quarta-feira, 25 de maio de 2011

O Estado Nacional: Parte III - Resolvendo o Problema

Como, e em quem, votar?

Mas como votar? Votamos muito mal no Brasil. Quando não votamos passionalmente, votamos por interesses em curto prazo. Devemos votar buscando nossos interesses individuais e os interesses de nossa família acima de quaisquer outros, sim, mas devemos ponderá-los em longo prazo. Bolsa Família ou educação pública de qualidade para que meu filho tenha um futuro mais promissor que o meu? Neste sentido, e até mesmo mais egoisticamente. Candidatos que defendem propostas de sentido muito lato, normalmente, não defendem nada.

Ponderadas racionalmente as propostas e postos nossos interesses em primeiro lugar, de forma objetiva, mas sem deixar de pensar no legado que deixamos a nossos filhos, devemos pensar na sociedade como um todo. Nosso voto deve ser dedicado aquele candidato que melhor sintetizar as virtudes cívicas de um homem político republicano: honestidade, patriotismo, idoneidade, coragem e força de vontade. Como encontrar alguém assim hoje no Brasil?

Se voltássemos a sessenta anos atrás, teríamos a UDN, que era “um partido que se batia pela moralização dos costumes políticos e que era uma projeção, no tempo, do que fora o Tenentismo das antigas revoluções. Um partido, enfim, ‘ruibarbosiano’, no que isso tudo quer dizer de retórica, de eloqüência, de ideologia liberal.”, nas palavras de seu porta voz mais afamado, o antigo Governador da Guanabara, Carlos Lacerda. O partido alenca, nessa descrição simples, toda uma gama de valores intrinsecamente republicanos e que foram esquecidos pelas elites políticas de hoje.

A Morte da Classe Média (ou A Morte do Republicanismo)

Houve uma repentina desconfiguração da classe média, através da ascensão de grupos que subitamente se tornaram economicamente capazes de compor-la. O problema é que esta ascensão se deu sem a própria formação de um mens de classe média. Enfim, nós temos hoje milhões de pessoas que se denominam classe média, se adéquam economicamente nesta definição, mas não tem o esteio intelectual, ou político-ideológico, para assim fazê-lo.

Todos sabem muito bem o quão fundamental a classe média é para o equilíbrio do jogo político pois, estando entre os dois extremos da concentração de riquezas social, é afetada pelas decisões políticas de ambos os lados, nunca de forma extremamente favorável, o que lhe configura uma independência e desvinculação de vertentes políticas que tendem a ser demasiado assistencialistas ou favorecedoras dos interesses da elite econômica do país, ou de ambos, como é o Governo brasileiro de hoje.

O que as pessoas não percebem é que esse jogo de duas caras da política brasileira de hoje, tanto social, quanto politicamente, não é feito para o bem de ninguém. Essa descaracterização da classe média faz ela se polarizar, seja a favor dos mais abastados, seja a favor do menos. E aqueles que, ao menos economicamente, passaram a se identificar com a classe média, mantendo seus costumes e forma de pensar política vinculada as classes menos abastadas, deturpam a posição econômica da classe média clássica em uma nova classe baixa, com mais poder econômico, mas defendendo as mesmas plataformas políticas.

E a classe média clássica deixa de existir frente a extremização político-econômica que ocorre no Brasil. Se observarmos, hoje, economicamente, só temos duas classes: os pobres e os ricos. E na política, só temos uma: a dos tecnocratas que, manipulando os interesses econômicos das classes baixas, os mantém em estado de inanição, para poder, com isso, satisfazer os interesses do grande capital. E isso tudo garantido graças a um arcabouço legal ostensivo, que impede a liberdade de mercado, ajudando a manter tanto os grandes monopólios e oligarquias, quanto a zumbificação das classes trabalhadoras. A concentração de poderes na mão do Estado, ter um Estado grande, como o Brasil tem, só garante os interesses dos dois extremos da corda, que nunca são a favor do indivíduo.

Spreading the Disease (O que fazer?)

E é justamente aí onde a classe média deveria entrar, para puxar o peso de volta ao centro, de volta ao liberalismo. E como fazer isso? A resposta é simples, a longo prazo. Educação. Educar as pessoas faz com que elas votem de maneira mais inteligente, com a intenção de melhorar de vida, de forma duradoura. Bolsa Família não faz ninguém ascender socialmente, só traz maior capacidade de consumo, mas profissionalização constante sim, além de acabar com nosso eterno peleguismo varguista. Os trabalhadores tem que exigir seus direitos sem se vincular a nenhum partido político ou se entregar como instrumento de seus interesses.

E a curto prazo? Aí a resposta é MUITO mais complexa, pois depende muito mais de vontade dos diretamente interessados. A classe média clássica, largada aos frangalhos, tem que meter mais a cara, deixar de acreditar que o envolvimento político implica corrupção ou vagabundagem, sair do estado de idiotização no qual se instalou após a Revolução de 64. Mostrar que o Estado Liberal, longe de ser a mamata trabalhista a qual o Brasil está acostumado, promove a evolução efetiva e voluntária do indivíduo, através da garantia de igualdade de oportunidades e a não limitação das liberdades. Enfim, o Estado como campo de ação de indivíduo, invertendo a microfísica do poder tão comum nos Estados latino-americanos populistas (e não nos enganemos, o Brasil, e quase todos os Estados latino-americanos, bem como a Europa do Bem-Estar Social são populistas e – por que não? - totalitários ) no qual o indivíduo é o campo de ação do Estado.

Apesar de ainda estarmos distantes desta nossa meta, podemos discernir no chão pegadas. A recente conclamação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a seu partido, o PSDB, já nos deixa sonhar com a possibilidade de um Estado onde o Supremo Tribunal Federal não legisle, onde o eleitor e o eleito sejam vizinhos próximos, onde os eleitores sejam responsáveis pelos seus eleitos e pelas atitudes destes, enfim, onde seja respeitada efetivamente a vontade do indivíduo, com todos os seus direitos e deveres.

O Estado-Babá onde vivemos tem que morrer para que possamos crescer. Temos que arrebentar a barriga de Cronos.

- Acho que já falei todo o necessário. Relembro que esse texto é um esboço sem revisão. Aceito sugestões. Se quiserem uma bibliografia, procurem por "Fascismo de Esquerda: A História Secreta do Esquerdismo Americano", de Jonah Goldberg, livro que me abriu muito os olhos. Aconselho também os escritos do professor David Friedman, um dos quais eu traduzi recentemente e vai ser publicado pela Revista do Centro de Estudos Jurídicos da Justiça Federal, e pode ser encontrado gratuitamente no blog: http://guilhermealfradiqueklausner.blogspot.com/ sob o nome de "Execução Penal Privada, Islândia Medieval e Libertarianismo". Estes, bem como a revista Liberty (http://www.libertyunbound.com/), me foram apresentados inicialmente pelo meu grande amigo Pedro Drumond. Aconselho também os trabalhos de G. K. Chesterton, que havia citado no começo do texto. Agradeço de todo meu coração aqueles que leram esse bando de opiniões infundadas por consideração ao autor e a sua opinião.

Abraços

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