sexta-feira, 29 de abril de 2011

Talking 'bout my generation II

Uma sequela ao texto anterior por mim, dessa vez.

Conforme eu havia comentado no texto anterior, o assunto é de vastidão muito grande, pois pode ser que o problema de todos tenha raízes comuns. De maneira que poderíamos falar infinitamente e não conseguir extrapolar nada.

Engraçado é que hoje mesmo eu li um texto atribuído a Veríssimo, apesar de não acreditar que seja dele, visto que muito se escreve e joga no nome dele hoje. Aparentemente já era um tanto antigo, sobre BBB11, e Bial chamando os integrantes de Heróis.

Heróis, que ficaram num confinamento insuportável por uns três meses, muito choraram e muito sofreram, e que foram aclamados pelo público, e por isso legitimamente merecem prêmios, fama ou sei lá mais o quê.


CARALHO! Herói é o cara que sustenta a família com um salário mínimo!

O que tange nisso é que tanto se desarmou, desatribuiu e desvalorizou certas armas, atribuições e valores, que as palavras pouco sentido têm, por mais importantes que essas devessem ser. Mas não importa o quanto seja, atingem assim mesmo.

As palavras perderam seu valor, o ser humano enquanto criatura sensível e analítica perdeu o seu valor.
Mas as palavras não perderam a força, perderam o valor, a força ainda continua lá, por que por mais que o povo saiba que é de "brincadeirinha" que se toma por herói o vagabundo que pega a mulé e faz intriguinha na casa e sorri bastante e ganha a merda do BBB, eles acabam inevitavelmente tomando-o por tal.

Os heróis hoje surgem da noite pro dia, e a história sequer toma o trabalho de escrevê-los de tão rápido que somem, por que nunca o foram de fato.

Dou meus parabéns diariamente ao fórum hardmob e ao fórum VT por terem feito de Marcelo Dourado um herói que a Globo não queria que fosse. Ele só fez o que devia e que muitos queriam ter feito mas não podiam.

E nossa música reflete nossa vida, e nossa vida reflete nossa música. Nosso rock é tosco, é triste, é embriagado. Nosso hip hop é gangsta, pimp. E nossa música vende modos de ser. E um modo de ser fracassado. Nós redefinimos a palavra cool pra nos referirmos a fracassados. Kurt Cobain era um fracassado. Foda-se se ele entendia seus sentimentos. Se isso ocorria é porque você tem sentimentos de um fracassado.


Isso me lembra muito essa citação de Tyler Durden:

"Eu vejo aqui os homens mais fortes e inteligentes que já viveram. Vejo todo esse potencial desperdiçado. Toda uma geração de frentistas, garçons e escravos de colarinho branco. A propaganda põe a gente para correr atrás de carros e roupas. Trabalhar em empregos que odiamos para comprar coisas que a não precisamos.

Somos uma geração sem peso na história. Sem propósito ou lugar. Nós não temos uma Grande Guerra, não temos uma GrandeDepressão. Nossa guerra é a e.s.p.i.r.i.r.i.t.u.a.l, nossa depressão são nossas vidas.


Fomos criados através da televisão para acreditar que seremos milionários e estrelas de cinema. Mas não somos. Aos poucos tomamos consciência disso e estamos muito, muito, putos."


Nossa geração está tão sem valor que endeusam o Felipe Neto, que nada mais é que alguem como nós, que deveria ser o padrão de todos. Um cara com algum bom-senso e iniciativa de empreender uma boa tentativa de iluminação a algumas pessoas, uma vez também inconformado com o mundo tosco.
Mas ele é só isso. Não há nada demais além de um pouco de mau-humor cômico, talvez sarcasmo, óculos escuros e algum bom-senso.

Estamos tão sem rumo, que um deputado honesto, que recusa seus beneficios, é tratado como Deus pela mídia.

Para ser sincero, às vezes eu mesmo me pego com o pensamento e as metas a curto prazo tangenciando isso aí mesmo, diversão por diversão, sem compromisso. Mas vou fazer o que véio, eu estou um fudido, não tenho como planejar nada sem dinheiro, construir coisas. Isso em breve mudará de figura, mas por agora o máximo que eu posso é adquirir conhecimento e sempre que puder escrever ou passar ele de algum modo. É a unica forma de se crescer e absorver mais.


Quando eu penso em me divertir, eu considero que seriam fins últimos. Existe diversão em aprender, casar, ter filhos, vê-los crescer, formar empresas, trabalhar, claro que tudo a seu tempo. Existe diversão, prazer nisso tudo. Pelo menos deveria existir, pelo apreciar da boa música.

Porém, como acima, a mídia põe a gente pra trabalhar em empregos que não gostamos para comprar coisas a que não precisamos. E aí nunca vai funcionar. Por que enquanto estivermos insatisfeitos, estaremos comprando mais, e quanto mais compramos, mais trabalhamos em coisas que não gostamos para comprar o que não precisamos, e ficamos ainda mais insatisfeitos.

Quando penso nesse aspecto, tudo se resume a uma especie de lista de coisas a fazer, "tasks before die". Sem pretensão alguma de ter de consumir nada a que eu não precise, tudo bem estudado.

Por que fatalmente, toda música tem de acabar.

E não é o tom que ela acaba que importa, é a sensação que ela deixa no cara que ouve, ou uma idéia que ela tenha passado.

Esse é o conteúdo, o que falta. Falta propósito para as pessoas. Mas elas talvez sequer saibam que isso existe.

Elas têm um instrumento e só fazem barulho com ele.

E aí você de repente se depara com Restart fazendo sucesso.

Todo mundo quer ser herói. Todo mundo quer ser rockstar. Não tem problema nenhum nisso. O que não podem aceitar é que qualquer idiota vire um, só por que aprendeu 3 acordes, e um outro idiota com grana botou ele pra aparecer na tv. Como eu costumo dizer, uma das piores coisas que têm é dar dinheiro na mão de idiota.

Como eu havia pretendido chegar desde o início. Fato observado é que, por mais que a gente fale dos n aspectos sob os quais se manifestam as coisas que a gente falou, sobre o tanto que se desarmou, desatribuiu e desvalorizou certas armas, atribuições e valores, que acho que a gente acaba não conseguindo mover adiante.

Então fica a pergunta: como seria possível investir efetivamente contra esse movimento?

Acho que há uma saída em usar o próprio movimento contra ele mesmo. Você vê, as grandes obras de influência fazem isso ganhando em escala na burrice do povo.

E se existisse uma elite intelectual capaz de disseminar idéias afim de neutralizar esse tipo de controle indireto? Se você fala de pessoas menos esclarecidas, você pode ou controlá-las indiretamente, e vai funcionar. Ou você pode informá-las, e se você for eficiente, elas vão te seguir também, por que elas não têm informação, não têm um caminho, e quando tu tá perdido qualquer caminho serve. Elas muitas vezes sequer sabem que a informação existe, em muitos casos.

O problema, na verdade, vem a ser que falta pessoas capazes ou dispostas a empreender essa ação, de através da crítica e das ferramentas atuais com bom alcance, como o Felipe Neto de certa forma faz, botar algo que preste na cabeça dos outros.

Fica aqui a deixa, para que nós nos juntemos a essa missão, que nesse início de conversa, antes se resume a reunir informações ante aos questionamentos mais presentes, de modo a ter não só esclarecimento, mas também boas armas de entendimento para com os outros.

Precisamos sair dessa espécie de Matrix, e começar a resgatar os outros.

Um comentário:

Guilherme Alfradique Klausner disse...

Caralho, cada vez mais estamos chegando sempre nas mesmas conclusões. Como o resto do mundo não consegue?
Como sempre, muito foda o texto. Espero que vocês tenham sucesso na máquina de multiplicar tempo, porque tamo precisando de um barzinho dos brother! UHAUHUHA