quarta-feira, 27 de abril de 2011

Talking 'bout my generation

É impressionante ver como estamos perdidos e nem nos tocamos. Não nós, eu, você e mais uns três amigos, mas toda uma geração. Acho que se estratificarmos as pessoas que nasceram entre mil novescentos e oitenta e oito e mil novecentos e noventa e um, vamos ter que fazer um esforço para encontrar um ser humano virtuoso.

Não sei explicar o que houve, se foi o alinhamento dos astros, ou a influência de astros do Rock, que nos fez sair assim, profundamente niilistas. Nós somos realmente uma geração perdida em álcool e sexo, para a maioria, e drogas, para uma minoria. E nós achamos isso um máximo. Essa vilipendiação de nossa própria dignidade. Nós nos achamos muito melhores que os mulequinhos de hoje, porque eles curtem Jonas Brothers, que não bebem nem usam drogas, enquanto nós éramos fãs do Oasis, que se dizia maior que Deus.

Se vocês conseguissem ver como eu vejo, como isso é TOTALMENTE errado, a maior parte dos problemas, que acreditamos ser individuais, seriam vencidos. Nossa insegurança, nosso medo, nossa inquestionável fé de que não existe nada que seja superior em valor, moral ou físico. Nós somos uma geração que pegou os perdedores das gerações passada e transformou eles em campeões de uma nova cruzada, contra as normas morais e legais, sem atentar para o fato de que são elas que nos fazem mais do que animais.

Nós achamos a religião um embuste e não conseguimos ver o quão mais profundo ela atinge nos espectros da vida de um ser humano, perpassando valores morais, sociais, políticos, jurídicos, e ainda, se você for um homem de fé, garantindo que nós tenhamos a vida eterna. Ela não existe só por existir, ou dar poder pr'um velhinho rico que mora num palácio no meio de Roma. Ela serve para cimentar os laços sociais, preenchendo os buracos deixados pelos abusos de nosso individualismo.

Nós achamos o Amor um embuste, e fizemos dele um embuste, porque achamos que o Amor tem que ser cool, que tudo tem que ser cool, porque nada é por si mesmo. Nossa geração é uma onde o indivíduo não vale nada por si só. A não ser que esteja cometendo uma extrema estupidez.

Nossa geração não vale nada e deveria ser extirpada da face da terra. Nós somos uma erva daninha e, a não ser que nos convertamos em algo melhor, nós seremos a vergonha do futuro. Todo mundo fala que o mundo está ficando perdido. O mundo não está ficando perdido. Nós somos perdidos, a juventude é perdida. Cometeu muitos excessos e não consegue se olhar no espelho sem se arrepender.

Eu vejo essa galera mais jovem, que valoriza um bando de coisas que, quando eu tinha a idade deles era estúpido, e só os excluídos, como eu era, praticavam. Nossa elite social, e daí falo da classe média, porque os mais abastados - ressaltando aí que não são TODOS os abastados, tem um extrato específico ao qual eu vou me referir posteriormente - sempre foram meio perdidos (vocês vão entender meu ponto em breve, quando eu falar do dando que o conforto econômico causa na alma de um ser humano), era um bando de playboys de merda, que pegavam umas patricinhas de merda, e que hoje não são nada. Não sabem nada, não fazem nada, não pensam nada.

Isso certamente ocorreu porque a situação financeira do país se tornou mais confortável. Com mais dinheiro, os pais mimaram mais os filhos, e o mimo, como todos deveriam saber, é o sal na terra de um homem, impedindo que qualquer coisa que seja boa cresça. Também teve a ascensão da cultura das classes populares, que enfrentou um grande processo de marginalização cultural, e aí englobo todas as facetas da cultura, política, artística, social, entre outras, e transformou - afinal, antes da Revolução de Sessenta e Quatro, como sabemos, as massas eram BEM politizadas - aqueles que a ela pertenciam em um grupo de animais. E a cultura niilista desse grupo, que já havia se conformado com seu próprio confinamento em uma zona da qual era impossível sair, foi assimilada com facilidade por uma geração que não precisava, nem conseguia, sair de debaixo da asa dos pais. E de repente TODO mundo achou isso super normal.

Quando ser um gangsta, ou ser um pimp, virou maneiro? Cacete, a duzentos anos atrás, o lugar mais longe que uma pessoa de cor poderia chegar da senzala era um favela, e agora elas estão nas TV's. Não falo que isso é ruim não, o ser humano é igual, e finalmente foi corrigido um crime histórico, e eu excluo qualquer cogitação de racismo em minhas palavras já declarando meu apoio incondicional e admiração por quaisquer grupos de Orgulho Negro - orgulho mesmo, altivez; não um bando de oportunistas que se fazem de coitados para ganhar cotas em concursos públicos. Mas, Deus, o que houve com a mentalidade do mundo, que pegou o antes desprezado de centenas de gerações e transformou em heróis de uma nova geração tão rápido? Não que eles não possam, nem devam, ser heróis, mas os anos nos quais eles correram, injustamente, à margem do acesso a riqueza material produzida pela sociedade, fez com que isso se tornasse um novo Deus. Sintetizando, a rápida ascensão social de uma classe anteriormente marginalizada, no caso, um grupo étnico, baseada somente na capacidade de gerar capital e sua vinculação com a ideia de reparação de um "atraso econômico-político-social" em relação a outros grupos étnicos, deturpou sua mens, antes tão comprometida com seus próprio ideais e cultura - vide os diversos movimentos de Supremacia Negra existentes no mundo. E para eles o dinheiro e a capacidade de gerá-lo se tornou tudo.

E foi muito rápido. Isso pode significar duas coisas: Uma mentalidade mudou completamente, ou uma mentalidade foi corrompida, para que os papéis tradicionais de herói e bandido tenham se invertido*. Muita gente fala de Amor, Solidariedade, e essas coisas todas, importantes sim. Mas pra essa gente, isso é retórica para por em prática uma leniência e transigência moral inaceitável. Eu não considero isso uma mudança de mentalidade. Acredito que nossa mens foi corrompida, porque em algum momento, algum idiota disse na mídia que nossos pais não eram satisfeitos com suas vidas, ou alguma estupidez dessa, e alguém disse: "Hey, vamos tentar o inverso!" Claro que, se nossos pais são satisfeitos, viram um exemplo. Se não são, você cata outros de gente que deu certo em um contexto geral (para deixar claro que esse contexto envolve MUITO mais do que a vida econômica da pessoa). Porra, garanto que qualquer pessoa foda não vai achar um Liam Gallagher da vida um semelhante, um igual. O cara odeia o irmão, não tem, aparentemente, uma vida amorosa feliz, é feio, canta mal e tem um cabelo rídiculo. (eu gosto de Oasis, juro.)

Mas voltando ao assunto dos rappers. De repente você tem a fina flor da sociedade achando isso, essa galera que antes era tido como escória, agora assumindo hábitos normalmente associados a brancos, maneiro. É compreensível o ódio de alguns rappers negros por brancos e rappers "zoeiros". Porra, os caras te escravizaram pra ganhar dinheiro, e agora você tá venerando um estilo de vida que eles criaram, afinal esse niilismo todo é europeu, e esse consumismo todo, americano, às custas do suor de gerações da sua família?! Tem alguma coisa MUITO errada nisso. Não que deva haver uma guerra racial, nem nada do tipo, mas falta dignidade nessa forma de pensar. All this shit is fucking ridiculous, como diria o grande Kanye West.

Nós achamos foda um estilo de vida onde o que importa é ter. Pode parecer clichê, mas é verdade. Todo mundo sempre teve que ter alguma coisa, pra pertencer a algum grupo, para já começar contestando essa galera que acha que antes do surgimento do capitalismo a galera vivia a pão e água, bando de ascetas doidões. Não é assim também. Mas porra, agora você só é o que você tem. Nisso sacanearam. E se você tem contato com pessoas mais simples, que refletem mais sobre a própria condição, sem ter medo do monstro que se esconde dentro de todos nós, a parada, ainda que um pouco melhor, é díficil também. A galera tá experimentando de tudo, achando que tudo é traquilo de fazer. Não é. O futuro é consequência direta do passado (e o presente só existe como abstração retórica - mas isso é assunto pra outro texto...).

Tem essa parada também, e eu não sei se a relação é unilateral ou recíproca. Nós somos seres muito mais musicais do que todo mundo que veio antes, à exceção das minorias daqueles loucos anos sessenta, setenta. E nossa música reflete nossa vida, e nossa vida reflete nossa música. Nosso rock é tosco, é triste, é embriagado. Nosso hip hop é gangsta, pimp. E nossa música vende modos de ser. E um modo de ser fracassado. Nós redefinimos a palavra cool pra nos referirmos a fracassados. Kurt Cobain era um fracassado. Foda-se se ele entendia seus sentimentos. Se isso ocorria é porque você tem sentimentos de um fracassado.

E pra uma geração que valoriza o ter, nós não valorizamos o sucesso com esforço. CARACA, um desses milionários americanos aí da gilded age começou sendo engraxate. E ficou milionário. Você acha que ele gastava dinheiro na boîte? Ou que não trabalhava? A maior parte das pessoas que constitueam as castas altas da minha geração são um bando de nouveau riches (esses são os abastados problemáticos aos quais eu havia me referido), que surgiram agora na história do mundo, graças a um provável esforço de alguém na família deles, e eles mesmo não querem se esforçar, querem curtir a vida, sem pensar no que vão deixar para o futuro, do mundo e de suas próprias famílias.

Aliás, me diz Deus, que graça é essa que todo mundo fala que tem em ser jovem? Claro que tem vantagens que os maduros não têm, como as físicas, mas que graça tem nesse lifestyle jovem, que se serve de uma ostensiva propaganda pra vender um niilismo tosco, de praia e boates? Não sou contra a diversão não, longe disso, todo mundo que me conhece sabe que eu me divirto bastante, mas eu sei que isso, na minha vida, não é ABSOLUTAMENTE nada.

Nossa geração despreza o futuro, a reflexão. Ou quando reflete, reflete sobre coisas distantes da nossa realidade, pra impedir que a reflexão seja "contaminada com opiniões pessoais"! Qual o medo da individualidade? Que insegurança é essa? Somos inseguros porque sabemos que estamos tomando o caminho errado.

Gosto de ver a galera mais nova, que mete a cara, fala que tá certa mesmo, mais certa que você, que é mais velho que ela, e que acha foda ser inteligente, virtuoso, e essas paradas. Nós somos lixo, lixo que tentou voar alto, se deparou com sua própria condição de inferioridade e caímos num mar de insegurança. Nós somos Ícaros sem dignidade nenhuma. Nós nos tornamos o que sempre veneramos. Nada.

* Vejam bem, sou a favor de uma mudança maior do que uma simples inversão. É muito importante a formação do ideal de herói (por herói entenda-se qualquer pessoa admirada) e vilão (qualquer pessoa antagonizada por uma maioria) na mentalidade humana, ainda profundamente maniqueísta. Ressalto que não sou a favor de um herói WASP, que luta pelo cristianismo e bla bla bla, e um vilão de qualquer outra etnia e orientação religiosa. Sou a favor de heróis que lutem pelo bem, pelo moral, e não pelo materialismo fútil do dia de hoje.

P.S.: Talvez esse texto tenha futuras revisões e desenvolvimentos, mas tava testando escrever um texto de supetão, e aproveitei o desprezo que eu tenho por essa merda toda. (K.W., fecho contigo!)

2 comentários:

Yuichi Inumaru disse...

Tu devia escrever umas letras saporra aí, ia ficar do caralho veio

A parte do fracassado me lembra muito a citação de clube da luta que eu fiz no meu outro texto e postei tbm no facebook como nota.

Muito bom veio, entretanto por mais que a gente fale desse assunto, nenhuma quantidade de papo vai me deixar menos inconformado.

disse...

Esse é um assunto recorrente em nossa mesa redonda rs.
O ser humano está perdendo seu valor, sua identidade, com a constante abertura da produção de conteúdo (arte), acabamos por globalizar e desvalorizar as pessoas que realmente produzem esses conteúdos da forma que os tornam especiais, com isso temos um cenário onde "pessoas normais" sem habilidade especifica criam conteúdo sem o menor esforço, apenas baseados em uma ideia fraca e ferramentas que facilitam a produção, e como bilhões de "pessoas normais" tem acesso a esse material, mais pessoas se identificam com ela e dão suporte a esse tipo de "arte", acabando por desvalorizar a arte no geral.
(Acabei de explicar a origem de 'Restart' e 'Justin Bieber' SUAHUASHAHSUASUASH)
É essa falta de valor e de proposito que me preocupa, deram tanta liberdade para o ser humano mas esqueceram reforçar os valores mais importantes como respeito e honestidade (falando de forma bem geral), aí vira essa bagunça que estamos vendo...
No final, somos apenas idiotas sem objetivos fazendo coisas que não sabemos porque, para alcançar algo que não sabemos o que é. (Clube da Luta, oeee!)
Enfim, temos que dar continuidade a esse papo mais uma vez numa mesa de bar.