Antes de tudo, eu queria entender quando foi que começamos a
subverter nossos valores. Não por simples hipocrisia, mas por completo mesmo.
As divisas entre nós são cada vez mais evidentes. Somos
consumidos por responsabilidades, por distanciamentos sociais, por nossas
distrações. Tinder, Instagram, noitada, tudo isso só fomenta a abertura do
grande vale de nada que se cria entre nós. Com um esforço tão grande
pra mostrar ao mundo o que a nossa personalidade representa, e com a exagerada
importância que vemos a opinião do mundo sobre a difusão de nossas personas, as
relações se reduziram ao pó. Superficiais, momentâneas, egocêntricas.
Quando foi que tudo que eu considerava importante, de
repente, tornou-se obsoleto? A cumplicidade, o companheirismo, aquela ligação
forte que une duas pessoas e as torna ainda mais fortes juntas, e a vontade de
estarem juntas, de ser um time. Não falo nem de romantismo, falo de conexão.
De construir algo real, um legado.
Parece um sonho que morreu junto com o Sega Saturn nos anos
90, ou um devaneio que se tornou inviável assim que eu pude enxergar o mundo
com olhos menos ingênuos, mais castigados. Pra que ter um grande amor quando
você pode ter uma trepada através de um simples “like”? Pra que se entregar,
quando uma simples diversão momentânea vai te fazer sorrir e vai manter o teu
ego intacto depois disso? Pra que se arriscar, se o risco não é assim tão necessário?
Hoje somos pessoas insensíveis. Trocamos o respeito pela
satisfação pessoal, sem nos importar com os danos que essa troca pode vir a
causar ao próximo. O que importa é aquilo ali, o momento. Uns acreditam que somos ruins. Eu prefiro acreditar que
cansamos de apanhar e tocamos o foda-se pra vida. Somos fracos e egoístas.
Desistimos do sonho. Trocamos por aquele grito bonito de desespero que a gente
dá sorrindo, mas depois chora sobre a assimétrica maquete de poliestireno que é a vida.
Em algum ponto da cronologia evolutiva humana, nos tornamos
ciborgues movidos a hedonismo (e esqueceram de me avisar).
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