terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O Novo (Velho) Homem

Tenho um amigo que constantemente se indispõem com diversos tipos de pessoas. Ele é truculento, brigão, orgulhoso, arrogante, grosseiro e, muitos de seus comentários, desnecessários. Mas também é inteligente, esforçado, orgulhoso, arrogante e de bom coração.

Eu sempre tive vontade de escrever um texto sobre o comportamento desse meu amigo. Eu devo admitir que por muito tempo não o entendi. Até hoje não consigo compreendê-lo totalmente. Não tivemos uma relação fácil durante uns dois anos, talvez pela minha incapacidade de respeitá-lo como ele era, talvez pela incapacidade dele de respeitar qualquer pessoa pelo que ela é. Mas, depois de um tempo, a maturidade e o cansaço nos convenceram a transigir mais e pudemos, enfim, nos tornar amigos.

Com a oportunidade de conviver mais com ele, pude compreendê-lo melhor e, ao final de algum tempo, mesmo a admirá-lo. Ele tem uma qualidade rara de ser encontrada entre os homens de hoje, este bando de ratos covardes. Ele é orgulhoso do que é, e com motivo. Rapaz dedicado, conseguiu sucesso nos estudos, e se considera acima da carne seca pela sua capacidade intelectual superior. Mas nunca vi ele maltratando quem quer que fosse pela sua menor capacidade de compreensão das matérias que ele dominava. Eu mesmo tive diversas oportunidades de debater com ele sobre assuntos que estavam totalmente dentro de sua alçada e totalmente fora da minha, e nestas conversas fui muito bem tratado, apesar de admitir que devo ter lhe dado trabalho, pois compreendia realmente muito pouco das ciências discutidas.

Esta capacidade de compreender as limitações intelectuais de certas pessoas talvez provenha do fato de já ter lecionado, campo aliás onde teve grande sucesso. Apesar de sua famosa grosseria e rudeza, sua capacidade de transmitir o conhecimento só era limitada pela capacidade da pessoa de aprender. Aliás, coisa que repudiava era a falta de dedicação e, consequentemente, o insucesso. Apesar dele mesmo não ter sido sempre um parceiro da fortuna, seus próprios fracassos lhe ensinaram que, para conseguir as coisas que queria, somente com muito esforço e dedicação. Por isso que, independente da capacidade intelectual daquele com quem conversa, bastando que haja esforço por parte deste, se mostra sempre solícito para iniciar quantas vezes que fossem necessárias qualquer explicação.

Imagino que, neste caso, a arrogância seja justificada. Um homem deve se sentir melhor que os outros, porque, caso não se sinta, nunca poderá efetivamente sê-lo. Não pode deixar que o desrespeitem no core do que é ser um homem. Talvez a palavra certa a ser adotada aqui fosse altivez, mas imagino que, para a maioria dos medíocres, qualquer homem que tenha consciência da sua superioridade deva ser considerado um arrogante. A arrogância, diria eu, é a altivez sem sentido, infundada, é um rato querer passar por leão.

Sua grosseria foi impulsionada pela natureza extremamente sincera de seus relacionamentos. Mas nem sempre foi assim. Quando em meio a pessoas corruptas, oprimido, sua arrogância, mãe desta rudeza, o transformou em um fraco, e foi neste período que tivemos mais problemas. Mas, uma vez jogada a luz sobre as sombras que encobriam a verdade deste meio, insurgiu-se contra esta corrupção sem medo e largou de lado os velhos hábitos por ela ensinados. Optou, após, por sempre falar a verdade, não importando o quão grosseira ela fosse. Se a rudez e a grosseria andarem acompanhadas de uma estrita fidelidade a verdade, então imagino que não haja problema em ser rude e grosseiro.

No entanto, nunca virou as costas totalmente para ninguém. Sempre foi adepto da filosofia do perdão. E, tendo havido este, comportava-se como se nada tivesse acontecido antes. Até que lhe traíam a confiança de novo. No entanto, tem um grupo pequeno de amigos verdadeiros, que cultiva ardorosamente. Por estes amigos, faz o possível e o impossível, sempre oferecendo um ombro amigo e palavras de encorajamento. Imagino que tenha um coração tão grande que, mesmo falando algumas coisas sem pensar, dificilmente faria mal a uma mosca e, normalmente, quanto mais violento o comentário por ele proferido, mais provável que ele tenha sido o maior ofendido na história. Imagino que ele estenderia a mão a qualquer um que necessitasse de ajuda, mesmo que alegue que só faria isso aos que realmente merecessem.

Tem hábitos simples, este meu amigo. Toma sua cerveja, tem seus amigos, sente-se orgulhoso de quem é. Este orgulho provém de um misto de suas próprias conquistas individuais e de suas origens. O Orgulho neste caso é fundamental para que o homem confie em suas próprias atitudes e não deixe-se ser escravizado pelas suas paixões. Um homem escravizado pelas suas paixões é um derrotado. Mas nenhum homem deve ser tão orgulhoso de si mesmo a ponto de perder o "common sense" como disse Ruyard Kipling em "If".

Um homem deve ser, acima de tudo, orgulhoso de suas origens. Quem não sai aos seus é um monstro. Imagino que esse homem, provavelmente um resquício de um passado mais digno, deveria vencer em nossa sociedade, apesar de não crer que isso seja possível. Nossa sociedade é fraca e valoriza o fracassado, o problemático, o desencaixado. Consequência de nossa corrupção, onde todos os valores aristocráticos de honra e dignidade foram trocadas pelos valores dos medíocres. Onde todas as virtudes, republicanas ou morais, são motivo de deboche de uma cultura niilista que valoriza o impotente ao mesmo tempo que ensina o forte a pisoteá-lo. Esse meu amigo é um perdido na multidão, um atavismo que, infelizmente, a evolução não está disposta a acatar.

Vejo-me um pouco em seus olhos. Gosto do que vejo. Todo homem deve buscar o equilíbrio, mas a nenhum homem deve faltar o orgulho e a arrogância, em doses sutis, e a simplicidade, a misericórdia e a altivez. Não sei como as pessoas podem não concordar com isso. Talvez a massificação, a Democracia tenham feito isso. àqueles que não são iguais, que não são medíocres, que são melhores, a morte! Todo homem deveria ser um pouco helden, um pouco Cristo. Seus defeitos, eu os perdoo. É muito difícil encontrar as qualidades que atribuo a ele entre os homens de hoje em dia. Ele é um bom homem. Espero que ele ache o mesmo de mim.

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