sábado, 6 de novembro de 2010

O sentido da vida

Resolvi reformular esse texto pois ele não estava muito claro.
Na verdade, ele não se propõe a esclarecer o sentido da vida, ele se propõe a mostrar que a vida tem um sentido, se tiver, independente da real questão humana: qual é o sentido de ser?

Eu tentei, conforme abaixo, dar uma explicação meia-boca usando coisas da segunda lei da termodinâmica, então não sejam muito rigorosos. O lance é algo do gênero "tem alguma coisa a ver com isso aí, sacou" demais para ser levado a sério.

Por que ser vivo sem se dar conta de que se é vivo é o mesmo que ser rico sem se dar conta de que se é rico. Não é ser.

Se pegamos, por exemplo, um Hexaaquo-cobalto e reagimos com aminas, poderíamos ver que ele reage melhor com uma diamina (ligante bidentado) do que com uma amina simples (monodentado). Veja abaixo:

1 Co(H2O)6 + 6 NH3 --> 1 Fe(NH3)6 + 6 H2O
7 moléculas -> 7 moléculas

1 Co(H2O)6 + 3 EDA (etileno diamina) --> 1 Fe(EDA)3 + 6 H2O
4 moléculas -> 7 moléculas

A reação debaixo é favorecida pois há aumento no número de moléculas na segunda reação, ou seja, aumento de entropia. As entalpias são praticamente iguais, por isso não se trataria de termos energéticos.

As reações onde isso acontecem não precisam ser químicas, podem ser físicas, como o gelo derretendo acima de 0ºC - exemplo clássico de aumento de entropia. Coisa que, aliás, acontece naturalmente uma vez que a energia de Gibbs diminui quando isso acontece nessa temperatura - e a cachoeira sempre flui para  o posto de menor energia.

Em acordo com a segunda lei da termodinâmica, trabalho pode ser completamente convertido em calor, mas calor não pode ser completamente convertido em trabalho. Com a entropia procura-se mensurar a parcela de energia que não pode mais ser transformada em trabalho em transformações termodinâmicas.

Disse deus quando fez o mundo: conservai a energia, e aumentai a entropia. E assim tem feito o universo todo, sempre que rola um trabalho, parte vira trabalho e parte vira calor, mas nunca só trabalho. Haverá uma hora em que tudo estará em equilíbrio de um tal modo que não haverá de onde tirar energia para realizar trabalho e transferir a energia, pois para onde quer que seja transferida, estará indo contra a diminuição de potencial. No conto de Asimov esse é o ponto chave: como impedir que o universo se desfaça conforme a entropia tende a infinito, já que as reações em todo universo são favoráveis ao seu aumento? Como impedir uma situação de estatização geral das coisas? 

Algumas pessoas (me inclua) vêem semelhanças nisso com a forma com a qual se comportam sistemas econômicos.

Podemos ver um ser vivo por duas maneiras. Era antes um monte de matéria bruta espalhada, um porrilhão de moléculas, e agora é uma porra só. Ou pode ser um porrilhão de moléculas, que agora é um porrilhão de moléculas junto, mas ainda, um porrilhão de moléculas.

Em geral, os Bioquímicos definem a vida como um conjunto de moléculas que em suas interações mútuas desenvolvem um programa de auto-regulação, cujo resultado final é a perpetuação da mesma coleção de moléculas. Um equilíbrio dinâmico que ao trocar matéria e energia com o meio permite a redução da entropia.

Antes eram plânctons, agora mamíferos, e depois humanidade, e depois só Asimov sabe. A vida é o meio que o universo achou de evoluir o mecanismo de balanço termodinâmico-cinético. O sentido da vida é, de certo modo, compensar o aumento de entropia. É a vida que evolui e, no conto de Asimov, desenvolve o demônio de Laplace, que descobre como "inverter" a tal da entropia.

Eliminamos uma pergunta da infinidade das quais poderiam ser uma das perguntas fundamentais sobre a vida, o universo e tudo mais.

Agora passa-se à pergunta: qual o sentido de ser?

2 comentários:

Guilherme Alfradique Klausner disse...

Segui o raciocínio e achei bem válido, mas você foi esperto com o título. Tendo destrincheirado isso, vamos catar agora o Sentido do Ser, que é tenso! (tinha digitado errado!)

Yuichi Inumaru disse...

Heheheheh, é, é verdade, mas é importante ver que tem percalços na hora de fazer essas perguntas, e tem que tomar cuidado pra não se confundir na hora de procurar respostas.


O mais importante é que esse raciocínio está em ressonância, como de praxe, com o conto de Asimov, mas sob outro aspecto.

O sentido de ser é que é tenso, isso sim.