sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Manifesto sobre o Namoro

Você aprendeu a namorar vendo novela?
Você já foi chantageado emocionalmente por idéias subjetivas e muito questionáveis do modelo "quem ama (não) faz isso"?

Se sim, parabéns, você faz parte da massa.

Este texto é um prosseguimento de Manifesto sobre o Amor.

Há algum tempo atrás, tomei a decisão própria de que não mais namoraria, até completar uns 30 e poucos anos. Essa decisão teve base em experiências com relacionamentos passados meus e de outros.


Quando a gente gosta de alguém, significa que temos afinidades, produzimos respostas sensoriais (às vezes automáticas) associadas ou à pessoa dada ou a características/comportamentos relativos à tal.

Assim, um relacionamento qualquer que seja é uma troca de experiências sensoriais, e também de informações com o objetivo indiretamente semelhante. Alguns tipos de relacionamentos possuem regras, claras ou não, como forma de delinear melhor esse tipo de estimulação mútua.

O sexo, por exemplo, é prazeroso, e é portanto uma ferramenta de estimulação sensorial mútua, sendo parte por isso de alguns relacionamentos na sociedade humana, como o namoro ou o casamento.
Já a poligamia do parceiro pode ser desprazerosa e desagradável para algumas pessoas, sendo para elas, portanto, algo incompatível com um namoro.

Vejamos, abdicar da poligamia é restringir sua liberdade de escolha em um aspecto. Isso requer um gasto de energia por parte da pessoa que o faz.
Logo, se o indivíduo se sujeita a um tipo de acordo com essa cláusula, esse acordo deve ser recompensante por outro lado, naturalmente. Quando ele deixa de ser recompensante, o acordo deve ser desfeito.

Por isso eu duvido que namorar seja algo coerente nos dias de hoje para o cidadão médio.

Vejamos.
  • O namoro é um acordo que firma um relacionamento de cunho amoroso entre duas pessoas. É de comum senso que ele seja monogâmico também. 
  • Para manter um relacionamento deste tipo operando devidamente, é necessário, como nós sabemos, que ambas as partes invistam tempo, dinheiro e energia em estimulações sensoriais de uma gama indizível de coisas.
    • Como prazeres sexuais, paixão, carinho, afeto, humor, alegria, conquista/realização de feitos, entre muitas outras coisas. 
    • Como uma empresa, em que os sócios precisam investir recursos para obter retorno.
  • Como qualquer compromisso firmado, decorre que há direitos e deveres. Você tem o dever de ser fiel, e tem o direito de cobrar fidelidade. Você tem o dever de investir energia, e o direito de cobrá-la.
Perceba que há, devido ao caráter formal do acordo, cobrança de ambas as partes, sob pena de desqualificação social e moral perante ao círculo de pessoas conhecidas entre ambos, perante aos quais foi firmado o contrato social.
Alguns psicólogos levemente desprovidos de capacidade de abstração vão confundir esta característica com o objetivo do relacionamento em si, chegando a dizer que o "namoro é para os outros mesmo" - por causa daquela teoria que fala da aceitação ao grupo, lembrado? Cuidado, dizer que ele é qualificado para dizer isso é um argumento ad hominem - uma falácia das brabas.

Se tomarmos por característica humana a tendência à escolha de mais baixo potencial de energia - o que uns chamariam de preguiça, outros de falta de energia, outros de 'N coisas que significam a mesma coisas de antes mas munidas de pretextos diversos' - o compromisso mútuo vai levar inexoravelmente ao esgotamento energético de uma ou ambas as partes, levando à crise e possível colapso do relacionamento.
É como se os dois sócios da empresa ficassem depositando e tirando dinheiro investido nela a todo momento, de modo desorganizado.

Algumas pessoas vão dizer que é preciso ter fé, que é preciso ter coragem pra encarar as crises, os problemas, isso e aquilo, aquele romantismo de filmes e novelas, ou algum blábláblá que alguém/alguma revista ensinou.
Elas só não vão saber dizer o porquê disso, exceto quando tentam formar as clássicas tautologias que levam aos inexoráveis "Sim por que sim/Não por que não".

Se dêem ao luxo de pensar: o que é que se constrói de um relacionamento senão a história deste? Depois que as sensações acabam (e elas são substâncias químicas), é a única coisa que sobra.

Então sobre essa épica idéia de perseverança, vejamos.
Suponha que eu tenha um recipiente com 20g de um sal qualquer, e jogo 100ml de um solvente qualquer. O sal dissolve quase completamente, restando um pequeno corpo de fundo apenas.
Ora, se eu jogo mais 100ml do mesmo solvente e o corpo de fundo não dissolve, então o corpo de fundo não é composto do mesmo sal que o resto.

Isso mostra que o problema, muitas vezes não está na forma de procedimento, mas na incompatibilidade de sua estrutura com os elementos tratados por ele.

O namoro presume que as pessoas possam usar o contrato social firmado através do pedido de namoro como forma de conseguir o que quer da outra pessoa, e não o objetivo essencial do relacionamento, que é o relacionamento propriamente dito - a troca de experiências sensoriais de qualquer grau que seja, como dito antes. Isto é, ficam se fazendo valer do compromisso assumido pelo outro para ter o que desejam enquanto direito sem que se cumpra seu dever.
Você já ouviu a clássica do cafajeste "mulher segura pára de dar"?
Alguns casais menos, outros mais frequentemente fazem isso. Obviamente isso corrompe a relação, pois é de um feito corrupto por si só. Fato é que as pessoas se acomodam eventualmente e deixam de procurar a conquista diária do outro - elas estão se salvaguardando dos direitos implicados pelo contrato.


Eu não namoro pois acho necessário que se pratique a confiança na outra pessoa, e não em um contrato.
 De maneira que, se eu gosto de alguém, nunca vou propor nem persuadir a outra pessoa a firmar um acordo só para que eu possa me sentir seguro dos meus direitos a partir daí.
  • Se eu gosto de verdade de uma pessoa, serei naturalmente impelido a agir de forma pró-ativamente estimuladora (como definido anteriormente). 
  • Vou assumir que ela vá querer fazer isso também caso goste de mim - isto é, ela não tem a obrigação de me retribuir. Faço por que gosto e ela pode fazer por que gosta também.
  • Se no entanto eu me sentir insatisfeito com o resultado da operação, eu poderei diminuir o investimento sem qualquer obrigação, o que poderá ser ou não sentido por ela. 
    • Caso não seja sentido, singifica que o relacionamento não tem futuro, pois o objetivo primário é de investir energia estimulando é se sentir estimulado. 
    • Caso haja resposta positiva de reinvestimento, aí eu posso querer escolher a voltar a reinvestir.

E isso tudo tende ao equilíbrio dinâmico do investimento, como o mercado no modelo neoliberal.

Então posto isso, que coerência tem para o paradigma atual usar de um acordo para firmar um relacionamento? Isso é condená-lo ao insucesso e expor o relacionamento básico com a pessoa ao risco de extinção. Em casos mais graves, o próprio relacionamento entre os círculos envolvendo o casal.

A confiança é a faculdade através da qual se dá um crédito de algum tipo a algo ou a alguém.
Logo, a confiança na outra pessoa deve ser inquestionável desse ponto de vista - se você gosta dela, tem que confiar nela. Ora, se você investe em alguma coisa, precisa ter alguma confiança naquilo, baseada de preferência em evidências bem analisadas.
Como você vai investir em algo em que você não tem confiança nenhuma em que vai te dar retorno?


No entanto, isso não significa que você pode cobrar à outra pessoa explicações e explicações de todas as coisas que ela faz. Isso significa que você deve confiar apenas, isto é, dar o crédito de que esta pessoa usará de seu bom-senso na forma de agir contigo e com os outros perante você, para qualquer coisa que seja.

Veja também que esse modelo pode ser aplicado a homossexuais, dos quais inclusive pode-se tomar casais muito mais estáveis que a média sem haver no entanto uma união formal, fruto de uma mentalidade aberta a questionamentos e pró-ativa em resolver-se honestamente.

O Arquiteto explicou a Neo que foi o Oráculo, um programa intuitivo, quem formulou a resposta para a aceitação da realidade implicada pela matrix, com 99% de sucesso: desde que as pessoas tivessem escolha, mesmo a um nível subconsciente, elas aceitariam o programa.
Isso explicita a melhor forma de controle indireto do ser humano, a delusão da liberdade de escolha. NWO fikdik.

Como já foi dito desde o início desse blog, as pessoas só escolhem a melhor opção que conseguem calcular ao momento da escolha.
Nós sabemos que o fato de existir vida é estranho do ponto de vista termodinâmico, onde o aumento de entropia favorece o acontecimento das reações, ou seja, o aumento no número de moléculas, a decomposição de moléculas grandes, é uma reação favorável desse ponto de vista.
Somos um amontoado de moléculas bem grandes. Somos uma grande soma de mecanismos de controle do ponto de vista cinético de reações, para evitar o aumento de entropia. E as moléculas procuram o caminho cinético de mais baixa energia no momento em que estão reagindo.
Talvez não seja diferente conosco.

Você quer fazer o outro feliz?
Pare de palhaçada, vá e faça - não tire a liberdade dele para seu próprio cortejo. Se você o fizer, é provável que ele vá fazer o que você quer naturalmente. Se você não conseguir, tudo o que ia fazer estabelecendo o acordo seria acabar de uma vez com todas as esperanças.

Nenhum comentário: