sábado, 2 de outubro de 2010

Teoria do Desequilíbrio


Você não vai entender esse post.

Quando o tempo se reduz a zero, o esforço beira as raias do infinito. Se não existissem os últimos minutos, nada nesse mundo seria realizado." 


- Murphy

Na minha antiga escola, que era católica, havia um irmão chamado Hilário.

Ele não era lá muito engraçado, mas era um velhinho muito gente fina, aparentemente uma pessoa muito boa e gentil, incapaz de fazer mal a uma mosca sequer. Foi uma das pessoas mais amáveis que eu já vi. Ele era cego. Mas não gostava de ser chamado de coitado, dizia que tudo que deus fazia era por uma razão.

Uma pergunta muito elementar levando em conta o contexto desse blog é: Será que se ele não tivesse ficado cego e toda aquela coisa de dificuldade, de família humilde, será que ele teria se tornado essa pessoa?

Eu vejo países muito ricos, onde a igualdade de direitos para os cidadãos é bastante presente. E lá, onde não há perigo, insegurança, medo da violência, da perda de seus entes queridos, e de outras coisas mais como aqui, as pessoas se suicidam aos montes.

Por quê?

Será que, como na Teoria do Equilíbrio, sofrer seria necessário, inerente, bom para o homem? A constante dor do existir e não ser o aquilo que ainda não se é, seria Necessária, para um dia, de fato, ser?

A noção de posse surgiu quando o homem descobriu o egoísmo: no surgimento da agricultura. Antes, quando nômade, o homem vivia em grupos que entendiam que quanto mais unidos maiores suas chances de sobreviver ao mundo. E por isso dividiam a tudo, nada pertencia a ninguém. Nem seus filhos, que eram criados por todos, e, principalmente, pelos mais velhos do grupo, os mais experientes. Nem suas mulheres, que eram mulheres de todos, e não havia motivos para ciúme e injustiça. Não havia posse.

Entretanto, o homem descobriu que algumas coisas quando azedavam formavam bebidas de sabor especial. E viram que era raro que isso acontecesse naturalmente. A comida era até fácil arranjar, foda era arranjar uma cerveja. E foi o homem descobrir como que fazia pra arranjar mais daquilo. E descobriu a agricultura. E quando o homem viu que seu trabalho todo plantando por uma vida toda, regando e esperando crescer era ceifado pelos outros enquanto seus filhos não eram lá tão bem alimentados, ficou puto. Não, não, aquele era o trabalho dele, ele é que merecia colher os frutos. Os filhos agora eram dele. A mulher também. E a família também.

Todos nós temos pequenas coisas, mas o que é que faz as coisas serem realmente Nossas? Que tipo de rótulo é esse?

Mais algumas particularidades a serem ressaltadas seriam com relação à fragilidade da própria noção de realidade do homem. Uma é quando se toma noção de que o Não-Existir é inconcebível. O que, segundo a linha de pensamento do texto O Propósito, seria quase Tautológico: as coisas que existem são só as que foram concebidas. Se o Não-Existir fosse concebido, passaria a existir. Não digo o conceito em si, digo o "como se é" quando não se existe. Por exemplo se você morresse e não tivesse vida após a morte ou coisas do gênero, como imagina que seria a partir daí? Como é o não-ser, o nada puro?

Outra particularidade concerne a fragilidade dos sentidos humanos. Nossa realidade é tão dependente deles, e sem eles somos tão patéticos. Veja por exemplo Ensaio sobre a Cegueira. Retirando-se a visão dos homens, por mais que continuem saudáveis, viram minhocas no macarrão. Ou o filme Perfume, onde um filho do caos, em busca da síntese do cheiro de sua amada que já não vivia mais, sintetiza um perfume com o cheiro extraído de algumas das mais belas espécies de jovens de toda uma região, e o perfume resultante tinha um poder mágico de tornar aquele que o utilizava um anjo, ou quando espalhado, fazer com que as pessoas tomassem para sí as características do perfume, desencadeando uma paixão avassaladora e incontrolável entre os mesmos. E depois de tudo isso descobre que o perfume nunca poderia lhe fazer amar ou fazê-lo amável, o que acaba sendo sua maior frustração e fonte de sua autodestruição.

Remover, enganar sentidos, sentimentos. Aquilo que gera o mundo dentro de nossas mentes, a fonte da cachoeira e de todo o rio. E pequenas mentiras estão a todo lugar.


Isso me lembra o Coringa de Heath Ledger, que gostava de matar com faca. Ele dizia que a arma de fogo era demasiado rápida, o que não lhe permitia apreciar os "pequenos momentos". Que nos momentos derradeiros as pessoas mostram sua verdadeira face. Ele dizia que era alguém que só fazia coisas, e não tentava planejar e controlar o mundo. E ele passava a faca nas pequenas mentiras.

Isso me lembra um pequeno paradoxo que me foi apresentado uma vez. Seja um semi círculo de raio 1. Seu perímetro é pi. Se fizermos 2 semicírculos de raio meio, isto é, dentro desse semicírculo maior, teremos 2 perímetros de pi/2, que somados dão pi também. Analogamente para qualquer número de divisões.

Suponha que o número de semicírculos tende a infinito. Parece que os semicírculos vão ficando cada vez menores e a soma deles se parece com a linha reta abaixo deles, certo?

Entretanto, essa linha é o diâmetro e mede 2. Como pode isso se a soma dos perímetros mede pi?

Isso mostra que na vida, o número de semicírculos é tão grande que a gente pode achar que pi é igual a 2.

(Na verdade não tende à linha. Observe que os pontos de encontro entre os semicírculos são bicos, e portanto não existe derivada. Quando o número de semicírculos tende a infinito, o número de bicos também tende a infinito, o que implica que, de certo modo, todos os pontos são bicos, logo toda a figura não possui derivada, o que a impede de ser uma reta)


Eu vejo uma calça azul. Mas o que garante que o azul que eu vejo é o mesmo que você vê? Meu azul pode ser um pouco mais verde. No entanto, ambos olhamos para o azul e Sabemos que ele é azul.

Chuang Tzu uma vez sonhou que era uma borboleta, e que nada sabia de Chuang Tzu. Apesar de meio gay, é um provérbio chinês metafórico, e lembra matrix. No sonho, havia apenas a certeza de que se era uma borboleta e se voava, e não saberemos como era a percepção de um jardim, por exemplo, se era como nós vemos, ou se era um polígono verde. A imagem é subjetiva, apesar da memória. Quando Chuang Tzu acordou, tão vívida foi a experiência que ele não sabia se era agora uma borboleta que sonhava ser Chuang Tzu ou se era Chuang Tzu que tinha sonhado ser uma Borboleta.

Da incapacidade humana de imaginar o não-ser, surge a idéia de consciência alheia ao ser, que alguns poderiam chamar de espírito. Para Berkeley, o idealismo implica que não existe matéria fora da noção de percepção, seja atual ou conjectural. Para Hume, não existe Espírito fora da mente, isto é, a noção sucessiva do mundo material e tudo além. Os elementos são percebidos, convertidos em sensação, enquadrados em estado mental e resolvidos em interação.

A matéria não passa de uma sucessão de percepções, e o espírito não passa de uma sucessão de estados mentais. Considerando que o tempo não existe fora do presente, não há sucessões que não sejam as que se classificam no passado atual ou no futuroconjectural, o que é ilusório à percepção, que é presente. Nem espírito, nem matéria essencialmente existem, apenas as idéias delas, nem a noção de sucessão do tempo é válida

Se dentre os inúmeros leitores do provérbio de Chuang Tzu, algum tenha, por acaso não impossível, sonhado que sonhava ser uma borboleta e depois acordava e era Chuang Tzu, exatamente igual à experiência subjetiva do mesmo, uma vez postulada essa igualdade, os momentos não seriam o mesmo?

Se há negação dos termos da série e do sincronismo de séries temporais, há negação do tempo.
Suponha agora que tenhamos um avançado mecanismo de neurocomputação capaz de induzir pensamentos com exatamente as mesmas noções de percepções, isto é, experiências iguais, em sujeitos diferentes. Este computador induz aos sujeitos o pensamento de que estão pensando algo. Porém esse pensamento é tão breve quanto o acender da luz. Quando eles se derem conta de que pensaram, estarão pensando que pensaram em pensar. E se dariam conta de que estariam pensando que estavam pensando em pensar em pensar. E assim infinitamente.
P (P) = P então P = P(P) = P(P(P)) = P(P(P(P...(P))...)

Se os indivíduos percebem isso em épocas diferentes mas de maneira igual, temos um motor de tempo paralelo ideológico.

O mundo então existe na mente do idealista. Existem, nesse mundo, outras mentes. E nessas mentes, existe o mesmo mundo, sob outra percepção. E dentro desse mundo, também existem outras mentes, inclusive aquela da qual partiu o raciocínio. E assim infinitamente.

E se existe uma mente que não está contida em nenhuma das mentes enquanto parte do mundo, mas todas estão contidas nelas como parte do mundo e como donas do mundo?

Como desencriptamos a indução do pensamento?

Como descobrimos que pi não é 2? Através do pensamento? Através do caminho da ação caótica, como metaforicamente o Coringa aqui foi usado?

Porque o Desequilíbrio é exatamente a função de deus. A diferença de potencial, o raio.

O que eu estou tentando aqui é descobrir a fórmula do manifesto dos filhos do éter: aquela que leva à quebra da cadeia, da sincronia, da sucessão. O despertar para a magia é a única maneira de governar esse mundo para todos de verdade. Pois do caos nós nascemos e por isso não seremos menos nem mais que isso. Exceto dentro do mundo, que é a nossa mente.

Um mundo de idéias de pseudo-inseguranças como forma de emular o caráter predatório, calculadamente plantadas, para que Este desequilíbrio impedisse que os suecos e finlandeses se suicidassem.

Porquê todos querem igualdade, todos querem equilíbrio, e eles não vêem que isso é só mais uma forma de desequilíbrio. Existe equilíbrio só quando existe numa mente, logo num universo inteiro, logo não existe.
O equilíbrio nunca existirá pois ele fere o propósito do mundo. O equilíbrio em uma mente não é equilíbrio em outra. O equilíbrio é o ponto zero do mundo.

Paremos de estudar o equilíbrio, e passemos a estudar o desequilíbrio. Este é o novo paradigma.



PS: Cabe aqui um comentário. Esse post foi propositalmente escrito com desconexões e algumas vezes falta de argumentos. É uma espécie de metalinguística, e quero que quem leia pense no que faltar. Produza as partes que faltam afim de fazer sentido, como Gestalt. Só assim o pensamento realmente se reproduz. Mais idéias irão surgir conforme o tempo, e haverá propostas concretas.

Um comentário:

Guilherme Alfradique Klausner disse...

Texto mais genial postado no blog.