares, e segue o caminho com clareza.

Nós somos todos uma árvore gigante, a humanidade. E cada parte de nós tem que crescer como um galho que desabrocha caminhos novos pela planta.
Assim caso você não tenha achado o seu, volte ao seu natural instinto, ao seu eu verdadeiro, que está no coração. Não há meio de não ser o galho - só há folhas se há galhos, e sem folhas não há fôlego.

Pode ser quem seja você, ir aos mais altos montes e sentar para meditar ao lado dos mais santos e tornar-se um e santo como eles é tudo se for seu caminho e se for um atalho para voltar ao caminho, e nada se não o for.

Cada folha, pétala e fruto da árvore é essencial para cada um de nós e todos, pois somos todos um.


domingo, 12 de abril de 2015

Blind by choice

We can easily forgive a child who is afraid of the dark;

the real tragedy is when men are afraid of the light.

sábado, 4 de abril de 2015

De um dia para o outro

De um dia para o outro você pode acordar
E perceber que talvez não quisesse ter
Como a merda que fede por baixo do pano
recoberta e dessabida A verdade não pode ser

É duro saber de sua condição
Éramos deuses sobre os oceanos e flores
Éramos apenas os nossos amores, éramos um
Hoje somos a escravidão

Uma vez fomos senhores de nós
Sem precisar negociar a alma
Parte a parte cada dia por comida
Mas não estávamos a sós

Veio o véu da noite
Sobre a bela terra que nos acolhe
E trouxe com si aqueles que plantaram
e desde sempre colhem dA ilusão

Éramos deus, como os oceanos e flores
Éramos apenas, o amor era luz no caminho
Somos apenas memória fraca de nossa verdade
Da mãe natureza, restou apenas a grama

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Qualquer semelhança é mera coincidência

- Why do you always focus on the similarities rather than differences?
- Because every single fucking thing is fucking different anyway, you dumb.

As frases não tem a mesma carga no português. Você vê, as diferenças entre a língua inglesa e sua forma particular de praguejar (como colocando fuck em qualquer momento da fucking frase) não são para serem reconhecidas a esmo, são para serem apreciadas.
As diferenças existem aos montes - falando de línguas não parece tanto por existir um sistema padronizado de linguagem aceito que une os cidadãos, porém a língua não é apenas isso. Todo país tem inúmeros regionalismos. Em toda região existem subdivisões e subculturas que fazem parte de um todo indivisível. Tudo remonta ao indivíduo e sua característica de ser único. Então não há diferença para ser reconhecida mais uma do que a outra naquilo que não é universal - como por exemplo a arte.
A diferença é para ser apreciada. A semelhança é que é para ser reconhecida. É dela que se deve falar, pois é muito mais rara.
Se a semelhança for mera coincidência, também é, mera coincidência, a razão de existirmos.

Mas e se não for, afinal, tudo coincidência?

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Felizes para Sempre?

Antes de tudo, eu queria entender quando foi que começamos a subverter nossos valores. Não por simples hipocrisia, mas por completo mesmo.

As divisas entre nós são cada vez mais evidentes. Somos consumidos por responsabilidades, por distanciamentos sociais, por nossas distrações. Tinder, Instagram, noitada, tudo isso só fomenta a abertura do grande vale de nada que se cria entre nós. Com um esforço tão grande pra mostrar ao mundo o que a nossa personalidade representa, e com a exagerada importância que vemos a opinião do mundo sobre a difusão de nossas personas, as relações se reduziram ao pó. Superficiais, momentâneas, egocêntricas.

Quando foi que tudo que eu considerava importante, de repente, tornou-se obsoleto? A cumplicidade, o companheirismo, aquela ligação forte que une duas pessoas e as torna ainda mais fortes juntas, e a vontade de estarem juntas, de ser um time. Não falo nem de romantismo, falo de conexão. De construir algo real, um legado.

Parece um sonho que morreu junto com o Sega Saturn nos anos 90, ou um devaneio que se tornou inviável assim que eu pude enxergar o mundo com olhos menos ingênuos, mais castigados. Pra que ter um grande amor quando você pode ter uma trepada através de um simples “like”? Pra que se entregar, quando uma simples diversão momentânea vai te fazer sorrir e vai manter o teu ego intacto depois disso? Pra que se arriscar, se o risco não é assim tão necessário?

Hoje somos pessoas insensíveis. Trocamos o respeito pela satisfação pessoal, sem nos importar com os danos que essa troca pode vir a causar ao próximo. O que importa é aquilo ali, o momento. Uns acreditam que somos ruins. Eu prefiro acreditar que cansamos de apanhar e tocamos o foda-se pra vida. Somos fracos e egoístas. Desistimos do sonho. Trocamos por aquele grito bonito de desespero que a gente dá sorrindo, mas depois chora sobre a assimétrica maquete de poliestireno que é a vida.

Em algum ponto da cronologia evolutiva humana, nos tornamos ciborgues movidos a hedonismo (e esqueceram de me avisar).

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Para onde todas as coisas vão

Todas as coisas representam ética, e são alguém - ao passo que se tornam política, e então, tornam-se disputa; deixando, então, de ser qualquer coisa. Mas eventualmente voltam a ser.

Eventualmente, neste mundo, os seres se preocupam com o que são, e se encontram no próprio turbilhão de questões respectivo ao seu modo de ser, correto/errado, vantajoso/desvantajoso. E praticam o que são - Mas não o fazem sozinhos. Assim, ética se torna política.

Ora, o problema, caro Ent, como você pode ver, é que, assim que os seres acham que são apenas aquilo que os outros designam, é que a direção desta corrente se inverte. A política deixa de ser função da ética, e a ética passa a ser função da política, e não do próprio ser ao qual deveria servir.

Os seres tendem então a se perder em suas disputas, pois para eles, algumas vezes mais do que outras, o que os outros pensam sobre alguém ou sobre si tem mais importância que o próprio pensamento. Um país se divide durante uma eleição tal qual se divide durante um jogo entre dois grandes clubes rivais, com duração um pouco maior (algumas semanas) apenas.

Você vê, as pessoas acham que o que estão fazendo é tentando descobrir qual o candidato certo; qual o candidato menos pior; qual o mais ou menos desvantajoso; quais posicionamentos são mais ou menos adequados - como se isso fosse uma busca própria pela verdade verdadeira, ou por uma escolha fidedigna ao que acham que são ou como as coisas devem ser, por um instinto de validação de uma existência baseada no que os outros acham de si.

E quando muito o fazem; na maioria das vezes, arbitrariamente escolhem uma bandeira e a defendem com unhas, dentes, piadas infames e ataques sórdidos compromissados em ocultar a verdade propositalmente - o que é bem diferente de apenas ser descompromissados com a verdade. E ambos os lados fazem isso, cada um consultando seu próprio turbilhão de questões véticas e pescando o que conseguem dali para embutir no bojo de todas as questões. Tem que apelar.

Ironicamente, você vai ter a oportunidade de reparar (se, é claro, você não escolher nenhuma bandeira), que o que se faz com esse modo de ser submetido ao outro é que os bandeirantes de A nada conseguem fazer senão reforçar a ambos B e A que já estão certos sobre suas escolhas - ou seja, nem sequer convencem a alguém. No fim, as pessoas acabam escolhendo lados por coação/coerção e  persuasão, e quase nunca por convencimento, do mesmo modo que futebol.

Cara nasce em berço flamenguista, só há alguns cenários possíveis - se torna flamenguista por coerção ou persuasão da família, talvez mude para botafogo por causa da galera da escola (persuasão), quem sabe para o Vasco por causa daquele tio sacana que talvez seja o único que te dá atenção, ou seja, também por rejeição à tentativa de coerção familiar. Ninguém se torna sofredor por motivos racionais, se futebol fosse isso todo mundo torcia pro Barcelona e foda-se o futebol brasileiro.

Do mesmo jeito, na política não tem muito de racional. O que existe é um teatro onde as pessoas fingem se convencer de coisas sobre economia, educação, saúde e direitos como forma de agenciamento, por que todo mundo tá afim mesmo é de sair no lucro no jogo de quem sabe mais o que é melhor pro futuro do país, e desde muito antes já escolheram seus times para torcer.

Em algum momento desses - principalmente se você, ao contrário disso, escolher uma bandeira - você pode se pegar em dúvida a respeito de como tudo isso veio parar aonde está. Outro, caso resista à bandeiragem, pode se sentir impelido a adotá-la. É como se todos os amiguinhos estivessem brincando de pique, e você não. Mas você pára e se pergunta "porra, que que eu ia fazer mesmo?" - como que acordando de um devaneio sobre coisa qualquer que o distraiu na internet enquanto trabalhava; e fica estarrecido quando dá de cara com uma página de pornografia bizarra.

E no fim das eleições, toda essa emoção passa; as pessoas deixam de ser inimigas por razões irracionais, voltam a ser amigas - quem sabe isso também não seja teatro. A ética, quem sabe, passe a não importar mais muito.

Todas as coisas vão parar no gol.

domingo, 21 de setembro de 2014

Feliz Aniversário

Meu corpo de dor voltou. Desde o dia 15 eu me sinto estranho, mas tem piorado. Aquela sensação de corpo de dor antiga talvez tenha sido reativada por uma programação que eu tenho de desfazer, que é a de que meu aniversário é uma data triste.

Um aniversário deveria ser, teoricamente, a data aonde se comemora o nascimento - e portanto o fato de alguém viver (ou ter vivido) a partir deste. Na verdade, todo dia deveria ser seu aniversário.

Eu me sinto como se meus aniversários anteriores tivessem sido a exultação dos dizeres acumulados durante o ano que o precedeu de que eu era, em essência, algo inferior a um escravo - um boneco, que um tirano qualquer que se denominasse pai ou mãe ou responsável, afim de reclamar autoridade sobre mim, poderia fazer a merda que quisesse ou me obrigar a fazê-la. Já que este paga minhas contas.

Nesta ocasião, as pessoas me presenteavam de coisas que julgam que eu preciso ou quero, sem nunca terem me perguntado nada a respeito - pois é claro, como poderiam; não me conhecem, e afinal criança não tem querer. Neste estranho ritual, celebrava-se a minha ausência de personalidade e vontade chamando pessoas que eu não gosto para comemorar o meu nascimento me dando coisas que eu não quero e conselhos inúteis ou nocivos. Só posso concluir que o meu nascimento teve, então, alguma utilidade sádica na mente deles.

Fico velho e resolvo não mais compactuar com esse tipo de prática. Me chamam de ingrato.

O que dói mais não é a contradição nem o cinismo; é que no fundo, apesar de toda mágoa, eu queria que tivesse sido diferente.