terça-feira, 30 de agosto de 2011

Prévia.

Terminei de ler hoje a magnífica obra de Alexis de Tocqueville, "L'Ancien Régime e La Révolution". O livro impressionará a todos os brasileiros que lhe derem uma chance pela contemporaneidade de suas críticas. Ainda que escritas na França do século XIX, relatando fatos de seu passado recente, é com amargor que podemos sem dificuldade transpor estas palavras para nosso tempo e usá-las para descrever nosso país.

Poderia certamente pedir-lhes que lessem o Livro II, que trata da administração pública da França pré- e pós-revolucionária. O argumento de Tocqueville neste capítulo é de que não houve nenhuma real mudança nesta área entre estes períodos de tempo no país, mostrando que a dita "grande conquista da revolução" teria sido, na verdade, criada durante o Antigo Regime.

Mas, só para exemplificar, vou copiar algumas partes para que vocês julguem se a minha impressão de que a obra é tão atual para os brasileiros do século XXI quanto era para os franceses do século XIX é verdadeira ou não:

"Ninguém imagina que possa levar a bom termo um assunto importante se o Estado não se imiscuir. Mesmo os agricultores, pessoas geralmente muito avessas aos preceitos, são levados a crer que, se a agricultura não se aperfeiçoa, a culpa é principalmente do governo, que não lhes dá bastantes conselhos nem auxílio suficiente [...]"

"Aos olhos da maioria, o governo é o único que ainda pode garantir a ordem pública: o povo só tem medo da polícia; os proprietários só tem nela alguma confiança. [...]"

"Tendo o governo assim tomado o lugar da Providência, é natural que cada qual o invoque em suas urgências particulares. Por isso encontramos um número imenso de requerimentos que, sempre se fundamentando no interesse público, dizem respeito entretanto a pequenos interesses privados [...]"

E então, lhes soa familiar?

sábado, 27 de agosto de 2011

Opinião sobre Arte - I

Já aviso a todos aqueles que quiserem me contestar que não visitei nenhuma exposição do Tim Burton até hoje e, inclusive, digo que o Burton é mero pretexto para tratarmos de um tema mais problemático, que tem atormentado minha mente cada vez mais constantemente nos últimos meses. O que é Arte?

Poderia começar aqui como classicamente se começa textos deste gênero, com a origem latina da palavra e blá-blá-blá. Não dou a mínima importância para a palavra Ars, a não ser que ela atenda meus interesses de deformar seu sentido amplamente. Mesmo porque, convenhamos, a Arte sempre existiu e nem sempre se chamou Arte.

A Arte, em minha limitada capacidade de conceituar, é a expressão mais pura do Alma Humana, mais violenta de nossa infinita húbris e mais altiva do nosso Desejo. A Arte é nossa vontade de nos tornarmos Deuses elevada a enésima potência, ou pelo menos de sermos notados na multidão. É a expressão mais pura da individualidade. E por isso mesmo é a única parte do homem, a única liberdade, que merece nossa vida e nosso sangue. É a Liberdade de Expressão em sua forma ulterior. Como diria Voltaire: Não concordo com porra nenhuma que você disse, mas saio na porrada se alguém não te deixar falar.

Mas tem sempre alguém querendo dizer que alguma coisa é, ou não é, arte. Eu sempre prefiro advogar do lado otimista. Tudo é Arte porque eu não sei o que é Arte em sua essência. E talvez a Arte não tenha uma essência em si, mas assim como o mundo é obra da mente divina, talvez a arte seja mera obra de nossa mente, e só exista dentro de seu próprio conceito e não como parte de um conceito maior. Um quadro de Picasso não faria parte de uma definição ampla do que é Arte, mas faria parte da definição “Quadro de Picasso tal”, sei lá, “Guernica”. Ou a Arte sendo mera expressão da Alma e a Alma como essência da Arte. Ai, que vida difícil para um platonista...

Mas imagino que Platão tenha tido muito menos problemas para definir o que é Arte. Na época dele, e na classe dele, Arte era um conceito muito mais específico. Daí era fácil você dizer coisas como “a arte é a expressão mais pura da beleza”. Por que? Porque a arte naquela época, e, veja bem, a definição do que é Arte está intrinsecamente ligada a quem tem o poder para determiná-la como tal, como um Platão, um nobre, ou um filósofo reconhecido, já era o que foi, e é até hoje, para a cultura ocidental, o conceito de arte: Simétrica, em busca da Perfeição, Realista, enfim Apolínea.

Aí vem um bando de historiador revoltado falar que, “ah, não, e a arte popular? Você ta se esquecendo da arte popular!” Mas não se podia determinar a arte (To cansado de colocar em letra maiúscula, não é preconceito classista não) popular como arte naquela época, porque as cabeças eram primitivas e aristocráticas em quesitos onde não deveriam ser. Mesmo hoje, eu, superliberal com essas paradas de arte, ainda adoto o termo apolíneo para arte das classes mais altas, que define o que o homem médio político ocidental considera como arte, mesmo que seja porque esta determinação veio das classes mais poderosas, algo como reflexo da sociedade de consumo de Baudrillard, onde os mais poderosos estabelecem o comportamento de um mais poderoso e as pessoas que almejam este posto o segue, e dionisíaco para a das classes mais baixas.

Mas hoje, graças a Deus, a Liberdade de Expressão é garantida em quase todo o mundo e onde não é, fazem com que seja, a força. Mas a arte, se pararmos para pensar, já não vivia mais sob esse regime de falta de liberdade, porque os autores das obras íam lá e arriscavam a vida mesmo, estilo Rushdie, que foi lá e lançou os “Versos Satânicos” e tá ameaçado de morte até hoje. Enfim, hoje você tem a arte popular sendo arte popular e não só demonstração cultural de camada inferior, mesmo porque você tem o conceito de cultura popular, que não existia antes. Tem até muito historiador aí, totalmente opostos àqueles, que se debatia até pouco tempo quando ouvia a expressão. Mas agora a situação é mais pacificada.

Mas as distinções permanecem, não nos enganemos. Existe ainda uma diferença da Upper Art pra Lower Art. E aí você entra em uma questão mais complexa, algo como um duelo entre a pop art e a arte clássica. E aí fica claro esse vínculo com toda essa bobagem que eu escrevi até aqui. De um lado você tem o Tim Burton, um renomado Diretor Cinematográfico, escritor, desenhista, pintor, enfim, um artista, senão completo, muito próximo disso. E do outro você tem Picasso, pintor renomado, gênio do Cubismo e blá-blá-blá. Não minorando Picasso nem pagando de pseudo-cult/ Tim Burton Lover, só pra facilitar o texto.

Ontem eu, durante um jantar com uns amigos, tive um duelo extenuante, na qual não consegui provar meus pontos, acerca da falta de capacidade técnica de Tim Burton frente a Pablo Picasso. Hoje pela manhã, revoltei-me contra minha própria incapacidade de organizar meu pensamento logicamente e fazer com que ele fosse entendido, e escrevi um e-mail aos meus amigos, que me inspirou este texto aqui.

Defendi que Picasso tinha muito mais domínio da técnica tradicional de pintura, e por técnica tradicional de pintura falo daquela criada na Renascença, onde a pintura por vezes tinha um conceito muito mais técnico do que artístico por trás, do que o Burton. E isso não torna o Burton menos artista que Picasso. Sou um baluarte da concepção de que arte é toda expressão da criatividade humana, não poderia me contradizer neste sentido.

E Burton é mais artista porque, sim, ele domina mais formas de arte, técnicas de arte. Mas ele não domina as técnicas de pintura clássica, mesmo porque, graças a Deus, a arte se tornou cada vez menos uma coisa de especialistas e cada vez mais uma coisa humana. Isso, no entanto, não altera minha opinião sobre Picasso ter muito mais técnica como pintor. A questão é que a palavra técnica tem dois conceitos que às vezes são confundidos. Se por um lado técnica significa a forma como as coisas são feitas, por outro significa uma convenção, e por convenção que não entendam verdade absoluta, mas acordo entre pessoas, sobre como seria o jeito certo de fazer as coisas. Neste caso todos devem concordar comigo que Burton tem menos técnica que Picasso. E só podemos provar isso porque Picasso, certa vez, fez um quadro cheio de técnica, para os críticos, mas sem vida, e ficou conhecido depois que rompeu com os paradigmas da técnica, e o Burton nunca fez isso, adotando sempre uma postura de quebrar parâmetros. Desde a infância.

Por isso durante o jantar sustentei que a exposição de Burton tinha muito mais a ver com a construção de uma personalidade do que com a construção de um corpo artístico, que envolveria passar por experimentalismos MUITO diversos (como Picasso fez sempre), o que não torna a exposição dele menos artística, ou menos brilhante. Pelo contrário, a torna muito mais fascinante, porque traz o artista pra perto da gente.

Quem somos nós para determinar quem é melhor artista de uma forma geral? Para uma pessoa, Burton pode ser melhor que Picasso, como é para mim, mas para outra não, e não há escola, faculdade, Deus, que possa dizer objetivamente quem é melhor. Arte é a expressão mais pura da alma humana, como já disse, logo não pode ser medida por parâmetros técnicos.

Nem o próprio fato do Burton ter estudado sei lá aonde garante a ele mais autoridade como artista ou a qualquer um para determinar o que é arte. As alegações de um dos meus amigos sempre rodavam em volta desta argumentação da escola, que a escola fazia o artista. Só prova que a pessoa tem mais talento que o ser humano médio e quis procurar saber mais técnicas, para se aperfeiçoar. É como um curso de retórica. Você faz para se melhorar, para descobrir coisas que te ajudem a melhor expressar seus sentimentos.

Mesmo porque temos que avaliar que a escola dele (digo a faculdade onde ele estudou) provavelmente não deu pra ele esta base de Técnica Clássica de Pintura, o que eu afirmei como técnica, admito, com veemência ontem, se ele não a buscou. Ele pode ter tido aulas de desenho clássico, de observação da natureza, de todas essas coisas para fazer da arte dele o mais realista possível, mesmo que ele as tenha desprezado depois, mas ele não teve, ou não mostrou ter, essa cadeira de Técnica Clássica de Pintura, que é, basicamente, emular o que os grandes mestres da Renascença fizeram. Não que eu ache isso certo, nem nada, mas quando o ser humano médio, e mesmo o artista, e me arrisco a dizer, o artista ainda mais, pensa em pintura, pensa imediatamente em Botticelli, Michelangelo, Van Eyck, Dürer, essa galera dos cinqueccentos, quatroccentos, sei lá mais quando ccentos. É inerente. É a época onde a arte foi mais tecnicizada, onde ela foi encomendada, onde se transformou em produto. E mais que isso. Ao remeter ao classicismo, esses caras atendiam um anseio tipicamente ocidental: A busca pelo apolíneo, pelo perfeito, pelo simétrico. É a mesma coisa com música. Se Michelangelo aceitava encomendas, Mozart também. E isso não faz de Mozart melhor que Kurt Cobain como artista. Só era mais técnico, porque ele atingia mais notas, mais rápido e com mais noção de harmonia. É a mesma coisa que comparar Kamelot e Foo Fighters. Kamelot é muito mais técnico, mas não é necessariamente melhor. É melhor pra alguns, pior para outros.

É o que eu digo: Quem quer uma verdade universal tinha que ir pra Igreja Evangélica. Nem a Igreja Católica promete uma verdade sem dúvidas. E em artes mais ainda, porque os homens são diferentes, graças a Deus, e a arte só pode ser diferente, e o dia que uma parada for hors concours como Michelangelo, a parada vai ser chata. Eu admiro Michelangelo, mas não tá nem entre meus cinco pintores favoritos. Pelo contrário. Acho ele chato. Prefiro El Greco. E aposto que o Tim Burton também.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Mu Empire

Ando tendo sonhos destrutivos.
E de maneira incomum, os confundo com a realidade. Eu não sei se me urge a construção ou a desconstrução. Ou a reconstrução. Nesses sonhos, uma voz me diz que eu sou um caçador, e que eu estou indo caçar.
Quando eu durmo essa voz sou eu. Quando eu acordo, já não sei.

Ando tendo sonhos intranquilos. Daqueles que nos fazer acordar com sensação de queda. E quando eu acordo eu continuo dormindo, e caindo, assintóticamente.
Você me põe em estado de emergência. E eu odeio admitir, mas não sei se estou emergindo ou submergindo.

Ando tendo sonhos em preto e branco, como os de um cão de pedigree. Daqueles que são adorados pelo dono, mimados e brincalhões. Daqueles que têm abrigo e vivem à base de ração.
O tipo de cão que inveja o vira-lata: sujo e esquelético, e vivo. Um saco-de-pulgas sem hora pra voltar pra casa, que brinca com um jornal velho. E trocaria tudo por um cobertor e carinho.
Quando sou um, não sou o outro. E o ciclo é vicioso: todos queremos ser os dois. Todos somos apenas um.

Ando tendo sonhos de areia. Sonhos em que me perco, esqueço meu próprio nome, acordo com frio em uma estrada e percebo que ainda estou dormindo. Aqui nunca fez frio. Aqui todas as brisas têm um fundo tropical. Por isso eu percebo que estou dormindo e acordo em outro sonho.
Um sonho de areia. Um castelo de sonhos.

Ando tendo sonhos esquizofrênicos, onde nem ouço o que eu mesmo falo. Eu sinto que a minha outra metade grita; a metade que tem a minha voz; eu mesmo. E nesses sonhos as placas da rodovia dizem para que eu ouça apenas uma voz: a da metade que fala com a minha voz, ou a outra.
As vezes as vozes dizem que uma ampulheta gigante vai esmagar a minha cabeça, assim do nada, sem tempo de reação. Totalmente de surpresa. E que o susto será insuportável quando eu abrir os olhos e a areia estiver nos ultimos fiapos da contagem. Todas as vozes ficam instantâneamente mudas.
É dificil falar sem uma língua.

Ando tendo sonhos imaturos. Sonhos sufocantes. Sonhos premonitores.
E estes sonhos nunca trazem a estrela, muito menos o tolo. A carta que cai na minha mão sempre é o dependurado.
Ando levemente sonâmbulo, talvez nada do que eu falei até agora faça sequer algum sentido. Vamos só esquecer, tudo bem?

Ando sonhando demais.

domingo, 12 de junho de 2011

Será?

Será que um homem pode viver com um coração vazio?
Será que um coração pode passar tanto tempo sem uma paixão?
Será que uma paixão pode realmente durar tão pouco?
Será que as antigas mentiras ainda estão vivas?
Será que os bons tempos de antigamente irão morrer?
Será que a minha presença deveria mesmo te dar medo?
Será que alguém pode lutar com o coração vazio?
Será que um coração vazio pode lutar para achar algo que o preencha?
Será que preencher o coração é mesmo a resposta que precisamos?

segunda-feira, 6 de junho de 2011

estagnação. fracasso. mediocridade.

"Mas só para terminar este ponto: então os estudantes afastados da participação da vida pública; as universidades castradas, transformadas em fábricas de diplomas, quando muito, e quando melhores, transformadas em meras escolas de formação profissional, mais nada. Quer dizer, a universidade perdeu sua função de formadora da elite, forma só profissionais, amus ou bons, mas meros profissionais; não cidadãos e muito menos cidadãos capazes de dirigir o país.

Então, quando se extinguir essa geração - é a teoria que estava outro dia me impressionando e disse que era de tirar o sono... A gente se habitua com a ideia de que o Brasil tem um grande futuro como potência, porque tem, sem jogo de palavras, potencial, grande população, grande área, riquezas naturais, enfim, tem uma série de condições para ser uma das grandes potências do mundo. Para ser, pelo menos, em pouco tempo, um país do nível, vamos dizer, do Canadá, ou do nível para onde está caminhando a Austrália, pelo menos. Mas, de repente, quando a gente vê a crise da formação de elites dirigentes, em todos os setores, e elite no verdadeiro sentido da palavra, não no sentido de que o sujeito tem conta no banco, mas no sentido de um sujeito capaz, que tem espírito de liderança, espírito de iniciativa, capacidade de comando, capacidade de apreender o que lhe ensinam, etc., você começa a temer que só o tamanho do território, o aumento da população e a riqueza potencial não bastem e que o Brasil poderá se transformar numa outra Indía; a Índia também é muito rica, a Índia também é muito povoada."


Depoimento, Carlos Lacerda, 1977.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

O Estado Nacional: Parte III - Resolvendo o Problema

Como, e em quem, votar?

Mas como votar? Votamos muito mal no Brasil. Quando não votamos passionalmente, votamos por interesses em curto prazo. Devemos votar buscando nossos interesses individuais e os interesses de nossa família acima de quaisquer outros, sim, mas devemos ponderá-los em longo prazo. Bolsa Família ou educação pública de qualidade para que meu filho tenha um futuro mais promissor que o meu? Neste sentido, e até mesmo mais egoisticamente. Candidatos que defendem propostas de sentido muito lato, normalmente, não defendem nada.

Ponderadas racionalmente as propostas e postos nossos interesses em primeiro lugar, de forma objetiva, mas sem deixar de pensar no legado que deixamos a nossos filhos, devemos pensar na sociedade como um todo. Nosso voto deve ser dedicado aquele candidato que melhor sintetizar as virtudes cívicas de um homem político republicano: honestidade, patriotismo, idoneidade, coragem e força de vontade. Como encontrar alguém assim hoje no Brasil?

Se voltássemos a sessenta anos atrás, teríamos a UDN, que era “um partido que se batia pela moralização dos costumes políticos e que era uma projeção, no tempo, do que fora o Tenentismo das antigas revoluções. Um partido, enfim, ‘ruibarbosiano’, no que isso tudo quer dizer de retórica, de eloqüência, de ideologia liberal.”, nas palavras de seu porta voz mais afamado, o antigo Governador da Guanabara, Carlos Lacerda. O partido alenca, nessa descrição simples, toda uma gama de valores intrinsecamente republicanos e que foram esquecidos pelas elites políticas de hoje.

A Morte da Classe Média (ou A Morte do Republicanismo)

Houve uma repentina desconfiguração da classe média, através da ascensão de grupos que subitamente se tornaram economicamente capazes de compor-la. O problema é que esta ascensão se deu sem a própria formação de um mens de classe média. Enfim, nós temos hoje milhões de pessoas que se denominam classe média, se adéquam economicamente nesta definição, mas não tem o esteio intelectual, ou político-ideológico, para assim fazê-lo.

Todos sabem muito bem o quão fundamental a classe média é para o equilíbrio do jogo político pois, estando entre os dois extremos da concentração de riquezas social, é afetada pelas decisões políticas de ambos os lados, nunca de forma extremamente favorável, o que lhe configura uma independência e desvinculação de vertentes políticas que tendem a ser demasiado assistencialistas ou favorecedoras dos interesses da elite econômica do país, ou de ambos, como é o Governo brasileiro de hoje.

O que as pessoas não percebem é que esse jogo de duas caras da política brasileira de hoje, tanto social, quanto politicamente, não é feito para o bem de ninguém. Essa descaracterização da classe média faz ela se polarizar, seja a favor dos mais abastados, seja a favor do menos. E aqueles que, ao menos economicamente, passaram a se identificar com a classe média, mantendo seus costumes e forma de pensar política vinculada as classes menos abastadas, deturpam a posição econômica da classe média clássica em uma nova classe baixa, com mais poder econômico, mas defendendo as mesmas plataformas políticas.

E a classe média clássica deixa de existir frente a extremização político-econômica que ocorre no Brasil. Se observarmos, hoje, economicamente, só temos duas classes: os pobres e os ricos. E na política, só temos uma: a dos tecnocratas que, manipulando os interesses econômicos das classes baixas, os mantém em estado de inanição, para poder, com isso, satisfazer os interesses do grande capital. E isso tudo garantido graças a um arcabouço legal ostensivo, que impede a liberdade de mercado, ajudando a manter tanto os grandes monopólios e oligarquias, quanto a zumbificação das classes trabalhadoras. A concentração de poderes na mão do Estado, ter um Estado grande, como o Brasil tem, só garante os interesses dos dois extremos da corda, que nunca são a favor do indivíduo.

Spreading the Disease (O que fazer?)

E é justamente aí onde a classe média deveria entrar, para puxar o peso de volta ao centro, de volta ao liberalismo. E como fazer isso? A resposta é simples, a longo prazo. Educação. Educar as pessoas faz com que elas votem de maneira mais inteligente, com a intenção de melhorar de vida, de forma duradoura. Bolsa Família não faz ninguém ascender socialmente, só traz maior capacidade de consumo, mas profissionalização constante sim, além de acabar com nosso eterno peleguismo varguista. Os trabalhadores tem que exigir seus direitos sem se vincular a nenhum partido político ou se entregar como instrumento de seus interesses.

E a curto prazo? Aí a resposta é MUITO mais complexa, pois depende muito mais de vontade dos diretamente interessados. A classe média clássica, largada aos frangalhos, tem que meter mais a cara, deixar de acreditar que o envolvimento político implica corrupção ou vagabundagem, sair do estado de idiotização no qual se instalou após a Revolução de 64. Mostrar que o Estado Liberal, longe de ser a mamata trabalhista a qual o Brasil está acostumado, promove a evolução efetiva e voluntária do indivíduo, através da garantia de igualdade de oportunidades e a não limitação das liberdades. Enfim, o Estado como campo de ação de indivíduo, invertendo a microfísica do poder tão comum nos Estados latino-americanos populistas (e não nos enganemos, o Brasil, e quase todos os Estados latino-americanos, bem como a Europa do Bem-Estar Social são populistas e – por que não? - totalitários ) no qual o indivíduo é o campo de ação do Estado.

Apesar de ainda estarmos distantes desta nossa meta, podemos discernir no chão pegadas. A recente conclamação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a seu partido, o PSDB, já nos deixa sonhar com a possibilidade de um Estado onde o Supremo Tribunal Federal não legisle, onde o eleitor e o eleito sejam vizinhos próximos, onde os eleitores sejam responsáveis pelos seus eleitos e pelas atitudes destes, enfim, onde seja respeitada efetivamente a vontade do indivíduo, com todos os seus direitos e deveres.

O Estado-Babá onde vivemos tem que morrer para que possamos crescer. Temos que arrebentar a barriga de Cronos.

- Acho que já falei todo o necessário. Relembro que esse texto é um esboço sem revisão. Aceito sugestões. Se quiserem uma bibliografia, procurem por "Fascismo de Esquerda: A História Secreta do Esquerdismo Americano", de Jonah Goldberg, livro que me abriu muito os olhos. Aconselho também os escritos do professor David Friedman, um dos quais eu traduzi recentemente e vai ser publicado pela Revista do Centro de Estudos Jurídicos da Justiça Federal, e pode ser encontrado gratuitamente no blog: http://guilhermealfradiqueklausner.blogspot.com/ sob o nome de "Execução Penal Privada, Islândia Medieval e Libertarianismo". Estes, bem como a revista Liberty (http://www.libertyunbound.com/), me foram apresentados inicialmente pelo meu grande amigo Pedro Drumond. Aconselho também os trabalhos de G. K. Chesterton, que havia citado no começo do texto. Agradeço de todo meu coração aqueles que leram esse bando de opiniões infundadas por consideração ao autor e a sua opinião.

Abraços

terça-feira, 17 de maio de 2011

O Estado Nacional: Parte II - Identificando o Problema

Identificando o Problema

Claro, estamos falando aqui de política, mas a relação é principalmente econômica. Não em um sentido limitador materialista a la Karl Marx, de forma alguma. É óbvio que existem fatores além dos econômicos que governam o mundo, afinal nós não somos máquinas que só trabalhamos. O problema é que esses outros fatores não econômicos que influenciam na vida social são todos definidos na individualidade de um cidadão de forma tão particular, devido a sua vida familiar, história de vida e até mesmo genética, que tentar um consenso social sobre estes temas não econômicos seria estúpido.

Então como proceder? O Estado não deve se espraiar em nenhuma área que não a econômica, ou melhor, puramente material? Não. O Estado não deve se envolver em nenhuma questão que não seja puramente material. E como fazer isso? Muitos diriam que o Estado que os Progressistas Americanos, os Fascistas Europeus, ou mesmo qualquer tecnocracia suja por aí deseja criar é um Estado técnico, voltado unicamente para regulação da parte material da vida do cidadão. Falso.

O objetivo destes Estados é convencer a população de que não existe nada tão importante quanto isso, o que é obviamente mentira. Nós não somos robôs. Nossas escolhas, mesmo quando relacionadas a opções de investimentos, não necessariamente são fundadas em princípios meramente materiais. Existe um arcabouço cultural e psicológico, coletivo e individual, que fundamenta cada decisão nossa.

Mas o Estado não pode encompassar dentro de sua noção TODOS esses arcabouços diversos existentes dentro de seu território. Claro que, dependendo da homogeneidade étnica, religiosa, lingüística e cultural, isso é possível, mas em geral, graças a globalização, isto (infelizmente) não ocorre.

First things first

Na dúvida, então, o que deve o Estado fazer? Primeiramente, deve colocar first things first. As liberdades individuais, podendo aí se espraiar de união civil homossexual a fumar em lugares públicos, devem vir em primeiro lugar. Não, óbvio que elas não devem ser absolutamente irrestritas. Todos podemos ver como fumar em lugares fechados (privados, veja bem) é incômodo para aqueles que não fumam, mas em geral elas devem ser o mais irrestritas possível.

Claro que elas não podem subverter a Lei. Nada pode subverter a Lei. Mas a Lei tem que restringir o mínimo possível, em todos os sentidos. Nada de sacrificar o indivíduo pelo bem comum. Este tipo de pensamento, utilarista, fez parte do raciocínio que fundamentou os grandes genocídios do século. Ninguém deve ser sacrificado por ninguém, em nenhum sentido. Nem moral, nem materialmente.

E as pessoas têm que ser efetivamente representadas. Em um sistema como o nosso, onde a União manda suprema em tudo, onde o Presidente é um semi-Deus com poderes ditatoriais e onde a capital é, me perdoem os brasilienses, muito mal localizada, não pode haver uma representação justa. Os Estados têm que ter mais poderes soberanos e autonomia como entes federativos em relação à União, bem como os municípios.

Para tal, é necessário que todos os sistemas mudem, desde o que coordena a tomada de decisões, e o eleitoral, especificamente, até o sistema de policiamento. Isso fará com que as pessoas sejam mais responsáveis com seu voto, pois ele influirá mais nas suas vidas, visto que as principais decisões administrativas serão tomadas no âmbito local.

Mas como fazer isso efetivamente? Alguns partidos têm levantado a bandeira, aqui no Brasil, em prol de uma reforma eleitoral que implemente o voto distrital, puro ou misto, no país. A idéia é fantástica, principalmente se os distritos forem pequenos. Já seria um começo para criar o tão sonhado e esperado compromisso político eleitor-eleito no Brasil. Nós já tivemos um momento democrático, de mil novecentos e quarenta e cinco a mil novecentos e sessenta e quatro, onde houve grande engajamento político de toda população. Esse momento tem de voltar, para que o Brasil se alce ao rol das nações mais desenvolvidas.

Não podemos ter mais essa descrença na política. Claro que nossos políticos não nos inspiram muita confiança, independente de vinculações partidárias, mas falta ao brasileiro a noção da importância da política. Estamos muito preocupados com o consumo, pouco com a sociedade. E, apesar d’eu mesmo sentir uma dificuldade de entender, e sentir, porque não, o quão importante é meu voto, consigo estimar racionalmente, hoje, a importância dele, ou pelo menos a importância que eu deveria dar a ele.

P.S.: Vou mandando o texto assim por partes, pra não ficar ABSURDAMENTE chato. O texto completo vai estar no meu blog, Roaming Within My Own. Amanhã vou publicar mais uma parte aqui. Vão colocando críticas, dando ideias, dando opiniões, essas coisas. Vamos politizar mais esse bagulho.

P.S.2.: Não reli o texto... Se houver erros, me avisem via comentários. Erros tanto de escrita quanto de informação.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Inevitável

Algumas coisas chegam a tal ponto que não se pode mais voltar atrás.

O problema é escolha. Ou você escolhe fingir que não vê, ou você escolhe fingir que nada aconteceu. E no fim, você percebe que é tudo a mesma coisa.

Uma vez meu padrasto, o pai do meu irmão, atropelou um cara, não lembro em que avenida no rio. Lembro que ela tinha quatro vias.

O cara veio de bicicleta atravessando a rua a alta velocidade, fora da faixa e bem longe de qualquer sinal, além de estar de noite e escuro e com carros passando.

Vocês sabem que a diferença entre culpa e responsabilidade é que a responsabilidade é mera ligação com causalidade, quando a culpa prevê imprudência, imperícia, ou negligência.

Meu padrasto pegou o cara em cheio, não tinha como desviar. Não tava embriagado, não tava a mais de 100km/h, prestou o socorro que pode ao maluco. Não teve culpa, foi praticamente suicídio. Mas ele foi o responsável pela morte do sujeito.

Vocês acham que ele ficou ok depois disso?

Imagina o estado do crânio do cara sabendo que a cabeça do maluco afundou A BARRA DO CHASSI lateral do Honda Accord da minha mãe.

Ele é responsável, apesar de não culpado, por uma perda na família do cara que é irreparável.

Agora imagina que ele tivesse atropelado alguém que ele gosta muito.

É como eu me sinto agora.

Sem culpa. Porém de que adianta.

A vida tem que seguir adiante.

"You were right, smith. It is inevitable."
Neo

quinta-feira, 5 de maio de 2011

O Estado Nacional: Introdução - Tem alguma coisa errada.

Eu comecei a escrever este texto tem algumas semanas, e ainda estou ajustando ele, testando-o. O que me levou a escrevê-lo? A minha indignação com a ignorância política da maior parte dos brasileiros. Esta é uma tentativa muito superficial de abordar dezenas de milhares de assuntos de uma só vez, em um só texto. Faltam provavelmente muitas coisas, mas nós vamos nos virando com o que temos, correto? Essas coisas, imagino, virão com o feedback do texto, com algumas releituras e com mais reflexões adicionais. Como disse anteriormente nesta página, tenho imensurável apreço pela reflexão. Sei que ele poderá ser um texto chato, às vezes, e malescrito, na maior parte do tempo. Mas, garanto, ler esta introdução é muito mais chato. Então deem uma chance ao texto.

Grande estímulo a criação desse texto foi minha redescoberta da política, em duas formas. Não que eu houvesse deixado de me interresar por ela, mas nunca fui muito ativo, o que não me impedia de ter ideias políticas próprias, que hoje creio ultrapasadas. Meu processo de amadurecimento veio acompanhado de uma crescente descrença na utilidade de um Estado supercentralizado, como existem no Brasil e na França, e na prevalência dos interesses de cada indivíduo como motto para a prática de uma política que, antes de tudo, impeça que os direitos de todos os indivíduos sejam violados. Minha crença também num livre mercado, numa democracia mais regional, mais expressiva dos interesses de uma determinada localidade, região, inclusive no que concerne a um legislativo estadual mais independente que o nosso e até mesmo em um executivo amis independente dentro de um contexto regional me inclinaram para o Libertarianismo americano, que não tem nada a ver com sacanagem.

Também me aproximei de uma doutrina política chamada distributismo, que encontra expressão nos escritos de G. K. Chesterton e Hillaire Belloc, além de espelhar preceitos presentes nas encíclicas papais De Rerum Novarum e Quadragesimo Anno , e prega uma divisão mais justa dos meios de produção, sem, no entanto, abandonar o capitalismo e o modelo liberal. Me captou também um estudo mais aprofundado da União Democrática Nacional, partido político da nossa primeira era democrática (1946-1964) que, na figura do grande ex-governador da Guanabara, Carlos Lacerda, pregava um Estado Democrático livre das amarras clientelistas que se impunham sobre o eleitor brasileiro até então, bem como a moralização da política, e encontrava em sua base de apoio a classe média liberal.

Menor, mas no entanto digna de citação, é a influência da carta recentemente publicada pelo ex-Presidente brasileiro, Fernando Henrique Cardoso, ao seu partido, o PSDB, buscando trazê-lo de volta aos princípios liberais que o fomentaram quando das origens da nossa Nova República. Esta carta prova que ainda existem políticos com interesses nos problemas públicos, com ideologia, que é fundamental na política, praticidade e uma consciência ímpar da realidade brasileira. Ainda que o texto tenha começado a ser escrito antes da publicação desta, ela foi sem dúvida inspiradora. Creio que esta exposição seja suficiente para vocês entenderem o que vem pela frente. Extremistas de quaisquer lados, saiam da sala. haha

O Estado Nacional

Introdução:

Tem Alguma coisa errada.

O Estado Nacional, nascido numa concepção moderna no século XVII, passa hoje por um problema sério, quando questionado acerca de sua função. Hesita de responder porque não tem resposta, se perdeu em meio aos desvarios socialistas que afligiram o século XX. Vive hoje uma crise de identidade.

Seria estúpido crer que o Estado sirva a vontade geral. Nunca foi assim. Praticamente seria impossível crer nisto, visto que estamos acostumados com a utilização da máquina estatal por aquelas classes mais favorecidas economicamente. Ideologicamente, estúpido, pois o que é o Estado em si mesmo?

O Estado é ente artificial destinado a mediar político-juridicamente as relações entre os indivíduos que o compõem. Ele não é a nação pela qual você vai morrer, nem a razão de você ser como você é. Sua propriedade é a única justificativa para sua morte em caso de guerra, e por propriedade entenda-se as pessoas que vivem nela inclusas, mesmo a sua sogra, se esse for o caso. A razão de você ser assim são seus pais, seus genes e as pessoas com quem você conviveu durante sua vida.

Exemplificando. Você é um aristocrata na França do século XVIII. A única coisa que você compartilha com um plebeu, ou mesmo um burguês, é a língua francesa, e nem tanto assim. As formas de comunicação, verbal e escrita, mesmo na França, onde o processo de unificação e consolidação lingüística foi muito mais forte do que na Alemanha, por exemplo, eram atinentes as classes sociais. Você luta, não pela França, ou por qualquer sentimento patriótico (afinal ainda não chegamos no século XIX), mas pelos seus privilégios. Isso se você luta. Às vezes é muito melhor pedir refúgio na Inglaterra, como você fará, se puder, no fim deste século.

E se não puder você provavelmente vai ser perseguido pelos seus compatriotas, não porque eles acham que o sistema é ideologicamente injusto, não, mas porque eles vão ver na Revolução uma forma de se vingar dos séculos nos quais sua família os empregou de forma abusiva, aproveitando de direitos nupciais e tudo mais. E também uma forma de expressar a inveja dele em relação a sua posição social. Sim, a vida não é tão fácil, nem para você.

Mas por que de repente tudo ficou assim? Porque no século XIX as pessoas eram inocentes. Depois do surto romântico que ocorreu no princípio do século XIX com a dobradinha Napoleão-Goethe e os derivados desta, todo mundo achou que existiam motivos melhores para se viver. Que se podia usar a política para fazer o bem, ou qualquer estupidez do tipo. Introduziram também um método altamente sanguinolento de se fazer política:

A Revolução

Entenda, a Revolução Francesa foi uma TREMENDA estupidez. Você tinha uma sociedade que estava vibrando pela democratização. Digo, você nem precisa questionar a vontade social para saber isso. Você tinha nobres, como Mirabeau, o Duque d’Orléans e alguns mais, que estavam ansiosos por democratizar a França. Se eles, que antes usavam e abusavam dos privilégios queriam democratizar o país, imagina o resto da população.

E você tinha os extremistas... Robespierre, Danton, essa corja, Eles eram MUITO piores que qualquer extremista muçulmano de hoje. Claro que haviam semelhanças, ambos os grupos de assassinos colhiam suas vítimas principalmente entre seus próprios correligionários - vide a execução do próprio Robespierre no final do Diretório. Mas a forma que os jacobinos arranjaram para chegar o poder e instalar um governo literalmente “terrorista” foi ímpar. Transformaram o Estado Francês, que fora durante séculos o símbolo máximo das virtudes apolíneas européias numa grande guilhotina que se embebedava do sangue de seus filhos, como um Cronos ensandecido.

Mas como Cronos teve seu ventre rasgado por sua cria mais arrogante, também foi esse o destino do Diretório. Com a morte do próprio Robespierre e a crescente militarização, não era difícil imaginar que em breve surgisse um ditador, no sentido romano do termo, um líder militar que conduzisse o recém instalado Consulado a vitória sobre seus inimigos. Napoleão.

Mas enfim, o texto não é sobre a Revolução na França. Talvez meu querido Tocqueville ficasse feliz caso eu desse nova lufada de ar as suas palavras que, graças ao pestilento esquerdismo que contamina o ensino da história de hoje, são tratadas como aquelas de um traidor.

Vale voltar um pouco para fazer uma crítica ao raciocínio comum daqueles historiadores que dedicam suas vidas a pesquisar a história que não aconteceu. SE não tivesse havido Revolução na França, ela NÃO seria igual à Inglaterra. Quando comecei a escrever este texto, pensei em começá-lo com uma leve crítica a noção de habitus, a segunda natureza de um povo, segundo o estudioso alemão Norbert Elias. Mas, no meu rascunho de texto, já pensava em desbaratar os historiadores que acreditam nesta idiotice, e para isso teria que apelar ao tão famigerado habitus.

Diz o estudioso que cada povo tem uma forma específica de se comportar, um caráter nacional, uma segunda natureza. Quem voltar acima verá que eu contesto isso logo ali, mas, admito, existem exceções. Afinal a história não é matemática, no qual todos os resultados são previsíveis. De fato, SE a Revolução não tivesse ocorrido na França, dificilmente esta se tornaria uma Inglaterra. Por que?

Simples: Modelos econômicos diferentes e estrutura que comandava a reforma (que no caso da França virou Revolução – me recuso a chamar a papagaiada de Guilherme de Orange de Revolução de fato) diferente. Na Inglaterra já havia uma inclinação a um capitalismo primitivo, com Leis dos Cercamentos engatinhando, supremacia naval já consolidada, modelos de colonização indireta, entre outros indicativos. A França não. A França tinha um modelo de colonização extremamente intervencionista, um capitalismo que (só poderia) se baseava na propriedade da terra, excluindo grande parte da noção de indústria bruta, ressalvas feitas aqui ao Colbertismo e o fabrico de produtos de alto luxo, além de se envolver constantemente em guerras européias que não poderiam trazer nenhum lucro ao país, coisa que a Inglaterra não fazia. A Inglaterra sempre teve essa vocação capitalista que faltava a França...

- Isso é só um esboço, não me canso de afirmar -

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Talking 'bout my generation II

Uma sequela ao texto anterior por mim, dessa vez.

Conforme eu havia comentado no texto anterior, o assunto é de vastidão muito grande, pois pode ser que o problema de todos tenha raízes comuns. De maneira que poderíamos falar infinitamente e não conseguir extrapolar nada.

Engraçado é que hoje mesmo eu li um texto atribuído a Veríssimo, apesar de não acreditar que seja dele, visto que muito se escreve e joga no nome dele hoje. Aparentemente já era um tanto antigo, sobre BBB11, e Bial chamando os integrantes de Heróis.

Heróis, que ficaram num confinamento insuportável por uns três meses, muito choraram e muito sofreram, e que foram aclamados pelo público, e por isso legitimamente merecem prêmios, fama ou sei lá mais o quê.


CARALHO! Herói é o cara que sustenta a família com um salário mínimo!

O que tange nisso é que tanto se desarmou, desatribuiu e desvalorizou certas armas, atribuições e valores, que as palavras pouco sentido têm, por mais importantes que essas devessem ser. Mas não importa o quanto seja, atingem assim mesmo.

As palavras perderam seu valor, o ser humano enquanto criatura sensível e analítica perdeu o seu valor.
Mas as palavras não perderam a força, perderam o valor, a força ainda continua lá, por que por mais que o povo saiba que é de "brincadeirinha" que se toma por herói o vagabundo que pega a mulé e faz intriguinha na casa e sorri bastante e ganha a merda do BBB, eles acabam inevitavelmente tomando-o por tal.

Os heróis hoje surgem da noite pro dia, e a história sequer toma o trabalho de escrevê-los de tão rápido que somem, por que nunca o foram de fato.

Dou meus parabéns diariamente ao fórum hardmob e ao fórum VT por terem feito de Marcelo Dourado um herói que a Globo não queria que fosse. Ele só fez o que devia e que muitos queriam ter feito mas não podiam.

E nossa música reflete nossa vida, e nossa vida reflete nossa música. Nosso rock é tosco, é triste, é embriagado. Nosso hip hop é gangsta, pimp. E nossa música vende modos de ser. E um modo de ser fracassado. Nós redefinimos a palavra cool pra nos referirmos a fracassados. Kurt Cobain era um fracassado. Foda-se se ele entendia seus sentimentos. Se isso ocorria é porque você tem sentimentos de um fracassado.


Isso me lembra muito essa citação de Tyler Durden:

"Eu vejo aqui os homens mais fortes e inteligentes que já viveram. Vejo todo esse potencial desperdiçado. Toda uma geração de frentistas, garçons e escravos de colarinho branco. A propaganda põe a gente para correr atrás de carros e roupas. Trabalhar em empregos que odiamos para comprar coisas que a não precisamos.

Somos uma geração sem peso na história. Sem propósito ou lugar. Nós não temos uma Grande Guerra, não temos uma GrandeDepressão. Nossa guerra é a e.s.p.i.r.i.r.i.t.u.a.l, nossa depressão são nossas vidas.


Fomos criados através da televisão para acreditar que seremos milionários e estrelas de cinema. Mas não somos. Aos poucos tomamos consciência disso e estamos muito, muito, putos."


Nossa geração está tão sem valor que endeusam o Felipe Neto, que nada mais é que alguem como nós, que deveria ser o padrão de todos. Um cara com algum bom-senso e iniciativa de empreender uma boa tentativa de iluminação a algumas pessoas, uma vez também inconformado com o mundo tosco.
Mas ele é só isso. Não há nada demais além de um pouco de mau-humor cômico, talvez sarcasmo, óculos escuros e algum bom-senso.

Estamos tão sem rumo, que um deputado honesto, que recusa seus beneficios, é tratado como Deus pela mídia.

Para ser sincero, às vezes eu mesmo me pego com o pensamento e as metas a curto prazo tangenciando isso aí mesmo, diversão por diversão, sem compromisso. Mas vou fazer o que véio, eu estou um fudido, não tenho como planejar nada sem dinheiro, construir coisas. Isso em breve mudará de figura, mas por agora o máximo que eu posso é adquirir conhecimento e sempre que puder escrever ou passar ele de algum modo. É a unica forma de se crescer e absorver mais.


Quando eu penso em me divertir, eu considero que seriam fins últimos. Existe diversão em aprender, casar, ter filhos, vê-los crescer, formar empresas, trabalhar, claro que tudo a seu tempo. Existe diversão, prazer nisso tudo. Pelo menos deveria existir, pelo apreciar da boa música.

Porém, como acima, a mídia põe a gente pra trabalhar em empregos que não gostamos para comprar coisas a que não precisamos. E aí nunca vai funcionar. Por que enquanto estivermos insatisfeitos, estaremos comprando mais, e quanto mais compramos, mais trabalhamos em coisas que não gostamos para comprar o que não precisamos, e ficamos ainda mais insatisfeitos.

Quando penso nesse aspecto, tudo se resume a uma especie de lista de coisas a fazer, "tasks before die". Sem pretensão alguma de ter de consumir nada a que eu não precise, tudo bem estudado.

Por que fatalmente, toda música tem de acabar.

E não é o tom que ela acaba que importa, é a sensação que ela deixa no cara que ouve, ou uma idéia que ela tenha passado.

Esse é o conteúdo, o que falta. Falta propósito para as pessoas. Mas elas talvez sequer saibam que isso existe.

Elas têm um instrumento e só fazem barulho com ele.

E aí você de repente se depara com Restart fazendo sucesso.

Todo mundo quer ser herói. Todo mundo quer ser rockstar. Não tem problema nenhum nisso. O que não podem aceitar é que qualquer idiota vire um, só por que aprendeu 3 acordes, e um outro idiota com grana botou ele pra aparecer na tv. Como eu costumo dizer, uma das piores coisas que têm é dar dinheiro na mão de idiota.

Como eu havia pretendido chegar desde o início. Fato observado é que, por mais que a gente fale dos n aspectos sob os quais se manifestam as coisas que a gente falou, sobre o tanto que se desarmou, desatribuiu e desvalorizou certas armas, atribuições e valores, que acho que a gente acaba não conseguindo mover adiante.

Então fica a pergunta: como seria possível investir efetivamente contra esse movimento?

Acho que há uma saída em usar o próprio movimento contra ele mesmo. Você vê, as grandes obras de influência fazem isso ganhando em escala na burrice do povo.

E se existisse uma elite intelectual capaz de disseminar idéias afim de neutralizar esse tipo de controle indireto? Se você fala de pessoas menos esclarecidas, você pode ou controlá-las indiretamente, e vai funcionar. Ou você pode informá-las, e se você for eficiente, elas vão te seguir também, por que elas não têm informação, não têm um caminho, e quando tu tá perdido qualquer caminho serve. Elas muitas vezes sequer sabem que a informação existe, em muitos casos.

O problema, na verdade, vem a ser que falta pessoas capazes ou dispostas a empreender essa ação, de através da crítica e das ferramentas atuais com bom alcance, como o Felipe Neto de certa forma faz, botar algo que preste na cabeça dos outros.

Fica aqui a deixa, para que nós nos juntemos a essa missão, que nesse início de conversa, antes se resume a reunir informações ante aos questionamentos mais presentes, de modo a ter não só esclarecimento, mas também boas armas de entendimento para com os outros.

Precisamos sair dessa espécie de Matrix, e começar a resgatar os outros.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Talking 'bout my generation

É impressionante ver como estamos perdidos e nem nos tocamos. Não nós, eu, você e mais uns três amigos, mas toda uma geração. Acho que se estratificarmos as pessoas que nasceram entre mil novescentos e oitenta e oito e mil novecentos e noventa e um, vamos ter que fazer um esforço para encontrar um ser humano virtuoso.

Não sei explicar o que houve, se foi o alinhamento dos astros, ou a influência de astros do Rock, que nos fez sair assim, profundamente niilistas. Nós somos realmente uma geração perdida em álcool e sexo, para a maioria, e drogas, para uma minoria. E nós achamos isso um máximo. Essa vilipendiação de nossa própria dignidade. Nós nos achamos muito melhores que os mulequinhos de hoje, porque eles curtem Jonas Brothers, que não bebem nem usam drogas, enquanto nós éramos fãs do Oasis, que se dizia maior que Deus.

Se vocês conseguissem ver como eu vejo, como isso é TOTALMENTE errado, a maior parte dos problemas, que acreditamos ser individuais, seriam vencidos. Nossa insegurança, nosso medo, nossa inquestionável fé de que não existe nada que seja superior em valor, moral ou físico. Nós somos uma geração que pegou os perdedores das gerações passada e transformou eles em campeões de uma nova cruzada, contra as normas morais e legais, sem atentar para o fato de que são elas que nos fazem mais do que animais.

Nós achamos a religião um embuste e não conseguimos ver o quão mais profundo ela atinge nos espectros da vida de um ser humano, perpassando valores morais, sociais, políticos, jurídicos, e ainda, se você for um homem de fé, garantindo que nós tenhamos a vida eterna. Ela não existe só por existir, ou dar poder pr'um velhinho rico que mora num palácio no meio de Roma. Ela serve para cimentar os laços sociais, preenchendo os buracos deixados pelos abusos de nosso individualismo.

Nós achamos o Amor um embuste, e fizemos dele um embuste, porque achamos que o Amor tem que ser cool, que tudo tem que ser cool, porque nada é por si mesmo. Nossa geração é uma onde o indivíduo não vale nada por si só. A não ser que esteja cometendo uma extrema estupidez.

Nossa geração não vale nada e deveria ser extirpada da face da terra. Nós somos uma erva daninha e, a não ser que nos convertamos em algo melhor, nós seremos a vergonha do futuro. Todo mundo fala que o mundo está ficando perdido. O mundo não está ficando perdido. Nós somos perdidos, a juventude é perdida. Cometeu muitos excessos e não consegue se olhar no espelho sem se arrepender.

Eu vejo essa galera mais jovem, que valoriza um bando de coisas que, quando eu tinha a idade deles era estúpido, e só os excluídos, como eu era, praticavam. Nossa elite social, e daí falo da classe média, porque os mais abastados - ressaltando aí que não são TODOS os abastados, tem um extrato específico ao qual eu vou me referir posteriormente - sempre foram meio perdidos (vocês vão entender meu ponto em breve, quando eu falar do dando que o conforto econômico causa na alma de um ser humano), era um bando de playboys de merda, que pegavam umas patricinhas de merda, e que hoje não são nada. Não sabem nada, não fazem nada, não pensam nada.

Isso certamente ocorreu porque a situação financeira do país se tornou mais confortável. Com mais dinheiro, os pais mimaram mais os filhos, e o mimo, como todos deveriam saber, é o sal na terra de um homem, impedindo que qualquer coisa que seja boa cresça. Também teve a ascensão da cultura das classes populares, que enfrentou um grande processo de marginalização cultural, e aí englobo todas as facetas da cultura, política, artística, social, entre outras, e transformou - afinal, antes da Revolução de Sessenta e Quatro, como sabemos, as massas eram BEM politizadas - aqueles que a ela pertenciam em um grupo de animais. E a cultura niilista desse grupo, que já havia se conformado com seu próprio confinamento em uma zona da qual era impossível sair, foi assimilada com facilidade por uma geração que não precisava, nem conseguia, sair de debaixo da asa dos pais. E de repente TODO mundo achou isso super normal.

Quando ser um gangsta, ou ser um pimp, virou maneiro? Cacete, a duzentos anos atrás, o lugar mais longe que uma pessoa de cor poderia chegar da senzala era um favela, e agora elas estão nas TV's. Não falo que isso é ruim não, o ser humano é igual, e finalmente foi corrigido um crime histórico, e eu excluo qualquer cogitação de racismo em minhas palavras já declarando meu apoio incondicional e admiração por quaisquer grupos de Orgulho Negro - orgulho mesmo, altivez; não um bando de oportunistas que se fazem de coitados para ganhar cotas em concursos públicos. Mas, Deus, o que houve com a mentalidade do mundo, que pegou o antes desprezado de centenas de gerações e transformou em heróis de uma nova geração tão rápido? Não que eles não possam, nem devam, ser heróis, mas os anos nos quais eles correram, injustamente, à margem do acesso a riqueza material produzida pela sociedade, fez com que isso se tornasse um novo Deus. Sintetizando, a rápida ascensão social de uma classe anteriormente marginalizada, no caso, um grupo étnico, baseada somente na capacidade de gerar capital e sua vinculação com a ideia de reparação de um "atraso econômico-político-social" em relação a outros grupos étnicos, deturpou sua mens, antes tão comprometida com seus próprio ideais e cultura - vide os diversos movimentos de Supremacia Negra existentes no mundo. E para eles o dinheiro e a capacidade de gerá-lo se tornou tudo.

E foi muito rápido. Isso pode significar duas coisas: Uma mentalidade mudou completamente, ou uma mentalidade foi corrompida, para que os papéis tradicionais de herói e bandido tenham se invertido*. Muita gente fala de Amor, Solidariedade, e essas coisas todas, importantes sim. Mas pra essa gente, isso é retórica para por em prática uma leniência e transigência moral inaceitável. Eu não considero isso uma mudança de mentalidade. Acredito que nossa mens foi corrompida, porque em algum momento, algum idiota disse na mídia que nossos pais não eram satisfeitos com suas vidas, ou alguma estupidez dessa, e alguém disse: "Hey, vamos tentar o inverso!" Claro que, se nossos pais são satisfeitos, viram um exemplo. Se não são, você cata outros de gente que deu certo em um contexto geral (para deixar claro que esse contexto envolve MUITO mais do que a vida econômica da pessoa). Porra, garanto que qualquer pessoa foda não vai achar um Liam Gallagher da vida um semelhante, um igual. O cara odeia o irmão, não tem, aparentemente, uma vida amorosa feliz, é feio, canta mal e tem um cabelo rídiculo. (eu gosto de Oasis, juro.)

Mas voltando ao assunto dos rappers. De repente você tem a fina flor da sociedade achando isso, essa galera que antes era tido como escória, agora assumindo hábitos normalmente associados a brancos, maneiro. É compreensível o ódio de alguns rappers negros por brancos e rappers "zoeiros". Porra, os caras te escravizaram pra ganhar dinheiro, e agora você tá venerando um estilo de vida que eles criaram, afinal esse niilismo todo é europeu, e esse consumismo todo, americano, às custas do suor de gerações da sua família?! Tem alguma coisa MUITO errada nisso. Não que deva haver uma guerra racial, nem nada do tipo, mas falta dignidade nessa forma de pensar. All this shit is fucking ridiculous, como diria o grande Kanye West.

Nós achamos foda um estilo de vida onde o que importa é ter. Pode parecer clichê, mas é verdade. Todo mundo sempre teve que ter alguma coisa, pra pertencer a algum grupo, para já começar contestando essa galera que acha que antes do surgimento do capitalismo a galera vivia a pão e água, bando de ascetas doidões. Não é assim também. Mas porra, agora você só é o que você tem. Nisso sacanearam. E se você tem contato com pessoas mais simples, que refletem mais sobre a própria condição, sem ter medo do monstro que se esconde dentro de todos nós, a parada, ainda que um pouco melhor, é díficil também. A galera tá experimentando de tudo, achando que tudo é traquilo de fazer. Não é. O futuro é consequência direta do passado (e o presente só existe como abstração retórica - mas isso é assunto pra outro texto...).

Tem essa parada também, e eu não sei se a relação é unilateral ou recíproca. Nós somos seres muito mais musicais do que todo mundo que veio antes, à exceção das minorias daqueles loucos anos sessenta, setenta. E nossa música reflete nossa vida, e nossa vida reflete nossa música. Nosso rock é tosco, é triste, é embriagado. Nosso hip hop é gangsta, pimp. E nossa música vende modos de ser. E um modo de ser fracassado. Nós redefinimos a palavra cool pra nos referirmos a fracassados. Kurt Cobain era um fracassado. Foda-se se ele entendia seus sentimentos. Se isso ocorria é porque você tem sentimentos de um fracassado.

E pra uma geração que valoriza o ter, nós não valorizamos o sucesso com esforço. CARACA, um desses milionários americanos aí da gilded age começou sendo engraxate. E ficou milionário. Você acha que ele gastava dinheiro na boîte? Ou que não trabalhava? A maior parte das pessoas que constitueam as castas altas da minha geração são um bando de nouveau riches (esses são os abastados problemáticos aos quais eu havia me referido), que surgiram agora na história do mundo, graças a um provável esforço de alguém na família deles, e eles mesmo não querem se esforçar, querem curtir a vida, sem pensar no que vão deixar para o futuro, do mundo e de suas próprias famílias.

Aliás, me diz Deus, que graça é essa que todo mundo fala que tem em ser jovem? Claro que tem vantagens que os maduros não têm, como as físicas, mas que graça tem nesse lifestyle jovem, que se serve de uma ostensiva propaganda pra vender um niilismo tosco, de praia e boates? Não sou contra a diversão não, longe disso, todo mundo que me conhece sabe que eu me divirto bastante, mas eu sei que isso, na minha vida, não é ABSOLUTAMENTE nada.

Nossa geração despreza o futuro, a reflexão. Ou quando reflete, reflete sobre coisas distantes da nossa realidade, pra impedir que a reflexão seja "contaminada com opiniões pessoais"! Qual o medo da individualidade? Que insegurança é essa? Somos inseguros porque sabemos que estamos tomando o caminho errado.

Gosto de ver a galera mais nova, que mete a cara, fala que tá certa mesmo, mais certa que você, que é mais velho que ela, e que acha foda ser inteligente, virtuoso, e essas paradas. Nós somos lixo, lixo que tentou voar alto, se deparou com sua própria condição de inferioridade e caímos num mar de insegurança. Nós somos Ícaros sem dignidade nenhuma. Nós nos tornamos o que sempre veneramos. Nada.

* Vejam bem, sou a favor de uma mudança maior do que uma simples inversão. É muito importante a formação do ideal de herói (por herói entenda-se qualquer pessoa admirada) e vilão (qualquer pessoa antagonizada por uma maioria) na mentalidade humana, ainda profundamente maniqueísta. Ressalto que não sou a favor de um herói WASP, que luta pelo cristianismo e bla bla bla, e um vilão de qualquer outra etnia e orientação religiosa. Sou a favor de heróis que lutem pelo bem, pelo moral, e não pelo materialismo fútil do dia de hoje.

P.S.: Talvez esse texto tenha futuras revisões e desenvolvimentos, mas tava testando escrever um texto de supetão, e aproveitei o desprezo que eu tenho por essa merda toda. (K.W., fecho contigo!)

sábado, 9 de abril de 2011

Nova Promessa

Prometi que nunca mais iria namorar.
Prometi que nunca mais iria beber até cair.
Prometi que ia tentar não me atrasar mais. Até que progressivamente as coisas vão mudando.
Prometi que nunca mais iria desconfiar dos meus amigos, e que todas as dúvidas seriam sempre sanadas.
Prometi que nunca mais iria deixar que roubassem o meu espaço, e nem me forçassem a fazer coisas que eu não queria fazer.
Prometi que nunca mais iria magoar ninguém. Por mais que algumas pessoas achem que isso é inevitável, eu nunca vou conseguir me conformar com isso.
Prometi que iria buscar até o fim o propósito, e passar a perna no destino.

Eu falhei? Não sei.
Mas to achando que a última é impossível.
É que dá raiva na forma como o destino passa a perna em você e tu não pode fazer nada.

Prometo que de hoje em diante vou tentar cumprir minhas promessas com mais empenho.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Nihonjin

Dada a gravidade da situação nos reatores da usina de Fukushima, 50 trabalhadores permanecem nas instalações da central de Fukushima dando suas próprias vidas para resfriar os reatores danificados e o material irradiado, evitando um acidente nuclear ainda maior no país.

Em um ambiente contaminado pelos altos níveis de radiação, estes funcionários da companhia Tokyo Electric Power (Tepco) tentam resolver os problemas provocados pelo colapso dos sistemas de resfriamento e alimentação elétrica da central. Este colapso já causou a fusão parcial de três dos reatores da central e a exposição das barras de combustível, que também ameaçam entrar em fusão, ao ar livre, liberando na atmosfera quantidades consideráveis de elementos radioativos.

Estes últimos trabalhadores presentes na central, após o terremoto seguido de tsunami da última sexta-feira, foram retirados do local por um momento ontem, quando o nível de radioatividade aumentou de maneira alarmante.

Nós sabemos que é pouco provável que eles sobrevivam, dependendo da dimensão das exposições à radiação, pois há um limite para as roupas anti-biohazard, é difícil proteger da radiação muito forte. No acidente em Chernobyl, nenhum dos trabalhadores que trabalharam na construção da estrutura de blindagem à radiação sobreviveu.

Estes são homens que não se importam em dar sua vida pelo seu povo. São em tempos escuros, de dor e destruição, que redescobrimos o significado da palavra que pôde resumir toda a cultura de um povo como o japonês: Honra.

terça-feira, 15 de março de 2011

"I Get up" parte I

Foda-se, tinha escrito um texto enorme com esse mesmo titulo fazem 3 semanas mais ou menos, mas não postei, sei lá, acho que bem ou mal eu sabia que não refletia de verdade o que eu sentia, estava muito feliz mas sem motivo nenhum, só que, assim como tudo na vida, sempre existe um motivo e quando não se acha um motivo pra alguma coisa pode ter certeza que algo está escondido ali, no meu caso estava tentando esconder uma profunda tristeza com a minha situação, mesmo tendo tudo pra não precisar estar passando por isso.
Mas que se foda, as vezes se pode ter tudo e mesmo assim se sentir miserável, alias, isso é bem mais comum do que se parece... Não vou mentir, tenho coisas que muitas pessoas não tem, ou tem de forma incompleta, uma família bem estruturada e fundamentada em valores importantíssimos como: honra, conhecimento, lealdade, respeito, honestidade e amor. Na parte material também não posso reclamar, tenho tudo o quero e muitas das vezes até o que eu não quero / pedi. Isso me mimou, bem ou mal, as coisas caem do céu pra mim, não digo que já não passei dificuldade ou lutei pra conseguir algo, sempre temos nossas conquistas, grandes ou pequenas, e nem tudo foi sempre tão fácil aqui em casa, no entanto, eu deixo as vezes de ir em busca dos meus ideais por medo de botar minha cara a tapa, medo de ser julgado, medo de me fuder, ao invés de usar o que eu já tenho pra crescer e alcançar novos patamares por meu esforço, eu me acomodo na mediocridade, escolho ficar em minha zona de conforto esperando que as coisas se acertem, isso me mata aos poucos e me priva de um dos maiores prazeres da vida, olhar o que você construiu e dizer "Essa porra fui EU que fiz."
Eu sou o meu maior juiz, eu julgo tudo que faço por ser extremamente analítico e isso faz com o que eu me cobre muito, não me deixo errar e erro exatamente por isso, só que eu esqueço que não sou diferente de ninguém, já dizia o pagode: "Todo mundo erra, todo mundo vai errar.", todo filho da puta erra, só Chuck Norris e Charlie Sheen que não, ou seja, por que eu me cobro tanto se eu não sou diferente de ninguém? Se eu me colocar por baixo sempre, sempre estarei lá, e porra, eu não mereço estar por baixo, eu não tenho motivos para estar por baixo, muito pelo contrário, eu sou muito melhor do que eu acho que sou, e sou melhor que a maioria das pessoas, foda-se, se eu não pensar assim quem vai passar por mim? O mundo é um lugar onde todo mundo tenta fuder todo mundo, sim, uma grande suruba, que se você bobear vão ter comido seu cu e tu não meteu em ninguém (mamonas oe), e eu não quero terminar com o cu ardido e o pau na mão, não quero e não vou!
Me faltava garra, força de vontade pra realizar minhas conquistas, sempre tive sonhos muito bonitos, mas sonhos sem essas duas coisinhas são apenas palavras ao vento e já estou cansado de proferi-las. Agora a briga de foice vai começar, vou apanhar muito, mais que se foda, o importante é aprender e crescer com isso, so bring it on mothafucka!
Ao som de: J.Cole - I Get Up

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Manifesto sobre o Namoro

Você aprendeu a namorar vendo novela?
Você já foi chantageado emocionalmente por idéias subjetivas e muito questionáveis do modelo "quem ama (não) faz isso"?

Se sim, parabéns, você faz parte da massa.

Este texto é um prosseguimento de Manifesto sobre o Amor.

Há algum tempo atrás, tomei a decisão própria de que não mais namoraria, até completar uns 30 e poucos anos. Essa decisão teve base em experiências com relacionamentos passados meus e de outros.


Quando a gente gosta de alguém, significa que temos afinidades, produzimos respostas sensoriais (às vezes automáticas) associadas ou à pessoa dada ou a características/comportamentos relativos à tal.

Assim, um relacionamento qualquer que seja é uma troca de experiências sensoriais, e também de informações com o objetivo indiretamente semelhante. Alguns tipos de relacionamentos possuem regras, claras ou não, como forma de delinear melhor esse tipo de estimulação mútua.

O sexo, por exemplo, é prazeroso, e é portanto uma ferramenta de estimulação sensorial mútua, sendo parte por isso de alguns relacionamentos na sociedade humana, como o namoro ou o casamento.
Já a poligamia do parceiro pode ser desprazerosa e desagradável para algumas pessoas, sendo para elas, portanto, algo incompatível com um namoro.

Vejamos, abdicar da poligamia é restringir sua liberdade de escolha em um aspecto. Isso requer um gasto de energia por parte da pessoa que o faz.
Logo, se o indivíduo se sujeita a um tipo de acordo com essa cláusula, esse acordo deve ser recompensante por outro lado, naturalmente. Quando ele deixa de ser recompensante, o acordo deve ser desfeito.

Por isso eu duvido que namorar seja algo coerente nos dias de hoje para o cidadão médio.

Vejamos.
  • O namoro é um acordo que firma um relacionamento de cunho amoroso entre duas pessoas. É de comum senso que ele seja monogâmico também. 
  • Para manter um relacionamento deste tipo operando devidamente, é necessário, como nós sabemos, que ambas as partes invistam tempo, dinheiro e energia em estimulações sensoriais de uma gama indizível de coisas.
    • Como prazeres sexuais, paixão, carinho, afeto, humor, alegria, conquista/realização de feitos, entre muitas outras coisas. 
    • Como uma empresa, em que os sócios precisam investir recursos para obter retorno.
  • Como qualquer compromisso firmado, decorre que há direitos e deveres. Você tem o dever de ser fiel, e tem o direito de cobrar fidelidade. Você tem o dever de investir energia, e o direito de cobrá-la.
Perceba que há, devido ao caráter formal do acordo, cobrança de ambas as partes, sob pena de desqualificação social e moral perante ao círculo de pessoas conhecidas entre ambos, perante aos quais foi firmado o contrato social.
Alguns psicólogos levemente desprovidos de capacidade de abstração vão confundir esta característica com o objetivo do relacionamento em si, chegando a dizer que o "namoro é para os outros mesmo" - por causa daquela teoria que fala da aceitação ao grupo, lembrado? Cuidado, dizer que ele é qualificado para dizer isso é um argumento ad hominem - uma falácia das brabas.

Se tomarmos por característica humana a tendência à escolha de mais baixo potencial de energia - o que uns chamariam de preguiça, outros de falta de energia, outros de 'N coisas que significam a mesma coisas de antes mas munidas de pretextos diversos' - o compromisso mútuo vai levar inexoravelmente ao esgotamento energético de uma ou ambas as partes, levando à crise e possível colapso do relacionamento.
É como se os dois sócios da empresa ficassem depositando e tirando dinheiro investido nela a todo momento, de modo desorganizado.

Algumas pessoas vão dizer que é preciso ter fé, que é preciso ter coragem pra encarar as crises, os problemas, isso e aquilo, aquele romantismo de filmes e novelas, ou algum blábláblá que alguém/alguma revista ensinou.
Elas só não vão saber dizer o porquê disso, exceto quando tentam formar as clássicas tautologias que levam aos inexoráveis "Sim por que sim/Não por que não".

Se dêem ao luxo de pensar: o que é que se constrói de um relacionamento senão a história deste? Depois que as sensações acabam (e elas são substâncias químicas), é a única coisa que sobra.

Então sobre essa épica idéia de perseverança, vejamos.
Suponha que eu tenha um recipiente com 20g de um sal qualquer, e jogo 100ml de um solvente qualquer. O sal dissolve quase completamente, restando um pequeno corpo de fundo apenas.
Ora, se eu jogo mais 100ml do mesmo solvente e o corpo de fundo não dissolve, então o corpo de fundo não é composto do mesmo sal que o resto.

Isso mostra que o problema, muitas vezes não está na forma de procedimento, mas na incompatibilidade de sua estrutura com os elementos tratados por ele.

O namoro presume que as pessoas possam usar o contrato social firmado através do pedido de namoro como forma de conseguir o que quer da outra pessoa, e não o objetivo essencial do relacionamento, que é o relacionamento propriamente dito - a troca de experiências sensoriais de qualquer grau que seja, como dito antes. Isto é, ficam se fazendo valer do compromisso assumido pelo outro para ter o que desejam enquanto direito sem que se cumpra seu dever.
Você já ouviu a clássica do cafajeste "mulher segura pára de dar"?
Alguns casais menos, outros mais frequentemente fazem isso. Obviamente isso corrompe a relação, pois é de um feito corrupto por si só. Fato é que as pessoas se acomodam eventualmente e deixam de procurar a conquista diária do outro - elas estão se salvaguardando dos direitos implicados pelo contrato.


Eu não namoro pois acho necessário que se pratique a confiança na outra pessoa, e não em um contrato.
 De maneira que, se eu gosto de alguém, nunca vou propor nem persuadir a outra pessoa a firmar um acordo só para que eu possa me sentir seguro dos meus direitos a partir daí.
  • Se eu gosto de verdade de uma pessoa, serei naturalmente impelido a agir de forma pró-ativamente estimuladora (como definido anteriormente). 
  • Vou assumir que ela vá querer fazer isso também caso goste de mim - isto é, ela não tem a obrigação de me retribuir. Faço por que gosto e ela pode fazer por que gosta também.
  • Se no entanto eu me sentir insatisfeito com o resultado da operação, eu poderei diminuir o investimento sem qualquer obrigação, o que poderá ser ou não sentido por ela. 
    • Caso não seja sentido, singifica que o relacionamento não tem futuro, pois o objetivo primário é de investir energia estimulando é se sentir estimulado. 
    • Caso haja resposta positiva de reinvestimento, aí eu posso querer escolher a voltar a reinvestir.

E isso tudo tende ao equilíbrio dinâmico do investimento, como o mercado no modelo neoliberal.

Então posto isso, que coerência tem para o paradigma atual usar de um acordo para firmar um relacionamento? Isso é condená-lo ao insucesso e expor o relacionamento básico com a pessoa ao risco de extinção. Em casos mais graves, o próprio relacionamento entre os círculos envolvendo o casal.

A confiança é a faculdade através da qual se dá um crédito de algum tipo a algo ou a alguém.
Logo, a confiança na outra pessoa deve ser inquestionável desse ponto de vista - se você gosta dela, tem que confiar nela. Ora, se você investe em alguma coisa, precisa ter alguma confiança naquilo, baseada de preferência em evidências bem analisadas.
Como você vai investir em algo em que você não tem confiança nenhuma em que vai te dar retorno?


No entanto, isso não significa que você pode cobrar à outra pessoa explicações e explicações de todas as coisas que ela faz. Isso significa que você deve confiar apenas, isto é, dar o crédito de que esta pessoa usará de seu bom-senso na forma de agir contigo e com os outros perante você, para qualquer coisa que seja.

Veja também que esse modelo pode ser aplicado a homossexuais, dos quais inclusive pode-se tomar casais muito mais estáveis que a média sem haver no entanto uma união formal, fruto de uma mentalidade aberta a questionamentos e pró-ativa em resolver-se honestamente.

O Arquiteto explicou a Neo que foi o Oráculo, um programa intuitivo, quem formulou a resposta para a aceitação da realidade implicada pela matrix, com 99% de sucesso: desde que as pessoas tivessem escolha, mesmo a um nível subconsciente, elas aceitariam o programa.
Isso explicita a melhor forma de controle indireto do ser humano, a delusão da liberdade de escolha. NWO fikdik.

Como já foi dito desde o início desse blog, as pessoas só escolhem a melhor opção que conseguem calcular ao momento da escolha.
Nós sabemos que o fato de existir vida é estranho do ponto de vista termodinâmico, onde o aumento de entropia favorece o acontecimento das reações, ou seja, o aumento no número de moléculas, a decomposição de moléculas grandes, é uma reação favorável desse ponto de vista.
Somos um amontoado de moléculas bem grandes. Somos uma grande soma de mecanismos de controle do ponto de vista cinético de reações, para evitar o aumento de entropia. E as moléculas procuram o caminho cinético de mais baixa energia no momento em que estão reagindo.
Talvez não seja diferente conosco.

Você quer fazer o outro feliz?
Pare de palhaçada, vá e faça - não tire a liberdade dele para seu próprio cortejo. Se você o fizer, é provável que ele vá fazer o que você quer naturalmente. Se você não conseguir, tudo o que ia fazer estabelecendo o acordo seria acabar de uma vez com todas as esperanças.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Hope

Esperança. É a delusão humana quintessencial, simultaneamente a fonte da maior força, e da maior fraqueza nos homens.

Eu não sei se vou conseguir manter a minha.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Para minha irmã, nos seus quinze anos

Isabelinha,

os quinze anos são, na vida de uma menina, um momento de transição. Poder-se-ia crer que a transição é imposta, como a de uma larva a uma borboleta, mas, graças a Deus, que nos concedeu o Livre Arbítrio, não é bem assim. É uma transição cheia de escolhas, a de uma menina em uma mulher, e é isso que você está se tornando hoje. Uma mulher.

Nós tivemos pais que conseguiram nos incutir uma formação ética profundamente virtuosa. Cada um de nós, a nossa forma, expressa esse ensinamento em nossa realidade específica. Este é um dos pontos que pretendo tocar. Sei que não sou seu pai, nem sua mãe, mas assim como aprendi lições valiosíssimas com você, acho que você pode fazê-lo comigo. Sempre se porte da forma mais ética possível, e quando a ética não couber, como em alguns tipos de relações pessoais, use a moral para ponderar.

Nunca atue pensando somente no momento. Agora sua gama de escolhas se expandirá de forma brutal, e você poderá optar entre fazer certas coisas ou não. Algumas coisas nos enganam, parecendo muito prazerosas num momento. Mas você deverá pesá-las numa balança e decidir se valem a pena, se você poderá dormir tranquila depois de tê-las feito. Eu digo orgulhosamente que não me arrependo de nada do que fiz em minha vida. Espero que um dia você possa fazer o mesmo.

“A mulher de César não pode só ser honesta, mas deve parecer honesta”. Essa é uma frase de muitos sentidos, mas em todos eles ela é verdadeira. Conheci meninas ótimas da sua idade, da idade que você está fazendo hoje, mas que, devido as palavras de outrem, perderam seu valor. Claro que temos que descontar os detratores, que pessoas que nem nós sempre terão. Mas nunca se porte de maneira indigna para um ser humano, e especialmente para uma mulher.

As mulheres tem uma função social muito especial. Elas dependem de uma postura perfeita, porque o futuro da humanidade fica nas mãos delas. Pode parecer piegas, mas é a pura verdade. Mulheres tem contadores de valor, baseado em seu histórico. Quer zoar na night, tranquilo. Quer beber um cadinho a mais, tranquilo. Quer ficar com mais que um cara na night... Ops, bad. Nunca faça nada assim.

Sempre, SEMPRE, reflita. Tomar decisões sem reflexão é o princípio do erro. E alguns erros são encadeados, então hão de se perpetuar, até que você pare e reflita. E seja humilde, pra poder (re)tomar sempre a postura correta. Se você errou, admita, volte atrás e faça certo. Se você não errou, finque o pé. Isso não se aplica a discussões bobas. Peça desculpas de zoa. Deus não vai te castigar por isso haha

A humildade vai além disso. Nunca despreze ninguém pela quantidade de dinheiro que ela tem. Eu descobri que as maiores mentes, na maioria das vezes, são as que vivem mais humildemente e que o dinheiro só serve para comprar a ilusão com a qual você vai ter que viver para compensar o que você não tem dentro de si mesmo.

Coloque sempre o próximo na sua frente. Isso evita problemas e vai te deixar feliz. Mas nunca pague o pato. Essa foi uma lição que eu demorei pra aprender, mas não me arrependo.

Tenha ORGULHO. Você É a melhor mulher do mundo, eu sei. Você parece comigo, o melhor homem do mundo! (HAHA zoa) O Orgulho é a melhor característica que uma pessoa pode ter. Orgulho de ser você mesma, melhor que muitos, pior que muitos mais, mas sempre querendo ser mais. Mas Orgulho não é nada sem uma dignidade inquestionável e valores inquebrantáveis. Se você questionar que está errada uma atitude, tenha certeza que ela está.

Tente sempre se superar. Você nunca vai atingir a perfeição, mas não custa nada tentar. A mediocridade é para fracos, que temem os riscos de evoluir, avançar como ser humano. Mas nunca maltrate ninguém que está abaixo de você. Seja sempre caridosa. “Estenda sempre a mão ao pobre, assim como Deus estende ao pecador”.

Nunca se deixe abater. Mesmo quando o mundo estiver caindo, as provas te destruindo, seu namorado te largar pela Simone Simons, irradie felicidade. Pode parecer muito difícil, mas a tristeza é uma corrente muito forte e as únicas correntes que podem te prender aos lados do rio da vida são o ânimo e a paciência. Tudo passa, e se você for positiva, feliz, tudo passa mais rápido. Felicidade atrai Felicidade.

Pense sempre nas mudanças como possibilidades. Um Amor que vai é outro que vem. Pode parecer triste no começo, mas não se deve deixar abater. Deve-se reconhecer a importância do que passou. Nunca menospreze nada. Quem menospreza qualquer coisa na sua vida, se envergonha de quem é. E, bem, você não deve se envergonhar de quem você é.

Por fim, ame. O Amor é o motivo da vida humana e o único caminho pra felicidade. Se você não amar, ou deixar de acreditar no amor, não vale mais a pena viver. Mesmo que um dia pareça mais nublada para você a visão do Amor, nós, sua família, seremos sóis te mostrando o caminho a seguir.

Aqui não tem nada, nada. Viver é MUITO difícil e esses princípios são alguns dos milhões que eu aprendi nesses anos que eu tenho a mais que você. Inclusive, tirando pelo último, não posso nem te dizer que são os mais importantes. Provavelmente esqueci alguns como Perdão e Passividade (tô aprendendo esses ainda haha). Mas se você segui-los, acredite, TUDO será muito mais simples. Por fim, deixo um poema, aliás, três, que resumem tudo que eu disse:

If

Ruyard Kipling (o cara que escreveu “Mogli”)

If you can keep your head when all about you
Are losing theirs and blaming it on you;
If you can trust yourself when all men doubt you,
But make allowance for their doubting too;
If you can wait and not be tired by waiting,
Or, being lied about, don't deal in lies,
Or, being hated, don't give way to hating,
And yet don't look too good, nor talk too wise;

If you can dream - and not make dreams your master;
If you can think - and not make thoughts your aim;
If you can meet with triumph and disaster
And treat those two imposters just the same;
If you can bear to hear the truth you've spoken
Twisted by knaves to make a trap for fools,
Or watch the things you gave your life to broken,
And stoop and build 'em up with wornout tools;

If you can make one heap of all your winnings
And risk it on one turn of pitch-and-toss,
And lose, and start again at your beginnings
And never breath a word about your loss;
If you can force your heart and nerve and sinew
To serve your turn long after they are gone,
And so hold on when there is nothing in you
Except the Will which says to them: "Hold on";

If you can talk with crowds and keep your virtue,
Or walk with kings - nor lose the common touch;
If neither foes nor loving friends can hurt you;
If all men count with you, but none too much;
If you can fill the unforgiving minute
With sixty seconds' worth of distance run -
Yours is the Earth and everything that's in it,
And - which is more - you'll be a Man my son! (Or a woman, my sister – malditos machistas do século XIX)


Invictus

William Ernest Henley

Out of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll.
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul

Simple man

Lynyrd Skynyrd

Mama told me when I was young
Come sit beside me, my only son
And listen closely to what I say
And if you do this it will help you some sunny day

Take your time, don't live too fast
Troubles will come and they will pass
Go find a woman and you'll find love
And don't forget, son there is someone up above

And be a simple kind of man
Be something you love and understand
Baby, be a simple kind of man
Won't you do this for me, son?
If you can?

Forget your lust for the rich man's gold
All that you need is in your soul
And you can do this if you try
All that I want for you my son?
Is to be satisfied

And be a simple kind of man
Be something you love and understand
Baby, be a simple kind of man
Won't you do this for me, son?
If you can?

Boy, don't you worry, you'll find yourself
Follow you heart and nothing else
And you can do this if you try
All I want for you my son
Is to be satisfied

And be a simple kind of man
Be something you love and understand
Baby, be a simple kind of man
Won't you do this for me, son?
If you can?

Baby, be a simple man
Be something you love and understand
Baby, be a simple man (troque todos os “man” por “woman” e os “Mama” por “Bro)

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O Novo (Velho) Homem

Tenho um amigo que constantemente se indispõem com diversos tipos de pessoas. Ele é truculento, brigão, orgulhoso, arrogante, grosseiro e, muitos de seus comentários, desnecessários. Mas também é inteligente, esforçado, orgulhoso, arrogante e de bom coração.

Eu sempre tive vontade de escrever um texto sobre o comportamento desse meu amigo. Eu devo admitir que por muito tempo não o entendi. Até hoje não consigo compreendê-lo totalmente. Não tivemos uma relação fácil durante uns dois anos, talvez pela minha incapacidade de respeitá-lo como ele era, talvez pela incapacidade dele de respeitar qualquer pessoa pelo que ela é. Mas, depois de um tempo, a maturidade e o cansaço nos convenceram a transigir mais e pudemos, enfim, nos tornar amigos.

Com a oportunidade de conviver mais com ele, pude compreendê-lo melhor e, ao final de algum tempo, mesmo a admirá-lo. Ele tem uma qualidade rara de ser encontrada entre os homens de hoje, este bando de ratos covardes. Ele é orgulhoso do que é, e com motivo. Rapaz dedicado, conseguiu sucesso nos estudos, e se considera acima da carne seca pela sua capacidade intelectual superior. Mas nunca vi ele maltratando quem quer que fosse pela sua menor capacidade de compreensão das matérias que ele dominava. Eu mesmo tive diversas oportunidades de debater com ele sobre assuntos que estavam totalmente dentro de sua alçada e totalmente fora da minha, e nestas conversas fui muito bem tratado, apesar de admitir que devo ter lhe dado trabalho, pois compreendia realmente muito pouco das ciências discutidas.

Esta capacidade de compreender as limitações intelectuais de certas pessoas talvez provenha do fato de já ter lecionado, campo aliás onde teve grande sucesso. Apesar de sua famosa grosseria e rudeza, sua capacidade de transmitir o conhecimento só era limitada pela capacidade da pessoa de aprender. Aliás, coisa que repudiava era a falta de dedicação e, consequentemente, o insucesso. Apesar dele mesmo não ter sido sempre um parceiro da fortuna, seus próprios fracassos lhe ensinaram que, para conseguir as coisas que queria, somente com muito esforço e dedicação. Por isso que, independente da capacidade intelectual daquele com quem conversa, bastando que haja esforço por parte deste, se mostra sempre solícito para iniciar quantas vezes que fossem necessárias qualquer explicação.

Imagino que, neste caso, a arrogância seja justificada. Um homem deve se sentir melhor que os outros, porque, caso não se sinta, nunca poderá efetivamente sê-lo. Não pode deixar que o desrespeitem no core do que é ser um homem. Talvez a palavra certa a ser adotada aqui fosse altivez, mas imagino que, para a maioria dos medíocres, qualquer homem que tenha consciência da sua superioridade deva ser considerado um arrogante. A arrogância, diria eu, é a altivez sem sentido, infundada, é um rato querer passar por leão.

Sua grosseria foi impulsionada pela natureza extremamente sincera de seus relacionamentos. Mas nem sempre foi assim. Quando em meio a pessoas corruptas, oprimido, sua arrogância, mãe desta rudeza, o transformou em um fraco, e foi neste período que tivemos mais problemas. Mas, uma vez jogada a luz sobre as sombras que encobriam a verdade deste meio, insurgiu-se contra esta corrupção sem medo e largou de lado os velhos hábitos por ela ensinados. Optou, após, por sempre falar a verdade, não importando o quão grosseira ela fosse. Se a rudez e a grosseria andarem acompanhadas de uma estrita fidelidade a verdade, então imagino que não haja problema em ser rude e grosseiro.

No entanto, nunca virou as costas totalmente para ninguém. Sempre foi adepto da filosofia do perdão. E, tendo havido este, comportava-se como se nada tivesse acontecido antes. Até que lhe traíam a confiança de novo. No entanto, tem um grupo pequeno de amigos verdadeiros, que cultiva ardorosamente. Por estes amigos, faz o possível e o impossível, sempre oferecendo um ombro amigo e palavras de encorajamento. Imagino que tenha um coração tão grande que, mesmo falando algumas coisas sem pensar, dificilmente faria mal a uma mosca e, normalmente, quanto mais violento o comentário por ele proferido, mais provável que ele tenha sido o maior ofendido na história. Imagino que ele estenderia a mão a qualquer um que necessitasse de ajuda, mesmo que alegue que só faria isso aos que realmente merecessem.

Tem hábitos simples, este meu amigo. Toma sua cerveja, tem seus amigos, sente-se orgulhoso de quem é. Este orgulho provém de um misto de suas próprias conquistas individuais e de suas origens. O Orgulho neste caso é fundamental para que o homem confie em suas próprias atitudes e não deixe-se ser escravizado pelas suas paixões. Um homem escravizado pelas suas paixões é um derrotado. Mas nenhum homem deve ser tão orgulhoso de si mesmo a ponto de perder o "common sense" como disse Ruyard Kipling em "If".

Um homem deve ser, acima de tudo, orgulhoso de suas origens. Quem não sai aos seus é um monstro. Imagino que esse homem, provavelmente um resquício de um passado mais digno, deveria vencer em nossa sociedade, apesar de não crer que isso seja possível. Nossa sociedade é fraca e valoriza o fracassado, o problemático, o desencaixado. Consequência de nossa corrupção, onde todos os valores aristocráticos de honra e dignidade foram trocadas pelos valores dos medíocres. Onde todas as virtudes, republicanas ou morais, são motivo de deboche de uma cultura niilista que valoriza o impotente ao mesmo tempo que ensina o forte a pisoteá-lo. Esse meu amigo é um perdido na multidão, um atavismo que, infelizmente, a evolução não está disposta a acatar.

Vejo-me um pouco em seus olhos. Gosto do que vejo. Todo homem deve buscar o equilíbrio, mas a nenhum homem deve faltar o orgulho e a arrogância, em doses sutis, e a simplicidade, a misericórdia e a altivez. Não sei como as pessoas podem não concordar com isso. Talvez a massificação, a Democracia tenham feito isso. àqueles que não são iguais, que não são medíocres, que são melhores, a morte! Todo homem deveria ser um pouco helden, um pouco Cristo. Seus defeitos, eu os perdoo. É muito difícil encontrar as qualidades que atribuo a ele entre os homens de hoje em dia. Ele é um bom homem. Espero que ele ache o mesmo de mim.

Humanidade Latente

Defrontado com a ímpia possibilidade de ver-se livre daquilo, refutou. Porque não seria justo, porque não seria humano. O homem que não revê na última hora seus julgamentos, que não se indaga se o caminho que escolheu está de acordo com sua vontade, não é mais um homem.

Este primeiro parágrafo pode parecer contraditório em relação ao meu último texto. Mas meu último texto falava de um procedimento, de uma regra a ser adotada sempre. Certamente esta regra auxilia na tomada de decisões e na conquista de objetivos, mas ela é um meio e não um fim.

Quando nos dedicamos a algo, podemos sentir angústia devido as dificuldades que decorrem de tal busca, felicidade pela busca em si e diversos outros sentimentos relacionados. Estes são os pequenos fins que precedem um fim maior. A cada momento, o fim é como nós nos sentimos. Se morrêssemos a cada minuto ou hora e ressuscitássemos somente para viver mais um minuto, para usar uma contagem de tempo universal, poderíamos determinar se fomos felizes durante aquele curto espaço de tempo.

O teórico americano Terence McKenna sustentou uma tese de que a história era um círculo onde havia momentos de crise e de bonança. Tal círculo sempre se repetia e com o avançar dos séculos e, consequentemente, da tecnologia, o círculo iria se acelerando até que pudéssemos viver toda a história da humanidade em um dia. Para provar sua teoria, mostrou com a sequencia de crises que ocorreu no século XX era impensável no século X, por exemplo. Claro, poderíamos dar diversas outras explicações para isso, mas a teoria dele tem algo que vale. A prova de que momentos curtos de tempo podem ser a culminação de uma jornada transcendental que escapa a nossa racionalidade.

Quando, por exemplo, você percebe que deixou de gostar de alguém, parece que isso simplesmente aconteceu, mas não foi assim que de fato ocorreu. Sua mente passou por todo um processo de desassociação, não só químico, mas psicológico, e aí reside a transcendentalidade do fenômeno, que escapa a racionalidade humana. A psicologia é o estudo da capacidade de abstração inconsciente da mente humana. Da alma.

Quando falei de vontade no meu texto anterior, não defini exatamente o sentido da palavra. Eu não sabia qual sentido adotar. Até dei algumas pistas de associação nietzschiana, mas não foquei muito no assunto. Vou definir mais um pouco. Falo de uma vontade que combine essa vontade de potência do supracitado autor a arroubos de ponderação racional. Com isso já podemos definir melhor o objeto da primeira parte do texto.

A Humanidade Latente, o que é?

É difícil defini-la. Imaginem um ser humano moldado pela sua sociedade, que consome de ideologias a hambúrgueres e outras contemporaneidades escrotas. Esse ser humano é um lixo, como provarei no meu próximo texto. Quase não é humano. Claro que essa é uma definição subjetiva, mas se você discordar dela, também vou te achar um merda, mesmo que não fale. Este ser humano age mecanicamente segundo os preceitos estabelecidos pela sua sociedade acerca da forma que ele deve agir.

Vamos pegar um outro exemplo. Um nazista, num campo de concentração. Não preciso nem definir o que é um nazista. Escória da humanidade.

Vamos confrontar o primeiro exemplo com uma situação banal, uma criança pedindo esmola. Muito comum, infelizmente, na nossa realidade. Essa criança É invisível para nosso exemplo, um merda, moldado por uma sociedade de merda. No entanto, se esse merda um dia for tocado pela situação de hipossuficiência da criança e der uma esmola, que seja, eu garanto, ele é um dos melhores seres humanos existentes.

Agora o nazista. Os nazistas são o exemplo mais comum de maldade. Mas eu digo, se o nazista olhasse para um jovem judeu, para não pegar situações apelativas onde ele pudesse contracenar com crianças, idosos e mulheres, e sentisse misericórdia, ele seria espiritualmente perdoado pela Divindade. Pela Humanidade.

A Humanidade Latente é justamente isso. Só existe na ação, no momento. Sua abstração é infimamente pequena. No entanto, é justo ela que faz a maior diferença. Em dois sentidos. Ela mostra uma evolução do ser, que tendo sido jogado numa situação de desumanização, conseguiu encontrar em si forças suficientes para reverter os mecanismos que o transformavam numa máquina. E como toda a evolução, esse é um processo lento e que culmina na finalização de um momento temporal, como o minuto dito lá acima. Mostra que esse ser humano passou por todo um processo transcendental onde imperou sobre ele a vontade de fazer o que era de fato humano. Em outro sentido ela mostra uma conexão primal entre todos os seres humanos, a capacidade de amar.

Não digo que todos os seres humanos são iguais, pelo contrário. Acho que existem seres humanos melhores e piores. Mas todo ser humano ama, a princípio. Isso que destaca estes seres humanos entre todos. Quando estavam tendo sua capacidade de amar transformada a frangalhos, conseguiram se reerguer, vencendo a imposição da frieza procedimental que os impunha o comportamento errado que estavam por executar, ou já executando. Eles tiveram a capacidade de se reconectar a humanidade e ao mundo.

Nem todo ser humano faz parte da humanidade, no entanto. Não sei porque, mas somente alguns são parte dela. Não poucos, ou melhor, não sei. Só nesses momentos que impõem a necessidade de se fazer um julgamento demasiadamente humano, mesmo que no último momento de um processo já quase completamente executado, é que podemos julgar a humanidade de uma pessoa. E as humanidades se conectam, entre as pessoas.

Se você se defronta com um ser humano de verdade, sabe. Inclusive, no meu próximo texto, tratarei disso. Ele é sempre orgânico, até nas coisas mais banais.

A parábola do filho pródigo, tão educativa acerca do Amor Divino, deveria ser recontada como uma história de Humanidade Latente, não como foco no filho, mas com foco no pai, que tendo um filho que o abandonou e rejeitou, conseguiu amá-lo quando de seu regresso.

A Humanidade Latente é o Amor. A Humanidade, o que define o ser humano de verdade, é o Amor. E o Amor é Orgânico.
E tudo que é Orgânico é Divino.