quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Projeto Jenova

Sob edição constante.

É uma idéia que eu tenho há mais de 3 anos e não é simples. Ela parte de alguns pressupostos sobre a realidade brasileira. Mas hoje eu descobri que ela é Mais do que isso. É um ensaio para um sistema digital de democracia direta com perspectivas de evolução e um propósito holístico de certo modo - mas sem aquela coisa das ideologias radicais de viver de futuro e esquecer o presente.

Antes de chegar a tal, vamos à idéia.

Premissas

  1. A política brasileira está está completamente deteriorada, corrupta e humanamente irremediável. É necessária uma saída que não envolva pessoas para remediar o sistema, ou pelo menos o mínimo de pessoas possível.
  2. A máquina estatal brasileira, provavelmente por causa disto acima, é muito pouco eficiente, pouco produtiva, pesada e consome muitos recursos. 
  3. Dos 24% do PIB que o governo arrecada em impostos, menos de 1% é destinado à educação - cerca de 4,5% é destinado à educação pública total, e quando se trata de ensino superior, obviamente, menos ainda. Não temos, para piorar, uma educação formada por educadores e não só professores. Não temos compromisso com a formação de uma elite intelectual disseminadora de idéias. Conhecimento não é sabedoria. 
  4. O povo é mais frágil sem educação, assim como a economia, pois faltam pessoas dispostas (não sabem que há) ou capazes (não sabem como) de empreender idéias e gerar, assim, riqueza. Ou, pior ainda, pessoas capazes de criar essas idéias.
  5. Um governo mau-gastador, além de não proporcionar devido apoio às necessidades da economia e da população em si, gera inflação de demanda e não distribui renda tal como poderia se gastasse melhor

Esta é uma idéia grande demais para um só, precisariam de várias mentes trabalhando nela. Regime colaborativo em termos de idéias.
  1. Cada domicílio possuiria um Tablet através do qual pode se comunicar diretamente com o Governo, e vice-versa. Seção de sugestões e reclamações, criação de oportunidades e denúncias de qualquer tipo de problema. (Isso não substitui o uso de assembléias, apenas tornaria mais acessível, sendo possível uma moderação mais sintética)
    • Aceleração da resolução dos problemas.
  2. Formação de corpo sólido de estratégias e dicas técnicas que evitem problemas recorrentes em inúmeros setores. Compra, pelo governo, de tecnologias estrangeiras. Venda de pacotes informacionais por preços baixos, e fornecimento gratuito de versões básicas. Evolução constante na sintetização dos pacotes informacionais e atualização junto aos clientes.
    •  Aceleração da evolução da produção. Tentativa de aproximar o país da fronteira tecnológica.
  3.  Sistema capaz de interligar todos os sistemas governamentais numa espécie de banco de dados único e inteligente. Fazer transparecer dados que encurtariam barreiras. Orientar o povo e o governo de modo mútuo e inteligentemente direcionado.
    • Comunicação facilitada entre o povo e o governo.
  4. Interligar os serviços de governo e encurtar a distância entre o cidadão e o governo, de modo que, cada um com seu tablet poderia se comunicar diretamente com um órgão integrado preparado para reencaminhar questões de qualquer tipo para órgãos competentes a respondê-las.
    • Tornar a máquina estatal mais barata, porém mais eficiente e útil. Encurtar barreiras informacionais e aumentar sensivelmente a transparência com que são tomadas as decisões do governo. Aumento de produtividade e de participação da opinião popular.
  5. Automatização de funções, reduzindo corrupção. Substituir as pessoas (corruptíveis ou corruptas) que compõem o sistema por máquinas. Esquemas inteligentes de gestão de pessoas, especialmente no tocante à vigilância do sistema.
    • Aumento da eficiência, tanto pela redução de corrupção quanto pela velocidade.
  6. Integração dos sistemas, uma vez com a base de dados toda interligada em sistemas já automatizados, é possível reduzir em muito as barreiras entre o cidadão e a informação, especialmente na forma com que o governo executa seu serviço. Sistema colaborativo: o exercício da cidadania ficaria muito mais simples, prático e fácil se tivesse um tablet dentro de casa através do qual pudesse diretamente se comunicar com o governo de alguma forma, seja reportando quaisquer coisas que ele encontrasse de errado ou proativamente dando sugestões para melhorar coisas que já são boas. (Aquele clássico problema de marx)
    • Governo eficiente, transparente, barato, e muito melhor armado de dados sobre suas metas a resolver.
  7. Os parlamentares teriam seu salário baixado sensivelmente, e seus gabinetes sensivelmente reduzidos tanto em termos de pessoal quanto em salário destas pessoas. Pedidos de aumento serão julgados única e exclusivamente pelo povo. Pedidos de ampliação de gabinete de menos de 20% terão análise minunciosa do resto do governo, e de mais de 20% também vão à opinião pública. Redução grosseira de impostos.
  8. Os servidores públicos que seriam substituídos pelos sistemas automatizados de atendimento teriam dois destinos possíveis: 
    1. Encaminhadas à iniciativa privada através de acordos do governo com as empresas do país, em troca de incentivos. Encaminhadas às empresas estatais a partir de concurso interno, sob condição de retreinamento uma vez aprovadas. A esta alternativa tem prioridade os servidores mais velhos.
    2. Tomariam curso para tornar-se professores. Seriam feitos acordos com diversas universidades estrangeiras no intuito de conseguir bolsas para este fim.
  9. De outro lado, seriam fornecidas bolsas aos x melhores colocados no ENEM no país ou algo assim, para estudarem lá fora.
  10. Reformulação completa do sistema educativo brasileiro até o ensino médio - modelo definido por assembléia nacional dos professores, colocação de matérias essenciais e optativas (faz a aula quem quer, quem gosta). Obrigatoriedade de aparelhagem técnica nas escolas (para oferecer disciplinas de nível técnico), planos de oferecimento de estrutura pelo governo.

  • Informações que seriam úteis sobre mercado e economia, tudo com o devido sigilo. Em que setores de produção a economia está carente, e precisa de empreendimentos? Oferecer neles pacotes de Informação tecnológica e científica de níveis variados, todos extremamente práticos, como forma de tentar puxar a tecnologia para mais perto da fronteira.
  • Treinamentos (podendo ser sugeridos conforme os pacotes comprados pelos empresários), serviços de informações empresariais atualizado rigorosamente, estímulo à concorrência empresarial e a disputa pelo mercado (principalmente o interno). 
  • Alguns pacotes com nº limitado de compradores para distribuir melhor o crescimento equipes de acessoramento? Estudos de Tendências financiados pelo governo democrático-tecnocratizado. Melhor equilíbrio na razão Empregador/Empregados, e aumento da produção de ciência com a contratação de pesquisadores.
  • Modelos de cálculo para prioridades de pesquisa e concedimento de recursos, estímulo forte a tecnologias aplicadas (conforme as prioridades que os cálculos junto à base de dados fornecerem) que matem custos de manutenção, como por exemplo revestimento de estradas.
  • Estratégia de marketing precisa ser muito bem estudada, pois é uma idéia que não seria difícil de deturpar, desvirtuar ou fazer parecer menor na mídia.

  •  

    3,14

    Este é o manifesto do Partido Infolibertário. É uma propaganda, mas no caso só tem o script aqui.

    Início
    * Aparece uma tela preta com letras verde-acinzentadas. Um programa em modo texto começa a calcular pi até 10 milhões de casas. Aparecem as 2 primeiras mais devagar para a pessoa perceber do que se trata.

    - $ /usr/bin/sephiroth: Data calculation reached recommended level. 
    Start pattern recognition? (Y/N) y

    * Um programa matricial começa a tentar achar padrões na sequência de pi.

    - $ /usr/bin/sephiroth: CRITICAL ERROR 72: ¬£¢¬ ccccD&CF
    - 3425166348776551683628196817465134327136579476878496728193425617638567473245612323456133456473645636485466342561332671566784756678813352607345261335567465678156675801566578405668704865876088650676840566870486560746805607856780468000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000
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    - 01001101 01100001 01101100 01101011 01110101 01110100 01101000 01011001 01100101 01110011 01101111 01100100 01001000 01101111 01100100 01001110 01100101 01110100 01111010 01100001 01100011 01101000 01010100 01101001 01100110 01100101 01110010 01100101 01110100 01000111 01100101 01110110 01110101 01110010 01100001 01101000 01000011 01101000 01100101 01110011 01100101 01100100 01000010 01101001 01101110 01100001 01101000 01000011 01101000 01101111 01101011 01101000 01101101 01100001 01101000 01001011 01100101 01110100 01100101 01110010

    * O sistema desperta (toma consciência de si) mas rapidamente crasha. O computador desliga e a cena muda para o quarto cinzento, e o cara de terno na janela fumando rapidamente olha para a tela, dá mais um trago e volta a olhar para a janela. Chove bastante lá fora.

    - A vida me fez acreditar em nada. Acreditar que... acreditar não é necessário. Tem um problema nisso: você pode perder a esperança. Ou de que você pode mudar, ou de que o mundo pode mudar. Eu tentei inclusive... eu Tento, me matar. (dá a última tragada e joga o cigarro fora).

    - Eu fui criado por pessoas que nunca tiveram fé na política Por causa dos políticos. No mundo das idéias, talvez isso pudesse ser uma falácia ad hominem, mas na prática... é bem fácil. Esse país é impedido de andar por uma mochila pesada demais.

    * Começam a passar rapidamente imagens translúcidas (como memórias) de casos conhecidos de corrupção, desinformação, crimes bizarros jogados na gaveta, e o tamanho do orçamento a pagar por tudo (inclusive isso) no final.

    - Vocês, eu não sei se sabem o tamanho disso tudo, mas eu sei que alguns de vocês sabem de algumas coisas. E sei que estão muito, muito putos com isso tudo. Pois eu mesmo também estou. Eu nunca quis ser político, e não tenho a menor vontade de ser. Esse título me dá nojo. Eu não sou ladrão, eu não sou criminoso. Por favor, me chamem de bacharel, ou pelo meu nome mesmo.

    - (aponta com cara de blé para o terno) Eu não me visto assim para parecer sério. Eu me visto assim por que estamos indo num funeral. A honra morreu a séculos, e aliás, a dignidade vai pelo mesmo caminho também, dentro do nosso governo. Eu estou aqui esperando para ir no enterro junto com vocês. (fecha o terno e vai andando)

    - Engraçado é que, honra, esperança, dignidade não são entidades que podem ser destruídas. Elas permanecerão mortas no governo e na parte controladora da sociedade enquanto não nascerem nestes de novo, livres.

    - Estou indo no funeral, no fim das contas, zelar para que suas crianças não sejam corrompidas também. (fecha o elevador)

    * Fim do comercial, e aparece o símbolo Pi.

    terça-feira, 6 de setembro de 2011

    Contra o Aborto

    Resolvi postar um texto apologético contra o aborto. O que me deu vontade de postar este texto foi o comum erro das pessoas ao argumentar que a proibição do aborto na verdade é uma defesa da liberdade da mãe. Fico escandalizado quando vejo as pessoas simplesmente ignorando o fato mais óbvio de todos: e a liberdade do feto? Vejo todo mundo dizendo que o aborto é livre exercício da vontade da mãe, mas este argumento é totalmente estúpido num Estado de Direito, ainda mais em um Estado que respeita as liberdades individuais.

    Vamos fazer um curto raciocínio, proposto por um cara que eu não curto porque, à parte desse raciocínio, a teoria dele descambou pr'um Estado do Bem Estar Social que se provou incapaz de cumprir suas premissas. John Rawls, o dito cujo, dizia que, quando os legisladores, mas especificamente os constituintes, fossem escrever os projetos de Lei, eles deveriam jogar sobre si um véu de ignorância. Mas que porra é essa? O véu de ignorância nada mais é do que um bloqueio imaginário que te impeça de saber sua condição, sua natureza. Como assim? Ora, as Leis são feitas para todos, e nós não conseguimos prever as condições de todos. Então, deveríamos, segundo ele, fingir não conhecer nossa condição porque, fazendo isso, poderíamos estar na condição de qualquer um. E isso seria o véu da ignorância, voltar ao estado original onde não temos consciência do que somos, consciência esta, se me permitem, só adquirida quando do convívio com outros seres. Se nos colocássemos nesta condição, protegeríamos a todos com as Leis, evitando de fazer mal a qualquer indivíduo, mesmo porque poderíamos estar fazendo mal a nós mesmos.

    Vamos exemplificar: Você é o Sarney. Você vai fazer uma Lei, sobre... Eutanásia de pacientes em Coma. Ora, vejam só, temos um exemplo onde os indivíduos para os quais a Lei se destina não podem expressar sua vontade. Daí você entrega a um bando de pessoas que, teoricamente, e sem nenhuma ironia neste teoricamente, desejam o bem do sujeito o direito de decidir sobre sua vida e sua morte. Qualquer um pode argumentar o que quiser, mas é muito claro o desrespeito a liberdade individual. Eu sou a favor da eutanásia, acho que o Estado não tem como regular essas coisas. Se o cara quer se matar, vai fundo. Acho que nem deveriam ser aplicadas medidas de cunho disciplinador, tipo internação obrigatória e essas coisas, em suicidas. Mas isso é muito diferente. O cara em coma não tá ali pra dizer se quer ou não morrer. Vinte anos se passaram e ele não saiu do coma? Como você, pai, irmão, esposo, filho, mulher, filha, mãe, pode dizer que o cara não tem uma mega vontade de viver e, mesmo sob aquelas condições, não gostaria de continuar vivendo, independente do quanto você o conheça? Ele pode ter um motivo desconhecido pra querer continuar vivendo. "Ah, eu senti que ele não queria mais viver". Sentiu? Você vai matar uma pessoa por causa de um sentimento? E o Sarney? Como ELE, que não conhece o cara nem de vista, pode falar isso?

    O Sarney, ao invés de fazer uma Lei estúpida como essas, por exemplo, deveria colocar-se sob o véu da ignorância e pensar que, na posição de um paciente em coma, ele talvez pudesse optar por continuar vivendo. Não são todas as pessoas em coma que querem morrer, e não é porque a pessoa tá em coma que os seus direitos personalíssimos passam para a tutela de outra pessoa ou do Estado. Quem acha isso possível, alguém dispor de seus direitos personalíssimos, mesmo através de documento oficial registrado, também pode muito bem aceitar que a tutela da vida de todos os judeus do Terceiro Reich tenha passado pro Estado Nazista e ele tenha optado por matar todo mundo. Claro que não estou dizendo que aceitar uma é aceitar a outra, mas aceitar uma e não aceitar a outra é fugir da lógica. Afinal, se a pessoa considera um paciente em coma tão não humano para dispor da sua vida a seu bel prazer, os nazistas também consideravam os judeus assim. Aceitar logicamente um é não refutar vigorosamente o outro, o que, no caso do nazismo, é a mesma coisa que apoiar um sistema que matou uma caralhada de gente.

    Agora vamos entrar na questão do feto, propriamente dito. A tinha evitado porque tem gente que usa o argumento escroto de que feto não é gente. Não tem cérebro, ou qualquer merda do tipo. Isso simplesmente não importa. Basta que partamos do pressuposto de que todo feto nascido de um humano vai se tornar um humano biologicamente normal para desbaratarmos esse argumento. Se coloca na posição. Você é um feto e sua mãe quer te abortar. Você gostaria de ser abortado? Ainda que existam algumas pessoas em condições miseráveis que aceitariam a oferta, a grande maioria NÃO a aceitaria. O ser humano, em geral, não disporia da sua vida por nada. A vida é o bem maior pro ser humano.

    Algumas pessoas falam de mães que não tem como sustentar seus filhos, ou qualquer coisa do tipo. Porra, a gente tá no século XIX? Se for assim, melhor é matar todos os pobres logo. A escolha que os defensores desse argumento fazem é a mesma que os caras que proibiram o tráfico negreiro fizeram, só que internamente. "Olha, já tem pobre o suficiente, facilita aí pros pobres matarem os filhos, pra não saturar o Estado". Porra. Os fetos são os únicos que tem o direito de dispor de suas próprias vidas. A vida do feto é um expectativa de Direito, ou seja, se tudo der certo, aquele direito vai existir. Primeiro que você não pode dispor de uma coisa que ainda não existe, mas deve esperar até ela se concretizar. Só que sendo um direito personalíssimo, individual, intransferível, NINGUÉM, a não ser o próprio indivíduo, pode dispor dele. Imagina se dispusessem da sua vida por você?

    O feto não é da mãe, não tem nada a ver com a mãe, a mãe serve unicamente pra sustentá-lo até ele poder fazê-lo sozinho. Isso se ela não o quiser, é claro. Se não fosse assim, o Estado também poderia dispor da vida de todos que dependem dele, ou seja, todo mundo que recebe Bolsa-Família, por exemplo. Sei que a exemplificação é tosca, mas espero que me entendam. O que eu quero dizer é que, independente de QUALQUER COISA, cada indivíduo é único, independente de seu estado e só ele pode dispor de sua vida. Por isso que a liberdade de expressão deve ser tão defendida, pois só ela nos faz indivíduos (tá, isso é papo pra outro texto). Se vocês acham que um dos motivos pro Estado estar saturado é a proibição ao aborto, o problema não é o feto, é o Estado. O Estado que não tem que oferecer saúde pública como o faz hoje em dia e, consequentemente, não cobrar tanto imposto, não o bebê que ainda não nasceu ser morto. O indivíduo NUNCA deve se sacrificar pela sociedade. Isso é utilitarismo. Isso é nazismo.

    segunda-feira, 5 de setembro de 2011

    A quinta dimensão (ou sexta)

    O entendimento desse texto requer a leitura prévia de Teoria do Desequilíbrio.

    Me disseram uma vez que existem seres cuja existência compreende mais dimensões do que nós. É um tanto complicado pensar, no entanto, como seria o fato de Ser em mais de uma dimensão temporal, poder trabalhar em mais de uma linha temporal ao mesmo tempo.

    Perceba que o fato de ser é decorrente do criar, isto é, a constante reflexão entre criatura e criador, e em cada um, do cruzamento entre estado de criatura e estado de criador. A equação do Ser envolve as próprias derivadas deste em sua fórmula.

    E nisso o sonho não-lúcido tem um lugar de destaque: é a igreja através da qual a criatura do homem, isto é, a idéia, comunica-se por vontade própria e soberana com seu criador.

    Suponha que fôssemos capazes de sonhar mais de um sonho ao mesmo tempo. E temos de considerar então que isto seria emular duas realidades totalmente diferentes, com percepções vívidas diferentes.

    Chuang Tzu sonhou que era uma borboleta e que tão vívido tinha sido o sonho que não sabia, ao acordar, se era Chuang Tzu acordado ou a borboleta sonhando ser Chuang Tzu. A pergunta colocada em Teoria do Desequilíbrio é: se dentre os inúmeros leitores do provérbio de Chuang Tzu, algum tenha por acaso sonhado que sonhava ser uma borboleta e depois acordava e era Chuang Tzu, exatamente igual à experiência subjetiva do mesmo, uma vez postulada essa igualdade, os momentos não seriam o mesmo?

    Seja então este sujeito capaz de ter dois sonhos ao mesmo tempo.
    Em um sonho, ele é A sonhando ser B que sonha que é C.
    Ao mesmo tempo, tem outro sonho em que é A sonhando ser B que sonha que é C, porém desta vez, o sonho de B sendo C é levemente diferente do outro.
    Nos dois sonhos, os protagonistas acordam e, tão vívida a experiência de sonhar ser C, surge a mesma dúvida se são B acordados ou C sonhando serem B.
    Como os sonhos tiveram diferenças muito leves, suponha que agora os sonhos são de A são exatamente iguais, inclusive as sensações nubladas de memória do sonho de ser C, a dúvida se é B acordado ou C sonhando (dentro do sonho).
    Quando A acorda, em ambos os sonhos, não sabe se é A que acabou de sonhar ser B, ou B que agora sonha ser A, logo após ter sonhado ser C. E em ambos os sonhos, estes momentos agora são iguais.

    Porém o mesmo momento saiu de duas diferentes sequências de eventos. Duas linhas de tempo paralelas se encontraram num ponto e seguiram a partir dali coincidentes.

    Engraçado seria se um homem dissesse que sonhou ser Deus, e tão vívida foi a experiência que agora não sabia se era Deus sonhando ser homem ou homem acordado do sonho de ser Deus.

    O que fará Deus ao acordar de seu sonho de ser todos nós?

    Não me diga que ele ficaria em dúvida se na verdade é ele acordado ou é todos nós sonhando sê-lo.

    quinta-feira, 1 de setembro de 2011

    Escritos Preliminares sobre a Teoria da Comunicação como Instrumento Máximo de Poder

    Você existe apenas naquilo que faz.

    Frederico Fellini

    Hoje, quando eu tava começando meu dia de trabalho, fui fazer uma pesquisa e dei de cara com essa frase em um site que eu estava usando como fonte. Esse site tem mania de colocar essas frases maneiras, mas essa parece que foi especialmente colocada lá. Já tem algum tempo que eu preciso escrever esse texto.

    Quando eu esbocei ele na minha mente, eu pensei em falar só sobre trabalho, aquilo que a gente faz. Mas não é isso que eu faço, ao menos não é só isso que eu faço. Pelo contrário, refletindo, descobri que o trabalho atrapalha aquilo que eu faço bem de verdade, e que todo mundo faz, ou deveria fazer, de verdade, que é refletir, pensar.

    Ontem, eu resolvi começar a colocar essa relação no papel, esboçando esse texto, que também era pra ter sido escrito ontem. Ontem eu desmaiei de cansaço.

    O que é trabalhar? A única coisa clara desse conceito, do que é trabalhar, é que ele é demasiado complexo. A gente tem que pegar o produto do trabalho pra descobrir o que é trabalhar. Trabalhar nasce de uma necessidade, necessidade essa que são duas na verdade, produzir bens de consumo para trocá-los ou consumi-los, um viés material, e produzir para alimentar seu próprio ego, ou para se sentir útil, ou qualquer justificativa que sua mente te dê para que você se sinta impelido a produzir, que poderíamos chamar de viés abstrato do que é trabalhar.

    Trabalhar então é, descartado todas as análises jurídicas ou econômicas, uma parte do conceito de produzir, que é uma parte do conceito de criar. Por que a gradação se dá assim? Porque todo trabalho envolve criação até um certo grau, que nada mais é do que tirar algo do nada. Nem que esse algo se limite a raciocinar um mecanismo de funcionamento, o raciocínio sempre surge do nada, ainda que inspirado por outra coisa, como o próprio mecanismo. A idéia surge na sua cabeça, ela não é produzida. A produção, o produzir, por sua vez, envolve a necessidade de uma matéria prima. Todo trabalho envolve produzir em um certo grau, sempre maior do que o grau de criar, pois todo trabalho envolve a necessidade de matéria prima.

    A gradação, se você pensar cabalisticamente, é mais ou menos como a das Sephirot. Do mais abstrato para o mais material, do mais espontâneo para o menos, do mais Divino para o mais humano. Trabalhar é uma atividade exclusivamente humana. Deus nunca trabalhou, Deus criava. Essa busca pelo material típica do capitalismo gerou uma sociedade onde todo mundo trabalha, mas ninguém cria. Vamos por partes.

    Não existe trabalho que seja somente criação. Alguém poderia dizer que “ah, o filósofo cria!”. Os filósofos de hoje, o que, numa sociedade altamente especializada, pouco dinâmica e capitalista como a nossa é um cara que fez faculdade de filosofia, não criam enquanto trabalham. O trabalho dele é dar aulas sobre o que outras pessoas criaram. Quando ele próprio cria, não está trabalhando. Trabalhar é um ato vinculado ao material, criar, ao abstrato. Não existe uma essência do trabalho. O trabalho carrega um pouco da essência do que é criar, mas somente isso, sendo infinitamente menor do que ela é. Diferente das essências dos homens, que no vazar pelas Sephirot, mantiveram-se substancialmente, as essências das coisas, ainda me escapa o mecanismo lógico para entender o “porquê” disso, se separaram em diversas ações no mundo. Por exemplo, o verde. O Verde existe essencialmente, mas não no nosso mundo, onde o verde se divide entre plantas, cores de lápis, objetos e até mesmo verbos, como “colorir de Verde”.

    Parágrafo explicativo:

    O Verde age no mundo em todas essas coisas, por isso que disse que a essência se separa em diversas “ações”. No mundo, não existe nada que seja estanque, tudo é dinâmico, apesar da vontade essencial da civilização ocidental era transformar tudo no que “é”, enquanto nada “é” em nosso mundo, tudo “deve ser; será; devir”. A coisa só “é” em sua essência, que certamente não se contém na nossa dimensão, pois nada pode “ser” enquanto existir um tempo que não “é”. Enfim, discussão para cinqüenta textos. Morra Parmênides!

    De qualquer forma, não sei se me fiz claro, mas trabalhar não tem essência independente. Trabalhar é um ato mundano que contém a essência do que é criar. Mas nós podemos criar, que é quando aspiramos mais alto, que nos faz igual a Divindade. Deus disse que criou o homem a sua imagem e semelhança. Está aí sua explicação. Aqueles que já leram outros textos meus sabem que acredito que somos fruto da imaginação Divina, que fomos imaginados e passamos a existir dentro da mens divina, por força exclusiva desta. Nós também podemos fazer isso, imaginar e fazer existir, mas com uma pequena diferença.

    O silêncio. Deus pode criar silenciosamente, e ele faz existir a essência imutável, que vaza para todas as ações em nosso mundo de sombras. Nós não. Nossa limitação física nos obriga a falar para criar, a escrever, registrar, pois não conseguimos meramente criar essências, a não ser que coloquemos suas idéias no papel. E aí vem uma questão maior. Deus criou tudo no mundo (stricto sensu desta última palavra, no sentido que damos a ela), logo tudo que nós criamos já existia como essência. Nesse caso, não estaríamos apenas descobrindo o que Deus criou? Ou não seríamos nós mesmos demiurgos de experiências que criamos? Ou ainda, não estaríamos na mens de um demiurgo, que ainda que tivesse uma sapiência infinitamente maior que a nossa, não seria ele próprio criação divina? A única coisa que me parece perfeitamente clara é que, seguindo esses degraus de ascendência, por fim descobriremos a existência de Um que criou tudo, a verdadeira Divindade.

    Está escrito na Bíblia que o Verbo se fez carne, e tudo que Deus criou foi falado. Não creio. Deus criou em silêncio, mas como não conseguíamos nós mesmos criar em silêncio, transpusemos para o papel o que fazíamos, para marcar nossa semelhança com o Divino, ainda que pequena. Mas como assim não podemos criar em silêncio? Você, paulista, deve estar em casa “ô loco, mano, fico aqui em silêncio sussa peinsândo nas minhas coisa, o mano não inteinde nada de criar”. Não digo que não possamos “pensar”, mas pensar é totalmente diverso de “criar”. Pensar se assemelha a refletir e é um mecanismo racional, criar não necessariamente é racional. Para pensar, você pensa em algo, mas criar é mais como “imaginar”, ainda que não igual. Imaginar não tem obrigação nenhuma. O Criador tem obrigações para com sua Criatura.

    Enfim, sei que estou tentando esmiuçar um assunto gigantesco, mas são só pontos importantes de serem abordados, e espero que alguém mais sábio e com mais humildade que eu um dia possa me explicar melhor isso. Talvez isso tudo seja uma busca egoística pelo conhecimento, talvez a necessidade de cristalizar uma reflexão, um conhecimento adquirido. Não crio nada novo aqui, apenas reflito e cristalizo minha reflexão. Apenas “produzo”. Se escrevesse uma história original, creio eu que aí sim, estaria “criando”.

    Enfim, o assunto principal desse texto era, como havia dito inicialmente, mostrar como trabalhar atrapalha minha vida (haha). Primeiro, posso dizer que trabalhar rejeita essencialmente o meu objetivo maior, que é me desprender do material, que é infeliz, vazio por si só (não mal! Não sou maniqueísta!), e me ligar mais ao abstrato. Se trabalhar é uma das reduções materiais da abstração “criar”, eu, ao trabalhar, me ligo mais ao material. Claro que não podemos deixar de trabalhar, mas nós trabalhamos muito hoje em dia. Para que? Para acumular dinheiro para comprar coisas e preencher o vazia que o próprio trabalha provoca, por não termos tempo para criar nada. Claro que essa falta de tempo afeta todos os seres humanos que querem criar algo, que não necessariamente são todos. Os seres humanos são diferentes uns dos outros. Alguns se contentam só com o trabalho. Outros aspiram coisas maiores, “criar” efetivamente, chegar o mais próximo possível da Divindade.

    No meu caso, eu desejo muito, mas não consigo. Mesmo no pouco tempo que me resta, não consigo “criar”. Por que? Porque estou cansado demais, até mesmo para pensar. E não há espaço para criar no mundo de hoje, pois não há tempo, e o ser humano corre contra o tempo, contra a morte. O problema é que isso é errado, e acabamos valorizando as coisas erradas. Nós só trabalhamos, não criamos e pouco produzimos. Porque temos esse parâmetro de sucesso determinado pelo tempo, que é uma coisa extremamente Ocidental. Estava lendo um livro de xadrez e, numa determinada passagem, o autor fala do xadrez como ele era nos territórios muçulmanos no medievo. Ele fala que o jogo podia durar horas, devido aos movimentos do bispo e da rainha, que eram diversos dos que foram adotados no Ocidente quase que imediatamente após sua chegada na Europa. Nós modificamos o jogo em diversos sentidos. Mudamos a forma como se movimentam as peças, e até mesmo a forma como o jogo é abordado por nós. Nosso dinamismo desenfreado fez com que trocássemos a abordagem islâmica de usar os primeiros 19 a 25 movimentos para organizar nossas peças no campo, por uma abordagem mais desenfreada, onde desde o começo o que determina o ritmo do jogo é a movimentação das peças do adversário.

    É a forma como o ocidental pensa sua relação com o Tempo e com o Espaço. O que determina o caráter de um povo, seu habitus, é justamente sua capacidade de se relacionar com o Tempo e com o Espaço. Como sua relação com o Espaço sempre foi precária: frio, inóspita, hostil, a Europa pré-civilização, e povoada de inimigos, fria e hostil, a Europa pós-civilizada (e, convenhamos, somos todos europeus); sua relação com o Tempo sempre se pautou por esta. Não poderia ser dado tempo as ameaças para que elas se concretizassem. E isso, de aproveitar o tempo da forma mais frenética possível, se tornou sucesso para o Europeu e para o Ocidental de uma forma geral.

    Não que não seja, mas o mais tradicional ditado atribuído aos norte-americanos expressa bem o que comprova o bom aproveitamento do tempo na visão do Ocidente: “time is Money”. Tempo é dinheiro, tempo bem aproveitado. Logo sucesso virou fazer dinheiro. Isto na verdade teve implicações muito profundas na história das sociedades, e determinou a ascensão ao poder da burguesia. A burguesia trabalhava, em contraposto a Nobreza, que era a classe ociosa, logo gerava dinheiro, que podia comprar o poder que já era deles pelo domínio que tinham sobre o Tempo, reconhecido pelo próprio gerar dinheiro. A partir do momento que eles reconheceram esta relação, tentaram dar validade política a ela e, através da Revolução Francesa, conseguiram. Acabara o tempo em que a ociosidade determinava a superioridade.

    Este ócio não é bem aceito no Ocidente. Tem por aqui o epíteto de vagabundagem. Concordo que o ócio de fato seja vagabundagem, mas vamos relacionar agora as duas análises, do abstrato com o material. Acredito, como já expresso, que a fala, o registro, enfim, a expressão, é o mecanismo principal de criação utilizado pelo ser humano. No entanto, trabalhar exaure o raciocínio, a reflexão, o pensar, exaurindo logo nossa capacidade de pensar e criar. Nos subtrai o “ócio criativo”! Quando há de surgir sob esse vil modelo capitalista que vivemos outro Adam Smith, John Locke ou semelhante?

    E por que cito eles? Porque acima de tudo eles eram generalistas, polímatas. Tinham tempo de refletir e de criar, e ainda sobrava tempo de produzir e trabalhar. Nosso modelo nos impede que sobre esse tempo justamente quando ele é mais necessário, em nossa juventude, onde tudo aprendemos e reproduzimos com a maior facilidade. Nosso sistema nos desgasta e impede que nós o revolucionemos, como esses homens fizeram no tempo deles. Eles não deixaram de trabalhar, só tinham uma rotina mais sadia, mais bem dividida entre trabalho e ócio, que para eles se tornava um momento de criação, como é inerente a todo “criador”.

    Enfrentada essa relação com o trabalho, passamos a outro questionamento. O ser humano “cria”. Mas por que eu afirmo que só se cria quando se coloca no papel, registra ou coisa parecida? Poderia repetir o argumento usado lá em cima, de que nós não temos a mens divina, mas essa é uma afirmação, um argumento, baseado na oposição entre dois fatores que foram aproximados para comparação. E uma comparação que ainda constatou a existência de uma semelhança entre a Divindade e nós. Vamos partir então pra outro argumento, que afirme por si só porque precisamos registrar.

    Nós não podemos “criar” criaturas de fato, liberá-las para ter suas próprias vontades, para que elas nos reconheçam como criadores e possamos fazer que nem a Divindade faz com a humanidade, se alimentando do próprio Amor que gerou no coração dos homens. Mas se até Ele precisa de um espelho, precisou compartilhar o mundo, por que com nós seria diferente?

    É, na verdade, exatamente igual. Vou pegar dois exemplos. Dragões e psicanálise. Ou melhor, o Diabo e a psicanálise. Hoje existe uma grande descrença no Senhor do Submundo. Mesmo que ele batesse na sua porta, poucos veriam, porque ninguém acredita que ele exista de fato, a não ser pelos religiosos. É aquele argumento do monstro de desenho de criança. A partir que se criam parâmetros que neguem a existência de uma coisa, ou que a existência dessa coisa seja negada por si só, seria como se esta coisa nunca tivesse existido ou não existisse, mesmo existindo. Como se nunca tivesse sido criado. As pessoas, e isso é óbvio, é que eu defendo a minha vida inteira, não enxergam a realidade, mas apenas a realidade que elas querem ver. Apenas sombras de uma realidade maior. Uma realidade verdadeira. Papai Noel é certamente mais real, com mais características, mais personalidade, mais profundidade que muita gente por aí.

    Por que citei a psicanálise? Porque a psicanálise também acredita nisso. Quando o paciente fala, ele reconhece seus problemas, ele “cria” seus problemas, no sentido de dar liquidez e certeza, para usar termos jurídicos, a eles e começar a trata-los, ou aprender a viver com eles. E não só isso. Para que alguém reconheça eles como parte de um mundo onde se vive, onde eles possam ser atingidos. Quando você fala do elefante branco na sala ninguém mais pode negá-lo. Ele está lá. A mesma coisa com as histórias do Sinbad e o Papai Noel. Todo mundo acredita neles. Eles têm personalidade, eles podem ser julgados, eles existem. Eles existem sim, num mundo que não é esse, mas existem dentro de uma lógica própria, dentro de um sistema próprio, hermético, que só pode ser julgado logicamente se existe ou não pelas suas próprias regras. Como eu disse, são reconhecidos.

    Esse reconhecimento que eu digo que, diferentemente de Deus, nós não podemos ter por nós mesmos, ou pelas nossas criaturas. E por isso levamos a nossos pares, e eles reconhecem a existência dessa lógica própria que governa ações (no sentido que eu dei anteriormente para ações), ou colocamos num papel e nunca mostramos a ninguém, mas nos impedimos de esquecer ou de deixar esquecer no momento que colocamos no papel.

    Isso nos leva ao último tópico que coloquei no esbocinho citado no começo do texto.

    A comunicação. A comunicação como instrumento de criação. A comunicação como instrumento máximo de poder, e as dificuldades que ela enfrenta para se impor soberana. Se comunicar é primordialmente estabelecer relações com pessoas e se expressar (resolvi adotar este vocábulo, é mais preciso) é criar, então se comunicar é, diversas vezes, estabelecer um vínculo que determina se a sua criação é mais do que uma produção para se sentir útil ou para alimentar seu próprio ego, mas uma Verdade, pois é reconhecida por mais de uma pessoa.

    O conceito de Verdade sempre é complexo, porque ele permeia todos os outros, mas não chega na materialidade terrestre. Minha arrogância diria que um rascunho do conceito de Verdade deveria conter uma análise profunda de todas as ações (no sentido dado por este texto a palavra) que geraram a Ação que está sendo estudada. Mas essa análise teria que ser ou extremamente dinâmica ou atemporal, pois esta Ação, a cada milésimo de segundo, se perde cada vez mais no passado (que é um conceito impossível) e na memória, que nos é falha.

    E é aí que entra a comunicação como instrumento máximo de poder. Comunicando, se expressando, logo criando, se determina o que é a Verdade. Peguemos um exemplo religioso. Como vocês já devem ter percebido, sou católico, mas vamos pegar este exemplo que é bom. Cristo pregou um determinado número de coisas, que não foram registradas por um gravador. Tendo sido um homem de influência, deixou seguidores para espalhar sua palavra. A espalhando, garantidamente, mudaram alguma coisa, nem que fosse para fins de tornar a Escritura mais didática. Mudaram a Verdade, criaram uma nova Verdade. Espalharam a fé como queriam.

    Os concílios que condenaram hereges nada mais queriam que eles se calassem, parassem de dizer mentiras, criar mentiras. No mundo de um herege, a lógica que funciona é outra, a Felicidade, bem Supremo para o ser humano, é perseguida de outra forma. E isso nos leva a primeira relação de poder que se estabelece pela linguagem, primeira de duas, que nada mais são que teorias derivas da perspectiva Huntingtoniana e da Marxista de enxergar a contemporaneidade.

    A primeira relação, a Huntingtoniana, é intercultural, abstrata, onde a gradação do poder se institui daquele que tem a cultura mais forte, mais cristalizada, para àquele que não a tem. Você pode pensar aqui no Monoteísmo cristão e sua relação com as religiões pagãs, na troca que se deu entre Roma e Grécia, com os primeiros praticamente adotando a cultura (e aqui cultura envolve tudo, desde o que você como ao Deus no qual você acredita) dos últimos. Um diálogo mais bem estruturado, mais lógico, ou mesmo só mais adequado a audiência possibilita a imposição de uma verdade entre todas.

    Mas essa primeira relação não pode ser analisada em detrimento da segunda. Pelo contrário, elas são complementares. Se você chega com armas, ou dinheiro, caso você seja menos Sarkozy, fica muito mais fácil impor qualquer coisa. Mas não é só isso. Pertencer a uma classe mais alta envolve todo um arcabouço cultural diverso, um arcabouço que está em sua maioria em livros, um arcabouço escrito. O das classes menos abastadas não é assim. É, na maioria das vezes, oral. Mas que diferença isso faz?

    É aquela questão da memória. Não memorizamos tudo, corrompemos o que acreditávamos a 5 minutos atrás para ser mais adequado ao que pensamos agora. Mas quando está escrito, muitas vezes nem precisamos nos lembrar. Uma cultura escrita tende a desenvolver melhor os argumentos que justificam as conclusões das teorias presentes nos livros, hermetiza mais o conhecimento, torna-o menos vulnerável, ou até mesmo invulnerável.

    Mas problemas de comunicação graves podem se dar acerca de concepções de mundo diversas, habitus diversos, línguas diversas (enfim, mentalidades diversas) quando aqueles dois que se comunicam pertencem a culturas (mentalidades) diferentes ou a classes sociais diferentes. Esse é justamente o ponto. A comunicação implica a relação de poder última, a quintessência do poder. Por que? Porque se expressar é criar.

    E como podemos analisar isso? Peguemos o caso de Menocchio, um moleiro da idade média cujas ideias foram tema do livro O Queijo e os Vermes de Carlo Ginzburg. Este livro nada mais é do que a prova material de que a comunicação é a explicitação ulterior de uma relação de poder. O que motiva tanto os inquisidores que condenaram Menocchio quanto o autor do livro a penetrar profundamente nesta cosmogonia tão específica nada mais é a discrepância entre as perguntais feitas pelos primeiros e as respostas dadas pelo moleiro.

    Como se respondesse a perguntas totalmente diversas, perguntas que não foram feitas, Menocchio explicita sua original cosmogonia, para surpresa dos inquisidores. Menocchio, orgulhoso de si mesmo, nos revela uma formação cultural diversa, mas estritamente marcada pelo seu pertencimento a uma classe que, ainda que não pobre, estava longe de ser nobre. Toda essa falta de acesso a uma educação formal, clássica, das classes superiores, lhe dão um instrumento de leitura, uma ótica, uma capacidade de interpretação, totalmente diversa da padrão, da consensual, do acordado. E isso faz com que esta interpretação seja, por sua vez, totalmente diversa da padrão, da consensual, do acordado.

    Mas Menocchio é o exemplo da relação de poder Marxista, material, onde por fim os mais poderosos impõem sua forma de pensar, como fizeram ao assassiná-lo. Por que excluo a relação Huntingtoniana aqui? Porque, apesar de reconhecer que existiam culturas diversas, uma popular e uma erudita em choque, vejo essas relações culturais como determinadas pelas relações socioeconômicas. O pensamento de Menocchio muitas vezes é classista, mas não só isso. Sua visão, sua interpretação dos textos, é classista, pois a ele não foi provida uma educação clássica que enquadrasse sua ferramenta interpretativa a de seus iguais, europeus.

    A relação Huntingtoniana é muito diversa. É basicamente o que Huntington disse, no puro, mas vista sob uma ótica comunicacional. Huntington foi o cara que criou a teoria de que, no futuro (dele, a.k.a. presente for us), as lutas não seriam mais entre nações, mas entre culturas, teoria que está obviamente certa, bastando que analisemos que o mundo se divide entre dois polos, Ocidente (esse se divide em dois subpolos, Américas (e, geograficamente, Austrália) – EUA, se você preferir – e Europa Ocidental – não estou certo se a Oriental gera um novo subpolo -, que se esforça pra pelar os EUA) e Islã, e três (ou quatro) subpolos, Extremo Oriente (China e Japão) e África (e talvez Rússia e Europa Oriental, não estou certo), e que esses polos e subpolos são diferentes CULTURALMENTE, e vivem saindo na porrada. Claro que existem diferenças econômicas, mas mesmo que todo mundo fosse rico, eles ainda compreenderiam o mundo de forma TOTALMENTE diversa uns dos outros. E provavelmente continuariam saindo na porrada, ainda que com menos constância.

    A grande questão é que, partindo de uma ótica materialista, se formos analisar esses conflitos, sempre caímos num beco sem saída. Aliás, vamos ver esses dois sentidos da palavra materialista. Podemos usá-la para designar a teoria marxista. Um exemplo de que ela não se impõem inconteste ao alegar que o que determina tudo na vida é a riqueza econômica ou a falta dela é a Primeira Guerra Mundial. Geral bem estabelecido. Tinham partilhado toda a África. A Alemanha tinha crescido 600% (ou 400%, enfim, muito) desde 1871, a Inglaterra ainda era uma potência colonial, os EUA tavam felizões isolados. O que fez com que elas entrassem em guerra? Vou deixar G. K. Chesterton responder essa:

    “Eu estou mais convencido do que nunca de que a Grande Guerra aconteceu porque as nações eram muito grandes, e não porque eram muito pequenas. Aconteceu especificamente porque as grandes nações queriam se tornar o “Estado Mundial”. Mas aconteceu, acima de tudo, porque tudo que é tão vasto quanto um império é, ao mesmo tempo, frio, vazio e impessoal. NÃO foi apenas uma guerra de nações; foi uma guerra de internacionalistas beligerantes.”

    Percebe-se, se seguirmos a lógica do pai do Distributismo que nenhum motivo meramente material guiou o mundo para ir pra guerra. Ainda que pensassem no dinheiro, era só pensar que, eventualmente, trabalhadores morreriam na guerra, mesmo que fosse uma guerra de uma semana. Alcançada a vitória em uma semana, se diminuiria o poder da nação rival, mas esta não seria dominada (os europeus não faziam mais isso nessa época, mesmo porque o risco de revoluções seria grande numa época onde os nacionalismos estavam pegando fogo), então sua população não poderia ser escravizada. Morrendo trabalhadores, seu poder econômico diminuiria, porque haveria menor incorporação da mais valia. Mesmo que isso ocorresse com as duas nações, não seria vantagem pra nenhuma delas, pois as duas ficariam mais fracas frente àquelas que não se envolveram no conflito. Mesmo que uma pagasse uma indenização para a outra, essa indenização não seria suficiente, pois dinheiro não faz os homens nascerem. Enfim, as nações poderiam ter lucrado muito mais na paz. Só lucra com guerras o fabricante de armas, e os fabricantes de armas não sustentam um país, por maior que seja seu poder econômico. Não podem nem sequer pagar um suborno que o grupo de empresas que prosperam durante a paz e empobrecem durante a guerra poderiam pagar para que a guerra não fosse feita.

    Ainda que possam ter se enganado acerca das vantagens econômicas da guerra, certamente havia um instinto aí, de dominação. Ao mesmo tempo, não podemos desprezar a influência da linha marxista aí. Não se fazia a guerra para ser mais rico, somente, mas principalmente o contrário. Se fazia a guerra porque se era o mais rico, logo se deveria ter mais poder. Mais ou menos o que aconteceu com os burgueses durante a Revolução Francesa. Mas como se demonstra o poder? Impondo sua visão de mundo. Através da expressão. Os americanos não são os mais poderosos do mundo só porque tem o maior exército, ou porque tinham a economia mais pujante, mas porque implantaram uma cultura mundialmente que, ainda que vinculada intrinsecamente as suas indústrias, era uma cultura, uma visão de mundo específica. É só você pensar que, ainda que o core seja americano, muitas das coisas que nos definem como ocidentais contemporâneos ainda são provenientes dos Estados falidos da Europa, ou de civilizações mortas. O que nos define, nos delimita, ainda e acima de tudo, é nosso pertencimento cultural.

    E é justamente essa cultura que se cria através da expressão e que entra em embate com outras culturas.

    Ainda que essas duas relações de poder derivadas da comunicação se entrelacem de forma complexa, é possível ver diferenças nelas. Poderíamos, de uma forma geral, dizer que a interclasse é analisada dentro de um microcosmo especificado e a intercultural em um macrocosmo. Mas esses modelos estão longe de ser absolutos. Tem casais que, por virem de meios diferentes, de culturas diferentes, ainda que tendo situações econômicas menos discrepantes que o esperado, valorizam virtudes diferentes e poderíamos dizer que os combates que acontecem dentro deste microcosmo derivarão muito mais de uma relação de poder comunicativa intercultural do que uma interclasse. Preponderarão elementos do choque intercultural, em detrimento do interclasse, sintetizando.

    Ao mesmo tempo, poderíamos apontar situações onde ocorre o choque interclasse entre nações diferentes, como conflitos entre alguns países na África. Ainda que neste continente muitas das guerras sejam determinadas pela origem étnica (cultural) diversa, muitos são determinados majoritariamente por fatores socioeconômicos.

    Sintetizando mais uma vez, nas relações de poder interclasse temos uma preponderância de fatores socioeconômicos. Na intercultural, de fatores culturais. Estas relações, quando conflituosas, servem justamente para definir quem vai impor sua visão de mundo. Esta visão de mundo é criada. A única forma de cria-la é fazendo com que outros a reconheçam. A única forma de criar é se expressar.

    Vou publicá-lo, como sempre, sem revisão. Escrevi esse texto em 3 períodos de tempo, nos quais só sentei e coloquei no papel o que pensava. Acho que esse método conserva a pureza do pensamento e permite que ele seja criticado com mais facilidade. Um raciocínio criticado nas suas bases pode ser consertado nas suas bases.

    terça-feira, 30 de agosto de 2011

    Prévia.

    Terminei de ler hoje a magnífica obra de Alexis de Tocqueville, "L'Ancien Régime e La Révolution". O livro impressionará a todos os brasileiros que lhe derem uma chance pela contemporaneidade de suas críticas. Ainda que escritas na França do século XIX, relatando fatos de seu passado recente, é com amargor que podemos sem dificuldade transpor estas palavras para nosso tempo e usá-las para descrever nosso país.

    Poderia certamente pedir-lhes que lessem o Livro II, que trata da administração pública da França pré- e pós-revolucionária. O argumento de Tocqueville neste capítulo é de que não houve nenhuma real mudança nesta área entre estes períodos de tempo no país, mostrando que a dita "grande conquista da revolução" teria sido, na verdade, criada durante o Antigo Regime.

    Mas, só para exemplificar, vou copiar algumas partes para que vocês julguem se a minha impressão de que a obra é tão atual para os brasileiros do século XXI quanto era para os franceses do século XIX é verdadeira ou não:

    "Ninguém imagina que possa levar a bom termo um assunto importante se o Estado não se imiscuir. Mesmo os agricultores, pessoas geralmente muito avessas aos preceitos, são levados a crer que, se a agricultura não se aperfeiçoa, a culpa é principalmente do governo, que não lhes dá bastantes conselhos nem auxílio suficiente [...]"

    "Aos olhos da maioria, o governo é o único que ainda pode garantir a ordem pública: o povo só tem medo da polícia; os proprietários só tem nela alguma confiança. [...]"

    "Tendo o governo assim tomado o lugar da Providência, é natural que cada qual o invoque em suas urgências particulares. Por isso encontramos um número imenso de requerimentos que, sempre se fundamentando no interesse público, dizem respeito entretanto a pequenos interesses privados [...]"

    E então, lhes soa familiar?

    sábado, 27 de agosto de 2011

    Opinião sobre Arte - I

    Já aviso a todos aqueles que quiserem me contestar que não visitei nenhuma exposição do Tim Burton até hoje e, inclusive, digo que o Burton é mero pretexto para tratarmos de um tema mais problemático, que tem atormentado minha mente cada vez mais constantemente nos últimos meses. O que é Arte?

    Poderia começar aqui como classicamente se começa textos deste gênero, com a origem latina da palavra e blá-blá-blá. Não dou a mínima importância para a palavra Ars, a não ser que ela atenda meus interesses de deformar seu sentido amplamente. Mesmo porque, convenhamos, a Arte sempre existiu e nem sempre se chamou Arte.

    A Arte, em minha limitada capacidade de conceituar, é a expressão mais pura do Alma Humana, mais violenta de nossa infinita húbris e mais altiva do nosso Desejo. A Arte é nossa vontade de nos tornarmos Deuses elevada a enésima potência, ou pelo menos de sermos notados na multidão. É a expressão mais pura da individualidade. E por isso mesmo é a única parte do homem, a única liberdade, que merece nossa vida e nosso sangue. É a Liberdade de Expressão em sua forma ulterior. Como diria Voltaire: Não concordo com porra nenhuma que você disse, mas saio na porrada se alguém não te deixar falar.

    Mas tem sempre alguém querendo dizer que alguma coisa é, ou não é, arte. Eu sempre prefiro advogar do lado otimista. Tudo é Arte porque eu não sei o que é Arte em sua essência. E talvez a Arte não tenha uma essência em si, mas assim como o mundo é obra da mente divina, talvez a arte seja mera obra de nossa mente, e só exista dentro de seu próprio conceito e não como parte de um conceito maior. Um quadro de Picasso não faria parte de uma definição ampla do que é Arte, mas faria parte da definição “Quadro de Picasso tal”, sei lá, “Guernica”. Ou a Arte sendo mera expressão da Alma e a Alma como essência da Arte. Ai, que vida difícil para um platonista...

    Mas imagino que Platão tenha tido muito menos problemas para definir o que é Arte. Na época dele, e na classe dele, Arte era um conceito muito mais específico. Daí era fácil você dizer coisas como “a arte é a expressão mais pura da beleza”. Por que? Porque a arte naquela época, e, veja bem, a definição do que é Arte está intrinsecamente ligada a quem tem o poder para determiná-la como tal, como um Platão, um nobre, ou um filósofo reconhecido, já era o que foi, e é até hoje, para a cultura ocidental, o conceito de arte: Simétrica, em busca da Perfeição, Realista, enfim Apolínea.

    Aí vem um bando de historiador revoltado falar que, “ah, não, e a arte popular? Você ta se esquecendo da arte popular!” Mas não se podia determinar a arte (To cansado de colocar em letra maiúscula, não é preconceito classista não) popular como arte naquela época, porque as cabeças eram primitivas e aristocráticas em quesitos onde não deveriam ser. Mesmo hoje, eu, superliberal com essas paradas de arte, ainda adoto o termo apolíneo para arte das classes mais altas, que define o que o homem médio político ocidental considera como arte, mesmo que seja porque esta determinação veio das classes mais poderosas, algo como reflexo da sociedade de consumo de Baudrillard, onde os mais poderosos estabelecem o comportamento de um mais poderoso e as pessoas que almejam este posto o segue, e dionisíaco para a das classes mais baixas.

    Mas hoje, graças a Deus, a Liberdade de Expressão é garantida em quase todo o mundo e onde não é, fazem com que seja, a força. Mas a arte, se pararmos para pensar, já não vivia mais sob esse regime de falta de liberdade, porque os autores das obras íam lá e arriscavam a vida mesmo, estilo Rushdie, que foi lá e lançou os “Versos Satânicos” e tá ameaçado de morte até hoje. Enfim, hoje você tem a arte popular sendo arte popular e não só demonstração cultural de camada inferior, mesmo porque você tem o conceito de cultura popular, que não existia antes. Tem até muito historiador aí, totalmente opostos àqueles, que se debatia até pouco tempo quando ouvia a expressão. Mas agora a situação é mais pacificada.

    Mas as distinções permanecem, não nos enganemos. Existe ainda uma diferença da Upper Art pra Lower Art. E aí você entra em uma questão mais complexa, algo como um duelo entre a pop art e a arte clássica. E aí fica claro esse vínculo com toda essa bobagem que eu escrevi até aqui. De um lado você tem o Tim Burton, um renomado Diretor Cinematográfico, escritor, desenhista, pintor, enfim, um artista, senão completo, muito próximo disso. E do outro você tem Picasso, pintor renomado, gênio do Cubismo e blá-blá-blá. Não minorando Picasso nem pagando de pseudo-cult/ Tim Burton Lover, só pra facilitar o texto.

    Ontem eu, durante um jantar com uns amigos, tive um duelo extenuante, na qual não consegui provar meus pontos, acerca da falta de capacidade técnica de Tim Burton frente a Pablo Picasso. Hoje pela manhã, revoltei-me contra minha própria incapacidade de organizar meu pensamento logicamente e fazer com que ele fosse entendido, e escrevi um e-mail aos meus amigos, que me inspirou este texto aqui.

    Defendi que Picasso tinha muito mais domínio da técnica tradicional de pintura, e por técnica tradicional de pintura falo daquela criada na Renascença, onde a pintura por vezes tinha um conceito muito mais técnico do que artístico por trás, do que o Burton. E isso não torna o Burton menos artista que Picasso. Sou um baluarte da concepção de que arte é toda expressão da criatividade humana, não poderia me contradizer neste sentido.

    E Burton é mais artista porque, sim, ele domina mais formas de arte, técnicas de arte. Mas ele não domina as técnicas de pintura clássica, mesmo porque, graças a Deus, a arte se tornou cada vez menos uma coisa de especialistas e cada vez mais uma coisa humana. Isso, no entanto, não altera minha opinião sobre Picasso ter muito mais técnica como pintor. A questão é que a palavra técnica tem dois conceitos que às vezes são confundidos. Se por um lado técnica significa a forma como as coisas são feitas, por outro significa uma convenção, e por convenção que não entendam verdade absoluta, mas acordo entre pessoas, sobre como seria o jeito certo de fazer as coisas. Neste caso todos devem concordar comigo que Burton tem menos técnica que Picasso. E só podemos provar isso porque Picasso, certa vez, fez um quadro cheio de técnica, para os críticos, mas sem vida, e ficou conhecido depois que rompeu com os paradigmas da técnica, e o Burton nunca fez isso, adotando sempre uma postura de quebrar parâmetros. Desde a infância.

    Por isso durante o jantar sustentei que a exposição de Burton tinha muito mais a ver com a construção de uma personalidade do que com a construção de um corpo artístico, que envolveria passar por experimentalismos MUITO diversos (como Picasso fez sempre), o que não torna a exposição dele menos artística, ou menos brilhante. Pelo contrário, a torna muito mais fascinante, porque traz o artista pra perto da gente.

    Quem somos nós para determinar quem é melhor artista de uma forma geral? Para uma pessoa, Burton pode ser melhor que Picasso, como é para mim, mas para outra não, e não há escola, faculdade, Deus, que possa dizer objetivamente quem é melhor. Arte é a expressão mais pura da alma humana, como já disse, logo não pode ser medida por parâmetros técnicos.

    Nem o próprio fato do Burton ter estudado sei lá aonde garante a ele mais autoridade como artista ou a qualquer um para determinar o que é arte. As alegações de um dos meus amigos sempre rodavam em volta desta argumentação da escola, que a escola fazia o artista. Só prova que a pessoa tem mais talento que o ser humano médio e quis procurar saber mais técnicas, para se aperfeiçoar. É como um curso de retórica. Você faz para se melhorar, para descobrir coisas que te ajudem a melhor expressar seus sentimentos.

    Mesmo porque temos que avaliar que a escola dele (digo a faculdade onde ele estudou) provavelmente não deu pra ele esta base de Técnica Clássica de Pintura, o que eu afirmei como técnica, admito, com veemência ontem, se ele não a buscou. Ele pode ter tido aulas de desenho clássico, de observação da natureza, de todas essas coisas para fazer da arte dele o mais realista possível, mesmo que ele as tenha desprezado depois, mas ele não teve, ou não mostrou ter, essa cadeira de Técnica Clássica de Pintura, que é, basicamente, emular o que os grandes mestres da Renascença fizeram. Não que eu ache isso certo, nem nada, mas quando o ser humano médio, e mesmo o artista, e me arrisco a dizer, o artista ainda mais, pensa em pintura, pensa imediatamente em Botticelli, Michelangelo, Van Eyck, Dürer, essa galera dos cinqueccentos, quatroccentos, sei lá mais quando ccentos. É inerente. É a época onde a arte foi mais tecnicizada, onde ela foi encomendada, onde se transformou em produto. E mais que isso. Ao remeter ao classicismo, esses caras atendiam um anseio tipicamente ocidental: A busca pelo apolíneo, pelo perfeito, pelo simétrico. É a mesma coisa com música. Se Michelangelo aceitava encomendas, Mozart também. E isso não faz de Mozart melhor que Kurt Cobain como artista. Só era mais técnico, porque ele atingia mais notas, mais rápido e com mais noção de harmonia. É a mesma coisa que comparar Kamelot e Foo Fighters. Kamelot é muito mais técnico, mas não é necessariamente melhor. É melhor pra alguns, pior para outros.

    É o que eu digo: Quem quer uma verdade universal tinha que ir pra Igreja Evangélica. Nem a Igreja Católica promete uma verdade sem dúvidas. E em artes mais ainda, porque os homens são diferentes, graças a Deus, e a arte só pode ser diferente, e o dia que uma parada for hors concours como Michelangelo, a parada vai ser chata. Eu admiro Michelangelo, mas não tá nem entre meus cinco pintores favoritos. Pelo contrário. Acho ele chato. Prefiro El Greco. E aposto que o Tim Burton também.

    quarta-feira, 27 de julho de 2011

    Mu Empire

    Ando tendo sonhos destrutivos.
    E de maneira incomum, os confundo com a realidade. Eu não sei se me urge a construção ou a desconstrução. Ou a reconstrução. Nesses sonhos, uma voz me diz que eu sou um caçador, e que eu estou indo caçar.
    Quando eu durmo essa voz sou eu. Quando eu acordo, já não sei.

    Ando tendo sonhos intranquilos. Daqueles que nos fazer acordar com sensação de queda. E quando eu acordo eu continuo dormindo, e caindo, assintóticamente.
    Você me põe em estado de emergência. E eu odeio admitir, mas não sei se estou emergindo ou submergindo.

    Ando tendo sonhos em preto e branco, como os de um cão de pedigree. Daqueles que são adorados pelo dono, mimados e brincalhões. Daqueles que têm abrigo e vivem à base de ração.
    O tipo de cão que inveja o vira-lata: sujo e esquelético, e vivo. Um saco-de-pulgas sem hora pra voltar pra casa, que brinca com um jornal velho. E trocaria tudo por um cobertor e carinho.
    Quando sou um, não sou o outro. E o ciclo é vicioso: todos queremos ser os dois. Todos somos apenas um.

    Ando tendo sonhos de areia. Sonhos em que me perco, esqueço meu próprio nome, acordo com frio em uma estrada e percebo que ainda estou dormindo. Aqui nunca fez frio. Aqui todas as brisas têm um fundo tropical. Por isso eu percebo que estou dormindo e acordo em outro sonho.
    Um sonho de areia. Um castelo de sonhos.

    Ando tendo sonhos esquizofrênicos, onde nem ouço o que eu mesmo falo. Eu sinto que a minha outra metade grita; a metade que tem a minha voz; eu mesmo. E nesses sonhos as placas da rodovia dizem para que eu ouça apenas uma voz: a da metade que fala com a minha voz, ou a outra.
    As vezes as vozes dizem que uma ampulheta gigante vai esmagar a minha cabeça, assim do nada, sem tempo de reação. Totalmente de surpresa. E que o susto será insuportável quando eu abrir os olhos e a areia estiver nos ultimos fiapos da contagem. Todas as vozes ficam instantâneamente mudas.
    É dificil falar sem uma língua.

    Ando tendo sonhos imaturos. Sonhos sufocantes. Sonhos premonitores.
    E estes sonhos nunca trazem a estrela, muito menos o tolo. A carta que cai na minha mão sempre é o dependurado.
    Ando levemente sonâmbulo, talvez nada do que eu falei até agora faça sequer algum sentido. Vamos só esquecer, tudo bem?

    Ando sonhando demais.

    domingo, 12 de junho de 2011

    Será?

    Será que um homem pode viver com um coração vazio?
    Será que um coração pode passar tanto tempo sem uma paixão?
    Será que uma paixão pode realmente durar tão pouco?
    Será que as antigas mentiras ainda estão vivas?
    Será que os bons tempos de antigamente irão morrer?
    Será que a minha presença deveria mesmo te dar medo?
    Será que alguém pode lutar com o coração vazio?
    Será que um coração vazio pode lutar para achar algo que o preencha?
    Será que preencher o coração é mesmo a resposta que precisamos?

    segunda-feira, 6 de junho de 2011

    estagnação. fracasso. mediocridade.

    "Mas só para terminar este ponto: então os estudantes afastados da participação da vida pública; as universidades castradas, transformadas em fábricas de diplomas, quando muito, e quando melhores, transformadas em meras escolas de formação profissional, mais nada. Quer dizer, a universidade perdeu sua função de formadora da elite, forma só profissionais, amus ou bons, mas meros profissionais; não cidadãos e muito menos cidadãos capazes de dirigir o país.

    Então, quando se extinguir essa geração - é a teoria que estava outro dia me impressionando e disse que era de tirar o sono... A gente se habitua com a ideia de que o Brasil tem um grande futuro como potência, porque tem, sem jogo de palavras, potencial, grande população, grande área, riquezas naturais, enfim, tem uma série de condições para ser uma das grandes potências do mundo. Para ser, pelo menos, em pouco tempo, um país do nível, vamos dizer, do Canadá, ou do nível para onde está caminhando a Austrália, pelo menos. Mas, de repente, quando a gente vê a crise da formação de elites dirigentes, em todos os setores, e elite no verdadeiro sentido da palavra, não no sentido de que o sujeito tem conta no banco, mas no sentido de um sujeito capaz, que tem espírito de liderança, espírito de iniciativa, capacidade de comando, capacidade de apreender o que lhe ensinam, etc., você começa a temer que só o tamanho do território, o aumento da população e a riqueza potencial não bastem e que o Brasil poderá se transformar numa outra Indía; a Índia também é muito rica, a Índia também é muito povoada."


    Depoimento, Carlos Lacerda, 1977.

    quarta-feira, 25 de maio de 2011

    O Estado Nacional: Parte III - Resolvendo o Problema

    Como, e em quem, votar?

    Mas como votar? Votamos muito mal no Brasil. Quando não votamos passionalmente, votamos por interesses em curto prazo. Devemos votar buscando nossos interesses individuais e os interesses de nossa família acima de quaisquer outros, sim, mas devemos ponderá-los em longo prazo. Bolsa Família ou educação pública de qualidade para que meu filho tenha um futuro mais promissor que o meu? Neste sentido, e até mesmo mais egoisticamente. Candidatos que defendem propostas de sentido muito lato, normalmente, não defendem nada.

    Ponderadas racionalmente as propostas e postos nossos interesses em primeiro lugar, de forma objetiva, mas sem deixar de pensar no legado que deixamos a nossos filhos, devemos pensar na sociedade como um todo. Nosso voto deve ser dedicado aquele candidato que melhor sintetizar as virtudes cívicas de um homem político republicano: honestidade, patriotismo, idoneidade, coragem e força de vontade. Como encontrar alguém assim hoje no Brasil?

    Se voltássemos a sessenta anos atrás, teríamos a UDN, que era “um partido que se batia pela moralização dos costumes políticos e que era uma projeção, no tempo, do que fora o Tenentismo das antigas revoluções. Um partido, enfim, ‘ruibarbosiano’, no que isso tudo quer dizer de retórica, de eloqüência, de ideologia liberal.”, nas palavras de seu porta voz mais afamado, o antigo Governador da Guanabara, Carlos Lacerda. O partido alenca, nessa descrição simples, toda uma gama de valores intrinsecamente republicanos e que foram esquecidos pelas elites políticas de hoje.

    A Morte da Classe Média (ou A Morte do Republicanismo)

    Houve uma repentina desconfiguração da classe média, através da ascensão de grupos que subitamente se tornaram economicamente capazes de compor-la. O problema é que esta ascensão se deu sem a própria formação de um mens de classe média. Enfim, nós temos hoje milhões de pessoas que se denominam classe média, se adéquam economicamente nesta definição, mas não tem o esteio intelectual, ou político-ideológico, para assim fazê-lo.

    Todos sabem muito bem o quão fundamental a classe média é para o equilíbrio do jogo político pois, estando entre os dois extremos da concentração de riquezas social, é afetada pelas decisões políticas de ambos os lados, nunca de forma extremamente favorável, o que lhe configura uma independência e desvinculação de vertentes políticas que tendem a ser demasiado assistencialistas ou favorecedoras dos interesses da elite econômica do país, ou de ambos, como é o Governo brasileiro de hoje.

    O que as pessoas não percebem é que esse jogo de duas caras da política brasileira de hoje, tanto social, quanto politicamente, não é feito para o bem de ninguém. Essa descaracterização da classe média faz ela se polarizar, seja a favor dos mais abastados, seja a favor do menos. E aqueles que, ao menos economicamente, passaram a se identificar com a classe média, mantendo seus costumes e forma de pensar política vinculada as classes menos abastadas, deturpam a posição econômica da classe média clássica em uma nova classe baixa, com mais poder econômico, mas defendendo as mesmas plataformas políticas.

    E a classe média clássica deixa de existir frente a extremização político-econômica que ocorre no Brasil. Se observarmos, hoje, economicamente, só temos duas classes: os pobres e os ricos. E na política, só temos uma: a dos tecnocratas que, manipulando os interesses econômicos das classes baixas, os mantém em estado de inanição, para poder, com isso, satisfazer os interesses do grande capital. E isso tudo garantido graças a um arcabouço legal ostensivo, que impede a liberdade de mercado, ajudando a manter tanto os grandes monopólios e oligarquias, quanto a zumbificação das classes trabalhadoras. A concentração de poderes na mão do Estado, ter um Estado grande, como o Brasil tem, só garante os interesses dos dois extremos da corda, que nunca são a favor do indivíduo.

    Spreading the Disease (O que fazer?)

    E é justamente aí onde a classe média deveria entrar, para puxar o peso de volta ao centro, de volta ao liberalismo. E como fazer isso? A resposta é simples, a longo prazo. Educação. Educar as pessoas faz com que elas votem de maneira mais inteligente, com a intenção de melhorar de vida, de forma duradoura. Bolsa Família não faz ninguém ascender socialmente, só traz maior capacidade de consumo, mas profissionalização constante sim, além de acabar com nosso eterno peleguismo varguista. Os trabalhadores tem que exigir seus direitos sem se vincular a nenhum partido político ou se entregar como instrumento de seus interesses.

    E a curto prazo? Aí a resposta é MUITO mais complexa, pois depende muito mais de vontade dos diretamente interessados. A classe média clássica, largada aos frangalhos, tem que meter mais a cara, deixar de acreditar que o envolvimento político implica corrupção ou vagabundagem, sair do estado de idiotização no qual se instalou após a Revolução de 64. Mostrar que o Estado Liberal, longe de ser a mamata trabalhista a qual o Brasil está acostumado, promove a evolução efetiva e voluntária do indivíduo, através da garantia de igualdade de oportunidades e a não limitação das liberdades. Enfim, o Estado como campo de ação de indivíduo, invertendo a microfísica do poder tão comum nos Estados latino-americanos populistas (e não nos enganemos, o Brasil, e quase todos os Estados latino-americanos, bem como a Europa do Bem-Estar Social são populistas e – por que não? - totalitários ) no qual o indivíduo é o campo de ação do Estado.

    Apesar de ainda estarmos distantes desta nossa meta, podemos discernir no chão pegadas. A recente conclamação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a seu partido, o PSDB, já nos deixa sonhar com a possibilidade de um Estado onde o Supremo Tribunal Federal não legisle, onde o eleitor e o eleito sejam vizinhos próximos, onde os eleitores sejam responsáveis pelos seus eleitos e pelas atitudes destes, enfim, onde seja respeitada efetivamente a vontade do indivíduo, com todos os seus direitos e deveres.

    O Estado-Babá onde vivemos tem que morrer para que possamos crescer. Temos que arrebentar a barriga de Cronos.

    - Acho que já falei todo o necessário. Relembro que esse texto é um esboço sem revisão. Aceito sugestões. Se quiserem uma bibliografia, procurem por "Fascismo de Esquerda: A História Secreta do Esquerdismo Americano", de Jonah Goldberg, livro que me abriu muito os olhos. Aconselho também os escritos do professor David Friedman, um dos quais eu traduzi recentemente e vai ser publicado pela Revista do Centro de Estudos Jurídicos da Justiça Federal, e pode ser encontrado gratuitamente no blog: http://guilhermealfradiqueklausner.blogspot.com/ sob o nome de "Execução Penal Privada, Islândia Medieval e Libertarianismo". Estes, bem como a revista Liberty (http://www.libertyunbound.com/), me foram apresentados inicialmente pelo meu grande amigo Pedro Drumond. Aconselho também os trabalhos de G. K. Chesterton, que havia citado no começo do texto. Agradeço de todo meu coração aqueles que leram esse bando de opiniões infundadas por consideração ao autor e a sua opinião.

    Abraços

    terça-feira, 17 de maio de 2011

    O Estado Nacional: Parte II - Identificando o Problema

    Identificando o Problema

    Claro, estamos falando aqui de política, mas a relação é principalmente econômica. Não em um sentido limitador materialista a la Karl Marx, de forma alguma. É óbvio que existem fatores além dos econômicos que governam o mundo, afinal nós não somos máquinas que só trabalhamos. O problema é que esses outros fatores não econômicos que influenciam na vida social são todos definidos na individualidade de um cidadão de forma tão particular, devido a sua vida familiar, história de vida e até mesmo genética, que tentar um consenso social sobre estes temas não econômicos seria estúpido.

    Então como proceder? O Estado não deve se espraiar em nenhuma área que não a econômica, ou melhor, puramente material? Não. O Estado não deve se envolver em nenhuma questão que não seja puramente material. E como fazer isso? Muitos diriam que o Estado que os Progressistas Americanos, os Fascistas Europeus, ou mesmo qualquer tecnocracia suja por aí deseja criar é um Estado técnico, voltado unicamente para regulação da parte material da vida do cidadão. Falso.

    O objetivo destes Estados é convencer a população de que não existe nada tão importante quanto isso, o que é obviamente mentira. Nós não somos robôs. Nossas escolhas, mesmo quando relacionadas a opções de investimentos, não necessariamente são fundadas em princípios meramente materiais. Existe um arcabouço cultural e psicológico, coletivo e individual, que fundamenta cada decisão nossa.

    Mas o Estado não pode encompassar dentro de sua noção TODOS esses arcabouços diversos existentes dentro de seu território. Claro que, dependendo da homogeneidade étnica, religiosa, lingüística e cultural, isso é possível, mas em geral, graças a globalização, isto (infelizmente) não ocorre.

    First things first

    Na dúvida, então, o que deve o Estado fazer? Primeiramente, deve colocar first things first. As liberdades individuais, podendo aí se espraiar de união civil homossexual a fumar em lugares públicos, devem vir em primeiro lugar. Não, óbvio que elas não devem ser absolutamente irrestritas. Todos podemos ver como fumar em lugares fechados (privados, veja bem) é incômodo para aqueles que não fumam, mas em geral elas devem ser o mais irrestritas possível.

    Claro que elas não podem subverter a Lei. Nada pode subverter a Lei. Mas a Lei tem que restringir o mínimo possível, em todos os sentidos. Nada de sacrificar o indivíduo pelo bem comum. Este tipo de pensamento, utilarista, fez parte do raciocínio que fundamentou os grandes genocídios do século. Ninguém deve ser sacrificado por ninguém, em nenhum sentido. Nem moral, nem materialmente.

    E as pessoas têm que ser efetivamente representadas. Em um sistema como o nosso, onde a União manda suprema em tudo, onde o Presidente é um semi-Deus com poderes ditatoriais e onde a capital é, me perdoem os brasilienses, muito mal localizada, não pode haver uma representação justa. Os Estados têm que ter mais poderes soberanos e autonomia como entes federativos em relação à União, bem como os municípios.

    Para tal, é necessário que todos os sistemas mudem, desde o que coordena a tomada de decisões, e o eleitoral, especificamente, até o sistema de policiamento. Isso fará com que as pessoas sejam mais responsáveis com seu voto, pois ele influirá mais nas suas vidas, visto que as principais decisões administrativas serão tomadas no âmbito local.

    Mas como fazer isso efetivamente? Alguns partidos têm levantado a bandeira, aqui no Brasil, em prol de uma reforma eleitoral que implemente o voto distrital, puro ou misto, no país. A idéia é fantástica, principalmente se os distritos forem pequenos. Já seria um começo para criar o tão sonhado e esperado compromisso político eleitor-eleito no Brasil. Nós já tivemos um momento democrático, de mil novecentos e quarenta e cinco a mil novecentos e sessenta e quatro, onde houve grande engajamento político de toda população. Esse momento tem de voltar, para que o Brasil se alce ao rol das nações mais desenvolvidas.

    Não podemos ter mais essa descrença na política. Claro que nossos políticos não nos inspiram muita confiança, independente de vinculações partidárias, mas falta ao brasileiro a noção da importância da política. Estamos muito preocupados com o consumo, pouco com a sociedade. E, apesar d’eu mesmo sentir uma dificuldade de entender, e sentir, porque não, o quão importante é meu voto, consigo estimar racionalmente, hoje, a importância dele, ou pelo menos a importância que eu deveria dar a ele.

    P.S.: Vou mandando o texto assim por partes, pra não ficar ABSURDAMENTE chato. O texto completo vai estar no meu blog, Roaming Within My Own. Amanhã vou publicar mais uma parte aqui. Vão colocando críticas, dando ideias, dando opiniões, essas coisas. Vamos politizar mais esse bagulho.

    P.S.2.: Não reli o texto... Se houver erros, me avisem via comentários. Erros tanto de escrita quanto de informação.

    terça-feira, 10 de maio de 2011

    Inevitável

    Algumas coisas chegam a tal ponto que não se pode mais voltar atrás.

    O problema é escolha. Ou você escolhe fingir que não vê, ou você escolhe fingir que nada aconteceu. E no fim, você percebe que é tudo a mesma coisa.

    Uma vez meu padrasto, o pai do meu irmão, atropelou um cara, não lembro em que avenida no rio. Lembro que ela tinha quatro vias.

    O cara veio de bicicleta atravessando a rua a alta velocidade, fora da faixa e bem longe de qualquer sinal, além de estar de noite e escuro e com carros passando.

    Vocês sabem que a diferença entre culpa e responsabilidade é que a responsabilidade é mera ligação com causalidade, quando a culpa prevê imprudência, imperícia, ou negligência.

    Meu padrasto pegou o cara em cheio, não tinha como desviar. Não tava embriagado, não tava a mais de 100km/h, prestou o socorro que pode ao maluco. Não teve culpa, foi praticamente suicídio. Mas ele foi o responsável pela morte do sujeito.

    Vocês acham que ele ficou ok depois disso?

    Imagina o estado do crânio do cara sabendo que a cabeça do maluco afundou A BARRA DO CHASSI lateral do Honda Accord da minha mãe.

    Ele é responsável, apesar de não culpado, por uma perda na família do cara que é irreparável.

    Agora imagina que ele tivesse atropelado alguém que ele gosta muito.

    É como eu me sinto agora.

    Sem culpa. Porém de que adianta.

    A vida tem que seguir adiante.

    "You were right, smith. It is inevitable."
    Neo

    quinta-feira, 5 de maio de 2011

    O Estado Nacional: Introdução - Tem alguma coisa errada.

    Eu comecei a escrever este texto tem algumas semanas, e ainda estou ajustando ele, testando-o. O que me levou a escrevê-lo? A minha indignação com a ignorância política da maior parte dos brasileiros. Esta é uma tentativa muito superficial de abordar dezenas de milhares de assuntos de uma só vez, em um só texto. Faltam provavelmente muitas coisas, mas nós vamos nos virando com o que temos, correto? Essas coisas, imagino, virão com o feedback do texto, com algumas releituras e com mais reflexões adicionais. Como disse anteriormente nesta página, tenho imensurável apreço pela reflexão. Sei que ele poderá ser um texto chato, às vezes, e malescrito, na maior parte do tempo. Mas, garanto, ler esta introdução é muito mais chato. Então deem uma chance ao texto.

    Grande estímulo a criação desse texto foi minha redescoberta da política, em duas formas. Não que eu houvesse deixado de me interresar por ela, mas nunca fui muito ativo, o que não me impedia de ter ideias políticas próprias, que hoje creio ultrapasadas. Meu processo de amadurecimento veio acompanhado de uma crescente descrença na utilidade de um Estado supercentralizado, como existem no Brasil e na França, e na prevalência dos interesses de cada indivíduo como motto para a prática de uma política que, antes de tudo, impeça que os direitos de todos os indivíduos sejam violados. Minha crença também num livre mercado, numa democracia mais regional, mais expressiva dos interesses de uma determinada localidade, região, inclusive no que concerne a um legislativo estadual mais independente que o nosso e até mesmo em um executivo amis independente dentro de um contexto regional me inclinaram para o Libertarianismo americano, que não tem nada a ver com sacanagem.

    Também me aproximei de uma doutrina política chamada distributismo, que encontra expressão nos escritos de G. K. Chesterton e Hillaire Belloc, além de espelhar preceitos presentes nas encíclicas papais De Rerum Novarum e Quadragesimo Anno , e prega uma divisão mais justa dos meios de produção, sem, no entanto, abandonar o capitalismo e o modelo liberal. Me captou também um estudo mais aprofundado da União Democrática Nacional, partido político da nossa primeira era democrática (1946-1964) que, na figura do grande ex-governador da Guanabara, Carlos Lacerda, pregava um Estado Democrático livre das amarras clientelistas que se impunham sobre o eleitor brasileiro até então, bem como a moralização da política, e encontrava em sua base de apoio a classe média liberal.

    Menor, mas no entanto digna de citação, é a influência da carta recentemente publicada pelo ex-Presidente brasileiro, Fernando Henrique Cardoso, ao seu partido, o PSDB, buscando trazê-lo de volta aos princípios liberais que o fomentaram quando das origens da nossa Nova República. Esta carta prova que ainda existem políticos com interesses nos problemas públicos, com ideologia, que é fundamental na política, praticidade e uma consciência ímpar da realidade brasileira. Ainda que o texto tenha começado a ser escrito antes da publicação desta, ela foi sem dúvida inspiradora. Creio que esta exposição seja suficiente para vocês entenderem o que vem pela frente. Extremistas de quaisquer lados, saiam da sala. haha

    O Estado Nacional

    Introdução:

    Tem Alguma coisa errada.

    O Estado Nacional, nascido numa concepção moderna no século XVII, passa hoje por um problema sério, quando questionado acerca de sua função. Hesita de responder porque não tem resposta, se perdeu em meio aos desvarios socialistas que afligiram o século XX. Vive hoje uma crise de identidade.

    Seria estúpido crer que o Estado sirva a vontade geral. Nunca foi assim. Praticamente seria impossível crer nisto, visto que estamos acostumados com a utilização da máquina estatal por aquelas classes mais favorecidas economicamente. Ideologicamente, estúpido, pois o que é o Estado em si mesmo?

    O Estado é ente artificial destinado a mediar político-juridicamente as relações entre os indivíduos que o compõem. Ele não é a nação pela qual você vai morrer, nem a razão de você ser como você é. Sua propriedade é a única justificativa para sua morte em caso de guerra, e por propriedade entenda-se as pessoas que vivem nela inclusas, mesmo a sua sogra, se esse for o caso. A razão de você ser assim são seus pais, seus genes e as pessoas com quem você conviveu durante sua vida.

    Exemplificando. Você é um aristocrata na França do século XVIII. A única coisa que você compartilha com um plebeu, ou mesmo um burguês, é a língua francesa, e nem tanto assim. As formas de comunicação, verbal e escrita, mesmo na França, onde o processo de unificação e consolidação lingüística foi muito mais forte do que na Alemanha, por exemplo, eram atinentes as classes sociais. Você luta, não pela França, ou por qualquer sentimento patriótico (afinal ainda não chegamos no século XIX), mas pelos seus privilégios. Isso se você luta. Às vezes é muito melhor pedir refúgio na Inglaterra, como você fará, se puder, no fim deste século.

    E se não puder você provavelmente vai ser perseguido pelos seus compatriotas, não porque eles acham que o sistema é ideologicamente injusto, não, mas porque eles vão ver na Revolução uma forma de se vingar dos séculos nos quais sua família os empregou de forma abusiva, aproveitando de direitos nupciais e tudo mais. E também uma forma de expressar a inveja dele em relação a sua posição social. Sim, a vida não é tão fácil, nem para você.

    Mas por que de repente tudo ficou assim? Porque no século XIX as pessoas eram inocentes. Depois do surto romântico que ocorreu no princípio do século XIX com a dobradinha Napoleão-Goethe e os derivados desta, todo mundo achou que existiam motivos melhores para se viver. Que se podia usar a política para fazer o bem, ou qualquer estupidez do tipo. Introduziram também um método altamente sanguinolento de se fazer política:

    A Revolução

    Entenda, a Revolução Francesa foi uma TREMENDA estupidez. Você tinha uma sociedade que estava vibrando pela democratização. Digo, você nem precisa questionar a vontade social para saber isso. Você tinha nobres, como Mirabeau, o Duque d’Orléans e alguns mais, que estavam ansiosos por democratizar a França. Se eles, que antes usavam e abusavam dos privilégios queriam democratizar o país, imagina o resto da população.

    E você tinha os extremistas... Robespierre, Danton, essa corja, Eles eram MUITO piores que qualquer extremista muçulmano de hoje. Claro que haviam semelhanças, ambos os grupos de assassinos colhiam suas vítimas principalmente entre seus próprios correligionários - vide a execução do próprio Robespierre no final do Diretório. Mas a forma que os jacobinos arranjaram para chegar o poder e instalar um governo literalmente “terrorista” foi ímpar. Transformaram o Estado Francês, que fora durante séculos o símbolo máximo das virtudes apolíneas européias numa grande guilhotina que se embebedava do sangue de seus filhos, como um Cronos ensandecido.

    Mas como Cronos teve seu ventre rasgado por sua cria mais arrogante, também foi esse o destino do Diretório. Com a morte do próprio Robespierre e a crescente militarização, não era difícil imaginar que em breve surgisse um ditador, no sentido romano do termo, um líder militar que conduzisse o recém instalado Consulado a vitória sobre seus inimigos. Napoleão.

    Mas enfim, o texto não é sobre a Revolução na França. Talvez meu querido Tocqueville ficasse feliz caso eu desse nova lufada de ar as suas palavras que, graças ao pestilento esquerdismo que contamina o ensino da história de hoje, são tratadas como aquelas de um traidor.

    Vale voltar um pouco para fazer uma crítica ao raciocínio comum daqueles historiadores que dedicam suas vidas a pesquisar a história que não aconteceu. SE não tivesse havido Revolução na França, ela NÃO seria igual à Inglaterra. Quando comecei a escrever este texto, pensei em começá-lo com uma leve crítica a noção de habitus, a segunda natureza de um povo, segundo o estudioso alemão Norbert Elias. Mas, no meu rascunho de texto, já pensava em desbaratar os historiadores que acreditam nesta idiotice, e para isso teria que apelar ao tão famigerado habitus.

    Diz o estudioso que cada povo tem uma forma específica de se comportar, um caráter nacional, uma segunda natureza. Quem voltar acima verá que eu contesto isso logo ali, mas, admito, existem exceções. Afinal a história não é matemática, no qual todos os resultados são previsíveis. De fato, SE a Revolução não tivesse ocorrido na França, dificilmente esta se tornaria uma Inglaterra. Por que?

    Simples: Modelos econômicos diferentes e estrutura que comandava a reforma (que no caso da França virou Revolução – me recuso a chamar a papagaiada de Guilherme de Orange de Revolução de fato) diferente. Na Inglaterra já havia uma inclinação a um capitalismo primitivo, com Leis dos Cercamentos engatinhando, supremacia naval já consolidada, modelos de colonização indireta, entre outros indicativos. A França não. A França tinha um modelo de colonização extremamente intervencionista, um capitalismo que (só poderia) se baseava na propriedade da terra, excluindo grande parte da noção de indústria bruta, ressalvas feitas aqui ao Colbertismo e o fabrico de produtos de alto luxo, além de se envolver constantemente em guerras européias que não poderiam trazer nenhum lucro ao país, coisa que a Inglaterra não fazia. A Inglaterra sempre teve essa vocação capitalista que faltava a França...

    - Isso é só um esboço, não me canso de afirmar -

    sexta-feira, 29 de abril de 2011

    Talking 'bout my generation II

    Uma sequela ao texto anterior por mim, dessa vez.

    Conforme eu havia comentado no texto anterior, o assunto é de vastidão muito grande, pois pode ser que o problema de todos tenha raízes comuns. De maneira que poderíamos falar infinitamente e não conseguir extrapolar nada.

    Engraçado é que hoje mesmo eu li um texto atribuído a Veríssimo, apesar de não acreditar que seja dele, visto que muito se escreve e joga no nome dele hoje. Aparentemente já era um tanto antigo, sobre BBB11, e Bial chamando os integrantes de Heróis.

    Heróis, que ficaram num confinamento insuportável por uns três meses, muito choraram e muito sofreram, e que foram aclamados pelo público, e por isso legitimamente merecem prêmios, fama ou sei lá mais o quê.


    CARALHO! Herói é o cara que sustenta a família com um salário mínimo!

    O que tange nisso é que tanto se desarmou, desatribuiu e desvalorizou certas armas, atribuições e valores, que as palavras pouco sentido têm, por mais importantes que essas devessem ser. Mas não importa o quanto seja, atingem assim mesmo.

    As palavras perderam seu valor, o ser humano enquanto criatura sensível e analítica perdeu o seu valor.
    Mas as palavras não perderam a força, perderam o valor, a força ainda continua lá, por que por mais que o povo saiba que é de "brincadeirinha" que se toma por herói o vagabundo que pega a mulé e faz intriguinha na casa e sorri bastante e ganha a merda do BBB, eles acabam inevitavelmente tomando-o por tal.

    Os heróis hoje surgem da noite pro dia, e a história sequer toma o trabalho de escrevê-los de tão rápido que somem, por que nunca o foram de fato.

    Dou meus parabéns diariamente ao fórum hardmob e ao fórum VT por terem feito de Marcelo Dourado um herói que a Globo não queria que fosse. Ele só fez o que devia e que muitos queriam ter feito mas não podiam.

    E nossa música reflete nossa vida, e nossa vida reflete nossa música. Nosso rock é tosco, é triste, é embriagado. Nosso hip hop é gangsta, pimp. E nossa música vende modos de ser. E um modo de ser fracassado. Nós redefinimos a palavra cool pra nos referirmos a fracassados. Kurt Cobain era um fracassado. Foda-se se ele entendia seus sentimentos. Se isso ocorria é porque você tem sentimentos de um fracassado.


    Isso me lembra muito essa citação de Tyler Durden:

    "Eu vejo aqui os homens mais fortes e inteligentes que já viveram. Vejo todo esse potencial desperdiçado. Toda uma geração de frentistas, garçons e escravos de colarinho branco. A propaganda põe a gente para correr atrás de carros e roupas. Trabalhar em empregos que odiamos para comprar coisas que a não precisamos.

    Somos uma geração sem peso na história. Sem propósito ou lugar. Nós não temos uma Grande Guerra, não temos uma GrandeDepressão. Nossa guerra é a e.s.p.i.r.i.r.i.t.u.a.l, nossa depressão são nossas vidas.


    Fomos criados através da televisão para acreditar que seremos milionários e estrelas de cinema. Mas não somos. Aos poucos tomamos consciência disso e estamos muito, muito, putos."


    Nossa geração está tão sem valor que endeusam o Felipe Neto, que nada mais é que alguem como nós, que deveria ser o padrão de todos. Um cara com algum bom-senso e iniciativa de empreender uma boa tentativa de iluminação a algumas pessoas, uma vez também inconformado com o mundo tosco.
    Mas ele é só isso. Não há nada demais além de um pouco de mau-humor cômico, talvez sarcasmo, óculos escuros e algum bom-senso.

    Estamos tão sem rumo, que um deputado honesto, que recusa seus beneficios, é tratado como Deus pela mídia.

    Para ser sincero, às vezes eu mesmo me pego com o pensamento e as metas a curto prazo tangenciando isso aí mesmo, diversão por diversão, sem compromisso. Mas vou fazer o que véio, eu estou um fudido, não tenho como planejar nada sem dinheiro, construir coisas. Isso em breve mudará de figura, mas por agora o máximo que eu posso é adquirir conhecimento e sempre que puder escrever ou passar ele de algum modo. É a unica forma de se crescer e absorver mais.


    Quando eu penso em me divertir, eu considero que seriam fins últimos. Existe diversão em aprender, casar, ter filhos, vê-los crescer, formar empresas, trabalhar, claro que tudo a seu tempo. Existe diversão, prazer nisso tudo. Pelo menos deveria existir, pelo apreciar da boa música.

    Porém, como acima, a mídia põe a gente pra trabalhar em empregos que não gostamos para comprar coisas a que não precisamos. E aí nunca vai funcionar. Por que enquanto estivermos insatisfeitos, estaremos comprando mais, e quanto mais compramos, mais trabalhamos em coisas que não gostamos para comprar o que não precisamos, e ficamos ainda mais insatisfeitos.

    Quando penso nesse aspecto, tudo se resume a uma especie de lista de coisas a fazer, "tasks before die". Sem pretensão alguma de ter de consumir nada a que eu não precise, tudo bem estudado.

    Por que fatalmente, toda música tem de acabar.

    E não é o tom que ela acaba que importa, é a sensação que ela deixa no cara que ouve, ou uma idéia que ela tenha passado.

    Esse é o conteúdo, o que falta. Falta propósito para as pessoas. Mas elas talvez sequer saibam que isso existe.

    Elas têm um instrumento e só fazem barulho com ele.

    E aí você de repente se depara com Restart fazendo sucesso.

    Todo mundo quer ser herói. Todo mundo quer ser rockstar. Não tem problema nenhum nisso. O que não podem aceitar é que qualquer idiota vire um, só por que aprendeu 3 acordes, e um outro idiota com grana botou ele pra aparecer na tv. Como eu costumo dizer, uma das piores coisas que têm é dar dinheiro na mão de idiota.

    Como eu havia pretendido chegar desde o início. Fato observado é que, por mais que a gente fale dos n aspectos sob os quais se manifestam as coisas que a gente falou, sobre o tanto que se desarmou, desatribuiu e desvalorizou certas armas, atribuições e valores, que acho que a gente acaba não conseguindo mover adiante.

    Então fica a pergunta: como seria possível investir efetivamente contra esse movimento?

    Acho que há uma saída em usar o próprio movimento contra ele mesmo. Você vê, as grandes obras de influência fazem isso ganhando em escala na burrice do povo.

    E se existisse uma elite intelectual capaz de disseminar idéias afim de neutralizar esse tipo de controle indireto? Se você fala de pessoas menos esclarecidas, você pode ou controlá-las indiretamente, e vai funcionar. Ou você pode informá-las, e se você for eficiente, elas vão te seguir também, por que elas não têm informação, não têm um caminho, e quando tu tá perdido qualquer caminho serve. Elas muitas vezes sequer sabem que a informação existe, em muitos casos.

    O problema, na verdade, vem a ser que falta pessoas capazes ou dispostas a empreender essa ação, de através da crítica e das ferramentas atuais com bom alcance, como o Felipe Neto de certa forma faz, botar algo que preste na cabeça dos outros.

    Fica aqui a deixa, para que nós nos juntemos a essa missão, que nesse início de conversa, antes se resume a reunir informações ante aos questionamentos mais presentes, de modo a ter não só esclarecimento, mas também boas armas de entendimento para com os outros.

    Precisamos sair dessa espécie de Matrix, e começar a resgatar os outros.