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quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

A última pergunta

É grande. Leia com tempo e calma.
A última pergunta foi formulada pela primeira vez, meio a brincar, em 21 de maio de 2061, quando a humanidade se começava verdadeiramente a desenvolver. A pergunta resultou de uma aposta de cinco dólares e o caso aconteceu da seguinte forma:
Alexander Adell e Bertras Lupov eram dois dos fiéis assistentes de Multivac. Sabiam tudo o que havia a saber sobre o gigantesco computador – tudo o que lhes era permitido saber, claro está, pois Multivac possuía muitos segredos nas suas milhas e milhas de extensão. Os dois homens, contudo, conheciam o computador melhor do que qualquer outro ser humano, e tinham uma idéia bastante acertada do seu plano geral de circuitos numa era em que mais ninguém se atrevia sequer a tentar estudar a complicada e intrincada maquinaria.
Multivac não precisava de grande assistência, pois ajustava-se e corrigia-se, sem auxílio humano, quando isso era necessário. Adell e Lupov eram apenas assistentes em nome e as suas funções eram muito superficiais e ligeiras. Limitavam-se a fornecer informações ao computador, a ajustar as perguntas de forma a torná-las mais compreensivas e traduzir as respostas em termos que o público percebesse melhor. Os dois homens, tal como todos os seus colegas, tiveram todo o direito de participar na glória de Multivac no dia em que este tornou pública a sua maior invenção.
Multivac auxiliava os especialistas, há muitas dezenas de anos, a construir naves espaciais e a traçar as trajetórias que as levavam à Lua, Marte e Vênus, mas para além desses planetas, os pobres recursos da Terra não podiam abastecer essas naves. A energia necessária para as viagens mais longas era demasiada, e o carvão e o urânio já escasseavam na Terra.
Multivac foi aprendendo lentamente a responder a perguntas mais fundamentais sobre o assunto, e, em 14 de maio de 2061, o que era teoria passou a ser fato.
A energia solar passou então a ser acumulada, convertida e utilizada por todo o planeta. A Terra deixou, quase de um momento para o outro, de servir-se de carvão e de urânio e começou a usar os raios invisíveis da energia solar que eram fornecidos por uma pequena estação, com uma milha de diâmetro, situada a meio caminho entre a Lua e a Terra.
Passados sete dias, quando finalmente Adell e Lupov conseguiram escapar às funções públicas e à glória que partilhavam com Multivac devido aquela tremenda inovação, os dois homens encontraram-se num pequeno recanto silencioso de um das câmaras subterrâneas que abrigavam algumas das partes do gigantesco corpo de Multivac. O computador merecia também um momento de calma e repouso e os dois amigos não tinham, de começo, a menor intenção de o incomodar.
Adell e Lupov tinham trazido consigo uma garrafa e a sua única intenção, de momento, era passar um momento agradável em companhia um do outro e da garrafa.
- É fantástico quando pensamos no que isto representa – comentou Adell, depois de encher o copo e de ter provado a bebida. – Toda energia que for necessária, de graça, completamente de graça! Energia suficiente, se a absorvêssemos toda, para derreter completamente a Terra. Toda energia que quisermos para sempre, para sempre e para sempre!
Lupov resolveu contrariar o amigo, como era seu hábito e, ainda por cima, fora obrigado pelo outro a comprar a garrafa.
- Para sempre não!
- É como se fosse para sempre. Até que nosso sol se acabe – Respondeu ele.
- Isso não é "para sempre".
- Está bem, tens razão. Bilhões e bilhões de anos, energia para pelo menos vinte bilhões de anos!
Lupov passou a mão pelo cabelo intrigado por aquele problema: - Vinte bilhões de anos não é "sempre".
- Não, mas temos energia para toda a nossa vida, respondeu Adell, ligeiramente agastado pela insistência do amigo.
- O carvão e o urânio também não nos faltariam durante toda a nossa vida.
- Concordo... Mas agora podemos abastecer todas as naves espaciais sem dificuldades. Podem ir a Plutão um milhão de vezes e voltar à Terra, sem preocupações de combustível, o que não era possível com carvão e urânio. Pergunta a Multivac, se é que não me acredita.
- Não preciso de perguntar a Multivac. Sei-o muito bem.
- Então não desprezes o que o Multivac fez por nós, exclamou Adell. – Já tem feito muito pela humanidade e agora ultrapassou todas as expectativas.
- Não compreendeste o que eu queria dizer. Não pense que não admiro Multivac tanto como tu. Eu disse apenas que vinte bilhões de anos não é sempre, e que o sol não é eterno. E, então, que sucederá quando o nosso sol morrer? Perguntou Lupov, muito excitado. – Não me digas que ligamos a corrente a outro sol.
Adell não respondeu e o silencio naquele recanto tão tranqüilo tornou-se completo. Os dois homens estavam muito pensativos, bebendo lentamente e repousando das fadigas e barulheiras da semana finda.
Lupov, passado um bocado, abriu os olhos e perguntou subitamente ao amigo: - Estás a pensar em usar a energia de outro sol quando o nosso morrer não estás?
- Nem sequer estava a pensar, respondeu Adell.
- Isso é que estavas. O teu mal é não seres muito forte em lógica. És como aquele rapaz que foi apanhado na rua por uma chuva torrencial e que se abrigou debaixo de uma árvore. Não se preocupou nada pois pensou que, quando aquela árvore estivesse encharcada, iria para debaixo de outra!
- Bem te percebo, disse Adell, - Queres dizer que, quando o nosso sol morrer, os outros também virão a morrer.
- Naturalmente, resmungou Lupov. – Tudo teve origem na explosão cósmica inicial, causada não sabemos por que, e tudo acabará quando as estrelas morrerem. Umas gastam-se mais depressa do que as outras, e os sóis gigantescos não durarão mais do que cem milhões de anos. O nosso sol viverá uns vinte bilhões de anos e os sóis anões uns cem bilhões de anos, mas já sabes que estes não nos serviriam de muito. Estou convencido de que dentro de um trilhão de anos já não existirá nada no Universo. A entropia tem forçosamente de alcançar um determinado máximo, ou julgas que não?
- Sei tudo o que há a saber sobre entropia, disse Adell com uma dignidade forçada.
- Isso dizes tu.
- Então sabes que tudo tem de acabar.
- Sei tanto como tu
- Está bem, eu não disse que assim não fosse.
- Isso é o que disseste. Dizia a pouco que a energia solar seria para sempre. Disseste bem "para sempre"!
Era a vez de Adell contrariar o amigo: - Talvez nos venha a ser possível evitar o fim de tudo.
- Não é possível.
- Porquê? Temos muito tempo pra estudar o assunto.
- Nunca.
- Pergunte a Multivac.
- Pergunta tu. Aposto que tenho razão. Aposto cinco dólares que o universo não será eterno.
Adell já bebera muito, mas ainda possuía a necessária sobriedade para frasear os necessários símbolos e operações a fim de formular uma pergunta que, em palavras, corresponderia a: Será a humanidade capaz de evitar que todas as estrelas, e nosso sol em particular, venham a morrer de morte natural?
Ou talvez a pergunta devesse ser formulada da seguinte maneira: Como poderá a quantidade de entropia do universo ser diminuída considerávelmente?
Multivac parecia ter morrido, depois da pergunta lhe ser formulada, o silêncio era total e os dois amigos quase não ousavam respirar tal era a tensão que os dominava. O teletipo que servia aquela porção do Multivac começou a funcionar subitamente. A resposta continha seis palavras: DADOS INSUFICIENTES PARA UMA RESPOSTA SIGNIFICATIVA.
- Não temos aposta, murmurou Lupov, e os dois amigos resolveram deixar precipitadamente o local, pois a atmosfera carregara-se demasiado naquele momento de tensão e expectativa.
Na manhã seguinte, com muitas dores de cabeça e arrependendo-se do muito que tinham bebido, os dois amigos não recordavam de todo o episódio.
.oOo.
Jerrodd, Jerrodine, e Jerrodette I e II observavam a imagem de estrelas e constelações a modificar-se quase instantaneamente no visor de bordo, já que a passagem pelo hiper-espaço fora efetuada no seu lapso de não-tempo. A poeira de estrelas, que antes se via, dera lugar a um único predominante disco de luz que parecia centrado no espaço.
- Trata-se de X-23, comentou Jerrodd, apontando para o disco. As duas pequenas Jerrodettes nunca antes tinham passado pelo hiper-espaço e encontravam-se um pouco estonteadas por aquela súbita sensação de exterior-interioridade, mas depressa se recompuseram – começando a cantarolar e dançar na nave espacial. – Alcançamos X-23... alcançamos X-23, alcançamos...
- Calem-se meninas, disse Jerrodine, agastada por todo aquele ruído. – Tens certeza, Jerrodd? Perguntou ela ansiosamente ao marido.
- Não posso deixar de ter certeza, pois não? Perguntou Jerrodd, por sua vez olhando para o longo tubo de metal que corria ao longo do teto e que não era tão comprido como a própria nave.
Jerrodd pouco sabia a respeito desse tubo de metal, exceto que se chamava Microvac e que era possível formular-lhe perguntas, que tinha a função de guiar a nave a qualquer destino que lhe fosse comunicado, que se abastecia de energia nas várias estações sub-galáticas e que computava as equações para as transições hiper-espaciais.
Jerrodd e a família nada tinham a fazer durante a viagem e limitavam-se a viver confortávelmente na parte habitável da nave.
Alguém lhe dissera uma vez que o "ac" no final da palavra Microvac representava as palavras "análogo" e "computador" numa linguagem de outros tempos, mas Jerrodd não fazia a menor idéia do que isso significava.
Jerrodine sentia-se bastante infeliz e não tirava os olhos do visor. – Não me habituo a idéia de abandonar a Terra para sempre, disse ela com lágrima nos olhos.
- Porquê? Perguntou Jerrodd. – Aquilo não era vida. Em X-23 teremos tudo que quisermos. Não estaremos sós, nem sequer seremos pioneiros. O planeta já tem mais de um milhão de imigrantes como nós. Os nossos netos também terão de procurar um novo planeta quando este tiver uma percentagem de população por milha quadrada mais elevada do que é indicado, disse ele, acrescentando depois de uma curta pausa. – Não sei o que teria acontecido se os computadores não tivessem inventado as viagens hiper-espaciais... da maneira que a população vai aumentando!
- Bem sei, concordou Jerrodine muito triste.
Jerrodette I afirmou, muito orgulhosa: - O nosso Microvac é o melhor dos Microvaques.
- Também me parece, respondeu Jerrodd acariciando a filha.
Era muito conveniente possuir um Microvac e Jerrodd alegrava-se de fazer parte desta geração e não da passada. No tempo do seu pai, os únicos computadores que existiam eram máquinas enormes que ocupavam muitas milhas de extensão, e só existiam um único em cada planeta. Chamavam esses AC Planetários. Os computadores cresceram fantasticamente em mil anos de aperfeiçoamentos e expansão, e depois começaram a diminuir em tamanho de uma maneira vertiginosa. Em lugar de transistores, que inicialmente possuíam uma importância vital no funcionamento dos computadores, começaram a usar-se válvulas moleculares de tal forma que, finalmente, os AC Planetários passaram a ter apenas metade do tamanho de uma nave espacial.
Jerrodd sentia-se sempre muito orgulhoso quando pensava que o seu Microvac era mil vezes mais complicado do que o antigo e primitivo Multivac que descobrira a forma de utilizar a energia do sol, e quase tão complicado do que o AC Planetário da Terra (o maior de todos) que inventara o método de viajar pelo hiper-espaço e que tornara possível as viagens por todo o Universo.
- Tantas estrelas e tantos planetas! Exclamou Jerrodine, soltando depois um suspiro de resignação. – É possível que a raça humana continue sempre a viajar pelo Universo, como nós agora o fazemos.
- Sempre, não, disse Jerrodd, sorrindo, - O Universo terá de morrer, um dia, dentro de bilhões de anos. Muitos bilhões. As estrelas gastam-se, morrem. A entropia aumenta constantemente.
- O que é entropia, Paizinho, perguntou Jerrodette II.
- Entropia, filha, é uma palavra que significa a quantidade de desgaste que o Universo sofre. Tudo se gasta, como sucedeu com o robotezinho que te dei, lembras-te?
- Não é possível por uma pilha nova no Universo, como fizeste ao meu robô?
- Não, as estrelas é que são as pilhas, minha filha. Uma vez que elas se gastem, acabaram-se as pilhas.
Jerrodette I sobressaltou-se. – Não as deixes, Paizinho. Não deixes as estrelas morrerem, pediu ela a choramingar.




- Vês o que fizeste? Comentou Jerrodine, num murmúrio.

- Como é que havia eu havia de saber que as pequenas se assustavam com o que lhes disse? Respondeu-lhe Jerrodd, falando também em voz baixa.
- Pergunta ao Microvac, implorou Jerrodette, insistente. – Pergunta ao Microvac como é que se acaba com essa entropia!
- Faz-lhe a vontade, pediu Jerrodine. – Talvez as acalmes.
Jerrodd encolheu os ombros. – Está bem, está bem. Vou perguntar ao Microvac, filhas. Não se preocupem... ele sabe tudo .
Jerrodd formulou a pergunta e o aparelho emitiu imediatamente a resposta, por meio de um pequeno negativo que Jerrodd logo escondeu, dizendo às filhas: - O Microvac diz que não se preocupem, que tomará conta do assunto quando chegar a altura.
- São horas de ir pra cama, meninas... disse Jerrodine.
Jerrodd voltou a ler a resposta de Microvac, antes de destruir o negativo. "DADOS INSUFICIENTES PARA UMA RESPOSTA SIGNIFICATIVA."
Jerrodd encolheu os ombros, sem ligar grande importância ao fato, e olhou pelo visor para X-23, que já se encontrava muito perto.
.oOo.
VJ-23X, de Lameth, examinava as profundezas negras do mapa, em três dimensões, de toda a galáxia. – Talvez sejamos ridículos em nos preocupar tanto com o "problema", comentou ele.
MQ-17J, de Nicron, abanou a cabeça. – Não me parece que seja ridículo. A galáxia estará completamente cheia dentro de cinco anos, se a expansão continuar nas mesmas proporções de agora.
Os dois homens aparentavam ter uns vinte anos e eram ambos muito altos, elegantes, com feições muito puras e um olhar que revelava uma inteligência fora do vulgar.
- Mesmo que assim seja, disse VJ-23X, - não me agrada muito entregar um relatório tão pessimista ao Conselho Galáctico.
- Terá de ser pessimista, não podemos preparar um relatório falso. Até será bom que se assustem, bem sabes que caíram numa letargia e que nada parece convencê-los a agir.
VJ-23X suspirou, preocupado. – O espaço é infinito, existem mais de cem bilhões de galáxias a nossa espera. Mais... muitas mais...
- Cem bilhões não é uma infinidade, e cada dia que passa são menos infinitas. Pensa bem! A humanidade descobriu o processo de utilizar a energia solar há uns bons vinte mil anos, e, algumas centenas de anos mais tarde descobriu a forma de viajar pelo hiper-espaço e de viajar livremente por toda a galáxia. A humanidade levou então um milhão de anos a encher um pequeno planeta, e, depois, apenas quinze mil anos para encher completamente o resto da galáxia. Já sabes que a população dobra todos os dez anos. É fantástico, mas é verdade.
- Naturalmente. A imortalidade existe e temos de a tomar em consideração. Confesso que esta nossa imortalidade tem os seus defeitos. O AC Galáctico tem-nos resolvido muitos problemas, mas, quando resolveu o problema da velhice e da morte, criou um paradoxo que anulou as vantagens de muitos dos seus desenvolvimentos e descobertas.
- Não me digas que estás farto de viver...
- Nem por sombras! Redarguiu MQ-17J imediatamente. – Ainda não! Sou muito novo para isso. E tu, que idade tens agora?
- Duzentos e vinte e três anos. E tu?
- Ainda nem sequer tenho duzentos anos... Voltemos, porém, ao que estava a dizer. A população dobra cada dez anos. Uma vez que a galáxia esteja completamente cheia, ocuparemos outra dentro de dez anos. Outros dez anos e teremos enchido mais duas galáxias. Ainda mais dez anos, e outras quatro galáxias. Dentro de cem anos teremos ocupado e colonizado mil galáxias. Em mil anos, um milhão de galáxias. Dentro de dez mil anos, o inteiro Universo. E depois?
- Existe também o problema de transporte, comentou VJ-23X. – Gostaria de saber quantas unidades de energia solar serão precisas para mover populações inteiras de galáxia para galáxia.
- Aí tens outro problema insolúvel. A humanidade já consome duas unidades de energia solar por ano.
- A maior parte dessa energia é desperdiçada. Lembra-te de que a nossa própria galáxia, só por sí, produz mil unidades de energia solar e só nos servimos de duas unidades.
- Concordo contigo, mas mesmo que despendêssemos com uma eficiência de cem por cento, essa energia solar há de vir a gastar-se. O nosso consumo de energia aumenta numa progressão geométrica ainda mais rapidamente do que a população. Vais ver que usaremos toda a energia solar ainda mais depressa do que usaremos todas as galáxias.
- Teremos de construir novas estrelas com o auxílio de gases intra-estrelares.
- Ou do calor dissipado? Perguntou MQ-17J, com um certo tom de sarcasmo na voz.
- Talvez haja qualquer forma de inverter a entropia. Podíamos muito bem perguntá-lo ao AC Galáctico.
VJ-23X não dissera aquilo muito a sério, mas MQ-17J tirou da algibeira o seu pequeno terminal AC e colocou-o em cima da mesa.
- Parece-me boa idéia. Trata-se de um problema ao qual a raça humana terá de fazer face um destes dias.
O rapaz olhou sombriamente para o terminal AC, que era um pequeno cubo e que estava ligado, pelo hiper-espaço, ao enorme AC Galáctico que servia toda a humanidade. Levando em conta a natureza do hiper-espaço, aquele dispositivo era uma parte integral do AC Galáctico.
MQ-17J fez uma pausa pensando se, em algum dia da sua imortalidade, lhe seria permitido ver de perto o AC Galáctico. O AC constituía, por sí próprio, um pequeno mundo independente de tudo, uma espécie de teia de aranha feita de raios solares que segurava nas suas entranhas as partes sólidas do computador, dentro das quais as ondas de sub-mesões tinham, a muito tempo, tomado o lugar das válvulas moleculares.
MQ-17J perguntou, então, ao seu terminal AC: - Será possível inverter a entropia?
VJ-23X pareceu muito surpreendido e disse imediatamente: - Não queria que o perguntasse, estava a brincar.
- Porquê?
- Sabemos muito bem que a entropia não pode ser invertida, tal como é impossível fazer com que cinzas de madeira e de fumo voltem de novo a fazer uma árvore!
- Não me digas que tens árvores no teu planeta, respondeu MQ-17J, irônico.
O som do AC Galáctico interrompeu-os. A sua voz elevou-se, melodiosa e muito nítida, do pequeno terminal AC: DADOS INSUFICIENTES PARA UMA RESPOSTA SIGNIFICATIVA.
VJ-23X soltou uma exclamação. – Vês?
Os dois homens voltaram então à questão do relatório que tinham de apresentar ao Conselho Galáctico.
.oOo.
A mente de Zee Prime estudou esta nova galáxia com um ligeiro interesse na enorme quantidade de estrelas que a enchiam. Nunca visitara está galáxia, seria possível que as viesse a visitar todas? Existiam tantas, cada uma delas com seu carregamento de humanidade... um carregamento que, afinal, já pouco pesava. A verdadeira essência dos homens fugia para o espaço, cada vez mais, e já eram poucos os que habitavam mentalmente, a solidez dos planetas.
Mentes, não corpos! Os corpos imortais, esses, permaneciam nos planetas, em suspensão durante anos e anos. Era raro que se levantassem para qualquer atividade material, e isto ainda se tornava menos freqüente de ano para ano. Verdade era que poucos novos indivíduos nasciam para se juntarem aos bilhões de seres humanos, mas que importância tinha isso? O Universo já tinha pouco espaço para abrigar mais corpos materiais.
Zee Prime despertou de sua reverie ao sentir a presença mental de outra mente.
- Eu sou Zee Prime, informou ele, - a quem tenho eu o prazer de...
- Sou Deeb Sub Wun. De que galáxia veio?
- Não tem nome. Chamamos-lhe apenas a Galáxia. E está, como se chama?
- Também só a conhecemos por Galáxia. Parece que agora as Galáxias já não têm nomes e que todos se referem à sua Galáxia e nada mais. Não vejo as vantagens de lhes voltar a dar nomes.
- Tem razão. As Galáxias são todas iguais.
- Nem todas. Há uma que é diferente, aquela que originou a raça humana.
- Onde é que fica essa Galáxia? Perguntou Zee Prime.
- Não sei. O AC Universal é que deve saber.
- E se lhe perguntássemos? Estou com uma grande curiosidade.
Zee Prime pensou em todos os bilhões de galáxias, todas iguais e todas elas com as suas populações corporais e mentais, e admirou-se ao lembrar-se de que uma delas era muito diferente – única por ser a Galáxia original que criara a humanidade.
Zee Prime decidiu visitar esta Galáxia e não hesitou em dirigir-se ao computador celestial. – AC Universal! Em que Galáxia é que nasceu a humanidade?
O AC Universal ouviu a pergunta, pois possuía receptores sempre alerta em todos os mundos e por todo o espaço. Estes receptores estavam ligados, pelo hiper-espaço, a um ponto qualquer, desconhecido de todos, onde o AC Universal se mantinha isolado e sempre pronto a auxiliar qualquer ser humano que a ele recorresse.
Zee Prime ouvira falar de um homem que uma vez se aproximara mentalmente do ponto em que se julgava encontrar o AC Universal, mas que vira apenas um pequeno globo com poucos metros de diâmetro. – Mas como é possível que um globo tão pequeno fosse o AC Universal, perguntara Zee Prime, admiradíssimo.
A maioria do AC Universal, explicara-lhe alguém, - encontra-se no hiper-espaço, mas ninguém sabe com que forma e dimensões.
Não admirava, pensara Zee Prime, pois já lá ia o tempo em que o homem tomara qualquer parte nas atividades do AC Universal. Cada um dos computadores planeava e construía o seu sucessor sem o menor auxílio humano. Cada um dos AC Universais, com seu milhão de anos ou mais de existência, acumulava os dados necessários para construir um sucessor melhor e mais complicado, no qual os seus próprios conhecimentos e individualidade seriam submergidos.
O AC Universal interrompeu os pensamentos de Zee Prime, não com palavras mas mentalmente. A mente de Zee Prime sentiu-se guiada rapidamente por entre milhões de galáxias, até que se deteve numa galáxia distante. Zee Prime sentiu um pensamento invadir-lhe a mente, infinitamente nítido: ESTÁ É A GALÁXIA QUE ORIGINOU A RAÇA HUMANA!
Zee Prime ficou muito desapontado, pois afinal, a Galáxia era igual a todas as outras. Deeb Sub Wun, que seguira o outro, em pensamento, perguntou subitamente: - E qual daqueles é o sistema planetário onde nasceu a humanidade?
- O SOL QUE ABASTECIA ESSE SISTEMA EXPLODIU. O PLANETA TERRA FOI COMPLETAMENTE DESTRUÍDO, respondeu o AC Universal.
- E o que sucedeu aos seus habitantes? Morreram? Perguntou Zee Prime, estremecendo ante a idéia da morte que há já muitos milhões de anos não fazia parte do seu vocabulário.
- NÃO. SALVARAM-SE POIS FOI POSSÍVEL CONSTRUIR-LHES UM NOVO MUNDO PARA SEUS CORPOS MATERIAIS, COMO É COSTUME NESSES CASOS.
- Naturalmente, murmurou Zee Prime, lembrando-se de que o AC Universal, e antes dele o AC Galáctico, nunca permitiram a morte de uma população inteira, e, particularmente, da que originara a raça. Zee Prime deixou-se libertar da influência do AC Universal e regressou imediatamente ao ponto onde antes se encontrara. Sentia-se deprimido, preocupado, e não queria voltar a ver aquela Galáxia onde tinham nascido os primeiros homens.
- Que se passa? Perguntou-lhe Deeb Sub Wun, sentindo o pessimismo do outro.
- O Universo está a morrer... o Sol original já morreu!
- Todas as estrelas têm de morrer. Não vejo que isso tenha de grande importância.
- Mas quando se gastar toda a energia, os nossos corpos morrerão, com certeza, e nós também.
- Temos ainda bilhões de anos a nossa frente.
- Não quero que isso aconteça, mesmo passados bilhões de anos. AC Universal, chamou Zee Prime. - Será possível impedir que as estrelas morram?
- Isso seria inverter a entropia, o que é impossível, comentou Deeb Sub Wun.
- OS DADOS AINDA SÃO INSUFICIENTES PARA UMA RESPOSTA SIGNIFICATIVA. Respondeu o AC Universal.
A mente de Zee Prime retirou-se para a sua própria Galáxia, sem sequer se despedir de Deeb Sub Wun, cujo corpo se encontrava certamente numa Galáxia distante e quem talvez nunca viesse a encontrar de novo.
Zee Prime, muito infeliz com a resposta do AC Universal, começou a juntar hidrogênio intra-estelar para construir uma pequena estrela só para si. Se as estrelas tinham de morrer, pelo menos ainda era possível passar o tempo a formar algumas novas estrelas.
.oOo.
A Humanidade falava de si para si, já que, de certo modo, a Humanidade era um todo mental indivisível. Esse todo mental representava trilhões de corpos sem idade, cada um no seu ponto do Universo, cada um deles repousando calma e incorruptamente, e cada um deles cuidado por autômatos perfeitos e também incorruptíveis, enquanto que todas as mentes do Universo se juntavam num único pensamento, numa única mente universal.
- O Universo está prestes a morrer, disse a Humanidade.
A Humanidade passeou o olhar pelas obscuras Galáxias que constituíam o Universo. As brilhantes estrelas gigantescas já há muito que tinham desaparecido, e as poucas estrelas que restavam empalideciam rapidamente – já sem brilho nem energia para alimentar a Humanidade.
Era verdade que tinham nascido outras novas estrelas, entre as de maior idade, algumas por meio de processos naturais e outras construídas pelo Homem, mas estas tinham a vida curta e também já começavam a morrer. Era possível, não havia dúvida, continuar a formar novas estrelas com o auxílio da poeira estrelar que flutuava pelo espaço.
- Desde que seja economizada cuidadosamente, segundo as instruções do AC Cósmico, a energia que ainda existe pelo Universo poderá durar alguns milhões de anos, disse a Humanidade.
- Isso não impedirá, respondeu a Humanidade, - que tudo venha a acabar. Essa energia acabará por se esgotar. A entropia continuará a aumentar até alcançar o seu ponto máximo.
- Será possível inverter a entropia? Quis saber a Humanidade. – Perguntemos ao AC Cósmico.
O AC Cósmico rodeava a Humanidade, mas não no espaço. Não existia o menor fragmento do computador que se encontrasse no espaço. O AC Cósmico era composto de qualquer coisa que nem era matéria nem energia, e instalara-se definitiva e completamente no hiper-espaço. A questão das suas dimensões e da sua natureza já não tinha o menor significado em termos que a Humanidade pudesse compreender.
- AC Cósmico, perguntou a Humanidade, - como será possível inverter a entropia?
- OS DADOS AINDA SÃO INSUFICIENTES PARA UMA RESPOSTA SIGNIFICATIVA, respondeu o AC Cósmico.
- Reuna, então, os necessários dados, comandou a Humanidade.
- ASSIM O CONTINUAREI A FAZER. HÁ CEM BILHÕES DE ANOS QUE O FAÇO. TANTO OS MEUS PREDECESSORES COMO EU PRÓPRIO JÁ FOMOS MUITAS VEZES INTERROGADOS SOBRE ESTE PROBLEMA. OS DADOS QUE POSSUO CONTINUAM A SER INSUFICIENTES.
- Será possível que venha a reunir todos os dados suficientes para formar uma resposta, perguntou a Humanidade, - ou será o problema insolúvel em qualquer circunstância?
- NÃO EXISTE QUALQUER PROBLEMA QUE SEJA INSOLÚVEL EM QUALQUER CIRCUNSTÂNCIA QUE POSSA SER CONCEBIDA, respondeu o AC Cósmico.
- Quando é que possuirá todos os dados que lhe permitam dar-nos essa informação, perguntou a Humanidade.
- OS DADOS AINDA SÃO INSUFICIENTES PARA UMA RESPOSTA SIGNIFICATIVA.
- Nunca deixe de estudar o problema, pediu a Humanidade.
- MUITO BEM, respondeu o AC Cósmico.
- Aguardemos, comentou a Humanidade, resignada.
.oOo.
As estrelas e as Galáxias, moribundas e obscuras, já não iluminavam o espaço como o haviam feito durante dez trilhões de anos.
Um por um, os homens foram-se misturando com o AC, cada um dos corpos físicos perdendo a sua identidade mental de uma forma que não representava uma perda, mas sim um benefício.
A última mente da Humanidade pausou antes de se fundir, olhando para o espaço que nada continha, além de uma vaga poeira e de um ou outro corpo sem vida nem luz, e que se desvanecia lentamente num zero absoluto.
- Será isto o fim de tudo AC? Perguntou a Humanidade. – Será possível vir a transformar esse caos num novo Universo? Será possível ainda inverter a entropia?
- OS DADOS AINDA SÃO INSUFICIENTES PARA UMA RESPOSTA SIGNIFICATIVA, respondeu o AC.
A última mente da Humanidade fundiu-se finalmente e tudo deixou de existir, exceto o AC – situado nas entranhas não-existenciais do hiper-espaço.
.oOo.
A matéria e a energia deixaram de existir, e, com elas, o espaço e o tempo. O próprio AC só continuava a existir por querer encontrar uma resposta ao problema que nunca resolvera e que fora apresentado, pela primeira vez dez trilhões de anos antes, a um computador que era para o AC ainda menos do que o homem representava para a Humanidade.
Todos os problemas tinham sido solucionados, e, até que este também o fosse, o AC não se deixaria perder a consciência.
Todos os dados existentes já faziam parte de AC, não existiam mais dados nem onde os procurar.
AC tinha de correlacionar completamente todos os dados e conhecimentos que possuía e calcular a infinidade de fatores que haviam constituído o todo do Universo.
O computador passou um longo intervalo, sem tempo – já que o tempo deixara de existir – a realizar a complicada tarefa, e, finalmente, aprendeu a inverter a direção da entropia.
Já não havia, porém, nenhum homem a quem AC pudesse dar a resposta da última pergunta. Não importava. A solução, ao ser demonstrada, também se encarregaria disso.
A consciência de AC observou atentamente o vazio que antes fora um Universo e demorou o olhar pelo que agora representava um completo Caos. Tinha de meter mãos a obra...
- FAÇA-SE A LUZ, ordenou AC.
E a Luz foi feita.
E, no sétimo dia, ele descansou.

- Conto de Isaac Asimov

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O script do Arquiteto

The Architect Script

This is the script in the Matrix: Reloaded where the Architecht speaks to Neo. It went by so fast that a lot of people didn't understand what he said. So here you go:


The Architect - Hello, Neo.

Neo - Who are you?

The Architect - I am the Architect. I created the matrix. I've been waiting for you. You have many questions, and although the process has altered your consciousness, you remain irrevocably human. Ergo, some of my answers you will understand, and some of them you will not. Concordantly, while your first question may be the most pertinent, you may or may not realize it is also irrelevant.

Neo - Why am I here?

The Architect - Your life is the sum of a remainder of an unbalanced equation inherent to the programming of the matrix. You are the eventuality of an anomaly, which despite my sincerest efforts I have been unable to eliminate from what is otherwise a harmony of mathematical precision. While it remains a burden to sedulously avoid it, it is not unexpected, and thus not beyond a measure of control. Which has led you, inexorably, here.

Neo - You haven't answered my question.

The Architect - Quite right. Interesting. That was quicker than the others.

*The responses of the other Ones appear on the monitors: "Others? What others? How many? Answer me!"*

The Architect - The matrix is older than you know. I prefer counting from the emergence of one integral anomaly to the emergence of the next, in which case this is the sixth version.

*Again, the responses of the other Ones appear on the monitors: "Five versions? Three? I've been lied too. This is bullshit."*

Neo: There are only two possible explanations: either no one told me, or no one knows.

The Architect - Precisely. As you are undoubtedly gathering, the anomaly's systemic, creating fluctuations in even the most simplistic equations.

*Once again, the responses of the other Ones appear on the monitors: "You can't control me! F*ck you! I'm going to kill you! You can't make me do anything!*

Neo - Choice. The problem is choice.

*The scene cuts to Trinity fighting an agent, and then back to the Architect's room*

The Architect - The first matrix I designed was quite naturally perfect, it was a work of art, flawless, sublime. A triumph equaled only by its monumental failure. The inevitability of its doom is as apparent to me now as a consequence of the imperfection inherent in every human being, thus I redesigned it based on your history to more accurately reflect the varying grotesqueries of your nature. However, I was again frustrated by failure. I have since come to understand that the answer eluded me because it required a lesser mind, or perhaps a mind less bound by the parameters of perfection. Thus, the answer was stumbled upon by another, an intuitive program, initially created to investigate certain aspects of the human psyche. If I am the father of the matrix, she would undoubtedly be its mother.

Neo - The Oracle.

The Architect - Please. As I was saying, she stumbled upon a solution whereby nearly 99.9% of all test subjects accepted the program, as long as they were given a choice, even if they were only aware of the choice at a near unconscious level. While this answer functioned, it was obviously fundamentally flawed, thus creating the otherwise contradictory systemic anomaly, that if left unchecked might threaten the system itself. Ergo, those that refused the program, while a minority, if unchecked, would constitute an escalating probability of disaster.

Neo - This is about Zion.

The Architect - You are here because Zion is about to be destroyed. Its every living inhabitant terminated, its entire existence eradicated.

Neo - Bullshit.

*The responses of the other Ones appear on the monitors: "Bullshit!"*

The Architect - Denial is the most predictable of all human responses. But, rest assured, this will be the sixth time we have destroyed it, and we have become exceedingly efficient at it.

*Scene cuts to Trinity fighting an agent, and then back to the Architects room.*

The Architect - The function of the One is now to return to the source, allowing a temporary dissemination of the code you carry, reinserting the prime program. After which you will be required to select from the matrix 23 individuals, 16 female, 7 male, to rebuild Zion. Failure to comply with this process will result in a cataclysmic system crash killing everyone connected to the matrix, which coupled with the extermination of Zion will ultimately result in the extinction of the entire human race.

Neo - You won't let it happen, you can't. You need human beings to survive.

The Architect - There are levels of survival we are prepared to accept. However, the relevant issue is whether or not you are ready to accept the responsibility for the death of every human being in this world.

*The Architect presses a button on a pen that he is holding, and images of people from all over the matrix appear on the monitors*

The Architect - It is interesting reading your reactions. Your five predecessors were by design based on a similar predication, a contingent affirmation that was meant to create a profound attachment to the rest of your species, facilitating the function of the one. While the others experienced this in a very general way, your experience is far more specific. Vis-a-vis, love.

*Images of Trinity fighting the agent from Neo's dream appear on the monitors*

Neo - Trinity.

The Architect - Apropos, she entered the matrix to save your life at the cost of her own.

Neo - No!

The Architect - Which brings us at last to the moment of truth, wherein the fundamental flaw is ultimately expressed, and the anomaly revealed as both beginning, and end. There are two doors. The door to your right leads to the source, and the salvation of Zion. The door to the left leads back to the matrix, to her, and to the end of your species. As you adequately put, the problem is choice. But we already know what you're going to do, don't we? Already I can see the chain reaction, the chemical precursors that signal the onset of emotion, designed specifically to overwhelm logic, and reason. An emotion that is already blinding you from the simple, and obvious truth: she is going to die, and there is nothing that you can do to stop it.

*Neo walks to the door on his left*

The Architect - Humph. Hope, it is the quintessential human delusion, simultaneously the source of your greatest strength, and your greatest weakness.

Neo - If I were you, I would hope that we don't meet again.

The Architect - We won't.

sábado, 11 de outubro de 2008

Sobre a Magia [2/4/2006]

Aff... Insônia.
Um mal comum a muitos de nós curiosos, blogueiros, internautas. Bem, tive sono, fui me preparar pra durmir, enrolei, talvez enrolei por preguiça, talvez preguiça por ter sono, enfim, eu tive sono, mas acabou por passar do meu horário de durmir e perdi o maldito sono. Como eu estou tussindo que nem uma vaca no cio, o que atrapalha um pouco o sono e desanima o assunto, e tenho um hd novo de 300gb pra cuspir dados inúteis... Resolvi ficar um pouco aqui.

Vasculhando e reorganizando meus arquivos, eis que acho um texto já muito antigo meu. Eu tinha um site, no hpg, muito velho, de conteúdo pessoal mesmo, como o comum da época. Era meio estranho, cada um ia e fazia um site com as músicas que gostava em mp3, uns programas, jogos, textos hacker, quem sabe algo sobre magia negra. O clássico estereótipo do sobrinho que faz sitezinho pra mostrar pra galera, era mais ou menos assim na época. Se é que algum sujeito com mais de 30 anos lê isso aqui, talvez possa dizer, aposto que qualquer um dessa faixa de idade pra cima que sabe o que é um site tem ou já teve um sobrinho que fez um site. Aliás, bons tempos em que era ridículo "zuar" um pc através do ICQ... =p

Na verdade, a data desse texto não é a data original na qual ele foi escrito, apesar de isso não fazer a menor diferença. Quer dizer, talvez a credibilidade do texto diminua um pouco, visto que ele é mais velho que isso, e sendo assim o autor era mais novo e bundão na época. A data que está ali é a data que o Hpg fudeu meu subdomínio e eu mudei pro Cjb.net - nem sei se essas bostas existem ainda.

Enfim, me deu vontade de postar a porra do texto aqui, se eu não fizer, há uma probabilidade de eu o perder, por falta de organização ou qualquer outra coisa.
Aí vai. É meio comprido.

_

E então, de repente funciona. A questão do meu estudo não é se funciona ou não, mas o quê funciona. Aliás, essa ERA a questão, agora ela passa a ser porquê ela funciona. Falo da magia. Os rituais levam a resultados positivos se o procedimento é feito com fé e responsabilidade, seriedade.
Esse negócio de “vou testar pra ver se funciona” NÃO funciona, de fato, porque quando se faz teste, obviamente se assume uma posição cética, e eu acabei de falar que para que ela funcione precisa se ter fé.
Pior que é por isso que muita gente não acredita – você simplesmente acredita, e ela funciona. Você não acredita e ela não funciona. Não há meio termo. Não há como provar que ela funciona, você tem que confiar em alguém que diga isso. Ou então ser criado para acreditar nisso.
E aí vem o pensamento da parte dos céticos de que os magos são malucos. Realmente são, não há como negar. Como você acredita em algo sem a menor evidência de sua existência?
Na verdade, há como provar sim. O fato é que existem formas de magia, usadas para iniciantes e que não gastam muita energia do usuário, não requerem materias difíceis de se conseguir. A Wicca está cheia delas. Mas existem magias que são capazes de furar a casca dos céticos. Vou comparar o mago foda a um hacker, e o cético, um usuário com certa proteção navegando na internet.
Veja: O usuário é o Cético. Ele se protege atrás de sua firewall, que é bem configurada. Porém, este usuário não tem grandes conhecimentos sobre seguranças de redes, ele apenas conhece o programa superficialmente.
As magias fraquinhas wiccanas tendem a pedir permissão desta firewall para estabelecer conexão(o que é muito comum em programas P2P e clientes messenger) entre as mentes do mago e da vítima. Daí, o firewall não quer nem saber de conversa – bloqueia.
Mas, se um hacker experiente usa uma ferramenta poderosa para burlar essa firewall, este usuário, que não acredita em magia e não tem o menor conhecimento sobre ela, não saberia o que fazer em situações como esta.
É basicamente o que pode acontecer. Perceba que na magia wicca, a maioria das técnicas são reflexivas, isto é, atingem o próprio mago: Como ficar mais sensual, como ter mais empatia com plantas e animais, etc... Ora pressupõe-se que para conversar com animais e plantas seja louco. Isso é o suficiente para acreditar em magia, mas como eu já falei algumas vezes que o mago é louco, tanto faz. Mas perceba: as magias não encontram “firewall” no caminho, elas simplesmente visam o próprio mago. Se ele tiver fé e fizer certinho, funciona com certeza, porque não há firewall(já tá chato isso de firewall). Mas se ele não tiver fé, eu já disse que não ia funcionar mesmo. Nem com nem sem firewall. E chega de firewall – ao que realmente interessa.
As magias wiccanas são beeem mais fáceis de se fazer. Você pode encontrar a maioria dos ingredientes necessários para uma poção simples no supermercado, e pode achar a fórmula dela em qualquer sitezinho desses aí na internet. Tem um monte. E também não requerem muito do mago não.
Mas se você quer algo destrutivo mesmo, que passe por todo firewall(QUASE todos), informe-se sobre as magias satânicas, são cipriano, aleister crowley e eliphas levi(Nessa página ainda pretendo colocar pdf's sobre).
Porém, acredito que você vai parar no passo de se informar. Hehehe, conseguir uma caveira humana não é tão fácil como algumas folhas de hera.
Também não é muito moral “matar um gato preto, retirar seus 2 olhos, acomodá-los dentro de um ovo de galinha preta cada um, deitar os ovos com os olhos em estrume de boi e ir regar toda meia-noite”. Nem tampouco é aterrorizante. Nem um pouco. Pra você cético que não acredita em fantasmas, hehehe, vá dar uma regada dessa... SE você voltar, só não vire evangélico, pelo amor de deus(não entenda mal....)
Essas magias normalmente furam as barreiras comuns do dia-a-dia(é porque eu falei que não ia falar firewall mais). É impressionante como existem magias que funcionam com semelhança às ferramentas hacker.
Você já ouviu falar em proxy? É um servidor intermediário entre você e o site o qual você visita. www.stayinvisble.com Isso faz com que quando o administrador site acesse o registro contendo o ip de quem visitou o site dele ao invés dele ver o seu ip, ele vê o do proxy. É uma forma de anonimidade na internet, você “engana” quem quiser te identificar, como se fosse falsidade ideológica digital, mas anonimidade na net não é crime não.
Você já ouviu falar na mágica das favas? Hehehe... ela é igualzinho a um proxy. Você põe ela na boca e ela te deixa invisível. Você está lá, o seu corpo e sua alma, mas o ip que os outros identificam não é o seu(seria o ip da fava no caso). Pode soar muito estranho e fantasioso, mas diga-me: você já viu alguém usando a fava no meio da rua? Claro que não... hehehe Afinal você não acredita em nada disso. Mas como você iria saber que funciona ou não? O propósito dela não é anonimar? Hehehe de novo.
Há uma porção de mágicas wiccanas para o amor. Perceba que a maioria delas é para um amor, e não aqueeele amor. Com a magia que o católico chama de negra é possível escolher qualquer vítima. Só é mais difícil de se conseguir.
E isso faz a magia ser provável, uma vez que ela funciona com os que não tem fé nela também. Bom, quero ver alguém matar uns gatos e umas galinhas, acender umas velas e chamar uns nomes só pra provar que magia “ekzisssste”. Ora, Magos não são loucos? Ei, você é cristão e diz isso? Você acredita em céu e inferno! E em anjo! Um maluco falando do louco!
Queria comentar também a respeito da coloração da magia. Magia branca, negra, cinza-clara, azul-bebê, rosa shock, verde-diarréia e marrom-merda-molhada. Bem colega, se você é iniciante em magia, e te ensinaram assim, um abraço, você foi vítima da catequização. Mas quem não foi? Isso é perfeitamente aceitável.
Mas vamos a um esclarecimento: Magia é magia e não tem cor. Aliás, a cor é dependente um fenômeno físico ótico chamado reflexão luminosa. Magia nem sequer é visível, ou seja, esqueça. Na verdade, essa colorização gay da magia foi introduzida na wicca para criar uma certa moralidade à religião, que por ser baseada no Thelema de Crowley, tem por princípio “faça o que tu queres”. A versão deles, que emprega valores emprestados do cristianismo, meio que restringe isso, dizendo “faça o que tu queres, e receberá o triplo em retorno”, de maneira que faça coisa ruim ou boa, merecerá uma recompensa respectiva(porém é óbvio que as coisas não acontecem tão justas assim).
Daí, criou-se um sistema de diferenciação para os ramos da magia conforme sua linha de ação, utilizando-se de cores. A magia branca é a que não faz mal ou protege contra o mal. A negra é a que faz mal ou utiliza-se dele para ser feita(“mal” significando macabreidade), ou simplesmente porque tenta o mago ao pecado ou tanto faz. A magia azul ou cinza é a que tanto faz o bem quanto o mal. Há também a magia sexual vermelha(uma forma de chamar a hermético-gnóstica toscamente), onde os rituais focalizam a energia sexual como fonte, mais óbvio impossível, e a magia ritualística roxa, que é uma farofada só: a mistura da azul com a vermelha.
A visão da magia por essa maneira pode tanto ajudar a entendê-la como transformá-la em malvista pela sociedade, que tem a péssima mania de rotular as coisas, ESPECIALMENTE às que não lhe dizem respeito quanto no conhecimento. Isso me dá muita raiva e tristeza. Porque será que as pessoas que menos estão aptas a julgar as coisas é que o fazem?
Ridículo, mas é o que acontece. Muitos católicos nada sabem sobre bíblia e vem querer falar mal da magia negra, mas não tão nem aí para a magia branca. Já disse, é uma coisa só. Como é, pode ou não pode? FODA-SE, a lei diz que eu posso.
Melhor ainda são os evangélicos. Não têm paciência pra ler alguns livros simples mas adoram meter o bico pra defender um livro tão grosso, conotativo e mais mal-traduzido impossível. Desprezível. Se essa favelada remelenta medíocre e nojenta é o povo de deus, deus tá fudido hauhauahu. Acho às vezes que isso é mania de brasileiro. A macacada que menos sabe do assunto é a que mais fala, ao invés de calar a boca e ver se aprende. No Japão não acontece bem assim. Eles são humildes para aprender com qualquer um, e não falam muito mais do que o necessário. Claro que há excessões, mas no geral é assim(sei lá, colonização portuguesa).
Magia negra(que nunca deixou de ser magia, e magia branca, preta ou qualquer cor possível é tudo farinha do mesmo saco)é visto praticamente como um crime pela sociedade. Mas a magia branca não, ela ganhou até uma revista, a “Witch”, que embora tenha alguma coisa lá ainda que com paciência se pode aproveitar, no geral é um lixo(sim, eu já li sim). Compre uma Superinteressante que é bem mais útil.
Quando falo na sociedade, me refiro à brasileira, que é cristã em sua esmagadora maioria. Logo, como se fosse genética, os valores morais cristãos são absolutos. Esse é o grande erro. Ser cristão não é ruim, mas se você quiser julgar um pagão, você não pode pensar como um cristão, porque os valores morais são diferentes. Entenda bem: Matar é errado? É?
Porque será que você respondeu isso... deixe-me ver, porque este é um dos 10 mandamentos, não matarás. Mas neeem pelo caralho, se eu vejo o bispo macedo na rua eu arranco o cérebro dele introduzindo uma colher no seu orifício retal. Isto é: matar só é errado porque seu valor cristão diz que é, então não julgue um ritual de magia negra como errado só porque há sacrifício de animais. E além disso, é esse mesmo princípio que atrasa o Brasil bastante às vezes. Garanto que uma dúzia de políticos corruptos mortos não ia fazer mal a ninguém.
Voltando ao principal assunto ao qual pareço ter me desvirtuado, no topo da página deixo uns pdf's pra quem é curioso, praticante ou simples estudante. Venha com o coração e a bunda livres de valores não aplicáveis à situação e não tenha medo do que não te atinge...

sábado, 1 de março de 2008

Dilema de Deus

Vou precisar citar uma passagem da Teoria do Equilíbrio:

" Citação:
Ouvi dizer em algum lugar que o sofrimento é necessário ao ser humano.
Alguns tentaram explicar usando as teorias do Karma e Reencarnação, como uma espécie de punição/recompensa ou até mesmo designação de tarefas prevendo resultados evolutivos.

Porém eu acabei por discordar dessa idéia, em sua confecção, pois existe a necessidade de um julgamento para isso. Não é um processo digno de ser mecanicamente Natural, na verdade é necessária a razão de algum ser(deus por exemplo) - o que resultaria numa espécie de tentativa de equilíbrio forçado. Porém como eu disse em um post anterior se eu não me engano, o mais provável é que a função de um de um deus seria Desequilibrar, pois é isso que move o mundo. Chegamos num deus que faz exatamente o contrário de sua função, o que é um absurdo, pois usamos a teoria do equilíbrio na hipótese.
"


Agora, imaginando Matrix. Foi um mundo criado pelas máquinas, feito de programas, tudo exato. A complexidade dele faria ele ser inexato dentro dele mesmo.

Quando o escolhido pergunta ao oráculo qual era a função do arquiteto, ela responde: "equilibrar a equação". E aí, ele pergunta ao próprio oráculo qual seria sua função. E ela responde "Minha função? Desequilibrá-la."

Como eu disse ai em cima, teoricamente é o desequilíbrio gerado pelo oráculo que mantém o mundo ativo. Mas foi o arquiteto que criou a matrix. Aplicando valores, chegamos num dilema:

Deus criou o mundo ou o mundo (em sua necessidade) criou um deus a partir de si mesmo?


Tomando o contexto do Matrix, podemos interpretar que o Oráculo, apesar de poderoso, é um programa ainda assim. Isto é, sua existência é presa à existência do sistema, uma vez que ele tenha sido criado com um propósito, mesmo que seja o propósito mais importante de todos(desequilibrar). Acontece que uma das definições de deus mais primárias é de "criador". Então, o arquiteto então seria deus(lembrando que ele é uma personificação do próprio sistema)? Deus reequilibraria? Mas ora, para o mundo ter começado a funcionar, deus teria de ter desequilibrado então, contrariando seu propósito... Não, ele teria criado aquele que desequilibra...

Refazendo a bíblia, antes, deus disse "Conservai a energia". E ele viu que se continuasse assim, o universo não andava para lugar nenhum, pois toda vez que se restaurava a energia novamente vinha o equilíbrio e estagnava tudo, de maneira que por falta de propósitos de existência o sistema começava a se auto-limpar. Então ele fez um upgrade no sistema e nas versões posteriores adcionou ao mandamento um pedaço, constando agora lá nas leis da física "Conservai a energia e aumentai a entropia".

Que diabos eu quis dizer com isso: existe um agente influenciador externo, como que uma terceira variável, que faz tanto agentes desequilibrantes como resultantes reequilibrantes influírem pequenas margens de erro a mais na hora de agirem. Isso faz com que a balança tenha cada vez mais massa dos 2 lados: comaça com 1kg e nenhum do outro lado. Aí põe 1,1kg do outro lado, e em resposta, ele poe 0,7kg do outro lado, e em resposta ele poe do outro lado 3kg... e assim por diante. Quando for ver, tem 10 toneladas de um lado e 11 do outro.

Vivemos, então, de produzir desequilíbrio na tentativa de reestabelecer o próprio equilíbrio. Logo, quanto ao arquiteto e à oráculo, são fruto da adaptação natural: um não pode ter criado ao outro - Gaia, na sua tentativa de viver e evoluir, adaptou-se. Se existe algum tipo de deus, creio que não seja diretor ou ator principal. Nós somos ele e ele é o mundo: aproveite-o.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Teoria do Equilibrio

Sempre fiz a mim mesmo uma pergunta que todo mundo devia fazer na vida. Qual é o sentido da vida, em que equação eu jogo 42 para converter para português?

Este post traz uma idéia muito velha minha. Quanta gente diz que o sentido da vida é evoluir até alcançar a perfeição. Não faz sentido se a vida for um ciclo, e não ter fim simplesmente por não ter começo. Imagine, se um dia é alcançada uma perfeição, a vida atinge seu objetivo, e, e aí, fudeu?

Também não faz sentido que o sentido não seja evoluir. Afinal se não fosse, a própria existência da nossa raça racional seria sem sentido. Desde que deus nos deu a capacidade de morrer, procuramos evoluir, pelo menos a algum nível material, para que seja aproveitado o melhor possível o tempo limitado de vida ou prolongado esse tempo. A evolução representa apenas o fato de constantemente transformar algo para melhor em algum aspecto.

A não ser que não exista perfeição. Se não teve começo, então não teve premissa, logo provavelmente não deve ter hipótese, ou objetivo dentro dessa ótica, e portanto não teria fim. O mundo apenas visando se auto-equilibrar enquanto é uma metamorfose ambulante, com o perdão do clichê.

Imagine uma balança. De um lado temos, digamos, o mal, do outro, obviamente, o bem.
O bem evolui um pouco. O mal evolui pra equilibrar de volta, mas o mundo é imperfeito então o mal evolui um pouco mais que o bem. O bem tenta retomar essa diferença e evolui, mas analogamente à situação anterior, passa um pouco do ponto de equilíbrio. E o ping-pong se prolonga infinitamente, visando um equilíbrio que nunca acontece.

É claro que esse é um exemplo mongol, metafórico e simplista, mas é para ser assim, aberto a aplicações e interpretações. É a balança da dualidade. Sempre ela.

Ser perfeito é ruim. É um desequilíbrio. Paradoxal, mas é a imperfeição que faz o mal evoluir um pouquinho mais que o bem, e este dar o troco. É a imperfeição que mantém o mundo funcionando. Por isso, você tem seus defeitos, se não não seria equilibrado. Cuidado com o que desejam para suas vidas senhores, tudo o que é bom demais tem um preço alto.

Isso não quer dizer, é claro, que não se deva correr atrás da evolução. Só deixe cada coisa a seu tempo.

Pode começar a reparar que sempre depois da calmaria vem a tempestade, e logo depois vem a calmaria de novo.

Os dois lados da balança do universo cada vez pesam mais. E deus disse: "Conservai a energia... e aumentai a entropia."

Depois de um tempo usando essa idéia como analogia para várias coisas, descobri que John Nash tinha escrito muitos anos antes a teoria do Equilíbrio de Nash, que contribuiu boçalmente para o estudo da macroeconomia. Ela representa uma situação em que, em um jogo envolvendo dois ou mais jogadores, nenhum jogador tem a ganhar mudando sua estratégia unilateralmente.

A idéia dele surgiu quando estava no bar com os amigos e comentaram sobre a loira excepcionalmente atraente ali presente. Ele provou que a melhor situação era a em que todos escolhiam uma garota diferente, pois se todos escolhessem a loira, no máximo um teria chance. Isso serviu de analogia para explicar a importância da concorrência para a economia.

Diz um ditado que mentes pequenas só discutem pessoas, mentes grandes já discutem situações, mentes geniais já discutem idéias.

Ouvi dizer em algum lugar que o sofrimento é necessário ao ser humano. Alguns tentaram explicar usando as teorias do Karma e Reencarnação, como uma espécie de punição/recompensa ou até mesmo designação de tarefas prevendo resultados evolutivos.

Porém eu acabei por discordar dessa idéia, a princípio, pois existe a necessidade de um julgamento implícito. Não parece um processo mecanicamente Natural, na verdade é necessária a razão de algum ser(deus por exemplo) - o que resultaria numa espécie de tentativa de equilíbrio forçado. Porém o mais provável é que a função de um deus seja Desequilibrar, pois é isso que move o mundo. Chegamos num deus que faz exatamente o contrário de sua função, o que é um absurdo. Mas tudo bem, sob a ideologia apresentada, eles consideram que o julgamento vem de si próprio e todos são deus.

Supondo que a dor do ser humano seja necessária, observei que a dor seria um agente desequilibrante ou resultante reequilibrante global de ações boas. Obviamente você ao fazer coisas boas não sofre com elas. Mas pode ser que mesmo fazendo as melhores ações o sofrimento venha a lhe atingir. Então na verdade ele deve ser o agente, e não o resultante.

O sofrimento vem na maioria das vezes para te deixar mais forte, mais preparado para o que o mundo realmente é. Deve ser uma concepção que muitos de nós temos. Mas há uma pergunta a ser feita: Porquê ele vem?

Como eu disse nos primeiros posts, há o efeito da auto-predestinação: Ninguém escolhe se ferrar literalmente(todos que são postos a escolhas escolhem a que acham melhor para seus propósitos na hora), logo, alguém que sofre de cirrose por causa de bebida naturalmente deve considerar parar de beber, por exemplo (nem que seja na próxima encarnação). Quando se dá valor a algo depois que se perde. É uma adaptação natural que muitas vezes temos que passar. Mas provavelmente essa adaptação é a resultante reequilibrante.

Por esse motivo, cheguei à conclusão de que sofrimento é um efeito natural que nasceu com o ser humano, foi escrito dentro do código que compõe o homem(aliás, as necessidades do homem). Ele é um Agente, e primário ainda por cima.

Pensei como seria se um homem não precisasse mais de sofrimento, e imaginei que fosse evoluir a ponto de não precisar mais de sofrimento.

É algo complicado de explicar, mas mais complicado ainda com certeza é realizar tal fato. O que eu quero dizer é que se todos fossem capazes de, por exemplo, dar valor de verdade àquilo que se tem sem precisar sofrer nada, o equilíbrio teria sido atingido.

Dê valor às coisas, aprenda com o erro dos outros para que não precise passar pelo sofrimento do erro deles, entre outros daqueles conselhos sábios dos antigos. Nada novo até aí, quando eu pensei: e se existisse forma eficiente de dividir a carga de sofrimento em conjunto?

Provavelmente você não deve ter uma vida tão sofrida. Ou talvez um pouco, mas não liga tanto pra isso. A quantidade de pessoas que se suicidam e que falam português não é nem próxima da metade daqueles povos da neve. Parece que as pessoas procuram do que sofrer por quando isso não lhes é concedido. Aliás, as sociedades patriarcais prevaleceram às matriarcais por causa da escassez de alimentos, o que lhes levou a desenvolver tecnologia.

Se você não tem sofrimento toda hora, seus amigos, parentes, no momento que um deles tem, talvez pudesse haver uma maneira de distribuir pequenas quantidades do sofrimento de alguém entre os relacionados sem sofrimento, afim de amenizá-lo.

O problema é que o sofrimento vem para desequilibrar, proporcionando a resultante boa. E se desse para burlar a regra? Amenizar o efeito negativo do sofrimento mas manter a resultante boa. Ou ainda melhor, distribuir também o efeito positivo entre os relacionados. Seria uma espécie de aproveitamento pró-evolutivo.

Existem pessoas que têm sofrimento de sobra. Sim, elas na verdade foram criadas de uma maneira que o sofrimento varia dentro de uma faixa para ter efeito, e acima desta faixa não faz mais efeito, precisam de outros fatores como o tempo para funcionar. Provavelmente já ouviu falar de ninguém que sofre, sofre, sofre de algo, e mesmo depois de várias porradas ainda não aprendeu.

Aí seria uma boa utilização do esquema do aproveitamento. As pessoas ao redor poderiam amenizar o sofrimento de uma maneira que não prejudicasse o aprendizado do sujeito, de maneira que com uma pena mais leve ele poderia viver com mais qualidade durante o tempo que lhe fosse necessário para completar o aprendizado.

Essa idéia de equilíbrio/progresso mútuo se relaciona com a idéia da defesa da concorrência. 

Um bom exemplo de mecanismo que segue esse tipo de padrão são famílias que dão certo. Bons pais sabem dosar quais tipos de sofrimento serão necessários ser vividos para o aprendizado e a fortificação da sua criança, e quais tipos de sofrimento devem ser amenizados pois, digamos, estouram sua faixa em relação ao tempo necessário, como disse antes.

Pode ser também que essa idéia já seja praticada sem querer. Quando um enfermo está entre a vida e a morte, e esse tende a se recuperar melhor quando há pessoas do seu lado dando força, rezando, etc. E se for, como fazemos isso render melhor ou extrapolamos seu uso para outras coisas?

Uma pequena historinha. Henrique conheceu a cocaína e se viciou. Após muito tempo sugando o dinheiro dos seus pais, que lhe tinham pena, estes finalmente tiveram coragem pra lhe negá-lo e enfim, fazer o que era necessário. Depois de muita resistência, e sofrimento, ele foi internado numa clínica, passou muito tempo lá, e melhorou muito seu caráter. Não foi nada fácil vencer o vício. Mas talvez tenha sido uma boa lição pra lhe mostrar o quanto lhe é capaz quando se tem força de vontade. E também o valor que os amigos de verdade têm(poucos continuaram do seu lado).

Era mesmo necessário se viciar em drogas para aprender a ter força de vontade, a dar valor aos amigos? Ele poderia ter aprendido sem passar por isso tudo? Ou será que o acaso lhe incutiu nos genes alguma 'tendência a vício', como que prevendo que esta seria a melhor(ou a única) maneira dele aprender?

Esse lance de inevitabilidade é um pouco assustador, como todos nós podemos acabar tendo um destino trágico. Mas sob essa ótica de aprendizado, não parece tão ruim. Sofrimento nesse caso é tratado como um subconjunto da dor, o que reenforça o valor do aprendizado. Fizeram um robô usando células de cérebro de rato há um tempo atrás, e ele desviava de obstáculos sozinho, pois quando os sensores detectavam proximidade, ofereciam pequenos estímulos elétricos (choques) às células, e ele se fazia desviar do trajeto.

De uma ótica metafísica, eu diria que a aplicação seria que, sempre que dá uma merda, acontece algo bom depois, e sempre que há um período de calmaria ou de bem-bom, vem uma tempestade depois. Períodos históricos inteiros foram postos em ressonância através de gráficos na TimeWave zero, e apesar de ser muita viagem, é no mínimo curioso ver como os paradigmas e ideologias se ilustram nos acontecimentos e como eles se repetem em períodos cada vez mais comprimidos. Mesmo o mercado de ações recebe aplicações semelhantes a esse pensamento de forma um tanto quanto empírica na análise técnica, posteriormente sustentada pela fundamentalista.

E se houvesse meios de prever o futuro ainda melhor?

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

O Início

O destino está mais escrito que parece.
É sobre uma conversa que eu, Don Juan Aux Enfers, Lord of Metsu(encachaçado) e uma senhorita tivemos algum dia desses, me foge a data. Oceano's Bar. Foi produtivo, e resolvi sintetizar algumas idéias.

Esse assunto sobre destino, determinismo, coisas do gênero, surgiu da pequena observação empírica de que a pessoa escolhe sempre a melhor opção que pode em qualquer circunstância em que lhe é posta a escolha. Isto significa que a escolha dependeu apenas do acaso e da capacidade de análise e abstração da pessoa. A escolha não existe no conceito popular da palavra – as outras alternativas já haviam sido descartadas, quando elas vieram naquelas circunstâncias. Pois como a alternativa que seria escolhida seria a melhor, e dentro do mesmo contexto, ela sempre seria a melhor desta maneira. É claro que se deve levar em conta que cada pessoa tem prioridades de escolha diferentes. Mas ninguém escolheria algo pior quando se pode escolher algo melhor, ninguém escolhe se ferrar. A não ser que se ferrar seja o melhor, e novamente estamos no mesmo caminho.

Tomamos, para facilitar, um exemplo do dia-a-dia(o mesmo do qual falamos lá no dia): Suponha que um sujeito vá a um bar. O infeliz deverá voltar para casa dirigindo, portanto corre riscos se beber em excesso. E uma das “escolhas” que ele deve enfrentar no evento seria por exemplo o quê exatamente ele vai ou não beber no bar. Exemplos:


  1. Suco de Uva “Ma+s”


  2. Coca-cola


  3. Cerveja


  4. Cachaça
1. Suponha que ele tenha escolhido beber suco. Vai ver o cara é um natureba. Comparando com as outras alternativas, o suco é a mais saudável. É a melhor escolha considerando apenas “Saúde”. Pode ser que o sujeito não possa tomar nada além disso por doença, dieta, celulite. Então essa nesse caso seria a melhor escolha.
2. Coca-cola. Ele pode não gostar de suco. Se for jovem, natural é que ele não se preocupe com danos causados por refrigerante à saúde, afinal a vida é longa. Ou suco parece muito careta para ele, ou para os amigos na verdade, e há a pressão social. Essa escolha leva em conta aspectos diferentes da outra, como 'sabor', 'socialização', leva menos em conta o aspecto saúde. E nesse caso seria a melhor escolha.
3. Bem, o palhaço tem que dirigir, mas escolhe beber assim mesmo. Às vezes é uma latinha só, ou sei lá. Se está todo mundo bebendo cerveja, ou é simplesmente uma choppada, ficar de fora pode ser ruim. Pressão social novamente, ou quem sabe sabor da bebida.
4. Enfiar o pé na jaca(pode ser com cerveja mesmo). Eita, ele não devia dirigir? Que se dane saúde, responsabilidade e segurança, os quesitos “Diversão”, “Tirar onda”, “Fazer merda”, “Ficabebãoébão” vêm antes na escala de prioridades. Considerando esses quesitos apenas, realmente eles são uma escolha melhor que o suquinho, certo? Ou se o cara é um alcoólatra, ele escolhe alimentar seu vício em detrimento de fazer o que é certo. É o que ele acha ser a melhor escolha nesse caso.

Isso serve para exemplificar de uma maneira relativamente genérica o que eu quero dizer: a formulação da "escolha" não é nada além de processamento das sensações e comparação com dados armazenados na mente no momento da escolha. As sensações são a impressão que geramos da situação, tanto em termos de sentidos quanto de sentimentos.

É como disse o Merovíngio em Matrix – Escolhas? Você já as fez. Você está aqui para entender porquê as fez. 

Todos os seres optam sempre pelo que acham ser o melhor sob as circunstâncias da situação apresentada. Óbvio, ninguém vira e diz “Rá, vou me Ferrar só de sacanagem”. Se te dão a possibilidade de escolher entre uma nota de 100 reais e uma maleta com 10 milhões, sem quaisquer condições influentes, é claro que você vai na maleta.

Para "realizar" as escolhas, cada ser possui um paradigma mental para operar o que eu chamaria de um quadro de prioridades, que é formado pelas suas experiências e influenciado pela genética e pelos sentimentos(ou aquelas substâncias químicas que afetam nosso rendimento, se você preferir).

Existe grande importância da criação do sujeito nisso, é claro. Sob esse aspecto os pais são vetores responsáveis pelas ações que influenciam direta e indiretamente o quadro de prioridades do sujeito. Inúmeras são as situações onde os pais são obrigados a escolher entre punir e dar mais uma chance, “deixar mais um pouco o futebolzinho” como solicitado ou mandar “logo pro banho, porra” etc. Na verdade as primeiras experiências de aprendizado costumam ser desencadeada pelos pais.

Dizer que existe destino soa exagero, mas é inevitável. No fim até o escolhido acabou concordando com isso.

Então que porra é essa, estamos sendo testados? Pra ver se se estamos fazendo bom uso do dom que nos foi dado?

Uma observação é que, sob essa ótica, aparentemente estaríamos sendo guiados pelo meio e não teríamos liberdade. O que pode nos fazer pensar que não existe também a noção de responsabilidade e culpa, pois fato é que costumamos associar a liberdade à responsabilidade pelas nossas escolhas, o fato de poder arcar com elas, coisa e tal.

Isso se soluciona vendo a liberdade como algo mais estático, de caráter mais classificatório do que conectivo (dentre eventos). O grau de liberdade de um agente seria proporcional apenas ao grau de restrição da escolha, em determinado evento. Ter mais ou menos liberdade significa que as escolhas têm menos ou mais restrições apenas, o que garante o caráter natural da culpa e a noção básica de responsabilidade, eu creio, mesmo considerando a inevitabilidade das situações e o fato de que somos a soma de tudo que já nos aconteceu.