segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A quinta dimensão (ou sexta)

O entendimento desse texto requer a leitura prévia de Teoria do Desequilíbrio.

Me disseram uma vez que existem seres cuja existência compreende mais dimensões do que nós. É um tanto complicado pensar, no entanto, como seria o fato de Ser em mais de uma dimensão temporal, poder trabalhar em mais de uma linha temporal ao mesmo tempo.

Perceba que o fato de ser é decorrente do criar, isto é, a constante reflexão entre criatura e criador, e em cada um, do cruzamento entre estado de criatura e estado de criador. A equação do Ser envolve as próprias derivadas deste em sua fórmula.

E nisso o sonho não-lúcido tem um lugar de destaque: é a igreja através da qual a criatura do homem, isto é, a idéia, comunica-se por vontade própria e soberana com seu criador.

Suponha que fôssemos capazes de sonhar mais de um sonho ao mesmo tempo. E temos de considerar então que isto seria emular duas realidades totalmente diferentes, com percepções vívidas diferentes.

Chuang Tzu sonhou que era uma borboleta e que tão vívido tinha sido o sonho que não sabia, ao acordar, se era Chuang Tzu acordado ou a borboleta sonhando ser Chuang Tzu. A pergunta colocada em Teoria do Desequilíbrio é: se dentre os inúmeros leitores do provérbio de Chuang Tzu, algum tenha por acaso sonhado que sonhava ser uma borboleta e depois acordava e era Chuang Tzu, exatamente igual à experiência subjetiva do mesmo, uma vez postulada essa igualdade, os momentos não seriam o mesmo?

Seja então este sujeito capaz de ter dois sonhos ao mesmo tempo.
Em um sonho, ele é A sonhando ser B que sonha que é C.
Ao mesmo tempo, tem outro sonho em que é A sonhando ser B que sonha que é C, porém desta vez, o sonho de B sendo C é levemente diferente do outro.
Nos dois sonhos, os protagonistas acordam e, tão vívida a experiência de sonhar ser C, surge a mesma dúvida se são B acordados ou C sonhando serem B.
Como os sonhos tiveram diferenças muito leves, suponha que agora os sonhos são de A são exatamente iguais, inclusive as sensações nubladas de memória do sonho de ser C, a dúvida se é B acordado ou C sonhando (dentro do sonho).
Quando A acorda, em ambos os sonhos, não sabe se é A que acabou de sonhar ser B, ou B que agora sonha ser A, logo após ter sonhado ser C. E em ambos os sonhos, estes momentos agora são iguais.

Porém o mesmo momento saiu de duas diferentes sequências de eventos. Duas linhas de tempo paralelas se encontraram num ponto e seguiram a partir dali coincidentes.

Engraçado seria se um homem dissesse que sonhou ser Deus, e tão vívida foi a experiência que agora não sabia se era Deus sonhando ser homem ou homem acordado do sonho de ser Deus.

O que fará Deus ao acordar de seu sonho de ser todos nós?

Não me diga que ele ficaria em dúvida se na verdade é ele acordado ou é todos nós sonhando sê-lo.

Um comentário:

Jana Sanches disse...

estou adorando esses textos do Blog,quero ler todos! "foi a erva mais louca q já experimentei". rs..são textos filosóficos e com muita lógica tbm e o mais legal de tudo é a pitada de humor q faz toda diferença. ^^