Toda onda
naturalmente produzida entrega consigo um conjunto de harmônicos para além da
frequência fundamental. Se esses harmônicos são múltiplos inteiros da
fundamental, então temos uma série harmônica e é possível perceber uma nota -
por que os harmônicos que soam junto da frequência fundamental não realizam
interferência destrutiva na onda resultante de modo que a descaracterize.
A
configuração das intensidades destes harmônicos entregues juntamente com a
frequência fundamental é chamada de timbre
- esta configuração altera o desenho da onda resultante da soma de fase
dos harmônicos com a fundamental. Por esta razão podemos distinguir sons
diferentes na mesma frequência.
Música é a
atividade humana que consiste da seleção de sons e organização destes com a
intenção de dramatização.
Harmonia é
a sensação provocada pela organização de sons cuja frequência é proporcional,
isto é, é igual senão pela multiplicação de um escalar inteiro (100hz, 200hz, 300hz,
400hz, etc harmonizam). A percepção da harmonia entre dois sons prescinde o
entendimento de que dois sons soam bem juntos e são parecidos.
A idéia de
organização dos sons é feita com a intenção de dramatização, mas de onde vem a
sensação boa provocada pela harmonização em si?
O budismo
nos diz que tudo é ilusão; bem, a faixa de sons que ouvimos é bastante
limitada, e mais ainda é a faixa de comprimentos de onda luminosa que
enxergamos. A verdade é um sonho impossível: para sabermos a verdade holística,
ulterior e transcendente, seria necessário tudo saber - tudo o que já
aconteceu, acontece e acontecerá, e tudo o que for durante todo o tempo em que
o universo vier a ser. O que é impossível, visto que a percepção é limitada
(entre outros motivos).
O que a
organização e a sistematização permitem é que haja um vislumbramento de um todo
mesmo que não haja a percepção de parte de seus elementos. A partir da
experimentação dos fragmentos presentes na natureza, os químicos foram capazes
de desenhar o modelo da tabela periódica, prevendo a existência de elementos
que ainda não existiam ou não haviam sido descobertos.
O que há de
belo na harmonia é portanto a verdade transcendente vislumbrada por trás da possibilidade
de todos os sons, que é sentida na combinação de dois (dentre inúmeros possíveis)
sons que somam construtivamente suas fases e harmônicos - entregando toda uma série harmônica junto que é percebida, conscientemente ou não.
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