sexta-feira, 10 de julho de 2009

O Mar

Outro dia desses resolvi descer uns pontos antes pra ir andando pela praia de icaraí. Agora tem um corrimão até, maneiro.

Era uma bela noite, com nuvens bem finas e transparentes como que formando uma superfície de vidro cristalino recém limpa, e do outro lado dela, a lua.

Eu parei pra dar uma respirada e ficar olhando de bobeira, e fiquei lá, olhando para o mar. E comecei a escutar o som que ele fazia. Com tanto carro passando, fazendo barulho, gente correndo, gente pra lá e pra cá, tenho certeza de que era o único fazendo isso.

É diferente de quando você vai à praia, na praia todo mundo está ali pra isso, para aproveitar o sol e o mar. Olhar para o mar e tentar escutá-lo de uma rua, de noite ainda por cima, é meio diferente. Parece que ele tem mais a dizer.

Por uns instantes eu senti como se pudesse conversar com o mar. Não digo conversar, mas trocar sentimentos ou idéias. E pior que eu não estava chapado. Mas é como conversar com um animal, um cachorro por exemplo. Não adianta falar com palavras com ele, falar de coisas, perguntar nada. Ele não vai responder, ele não sabe falar. Mas você pode acariciar a cabeça dele, falar "bom garoto" e até dar um abraço no bicho. Ele vai corresponder, certamente, do jeito dele.

É meio estranho e pra alguns até forçação de barra dizer isso, mas eu tou pouco me fudendo mesmo. Isto não é sobre conversar com o mar ou coisas que não parecem ser tão vivas assim. Talvez o mar até seja vivo, como vamos saber, talvez o planeta em si seja um ser vivo, whatever.

Isto é sobre sentimentos. A todo momento estamos racionalizando sentimentos, colocando limites neles, tentando inutilmente explicar alguns dos mais complicados, quando o grande ponto não está em ver como ele funciona. Sentimentos são deus. Sentimentos são puro ato. O mar é puro ato. É antinatural limitar sentimentos como costumamos fazer.

O importante não está no que os faz girar, mas em que estão conectados, ou seja, o canal deles. Quero dizer, se eu converso com um cachorro, faço carinho, ele até late ou coisa e tal, mas é lógico que ele não faz uma porra de idéia de 5% do que eu tou falando. Mas ele reage assim mesmo. Ambos um gostamos do outro, e no final é o que acaba importando. Então pra quê o resto?

Se você vai ao mar e acha que suas ondas parecem lhe fazer carinho, talvez faça sentido para você tentar fazer de volta. Qual a diferença de fazer com um cachorro? É claro, o cachorro é bem menor, não dá pra fazer carinho no mar com a mão. Mas se você tivesse um cachorro e perdesse a mão, é provável que ele continuaria gostando de você assim mesmo. Então tudo o que você precisa é fazer o primitivo da comunicação, prestar atenção nele e tentar passar o que sente, e se ele tentar lhe corresponder de alguma maneira, seja passando o focinho pelo seu braço, sei lá, talvez vocês compartilhem sentimentos.

Quando eu estava olhando para o mar, pareceu por uns instantes que eu podia ouvir o que o mar dizia, mas ele não falava em linguagem alguma. Ele simplesmente transmitia um sentimento puro. Que eu não faço idéia do que era, mas era puro, era verdadeiro. Mais até do que um cachorro, que tem contato conosco, e às vezes pode se fingir de desentendido quando faz merda, até vermos o cocozão no meio da sala. O conhecimento traz a possibilidade do falso.

Por isso temos que ser sinceros com nós mesmos, pois quanto menos somos, mais afastados do puro somos, e menos sentido nossa existência tem. (A não ser que descubram o real sentido da vida como sendo outra coisa não necessariamente ligada com a variação de entropia do universo e coisa e tal.) A existência pode até ser, mas a vida não é só interação casual, as populações que sobreviveram à seleção natural(por assim dizer), mantinham-se unidas, e sobreviviam por colaboração mútua. Isso significa que a evolução pode depender da união(isso se abre para divagações interessantes).

Todo mundo pode conhecer a si próprio, sendo apenas sincero, apesar disso requerer coragem. E se não gostar, mude isso, nem que seja preciso fazer uma tempestade. Não sei quem foi que disse que coisas não podem ser mudadas. Tudo pode ser mudado. Nós fomos paridos de algo que não pára de mudar. Bob Marley queria mudar o mundo, curar o mundo, unindo as pessoas, com o amor. Curar com amor, no sentido puro da palavra.

2 comentários:

Lo Scienziato. disse...

Até agora, foi o texto que mais gostei de ler, e que mais me identifiquei. :)

Cibele disse...

to tentando seguir esse blog mas nao aparece o linkzinho de seguiir. :~