A parte mais importante de aprender é o descanso.
É espairecendo, clareando, saindo do eu, deixando ir o peso do trabalho duro e preciso, rigoroso, que você se torna mais do que aquilo. Você supera aquilo que fez.
É a parte aonde você percebe que andou mais uma milha no caminho da morte, e percebe que tudo se tratava de mais uma etapa que te prepara apenas para vencê-la.
Só então você não se apega aos lugares, e segue o caminho com clareza.
Nós somos todos uma árvore gigante, a humanidade. E cada parte de nós tem que crescer como um galho que desabrocha caminhos novos pela planta.
Assim caso você não tenha achado o seu, volte ao seu natural instinto, ao seu eu verdadeiro, que está no coração. Não há meio de não ser o galho - só há folhas se há galhos, e sem folhas não há fôlego.
Pode ser quem seja você, ir aos mais altos montes e sentar para meditar ao lado dos mais santos e tornar-se um e santo como eles é tudo se for seu caminho e se for um atalho para voltar ao caminho, e nada se não o for.
Cada folha, pétala e fruto da árvore é essencial para cada um de nós e todos, pois somos todos um.
sexta-feira, 24 de abril de 2015
domingo, 12 de abril de 2015
Blind by choice
We can easily forgive a child who is afraid of the dark;
the real tragedy is when men are afraid of the light.
the real tragedy is when men are afraid of the light.
sábado, 4 de abril de 2015
De um dia para o outro
De um dia para o outro você pode acordar
E perceber que talvez não quisesse ter
Como a merda que fede por baixo do pano
recoberta e dessabida A verdade não pode ser
É duro saber de sua condição
Éramos deuses sobre os oceanos e flores
Éramos apenas os nossos amores, éramos um
Hoje somos a escravidão
Uma vez fomos senhores de nós
Sem precisar negociar a alma
Parte a parte cada dia por comida
Mas não estávamos a sós
Veio o véu da noite
Sobre a bela terra que nos acolhe
E trouxe com si aqueles que plantaram
e desde sempre colhem dA ilusão
Éramos deus, como os oceanos e flores
Éramos apenas, o amor era luz no caminho
Somos apenas memória fraca de nossa verdade
Da mãe natureza, restou apenas a grama
E perceber que talvez não quisesse ter
Como a merda que fede por baixo do pano
recoberta e dessabida A verdade não pode ser
É duro saber de sua condição
Éramos deuses sobre os oceanos e flores
Éramos apenas os nossos amores, éramos um
Hoje somos a escravidão
Uma vez fomos senhores de nós
Sem precisar negociar a alma
Parte a parte cada dia por comida
Mas não estávamos a sós
Veio o véu da noite
Sobre a bela terra que nos acolhe
E trouxe com si aqueles que plantaram
e desde sempre colhem dA ilusão
Éramos deus, como os oceanos e flores
Éramos apenas, o amor era luz no caminho
Somos apenas memória fraca de nossa verdade
Da mãe natureza, restou apenas a grama
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015
Qualquer semelhança é mera coincidência
- Why do you always focus on the similarities rather than differences?
- Because every single fucking thing is fucking different anyway, you dumb.
As frases não tem a mesma carga no português. Você vê, as diferenças entre a língua inglesa e sua forma particular de praguejar (como colocando fuck em qualquer momento da fucking frase) não são para serem reconhecidas a esmo, são para serem apreciadas.
As diferenças existem aos montes - falando de línguas não parece tanto por existir um sistema padronizado de linguagem aceito que une os cidadãos, porém a língua não é apenas isso. Todo país tem inúmeros regionalismos. Em toda região existem subdivisões e subculturas que fazem parte de um todo indivisível. Tudo remonta ao indivíduo e sua característica de ser único. Então não há diferença para ser reconhecida mais uma do que a outra naquilo que não é universal - como por exemplo a arte.
A diferença é para ser apreciada. A semelhança é que é para ser reconhecida. É dela que se deve falar, pois é muito mais rara.
Se a semelhança for mera coincidência, também é, mera coincidência, a razão de existirmos.
Mas e se não for, afinal, tudo coincidência?
- Because every single fucking thing is fucking different anyway, you dumb.
As frases não tem a mesma carga no português. Você vê, as diferenças entre a língua inglesa e sua forma particular de praguejar (como colocando fuck em qualquer momento da fucking frase) não são para serem reconhecidas a esmo, são para serem apreciadas.
As diferenças existem aos montes - falando de línguas não parece tanto por existir um sistema padronizado de linguagem aceito que une os cidadãos, porém a língua não é apenas isso. Todo país tem inúmeros regionalismos. Em toda região existem subdivisões e subculturas que fazem parte de um todo indivisível. Tudo remonta ao indivíduo e sua característica de ser único. Então não há diferença para ser reconhecida mais uma do que a outra naquilo que não é universal - como por exemplo a arte.
A diferença é para ser apreciada. A semelhança é que é para ser reconhecida. É dela que se deve falar, pois é muito mais rara.
Se a semelhança for mera coincidência, também é, mera coincidência, a razão de existirmos.
Mas e se não for, afinal, tudo coincidência?
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015
Felizes para Sempre?
Antes de tudo, eu queria entender quando foi que começamos a
subverter nossos valores. Não por simples hipocrisia, mas por completo mesmo.
As divisas entre nós são cada vez mais evidentes. Somos
consumidos por responsabilidades, por distanciamentos sociais, por nossas
distrações. Tinder, Instagram, noitada, tudo isso só fomenta a abertura do
grande vale de nada que se cria entre nós. Com um esforço tão grande
pra mostrar ao mundo o que a nossa personalidade representa, e com a exagerada
importância que vemos a opinião do mundo sobre a difusão de nossas personas, as
relações se reduziram ao pó. Superficiais, momentâneas, egocêntricas.
Quando foi que tudo que eu considerava importante, de
repente, tornou-se obsoleto? A cumplicidade, o companheirismo, aquela ligação
forte que une duas pessoas e as torna ainda mais fortes juntas, e a vontade de
estarem juntas, de ser um time. Não falo nem de romantismo, falo de conexão.
De construir algo real, um legado.
Parece um sonho que morreu junto com o Sega Saturn nos anos
90, ou um devaneio que se tornou inviável assim que eu pude enxergar o mundo
com olhos menos ingênuos, mais castigados. Pra que ter um grande amor quando
você pode ter uma trepada através de um simples “like”? Pra que se entregar,
quando uma simples diversão momentânea vai te fazer sorrir e vai manter o teu
ego intacto depois disso? Pra que se arriscar, se o risco não é assim tão necessário?
Hoje somos pessoas insensíveis. Trocamos o respeito pela
satisfação pessoal, sem nos importar com os danos que essa troca pode vir a
causar ao próximo. O que importa é aquilo ali, o momento. Uns acreditam que somos ruins. Eu prefiro acreditar que
cansamos de apanhar e tocamos o foda-se pra vida. Somos fracos e egoístas.
Desistimos do sonho. Trocamos por aquele grito bonito de desespero que a gente
dá sorrindo, mas depois chora sobre a assimétrica maquete de poliestireno que é a vida.
Em algum ponto da cronologia evolutiva humana, nos tornamos
ciborgues movidos a hedonismo (e esqueceram de me avisar).
quarta-feira, 29 de outubro de 2014
Para onde todas as coisas vão
Todas as coisas representam ética, e são alguém - ao passo que se tornam política, e então, tornam-se disputa; deixando, então, de ser qualquer coisa. Mas eventualmente voltam a ser.
Eventualmente, neste mundo, os seres se preocupam com o que são, e se encontram no próprio turbilhão de questões respectivo ao seu modo de ser, correto/errado, vantajoso/desvantajoso. E praticam o que são - Mas não o fazem sozinhos. Assim, ética se torna política.
Ora, o problema, caro Ent, como você pode ver, é que, assim que os seres acham que são apenas aquilo que os outros designam, é que a direção desta corrente se inverte. A política deixa de ser função da ética, e a ética passa a ser função da política, e não do próprio ser ao qual deveria servir.
Os seres tendem então a se perder em suas disputas, pois para eles, algumas vezes mais do que outras, o que os outros pensam sobre alguém ou sobre si tem mais importância que o próprio pensamento. Um país se divide durante uma eleição tal qual se divide durante um jogo entre dois grandes clubes rivais, com duração um pouco maior (algumas semanas) apenas.
Você vê, as pessoas acham que o que estão fazendo é tentando descobrir qual o candidato certo; qual o candidato menos pior; qual o mais ou menos desvantajoso; quais posicionamentos são mais ou menos adequados - como se isso fosse uma busca própria pela verdade verdadeira, ou por uma escolha fidedigna ao que acham que são ou como as coisas devem ser, por um instinto de validação de uma existência baseada no que os outros acham de si.
E quando muito o fazem; na maioria das vezes, arbitrariamente escolhem uma bandeira e a defendem com unhas, dentes, piadas infames e ataques sórdidos compromissados em ocultar a verdade propositalmente - o que é bem diferente de apenas ser descompromissados com a verdade. E ambos os lados fazem isso, cada um consultando seu próprio turbilhão de questões véticas e pescando o que conseguem dali para embutir no bojo de todas as questões. Tem que apelar.
Ironicamente, você vai ter a oportunidade de reparar (se, é claro, você não escolher nenhuma bandeira), que o que se faz com esse modo de ser submetido ao outro é que os bandeirantes de A nada conseguem fazer senão reforçar a ambos B e A que já estão certos sobre suas escolhas - ou seja, nem sequer convencem a alguém. No fim, as pessoas acabam escolhendo lados por coação/coerção e persuasão, e quase nunca por convencimento, do mesmo modo que futebol.
Cara nasce em berço flamenguista, só há alguns cenários possíveis - se torna flamenguista por coerção ou persuasão da família, talvez mude para botafogo por causa da galera da escola (persuasão), quem sabe para o Vasco por causa daquele tio sacana que talvez seja o único que te dá atenção, ou seja, também por rejeição à tentativa de coerção familiar. Ninguém se torna sofredor por motivos racionais, se futebol fosse isso todo mundo torcia pro Barcelona e foda-se o futebol brasileiro.
Do mesmo jeito, na política não tem muito de racional. O que existe é um teatro onde as pessoas fingem se convencer de coisas sobre economia, educação, saúde e direitos como forma de agenciamento, por que todo mundo tá afim mesmo é de sair no lucro no jogo de quem sabe mais o que é melhor pro futuro do país, e desde muito antes já escolheram seus times para torcer.
Em algum momento desses - principalmente se você, ao contrário disso, escolher uma bandeira - você pode se pegar em dúvida a respeito de como tudo isso veio parar aonde está. Outro, caso resista à bandeiragem, pode se sentir impelido a adotá-la. É como se todos os amiguinhos estivessem brincando de pique, e você não. Mas você pára e se pergunta "porra, que que eu ia fazer mesmo?" - como que acordando de um devaneio sobre coisa qualquer que o distraiu na internet enquanto trabalhava; e fica estarrecido quando dá de cara com uma página de pornografia bizarra.
E no fim das eleições, toda essa emoção passa; as pessoas deixam de ser inimigas por razões irracionais, voltam a ser amigas - quem sabe isso também não seja teatro. A ética, quem sabe, passe a não importar mais muito.
Todas as coisas vão parar no gol.
Eventualmente, neste mundo, os seres se preocupam com o que são, e se encontram no próprio turbilhão de questões respectivo ao seu modo de ser, correto/errado, vantajoso/desvantajoso. E praticam o que são - Mas não o fazem sozinhos. Assim, ética se torna política.
Ora, o problema, caro Ent, como você pode ver, é que, assim que os seres acham que são apenas aquilo que os outros designam, é que a direção desta corrente se inverte. A política deixa de ser função da ética, e a ética passa a ser função da política, e não do próprio ser ao qual deveria servir.
Os seres tendem então a se perder em suas disputas, pois para eles, algumas vezes mais do que outras, o que os outros pensam sobre alguém ou sobre si tem mais importância que o próprio pensamento. Um país se divide durante uma eleição tal qual se divide durante um jogo entre dois grandes clubes rivais, com duração um pouco maior (algumas semanas) apenas.
Você vê, as pessoas acham que o que estão fazendo é tentando descobrir qual o candidato certo; qual o candidato menos pior; qual o mais ou menos desvantajoso; quais posicionamentos são mais ou menos adequados - como se isso fosse uma busca própria pela verdade verdadeira, ou por uma escolha fidedigna ao que acham que são ou como as coisas devem ser, por um instinto de validação de uma existência baseada no que os outros acham de si.
E quando muito o fazem; na maioria das vezes, arbitrariamente escolhem uma bandeira e a defendem com unhas, dentes, piadas infames e ataques sórdidos compromissados em ocultar a verdade propositalmente - o que é bem diferente de apenas ser descompromissados com a verdade. E ambos os lados fazem isso, cada um consultando seu próprio turbilhão de questões véticas e pescando o que conseguem dali para embutir no bojo de todas as questões. Tem que apelar.
Ironicamente, você vai ter a oportunidade de reparar (se, é claro, você não escolher nenhuma bandeira), que o que se faz com esse modo de ser submetido ao outro é que os bandeirantes de A nada conseguem fazer senão reforçar a ambos B e A que já estão certos sobre suas escolhas - ou seja, nem sequer convencem a alguém. No fim, as pessoas acabam escolhendo lados por coação/coerção e persuasão, e quase nunca por convencimento, do mesmo modo que futebol.
Cara nasce em berço flamenguista, só há alguns cenários possíveis - se torna flamenguista por coerção ou persuasão da família, talvez mude para botafogo por causa da galera da escola (persuasão), quem sabe para o Vasco por causa daquele tio sacana que talvez seja o único que te dá atenção, ou seja, também por rejeição à tentativa de coerção familiar. Ninguém se torna sofredor por motivos racionais, se futebol fosse isso todo mundo torcia pro Barcelona e foda-se o futebol brasileiro.
Do mesmo jeito, na política não tem muito de racional. O que existe é um teatro onde as pessoas fingem se convencer de coisas sobre economia, educação, saúde e direitos como forma de agenciamento, por que todo mundo tá afim mesmo é de sair no lucro no jogo de quem sabe mais o que é melhor pro futuro do país, e desde muito antes já escolheram seus times para torcer.
Em algum momento desses - principalmente se você, ao contrário disso, escolher uma bandeira - você pode se pegar em dúvida a respeito de como tudo isso veio parar aonde está. Outro, caso resista à bandeiragem, pode se sentir impelido a adotá-la. É como se todos os amiguinhos estivessem brincando de pique, e você não. Mas você pára e se pergunta "porra, que que eu ia fazer mesmo?" - como que acordando de um devaneio sobre coisa qualquer que o distraiu na internet enquanto trabalhava; e fica estarrecido quando dá de cara com uma página de pornografia bizarra.
E no fim das eleições, toda essa emoção passa; as pessoas deixam de ser inimigas por razões irracionais, voltam a ser amigas - quem sabe isso também não seja teatro. A ética, quem sabe, passe a não importar mais muito.
Todas as coisas vão parar no gol.
domingo, 21 de setembro de 2014
Feliz Aniversário
Meu corpo de dor voltou. Desde o dia 15 eu me sinto estranho, mas tem piorado. Aquela sensação de corpo de dor antiga talvez tenha sido reativada por uma programação que eu tenho de desfazer, que é a de que meu aniversário é uma data triste.
Um aniversário deveria ser, teoricamente, a data aonde se comemora o nascimento - e portanto o fato de alguém viver (ou ter vivido) a partir deste. Na verdade, todo dia deveria ser seu aniversário.
Eu me sinto como se meus aniversários anteriores tivessem sido a exultação dos dizeres acumulados durante o ano que o precedeu de que eu era, em essência, algo inferior a um escravo - um boneco, que um tirano qualquer que se denominasse pai ou mãe ou responsável, afim de reclamar autoridade sobre mim, poderia fazer a merda que quisesse ou me obrigar a fazê-la. Já que este paga minhas contas.
Nesta ocasião, as pessoas me presenteavam de coisas que julgam que eu preciso ou quero, sem nunca terem me perguntado nada a respeito - pois é claro, como poderiam; não me conhecem, e afinal criança não tem querer. Neste estranho ritual, celebrava-se a minha ausência de personalidade e vontade chamando pessoas que eu não gosto para comemorar o meu nascimento me dando coisas que eu não quero e conselhos inúteis ou nocivos. Só posso concluir que o meu nascimento teve, então, alguma utilidade sádica na mente deles.
Fico velho e resolvo não mais compactuar com esse tipo de prática. Me chamam de ingrato.
O que dói mais não é a contradição nem o cinismo; é que no fundo, apesar de toda mágoa, eu queria que tivesse sido diferente.
quinta-feira, 5 de junho de 2014
Senta lá
De dia podemos estar num lugar que consideramos bastante silencioso - como num estúdio de música que tem fundo de ruído de menos de -30dB - e de madrugada podemos achar aquilo barulhento. E se vamos para o campo, aquilo é ainda mais barulhento.
John Cage, quando entrou na câmara anecóica, o lugar mais silencioso que haveria na terra, se surpreendeu com o som estrondoso do próprio corpo.
Fisicamente, o silêncio absoluto não existe - ele é sempre referencial. Ele é mental.
Meditar, enquanto o ato de silenciar a mente, é silenciar os pensamentos, portanto colocar todos os sons percebidos e virtualizados numa paisagem, e deixá-los morrerem por um momento nesse lugar de fundo. Nenhum deles é selecionado e todos fazem silêncio, ao não serem figura em relação a esse fundo.
É chamar o ego de Cláudia e mandá-lo sentar lá.
John Cage, quando entrou na câmara anecóica, o lugar mais silencioso que haveria na terra, se surpreendeu com o som estrondoso do próprio corpo.
Fisicamente, o silêncio absoluto não existe - ele é sempre referencial. Ele é mental.
Meditar, enquanto o ato de silenciar a mente, é silenciar os pensamentos, portanto colocar todos os sons percebidos e virtualizados numa paisagem, e deixá-los morrerem por um momento nesse lugar de fundo. Nenhum deles é selecionado e todos fazem silêncio, ao não serem figura em relação a esse fundo.
É chamar o ego de Cláudia e mandá-lo sentar lá.
Sombra da Alma
Aonde foi você que eu conheci
Aquela garota assustada com o mundo
Cheia de sonhos e um filho pra criar
Os óculos de fundo de garrafa
São agora memória nublada
Daquela esperança que não veio a ser
Sonho que veio a adoecer
E morreu em mim
Aonde foi você que eu não conheci
Memórias vividas na imaginação
Cristalizadas em fotos de raros momentos
De portas abertas sorriso a dentro
Mostrando a alma vibrando e um coração
Como será que seria sem Eu
Você voaria livre ou se afundaria de vez?
Como será que seria sem ti
Seria mais fácil ser órfão de verdade do que de mentirinha?
Estive sozinho todo esse tempo
Criado na rua sem a tua presença
E quando voltaram percebi
Que já não fazia mais diferença
Vive hoje a sombra da alma que se perdeu
A vagar num mundo que não percebe
Tateando por aí o caminho de volta pra casa
Aonde foi você?
Aquela garota assustada com o mundo
Cheia de sonhos e um filho pra criar
Os óculos de fundo de garrafa
São agora memória nublada
Daquela esperança que não veio a ser
Sonho que veio a adoecer
E morreu em mim
Aonde foi você que eu não conheci
Memórias vividas na imaginação
Cristalizadas em fotos de raros momentos
De portas abertas sorriso a dentro
Mostrando a alma vibrando e um coração
Como será que seria sem Eu
Você voaria livre ou se afundaria de vez?
Como será que seria sem ti
Seria mais fácil ser órfão de verdade do que de mentirinha?
Estive sozinho todo esse tempo
Criado na rua sem a tua presença
E quando voltaram percebi
Que já não fazia mais diferença
Vive hoje a sombra da alma que se perdeu
A vagar num mundo que não percebe
Tateando por aí o caminho de volta pra casa
Aonde foi você?
sábado, 12 de abril de 2014
Ying Yang
A impressão que temos de que a matéria é condensada é uma ilusãozinha. Os elétrons ficam voando ao redor do núcleo, que é pequeno em relação à órbita eletrônica. As coisas parecem bem duras e densas de onde vemos elas, mas na verdade elas são bem mais vazias do que parecem.
Se a matéria fosse feita dos núcleos em si apenas, não seria nada parecido com o que é, seria provavelmente sem forma e sem as propriedades que conhecemos que acontecem da distância e da separação e divisão. Não fosse essa "ilusão", seríamos apenas uma massa amorfa e sem forma.
Um bloco de mármore não é uma estátua até que lhe tirem pedaços.
É o que se chama de esculpir: a forma surge quando se tira partes afim de propor limites diferentes. Ou mesmo, propor limites.
As trevas são basicamente a ausência de luz.
As luzes se espalham para todos os lados que podem a partir da fonte. As sombras estão nos lugares aonde a luz não atingiu.
As trevas são os pedaços de mármore tirados para que haja a forma.
Não existiríamos sem as trevas. São as trevas que nos dão a forma.
Não excluiremos as trevas. Mestraremos ambos luz e trevas, e assim seremos mais, incondicionais. Só assim a escolha pela luz fará parte da Harmonia.
Tu és pó de estrelas. De luz somos feitos e à luz voltaremos.
Se a matéria fosse feita dos núcleos em si apenas, não seria nada parecido com o que é, seria provavelmente sem forma e sem as propriedades que conhecemos que acontecem da distância e da separação e divisão. Não fosse essa "ilusão", seríamos apenas uma massa amorfa e sem forma.
Um bloco de mármore não é uma estátua até que lhe tirem pedaços.
É o que se chama de esculpir: a forma surge quando se tira partes afim de propor limites diferentes. Ou mesmo, propor limites.
As trevas são basicamente a ausência de luz.
As luzes se espalham para todos os lados que podem a partir da fonte. As sombras estão nos lugares aonde a luz não atingiu.
As trevas são os pedaços de mármore tirados para que haja a forma.
Não existiríamos sem as trevas. São as trevas que nos dão a forma.
Não excluiremos as trevas. Mestraremos ambos luz e trevas, e assim seremos mais, incondicionais. Só assim a escolha pela luz fará parte da Harmonia.
Tu és pó de estrelas. De luz somos feitos e à luz voltaremos.
terça-feira, 8 de abril de 2014
Harmonia
Toda onda
naturalmente produzida entrega consigo um conjunto de harmônicos para além da
frequência fundamental. Se esses harmônicos são múltiplos inteiros da
fundamental, então temos uma série harmônica e é possível perceber uma nota -
por que os harmônicos que soam junto da frequência fundamental não realizam
interferência destrutiva na onda resultante de modo que a descaracterize.
A
configuração das intensidades destes harmônicos entregues juntamente com a
frequência fundamental é chamada de timbre
- esta configuração altera o desenho da onda resultante da soma de fase
dos harmônicos com a fundamental. Por esta razão podemos distinguir sons
diferentes na mesma frequência.
Música é a
atividade humana que consiste da seleção de sons e organização destes com a
intenção de dramatização.
Harmonia é
a sensação provocada pela organização de sons cuja frequência é proporcional,
isto é, é igual senão pela multiplicação de um escalar inteiro (100hz, 200hz, 300hz,
400hz, etc harmonizam). A percepção da harmonia entre dois sons prescinde o
entendimento de que dois sons soam bem juntos e são parecidos.
A idéia de
organização dos sons é feita com a intenção de dramatização, mas de onde vem a
sensação boa provocada pela harmonização em si?
O budismo
nos diz que tudo é ilusão; bem, a faixa de sons que ouvimos é bastante
limitada, e mais ainda é a faixa de comprimentos de onda luminosa que
enxergamos. A verdade é um sonho impossível: para sabermos a verdade holística,
ulterior e transcendente, seria necessário tudo saber - tudo o que já
aconteceu, acontece e acontecerá, e tudo o que for durante todo o tempo em que
o universo vier a ser. O que é impossível, visto que a percepção é limitada
(entre outros motivos).
O que a
organização e a sistematização permitem é que haja um vislumbramento de um todo
mesmo que não haja a percepção de parte de seus elementos. A partir da
experimentação dos fragmentos presentes na natureza, os químicos foram capazes
de desenhar o modelo da tabela periódica, prevendo a existência de elementos
que ainda não existiam ou não haviam sido descobertos.
O que há de
belo na harmonia é portanto a verdade transcendente vislumbrada por trás da possibilidade
de todos os sons, que é sentida na combinação de dois (dentre inúmeros possíveis)
sons que somam construtivamente suas fases e harmônicos - entregando toda uma série harmônica junto que é percebida, conscientemente ou não.
sexta-feira, 14 de março de 2014
O amor é meu escudo
Para uma velha senhora.
O amor é meu escudo.
Eu sei o que você é, conheço você, sei o que você quer e sei que não é coisa boa.
Eu sei pelo que você passou, sei o que tem acontecido, sei por que você está nessa.
Não, eu não tenho uma solução para sua vida, não posso te ajudar, só você pode ajudar a você mesma.
Não é que eu não queira ajudar a você, é que eu não sou nenhum anjo. E mesmo que eu fosse, não poderia lhe ajudar assim mesmo.
Na verdade ninguém pode ajudar a ninguém, senão a si mesmo. O máximo que pode fazer é compartilhar o próprio ser com o outro, e se o outro quiser, ele pode se ajudar a partir disso.
Não, eu não tenho medo de você. Apesar da cara feia.
Eu sei o que você é, eu conheço você, e é só assim que eu aceito exatamente o que é.
Eu aceito isso por que eu amo você.
Eu amo você por que eu sou você.
Eu sou você por que eu sou Deus, e Deus é você também. Eu sou Sua mão esquerda, e você é Sua mão direita.
Você não pode fazer nada a mim, não pode me machucar, não vai me ferir, só a você mesma.
Eu sei o que você é, e você está comigo no meu coração.
E por isso eu te deixo ir agora.
O amor é meu escudo.
Eu sei o que você é, conheço você, sei o que você quer e sei que não é coisa boa.
Eu sei pelo que você passou, sei o que tem acontecido, sei por que você está nessa.
Não, eu não tenho uma solução para sua vida, não posso te ajudar, só você pode ajudar a você mesma.
Não é que eu não queira ajudar a você, é que eu não sou nenhum anjo. E mesmo que eu fosse, não poderia lhe ajudar assim mesmo.
Na verdade ninguém pode ajudar a ninguém, senão a si mesmo. O máximo que pode fazer é compartilhar o próprio ser com o outro, e se o outro quiser, ele pode se ajudar a partir disso.
Não, eu não tenho medo de você. Apesar da cara feia.
Eu sei o que você é, eu conheço você, e é só assim que eu aceito exatamente o que é.
Eu aceito isso por que eu amo você.
Eu amo você por que eu sou você.
Eu sou você por que eu sou Deus, e Deus é você também. Eu sou Sua mão esquerda, e você é Sua mão direita.
Você não pode fazer nada a mim, não pode me machucar, não vai me ferir, só a você mesma.
Eu sei o que você é, e você está comigo no meu coração.
E por isso eu te deixo ir agora.
domingo, 2 de fevereiro de 2014
Sonhador
Você não lembra de como você vem parar aonde vem parar num sonho. Você só se dá conta depois que acorda, e tenta esticar a memória até onde pode, e ver o quanto consegue lembrar.
Eu estava nesse lugar, olhando para dentro de uma casa grande, meio japonesinha, as paredes não eram bem paredes, eram só estruturas de madeira com várias janelinhas quadradinhas de vidro, como que um xadrez. O gramado no chão possuía uns caminhozinhos de pedra ou talvez concreto nos arredores da casa. Estava de noite, e não havia iluminação senão natural, ou seja estava bem escuro. Eu tentei acender a luz do meu celular mas ela não fazia luz direito, sei lá por quê.
Eu estava explorando este lugar, talvez à procura de algo, mas já não lembro o que era, ou talvez não houvesse nada em particular, talvez estivesse à procura de alguém. E encontrei um camarada. Perguntei se havia mais alguém conhecido, ele disse que não sabia.
A gente foi andando pelo caminhozinho de pedra que ficava em frente à casa e ia ao longo da costa - na verdade foi aí que eu reparei que a grama se estendia pouco na direção da frente da casa e virava areia. A praia era linda, a noite produzia um céu escuro, com uma tonalidade bem diferente. Do lado esquerdo do caminho de pedra que andávamos tinha a praia, e do lado direito, a planície gramada parecia envergar num vale ou algo assim, tinha uma pequena depressão e virava uma colina depois.
Estávamos meio perdidos, mas não tínhamos medo. Esperávamos andar naquela direção por algum tempo, por que sabíamos que o mar estava ao nosso lado, e então, através da costa, chegaríamos eventualmente em um lugar que conhecíamos. Estar perdido não era um problema - era bom, o sentimento que havia era de vontade de explorar o lugar, explorar o caminho e cruzar as belas paisagens.
Quando eu acordei, percebi que era um sonho, mas senti que podia ter sonhado um pouco mais. E me perguntei, e se a realidade fosse um sonho, do qual todos nós estamos meio perdidos, sem saber "aonde vai dar"? Mas não importa, por que o perigo na verdade não existe, e o medo é uma ilusão, o sentimento de explorar é mais intenso?
E se viver é, de fato, explorar o sonho?
E se o objetivo é apenas mais uma parte do caminho, se o final é apenas uma das partes do processo todo, que é o que realmente importa?
E se aonde vamos chegar não importa, de fato, porém importa aonde estamos e o que fazemos exatamente agora?
Se um sonho acontece na minha mente, então meu amigo do sonho, com quem eu conversei, na verdade sou eu? Com a certeza de que sou outro, porém ainda assim, o mesmo sonhador falando consigo mesmo?
E se a realidade fosse um sonho, e todos nós fôssemos o mesmo sonhador, com a certeza de que somos outros, porém, ainda um?
E se, como nos sonhos, pudéssemos criar qualquer coisa que queremos ou imaginamos, somente usando a Vontade?
E se tudo o que falta para você conseguir, de fato, fazer isso, é perceber que tudo é mesmo um sonho?
E se você só não percebe justamente por que é o criador da mesma realidade que percebe?
Eu estava nesse lugar, olhando para dentro de uma casa grande, meio japonesinha, as paredes não eram bem paredes, eram só estruturas de madeira com várias janelinhas quadradinhas de vidro, como que um xadrez. O gramado no chão possuía uns caminhozinhos de pedra ou talvez concreto nos arredores da casa. Estava de noite, e não havia iluminação senão natural, ou seja estava bem escuro. Eu tentei acender a luz do meu celular mas ela não fazia luz direito, sei lá por quê.
Eu estava explorando este lugar, talvez à procura de algo, mas já não lembro o que era, ou talvez não houvesse nada em particular, talvez estivesse à procura de alguém. E encontrei um camarada. Perguntei se havia mais alguém conhecido, ele disse que não sabia.
A gente foi andando pelo caminhozinho de pedra que ficava em frente à casa e ia ao longo da costa - na verdade foi aí que eu reparei que a grama se estendia pouco na direção da frente da casa e virava areia. A praia era linda, a noite produzia um céu escuro, com uma tonalidade bem diferente. Do lado esquerdo do caminho de pedra que andávamos tinha a praia, e do lado direito, a planície gramada parecia envergar num vale ou algo assim, tinha uma pequena depressão e virava uma colina depois.
Estávamos meio perdidos, mas não tínhamos medo. Esperávamos andar naquela direção por algum tempo, por que sabíamos que o mar estava ao nosso lado, e então, através da costa, chegaríamos eventualmente em um lugar que conhecíamos. Estar perdido não era um problema - era bom, o sentimento que havia era de vontade de explorar o lugar, explorar o caminho e cruzar as belas paisagens.
Quando eu acordei, percebi que era um sonho, mas senti que podia ter sonhado um pouco mais. E me perguntei, e se a realidade fosse um sonho, do qual todos nós estamos meio perdidos, sem saber "aonde vai dar"? Mas não importa, por que o perigo na verdade não existe, e o medo é uma ilusão, o sentimento de explorar é mais intenso?
E se viver é, de fato, explorar o sonho?
E se o objetivo é apenas mais uma parte do caminho, se o final é apenas uma das partes do processo todo, que é o que realmente importa?
E se aonde vamos chegar não importa, de fato, porém importa aonde estamos e o que fazemos exatamente agora?
Se um sonho acontece na minha mente, então meu amigo do sonho, com quem eu conversei, na verdade sou eu? Com a certeza de que sou outro, porém ainda assim, o mesmo sonhador falando consigo mesmo?
E se a realidade fosse um sonho, e todos nós fôssemos o mesmo sonhador, com a certeza de que somos outros, porém, ainda um?
E se, como nos sonhos, pudéssemos criar qualquer coisa que queremos ou imaginamos, somente usando a Vontade?
E se tudo o que falta para você conseguir, de fato, fazer isso, é perceber que tudo é mesmo um sonho?
E se você só não percebe justamente por que é o criador da mesma realidade que percebe?
Jardim dos Sonhos
Nesse natal de 2013, eu ganhei um livro sobre o Zohar, umas roupas, e uns perfumes. Nesse livro fala-se abertamente de um rabino que conversava na linguagem do coração com seus discípulos numa caverna.
Na noite do dia 24 para o dia 25 eu tive um sonho. Eu estava numa casa meio velha, acho que é no Rio de Janeiro, nalgum lugar como Madureira ou o Méier. Eu declaradamente não gosto da cidade do Rio, acho a vibe de qualquer lugar de lá que eu já fui sempre muito ruim, é sempre ou falsa ou ácida, agressiva. Egóica.
Essa casa parecia uma versão fudida da casa de um conhecido meu. Não tenho certeza se era, mas sei que estava tocando "down in a hole" do alice in chains (olha só isso huauhshuas). Eu tento voltar pra casa e me encontro num bairro no Rio que eu não sei qual é. Mas sei que é no Rio por causa da padronização zuada que tem lá, lugar mó estranho feioso. É a padronização da feiúra e do tanto faz arquitetural, uma farofa danada.
Não passa nenhum ônibus que eu conheço. Uma hora passa um táxi bem velho, meio caindo aos pedaços, eu hesito em pegar e acabo não conseguindo. Procuro ponto de ônibus e abordo transeuntes perguntando sobre como voltar pra Niterói. Uma senhora negra me ajuda, ela me dá 10 reais pra eu voltar pra casa (apesar de eu não precisar de isso tudo) e eu pego um bus pra São Gonçalo que supostamente pararia no terminal (e de lá eu pegaria outro pra casa).
Eu entro no ônibus sento, e durmo. E acordo de novo no lugar que eu estava antes.
Eu tentei me controlar e procurar outra saída sozinho. E fui pra outro lado diferente do que eu ia pra chegar no ponto de ônibus, fui andando na direção contrária de onde eu tava indo. E tinha um jardim que eu achava que era de um condomínio, mas nem tinha reparado nele ainda, distraído tentando voltar pra casa.
Eu ando na direção do jardim e tem 2 saidas: ou eu vou pelo túnel (tipo um túnel rebouças, escurão) e saio em outro bairro, ou, sei lá, eu tento ir pelo jardim pra dar em outro lugar. Eu vou pelo jardim.
E plin, eu de repente me dou conta de que "era ali que eu devia estar".
E o jardim é foda demais, de maneiras tais que eu não devo explicar ou tentar descrever, por que qualquer tentativa ficaria muito abaixo de suas qualidades devidas. Foi o sublime schopenhaueriano.
Tem uma música, tambem do alice in chains chamada "heaven beside you". O tesouro (o jardim dos sonhos) estava ali a todo momento e eu nem vi. E na verdade ninguém viu. Todo mundo passou por ele batido, seguindo suas vidas distraídos e desesperados e atrasados para algo "importante".
Depois que eu me liguei e vi, eu acordei.
Na noite do dia 24 para o dia 25 eu tive um sonho. Eu estava numa casa meio velha, acho que é no Rio de Janeiro, nalgum lugar como Madureira ou o Méier. Eu declaradamente não gosto da cidade do Rio, acho a vibe de qualquer lugar de lá que eu já fui sempre muito ruim, é sempre ou falsa ou ácida, agressiva. Egóica.
Essa casa parecia uma versão fudida da casa de um conhecido meu. Não tenho certeza se era, mas sei que estava tocando "down in a hole" do alice in chains (olha só isso huauhshuas). Eu tento voltar pra casa e me encontro num bairro no Rio que eu não sei qual é. Mas sei que é no Rio por causa da padronização zuada que tem lá, lugar mó estranho feioso. É a padronização da feiúra e do tanto faz arquitetural, uma farofa danada.
Não passa nenhum ônibus que eu conheço. Uma hora passa um táxi bem velho, meio caindo aos pedaços, eu hesito em pegar e acabo não conseguindo. Procuro ponto de ônibus e abordo transeuntes perguntando sobre como voltar pra Niterói. Uma senhora negra me ajuda, ela me dá 10 reais pra eu voltar pra casa (apesar de eu não precisar de isso tudo) e eu pego um bus pra São Gonçalo que supostamente pararia no terminal (e de lá eu pegaria outro pra casa).
Eu entro no ônibus sento, e durmo. E acordo de novo no lugar que eu estava antes.
Eu tentei me controlar e procurar outra saída sozinho. E fui pra outro lado diferente do que eu ia pra chegar no ponto de ônibus, fui andando na direção contrária de onde eu tava indo. E tinha um jardim que eu achava que era de um condomínio, mas nem tinha reparado nele ainda, distraído tentando voltar pra casa.
Eu ando na direção do jardim e tem 2 saidas: ou eu vou pelo túnel (tipo um túnel rebouças, escurão) e saio em outro bairro, ou, sei lá, eu tento ir pelo jardim pra dar em outro lugar. Eu vou pelo jardim.
E plin, eu de repente me dou conta de que "era ali que eu devia estar".
E o jardim é foda demais, de maneiras tais que eu não devo explicar ou tentar descrever, por que qualquer tentativa ficaria muito abaixo de suas qualidades devidas. Foi o sublime schopenhaueriano.
Tem uma música, tambem do alice in chains chamada "heaven beside you". O tesouro (o jardim dos sonhos) estava ali a todo momento e eu nem vi. E na verdade ninguém viu. Todo mundo passou por ele batido, seguindo suas vidas distraídos e desesperados e atrasados para algo "importante".
Depois que eu me liguei e vi, eu acordei.
segunda-feira, 16 de dezembro de 2013
Tá acabando já
A vida material às vezes pode ser como uma partida de jogo que iniciou tardiamente.
De repente alguém te chamou pra sair às 8, e você inicia uma partida de meia hora às 7:45.
O cara chega no meio da partida.
E no meio dela e você percebe que já tá repetindo as coisas sem muita necessidade, e sente necessidade de abandoná-la, mas não vai fazer a desfeita de deixar a experiência pra lá e seus amigos do clã ou equipe na mão.
Então você fica até o final, mas sem se ligar muito com o resultado das coisas, mais interessado talvez no processo em si.
Até que venha o próximo processo, talvez o de sair com o camarada que marcou de sair, e depois o processo de encontrar o pessoal no shopping, e depois o processo de ver o filme no cinema com a galera, e depois o processo de comer, enfim.
Todos são repetições; o que interessa é a experiência dessas repetições, que nunca é a mesma. Mas evidentemente, ela pode se saturar, e você pode entender a ciclicidade. Tal como ver certos tipos de filme pode se tornar mais do mesmo, se há um uso extensivo de clichês e estereótipos.
A não ser que você esqueça tudo e recomece de novo.
De repente alguém te chamou pra sair às 8, e você inicia uma partida de meia hora às 7:45.
O cara chega no meio da partida.
E no meio dela e você percebe que já tá repetindo as coisas sem muita necessidade, e sente necessidade de abandoná-la, mas não vai fazer a desfeita de deixar a experiência pra lá e seus amigos do clã ou equipe na mão.
Então você fica até o final, mas sem se ligar muito com o resultado das coisas, mais interessado talvez no processo em si.
Até que venha o próximo processo, talvez o de sair com o camarada que marcou de sair, e depois o processo de encontrar o pessoal no shopping, e depois o processo de ver o filme no cinema com a galera, e depois o processo de comer, enfim.
Todos são repetições; o que interessa é a experiência dessas repetições, que nunca é a mesma. Mas evidentemente, ela pode se saturar, e você pode entender a ciclicidade. Tal como ver certos tipos de filme pode se tornar mais do mesmo, se há um uso extensivo de clichês e estereótipos.
A não ser que você esqueça tudo e recomece de novo.
sexta-feira, 22 de novembro de 2013
A pracinha de saquarema
A timeline do facebook é, assim como diversas coisas, exatamente como a pracinha de saquarema.
Você viaja pra saquarema pra ficar em casa, boiando na piscina e jogando cartas e tabuleiro - não tem mais nada pra fazer lá; tem uma pracinha, entretanto, que serve como um reduto dos esperançosos por algo que poderia vir a acontecer, mas nunca de fato acontece.
Tudo o que você pode fazer lá
é perder tempo procurando evidências o suficiente para se convencer
de que Nada tem para se fazer lá.
Do mesmo modo, eu fico vendo esses comentários e acabo me lembrando fatalmente de que não tem nada aqui, e sempre dou uma segunda olhada pra ver se não aparece algo diferente, como se estivesse procurando razões pra me convencer de que não há nada que preste aqui.
A sensação de que tudo o que resta é se convencer de que nada resta deveria ter uma palavra própria.
Você viaja pra saquarema pra ficar em casa, boiando na piscina e jogando cartas e tabuleiro - não tem mais nada pra fazer lá; tem uma pracinha, entretanto, que serve como um reduto dos esperançosos por algo que poderia vir a acontecer, mas nunca de fato acontece.
Tudo o que você pode fazer lá
é perder tempo procurando evidências o suficiente para se convencer
de que Nada tem para se fazer lá.
Do mesmo modo, eu fico vendo esses comentários e acabo me lembrando fatalmente de que não tem nada aqui, e sempre dou uma segunda olhada pra ver se não aparece algo diferente, como se estivesse procurando razões pra me convencer de que não há nada que preste aqui.
A sensação de que tudo o que resta é se convencer de que nada resta deveria ter uma palavra própria.
terça-feira, 12 de novembro de 2013
I'm going to take it
"I just want to be the greatest rapper ever. And if not the greatest, then at least one of the best. That's what I want - along with respect.
But I'm not going to beg for respect, or beg for acceptance. I'm going to take it."
Eminem
But I'm not going to beg for respect, or beg for acceptance. I'm going to take it."
Eminem
quarta-feira, 23 de outubro de 2013
Educar para Transcender?
Jorge Sanjinés se reinventou a partir do choque advindo da crítica popular aos seus filmes. É evidente que havia aquele fetiche de que as camadas populares se vissem no cinema, havia essa necessidade de se ver representada na tela. Mas isso não evitou que alguns dissessem que, em seus filmes de denúncia, não viam nada de novo: sofriam na pele aquilo que era mostrado nas telas, diariamente - ninguém precisava lhes relembrar aquilo. Isto expõe a necessidade da transposição do caráter apenas denuncialista para o propositor, o reflexivo e uma idéia de ciclo, e aí fica a pergunta se a própria idéia de ciclo precisa ser também transcendida.
Por exemplo, existe uma condição de financiamento estatal que impede projetos culturais de saírem do papel. Há a denúncia, que deflagra uma série de outras denúncias, até que se esgota o caráter denunciativo. Durante esse processo, pode ou não surgir manifestações propositivas (além de denunciativas), por exemplo projetos de lei que consertem esse problema com os projetos culturais. Daí o projeto de lei pode ou não ser votado, e caso se concretize em lei, suas implicações na sociedade tornam-se eventualmente tema de reflexão - e num futuro, possivelmente essas reflexões venham a produzir novas denúncias.
Traçando uma ligação à condição pós-moderna, esta que enxerga ciclos cada vez menores de criação-implantação-consumo-obsolescência, há também a reflexão sobre a possibilidade de transcender a ciclicidade. O debate é fortemente necessário, pois há um grande ceticismo, presente nas obras, quanto às teorias todo-explicativas (que tem certa pretensão de tudo explicar), por exemplo a luta de classes de Marx ou o inconsciente, de Freud. E surgem cada vez mais artigos relacionando luta de classes e jogos online (com o perdão da metonímia). Vejam este exemplo: http://gamehall.uol.com.br/v10/a-luta-de-classes-ja-chegou-no-mundo-virtual/
É algo sobre o qual se escrever, especialmente em situações de alta desigualdade social, de subdesenvolvimento. Quero dizer que o fato de denunciar em si tem sido esgotado, tal como as teorias todo-explicativas - e elas contribuem para esse esgotamento quando fomentam leituras críticas de temas que não exatamente produzem desigualdades tão sensíveis - vide os temas defasados. Se os ciclos de obsolescência do mecanismo de denúncia-proposição-reflexão estão ficando cada vez menores, o que vai acontecer com a substancialidade das suas respostas?
Digo isso por que parece que os ciclos estão chegando ao fim. Estamos numa espécie iminência constante da transcendência de muitas questões que passam por essa característica de ciclicidade, especialmente sobre alguma variação do tripé ver-fazer-refletir, que é próprio da experiência de ser - não só parte de uma metodologia de ensino de vídeo-processo. O engraçado, em se falar de Cinema e Educação, é que no dia 22/10/2013, estava no II Encontro de Educadores de Cinema e Vídeo, parte da agenda da semana acadêmica. As falas finais estiveram permeadas por palavras em prol da busca pela transcendência.
A busca pela transcendência é, fatalmente, a busca pelo sublime, pela realização do Self, pela libertação das estruturas de controle do Ego, e ela está de alguma maneira, presente nas artes. Essa característica foi apontada como um dos propósitos do cinema.
O que eu digo é que na verdade ela É o cinema - ou melhor, o cinema é a melhor tentativa do homem, a mais forte de todas, de se encontrar fora do eu, encontrar-se fora de si, para que a partir desse encontro, seja capaz de transcender as sensações e o entendimento, e seja quem de fato se é - não o simulacro de si construído pela linguagem, que por mais elaborado e evoluído que seja, é tentativa, não coisa em si. Esse eu é colocado na tela, reconhecido, e aí é transcendido.
Quando uma professora antes apontara a questão da cautela que se deve ter ao lidar com a situação de condicionamento, disse depois que já reconhecia aí, no próprio exercício da produção fílmica, a idéia de transcendência. Esta professora estava falando que alguns alunos estavam fazendo filmes sobre temas denunciativos que não eram próprios da sua realidade, como a gravidez na adolescência e as drogas - estavam fazendo suas escolhas a partir não daquilo que realmente queriam porém a partir de uma expectativa, consciente ou não, de aprovação por parte do professor. Então seria necessário desfazer esse condicionamento, com grande cuidado, afim de que o aluno fosse capaz de expressar-se a partir da sua verdadeira personalidade, e não buscando uma aprovação externa.
O que é essa busca pela verdadeira personalidade senão a busca pelo próprio Self? O que é libertar-se desse ciclo de fisgar-puxar-soltar (cujas iscas são de aprovação, aceitação e outras coisas, que no fundo são o mesmo - moedas de medo) senão libertar-se do próprio Ego? A busca pela transcendentalidade é, fatalmente, a busca pela liberdade - a liberdade de ser mais.
Bom, a quantidade de coisas que a ferramenta pode comunicar (de maneira direta e principalmente indireta) é tremenda, é como comparar fibra ótica à conexão discada. Isso por que a linguagem cinematográfica (com ressalvas da generalização é claro), com toda sua fluidez e subliminaridade comunicativa dá conta muito bem de sequestrar a atenção do espectador, de puxar ele pela gola para dentro da janela e colocá-lo enfiado dentro daquele personagem a quem é associado o plano POV, por exemplo. É através dessa capacidade que acontece o fenômeno de alteridade.
Um dia desses você pode se encontrar pensando alguma coisa que você acha que é de sua autoria, mas na verdade pode não ser bem isso, por que o que proporcionou a confecção daquela idéia foi exatamente a sua experiência de ser o outro, que um filme proporcionou um dia desses e você nem percebeu - só depois, refletindo a respeito. Por isso é preciso uma constante reflexão do que é que está sendo visto na tela, e mais do que isso, é preciso que haja uma resposta.
Em se tratando de Cinema e Educação, existe o desafio de fazer filmes sobre a escola não apenas tomando-a como cenário, porém como agente personificado – isto é, em outras palavras, fazer filmes que dialoguem Com a escola. A escola tem que ser capaz de falar e criar meios para isso, e um deles é a câmera.
A educação – enquanto conjunto de fenômenos simultâneos de aprendizado e ensino – é produto das transposições entre gerações diferentes, e seus modos de ser, agir. O conhecimento e a cultura se produzem e se perpetuam nessa interface e através dessa cadeia de fenômenos incessantes. Então se for possível haver uma ideologia política subjacente ao uso e a criação dos mitos e estereótipos no cinema hollywoodiano (estereótipos como os de professor e o de aluno, por exemplo, que produzem efeitos no inconsciente) então é obrigação dos estudantes de cinema no Brasil (um país tão prejudicado em termos de educação) empreender ações que democratizem os meios de captura e entendimento desses fenômenos, e o mais importante, que respondam aos mesmos – em outras palavras, também tem que ser possível haver uma resposta sensível a essas ideologias subjacentes.
É compreensível que haja um medo do poder da ferramenta audiovisual, uma vez que a capacidade de expressão dela é abismal. Hitler, Stalin e tantos outros construíram cinematografias e influenciaram identidades e deixaram signos no inconsciente daqueles que frequentaram os filmes, em prol de agendas bastante claras, viabilizadas pela máquina estatal. O cinema constituiu fração generosa da máquina propagandista desses governos.
A escola tem que ser capaz de se expressar nesse sentido – assim como um professor não deve ser apenas um passador e o aluno um receptor, a própria escola também não deve ser apenas um receptor, se não ela se perde do seu sentido. Assim posto, o ensino do cinema se projeta como uma poderosa arma de democracia, dando aos alunos e professores essa capacidade de produzir respostas audiovisuais, e conscientizar-se da expressão - e desenvolver de fato potencialidades, para além dos tijolinhos quadradinhos de conhecimento cimentado em currículos produzidos em decisões centralizadas.
Nesse contexto é preciso dizer que sim, o cinema pode ser tudo isso, uma máquina de guerra, uma máquina de educação e de construir nações e etnias, mas ele pode ser mais - na verdade ele, tal como o homem, ele É muito mais, só não está consciente disso sempre.
Chamam de projeção o fenômeno que proporciona ao homem uma ilusória experiência de capacidade de manipular aquilo que está dentro dele a partir de fora dele. As questões mais profundas da nossa mente não estão dadas; não são manipuláveis, tampouco são claras. Então o homem, incapaz de olhar para dentro com a mesma clareza que olha pra fora, projeta. Em outros tempos esse mecanismo foi razão do fim de inúmeros relacionamentos e de tanto sofrimento - a incapacidade humana de enxergar o outro para além do Eu que há no outro - que é a projeção.
O cinema, entretanto, permite Manipular o Eu. Permite ser Outro, e aprender com a experiência de ser ele. O cinema é capaz de quebrar essa barreira entre Eu e Outro mostrando o óbvio: que ela não existe. O cinema é capaz de mostrar Aquilo que diz ou explica - e que, por tal, não pode ser explicado ou dito. O cinema mostra que a realidade é uma construção, que você é quem a cria. No fim, o Cinema, a Educação e a busca por transcender são partes inseparáveis da mesma coisa.
Os ciclos estão chegando ao fim; é hora de transcender.
Por exemplo, existe uma condição de financiamento estatal que impede projetos culturais de saírem do papel. Há a denúncia, que deflagra uma série de outras denúncias, até que se esgota o caráter denunciativo. Durante esse processo, pode ou não surgir manifestações propositivas (além de denunciativas), por exemplo projetos de lei que consertem esse problema com os projetos culturais. Daí o projeto de lei pode ou não ser votado, e caso se concretize em lei, suas implicações na sociedade tornam-se eventualmente tema de reflexão - e num futuro, possivelmente essas reflexões venham a produzir novas denúncias.
Traçando uma ligação à condição pós-moderna, esta que enxerga ciclos cada vez menores de criação-implantação-consumo-obsolescência, há também a reflexão sobre a possibilidade de transcender a ciclicidade. O debate é fortemente necessário, pois há um grande ceticismo, presente nas obras, quanto às teorias todo-explicativas (que tem certa pretensão de tudo explicar), por exemplo a luta de classes de Marx ou o inconsciente, de Freud. E surgem cada vez mais artigos relacionando luta de classes e jogos online (com o perdão da metonímia). Vejam este exemplo: http://gamehall.uol.com.br/v10/a-luta-de-classes-ja-chegou-no-mundo-virtual/
É algo sobre o qual se escrever, especialmente em situações de alta desigualdade social, de subdesenvolvimento. Quero dizer que o fato de denunciar em si tem sido esgotado, tal como as teorias todo-explicativas - e elas contribuem para esse esgotamento quando fomentam leituras críticas de temas que não exatamente produzem desigualdades tão sensíveis - vide os temas defasados. Se os ciclos de obsolescência do mecanismo de denúncia-proposição-reflexão estão ficando cada vez menores, o que vai acontecer com a substancialidade das suas respostas?
Digo isso por que parece que os ciclos estão chegando ao fim. Estamos numa espécie iminência constante da transcendência de muitas questões que passam por essa característica de ciclicidade, especialmente sobre alguma variação do tripé ver-fazer-refletir, que é próprio da experiência de ser - não só parte de uma metodologia de ensino de vídeo-processo. O engraçado, em se falar de Cinema e Educação, é que no dia 22/10/2013, estava no II Encontro de Educadores de Cinema e Vídeo, parte da agenda da semana acadêmica. As falas finais estiveram permeadas por palavras em prol da busca pela transcendência.
A busca pela transcendência é, fatalmente, a busca pelo sublime, pela realização do Self, pela libertação das estruturas de controle do Ego, e ela está de alguma maneira, presente nas artes. Essa característica foi apontada como um dos propósitos do cinema.
O que eu digo é que na verdade ela É o cinema - ou melhor, o cinema é a melhor tentativa do homem, a mais forte de todas, de se encontrar fora do eu, encontrar-se fora de si, para que a partir desse encontro, seja capaz de transcender as sensações e o entendimento, e seja quem de fato se é - não o simulacro de si construído pela linguagem, que por mais elaborado e evoluído que seja, é tentativa, não coisa em si. Esse eu é colocado na tela, reconhecido, e aí é transcendido.
Quando uma professora antes apontara a questão da cautela que se deve ter ao lidar com a situação de condicionamento, disse depois que já reconhecia aí, no próprio exercício da produção fílmica, a idéia de transcendência. Esta professora estava falando que alguns alunos estavam fazendo filmes sobre temas denunciativos que não eram próprios da sua realidade, como a gravidez na adolescência e as drogas - estavam fazendo suas escolhas a partir não daquilo que realmente queriam porém a partir de uma expectativa, consciente ou não, de aprovação por parte do professor. Então seria necessário desfazer esse condicionamento, com grande cuidado, afim de que o aluno fosse capaz de expressar-se a partir da sua verdadeira personalidade, e não buscando uma aprovação externa.
O que é essa busca pela verdadeira personalidade senão a busca pelo próprio Self? O que é libertar-se desse ciclo de fisgar-puxar-soltar (cujas iscas são de aprovação, aceitação e outras coisas, que no fundo são o mesmo - moedas de medo) senão libertar-se do próprio Ego? A busca pela transcendentalidade é, fatalmente, a busca pela liberdade - a liberdade de ser mais.
Bom, a quantidade de coisas que a ferramenta pode comunicar (de maneira direta e principalmente indireta) é tremenda, é como comparar fibra ótica à conexão discada. Isso por que a linguagem cinematográfica (com ressalvas da generalização é claro), com toda sua fluidez e subliminaridade comunicativa dá conta muito bem de sequestrar a atenção do espectador, de puxar ele pela gola para dentro da janela e colocá-lo enfiado dentro daquele personagem a quem é associado o plano POV, por exemplo. É através dessa capacidade que acontece o fenômeno de alteridade.
Um dia desses você pode se encontrar pensando alguma coisa que você acha que é de sua autoria, mas na verdade pode não ser bem isso, por que o que proporcionou a confecção daquela idéia foi exatamente a sua experiência de ser o outro, que um filme proporcionou um dia desses e você nem percebeu - só depois, refletindo a respeito. Por isso é preciso uma constante reflexão do que é que está sendo visto na tela, e mais do que isso, é preciso que haja uma resposta.
Em se tratando de Cinema e Educação, existe o desafio de fazer filmes sobre a escola não apenas tomando-a como cenário, porém como agente personificado – isto é, em outras palavras, fazer filmes que dialoguem Com a escola. A escola tem que ser capaz de falar e criar meios para isso, e um deles é a câmera.
A educação – enquanto conjunto de fenômenos simultâneos de aprendizado e ensino – é produto das transposições entre gerações diferentes, e seus modos de ser, agir. O conhecimento e a cultura se produzem e se perpetuam nessa interface e através dessa cadeia de fenômenos incessantes. Então se for possível haver uma ideologia política subjacente ao uso e a criação dos mitos e estereótipos no cinema hollywoodiano (estereótipos como os de professor e o de aluno, por exemplo, que produzem efeitos no inconsciente) então é obrigação dos estudantes de cinema no Brasil (um país tão prejudicado em termos de educação) empreender ações que democratizem os meios de captura e entendimento desses fenômenos, e o mais importante, que respondam aos mesmos – em outras palavras, também tem que ser possível haver uma resposta sensível a essas ideologias subjacentes.
É compreensível que haja um medo do poder da ferramenta audiovisual, uma vez que a capacidade de expressão dela é abismal. Hitler, Stalin e tantos outros construíram cinematografias e influenciaram identidades e deixaram signos no inconsciente daqueles que frequentaram os filmes, em prol de agendas bastante claras, viabilizadas pela máquina estatal. O cinema constituiu fração generosa da máquina propagandista desses governos.
A escola tem que ser capaz de se expressar nesse sentido – assim como um professor não deve ser apenas um passador e o aluno um receptor, a própria escola também não deve ser apenas um receptor, se não ela se perde do seu sentido. Assim posto, o ensino do cinema se projeta como uma poderosa arma de democracia, dando aos alunos e professores essa capacidade de produzir respostas audiovisuais, e conscientizar-se da expressão - e desenvolver de fato potencialidades, para além dos tijolinhos quadradinhos de conhecimento cimentado em currículos produzidos em decisões centralizadas.
Nesse contexto é preciso dizer que sim, o cinema pode ser tudo isso, uma máquina de guerra, uma máquina de educação e de construir nações e etnias, mas ele pode ser mais - na verdade ele, tal como o homem, ele É muito mais, só não está consciente disso sempre.
Chamam de projeção o fenômeno que proporciona ao homem uma ilusória experiência de capacidade de manipular aquilo que está dentro dele a partir de fora dele. As questões mais profundas da nossa mente não estão dadas; não são manipuláveis, tampouco são claras. Então o homem, incapaz de olhar para dentro com a mesma clareza que olha pra fora, projeta. Em outros tempos esse mecanismo foi razão do fim de inúmeros relacionamentos e de tanto sofrimento - a incapacidade humana de enxergar o outro para além do Eu que há no outro - que é a projeção.
O cinema, entretanto, permite Manipular o Eu. Permite ser Outro, e aprender com a experiência de ser ele. O cinema é capaz de quebrar essa barreira entre Eu e Outro mostrando o óbvio: que ela não existe. O cinema é capaz de mostrar Aquilo que diz ou explica - e que, por tal, não pode ser explicado ou dito. O cinema mostra que a realidade é uma construção, que você é quem a cria. No fim, o Cinema, a Educação e a busca por transcender são partes inseparáveis da mesma coisa.
Os ciclos estão chegando ao fim; é hora de transcender.
domingo, 20 de outubro de 2013
Manifesto por uma Nova Instituição de Acolhimento ao Calouro
Mais especificamente sobre o trote do curso de Cinema da UFF, este artigo foi inspirado por uma manifestação contra o trote que ocorreu no grupo de Cinema.
Discutam com seus amigos e perguntem quais deles fizeram trote, e peçam para que eles reflitam sobre o quanto isso foi relevante na sua socialização enquanto calouro, e quais são suas experiências a respeito.
Eu não participei tanto, à altura, do tópico relacionado, mesmo por que como já disse em outro texto, nem sempre as pessoas querem construir uma opinião elaborada ou encontrar verdades. O que acontece é uma inevitável briga animalesca entre egos - com o intuito único de provar que o outro está errado.
Fiz apenas uma colocação no sentido de situar o que de fato é o trote. Para além da argumentação feita ali no grupo, o que pode não ter ficado claro acerca do meu posicionamento é que eu sou contra o trote e defendo o rompimento com esta tradição - porém respeito a liberdade individual, e se outros grupos quiserem fazer, problema é deles.
Discutam com seus amigos e perguntem quais deles fizeram trote, e peçam para que eles reflitam sobre o quanto isso foi relevante na sua socialização enquanto calouro, e quais são suas experiências a respeito.
Não é preciso ser um gênio para saber que a relevância do trote enquanto forma de socializar os calouros é mínima ou nula - e ainda diria que se não é nula, é para pior, não para melhor. É brilhante como algumas pessoas acreditam mesmo que colocar a cara na farinha e se sentir fudido junto com os amigos cria senso de união - ao invés de acreditar na convencional construção paulatina do bom relacionamento, na apropriação do espaço da faculdade, essas coisas bobas.
Portanto não vou perder meu tempo chutando cachorro morto, e dando adjetivos negativos bonitos ao trote estudantil, dizendo por que é humilhante, contribui para a reprodução do comportamento não-desperto, de reafirmação da opressão, etc. Para mais, leiam aqui: http://pt.wikipedia.org/wiki/Trote_estudantil
Falo aqui de uma possível ressignificação. Sou contra. O trote é uma brincadeira imbecil, só isso. Não se faz uma brincadeira imbecil sem a imbecilidade. Brinca-se de outra coisa.
Se é possível falar nesses termos, o trote enquanto instituição tem história, nome, significados e ressignificados, todos em torno de (mesmo que em tom crítico) sua essência, que se não é algo exato, certamente é constituído de elementos de um lugar comum do inconsciente, e evidentemente reafirma o status quo em alguma parte, queira ou não.
Se é possível falar nesses termos, o trote enquanto instituição tem história, nome, significados e ressignificados, todos em torno de (mesmo que em tom crítico) sua essência, que se não é algo exato, certamente é constituído de elementos de um lugar comum do inconsciente, e evidentemente reafirma o status quo em alguma parte, queira ou não.
Defendo, portanto, a abolição desse tipo de prática e a construção de uma nova instituição em seu lugar. Com outro nome, que reflita uma outra essência, a partir da qual a significação e a ressignificação seja feita, constituindo elemento cultural e herança cultural (étnica, se assim vale).
Já é previsível aí a vontade dos estudantes de cinema, por exemplo, de produzir vídeos com e para os calouros. Essa herança, deixada em memórias, textos, vídeos, enfim obras de pensamento, refletiriam essa essência e nome novos, e constituiriam cultura.
Evidentemente, esse debate passa pela definição de Educação: o conjunto de fenômenos de aprendizado e ensino que acontece simultaneamente na transposição das gerações, isto é, no encontro, choque e mistura entre uma geração mais velha e outra mais nova. E nessa interface é que acontece produção e perpetuação de conhecimento e cultura. Nesse sentido que faz uma tentativa de retorno à essência (sem muito rigor argumentativo, usando apenas com objetivos clareadores), a nova instituição referida deveria servir também para uma maior apropriação do espaço da faculdade, ao invés de servir exatamente ao contrário, criando espantalhos do ambiente acadêmico discente e docente.
Ao invés de perder tempo colocando a cara na farinha e perpetuando as mesmas besteiras de sempre, por que não produzimos um legado cultural que jogue o calouro para o olho do furacão que é a educação superior? Que deixe ele sabendo o que caralhos significa Pró-Reitor. Você sabe o que é um e pra que serve - ou mesmo quem são eles?
Schopenhauer, ainda na linha do comentário sobre a discussão, lembra: tanto ler e aprender quanto escrever e ensinar, quando em excesso, são prejudiciais ao pensamento próprio e à clareza e profundidade de saber. Sendo assim esse diálogo Constante (entre as novas gerações), além de ser a essência da educação e portanto a coisa mais importante que deve haver dentro de um ambiente acadêmico, é a própria construção e perpetuação da consciência e do espaço que conhecemos por Universidade.
Schopenhauer, ainda na linha do comentário sobre a discussão, lembra: tanto ler e aprender quanto escrever e ensinar, quando em excesso, são prejudiciais ao pensamento próprio e à clareza e profundidade de saber. Sendo assim esse diálogo Constante (entre as novas gerações), além de ser a essência da educação e portanto a coisa mais importante que deve haver dentro de um ambiente acadêmico, é a própria construção e perpetuação da consciência e do espaço que conhecemos por Universidade.
Se uma das idéias reformistas do trote era de uma real integração do calouro, ao invés de um mero uso desse pretexto para na verdade perpetuar os mesmos preconceitos e comportamentos reafirmadores de características do status quo, acho que esse é o único caminho.
terça-feira, 15 de outubro de 2013
Respeito e Liberdade
A liberdade é, supostamente, uma propriedade imanente ao homem, especialmente quanto ao fato de ser e estar; na ação, passa pela liberdade do outro a partir do reconhecimento do eu no outro e portanto na condição de liberdade do eu que há no outro.
O sentimento que invoca o controle do eu quando na invasão da liberdade do outro é reconhecido por respeito.
Porém, há também o respeito pelo superior - aquele que sabe mais, inspira mais, tem mais amor, sabedoria ou legado intelectual/material (o que não necessariamente implica em relação de poder, dependendo do grau de horizontalidade da sociedade - mas não se trata disso o texto). É, portanto, um reconhecimento de algo maior do que o eu, de fato, no outro.
Há uma conexão entre o sentimento acima e o logo acima para além do nome Respeito. Todo homem tem liberdade para ser-estar, entretanto reconhecendo o outro, limita o próprio agir em respeito ao ser-estar do outro (i.e. do Eu no outro). A partir desse reconhecimento, a ética (ou o modo de ser do outro) pode tocá-lo para então, de algum modo, ser também como o outro.
O reconhecimento de algo superior nesse aspecto é o reconhecimento de uma capacidade superior do outro no seu fato de ser - o que acaba sendo um grau de liberdade maior - que o eu não é, supostamente, capaz de atingir na ocasião, por motivos conscientes ou não, verdadeiros ou não.
O sentimento de respeito, portanto, é o reconhecimento da própria liberdade individual, e a do outro, acima de tudo. As limitações materiais são claras, estão dadas; mas o ser humano é mais do que a matéria. Evidentemente, o sentimento de respeito abrange também mais que a materialidade.
Na materialidade ele é limitado, devido às suas condições físicas e aspectos relacionados; porém no modo de ser e estar (e suas implicações em conhecimento e cultura), o homem é infinito. Assim, o sentimento de respeito, quando estendido para além da materialidade, pode admitir um reconhecimento de superioridade - evidentemente relacionado à capacidade de ser, que é liberdade.
É digno de respeito aquele que é mais - isto é, é mais livre para ser, e portanto é. Logo, aquele que possui liberdade. Logo todo homem é digno de respeito material igual; e existe entretanto uma forma de respeito mais profunda além dele no que se refere à ética. Respeito e Liberdade individual são indissociáveis.
O sentimento que invoca o controle do eu quando na invasão da liberdade do outro é reconhecido por respeito.
Porém, há também o respeito pelo superior - aquele que sabe mais, inspira mais, tem mais amor, sabedoria ou legado intelectual/material (o que não necessariamente implica em relação de poder, dependendo do grau de horizontalidade da sociedade - mas não se trata disso o texto). É, portanto, um reconhecimento de algo maior do que o eu, de fato, no outro.
Há uma conexão entre o sentimento acima e o logo acima para além do nome Respeito. Todo homem tem liberdade para ser-estar, entretanto reconhecendo o outro, limita o próprio agir em respeito ao ser-estar do outro (i.e. do Eu no outro). A partir desse reconhecimento, a ética (ou o modo de ser do outro) pode tocá-lo para então, de algum modo, ser também como o outro.
O reconhecimento de algo superior nesse aspecto é o reconhecimento de uma capacidade superior do outro no seu fato de ser - o que acaba sendo um grau de liberdade maior - que o eu não é, supostamente, capaz de atingir na ocasião, por motivos conscientes ou não, verdadeiros ou não.
O sentimento de respeito, portanto, é o reconhecimento da própria liberdade individual, e a do outro, acima de tudo. As limitações materiais são claras, estão dadas; mas o ser humano é mais do que a matéria. Evidentemente, o sentimento de respeito abrange também mais que a materialidade.
Na materialidade ele é limitado, devido às suas condições físicas e aspectos relacionados; porém no modo de ser e estar (e suas implicações em conhecimento e cultura), o homem é infinito. Assim, o sentimento de respeito, quando estendido para além da materialidade, pode admitir um reconhecimento de superioridade - evidentemente relacionado à capacidade de ser, que é liberdade.
É digno de respeito aquele que é mais - isto é, é mais livre para ser, e portanto é. Logo, aquele que possui liberdade. Logo todo homem é digno de respeito material igual; e existe entretanto uma forma de respeito mais profunda além dele no que se refere à ética. Respeito e Liberdade individual são indissociáveis.
quinta-feira, 3 de outubro de 2013
Everything and Nothing
de Jorge Luis Borges
Ninguém existiu nele; por trás de seu rosto (que mesmo nas pinturas ruins da época não se assemelha a nenhum outro) e de suas palavras, que eram copiosas, fantásticas e agitadas, não havia senão um pouco de frio, um sonho não sonhado por ninguém. No início pensou que todas as pessoas fossem como ele, mas a estranheza de um companheiro com o qual começara a comentar essa fatuidade revelou-lhe seu erro e fez com que sentisse, para sempre, que um indivíduo não deve diferir da espécie.
Certa vez pensou que nos livros encontraria remédio para seu mal e então aprendeu o pouco latim e menos grego de que falaria um contemporâneo; depois considerou que no exercício de um rito elementar da humanidade bem poderia estaro que procurava, e deixou-se iniciar por Anne Hathaway, durante uma longa sesta de junho. Aos vinte e tantos anos foi a Londres. Instintivamente, adestrara-se no hábito de simular que era alguém, para que não se descobrisse sua condição de ninguém; em Londres encontrou a profissão para a qual estava predestinado, a de ator, que em um palco brinca de ser outro, diante da afluência de pessoas que brincam de tomá-lopor aquele outro.
As tarefas histriônicas lhe ensinaram uma felicidade singular, talvez a primeira que conheceu; mas, aclamado o último verso e retirado da cena o último morto, o detestável sabor da irrealidade recaía sobre ele. Deixava de ser Ferrex ou Tamerlão e voltava a ser ninguém. Acuado, deu de imaginar outros heróis eoutras fábulas trágicas. Assim, enquanto o corpo cumpria seu destino de corpo, embordéis e tabernas de Londres, a alma que o habitava era César, que ignora o aviso do áugure, e Julieta, que se aborrece com a cotovia, e Macbeth, que conversa na planície com as bruxas que também são as parcas.
Ninguém foi tantos homens como aquele homem, que à semelhança do egípcio Proteu pôde esgotar todas as aparências do ser. Às vezes, deixou em algum canto da obra uma confissão, certo de que não adecifrariam; Ricardo afirma que em sua única pessoa faz o papel de muitos, e lagodiz com curiosas palavras "não sou o que sou". A identidade fundamental do existir, sonhar e representar inspirou-lhe passagens famosas. Durante vinte anos persistiu nessa alucinação dirigida, mas certa manhã oassaltaram o tédio e o horror de ser tantos reis que morrem pela espada e tantosamantes infelizes que convergem, divergem e melodiosamente agonizam.
Naquele mesmo dia resolveu a venda de seu teatro. Antes de uma semana havia regressado à cidade natal, onde recuperou as árvores e o rio da infância e não os vinculou àqueles outros celebrados por sua musa, ilustres de alusão mitológica e de vozes latinas.Tinha de ser alguém; foi um empresário aposentado que fez fortuna e a quem interessam os empréstimos, os litígios e a pequena usura. Nesse personagem ditou o árido testamento que conhecemos, do qual deliberadamente excluiu todo traçopatético ou literário. Costumavam visitar seu retiro amigos de Londres, e ele retomava para eles o papel de poeta.
A história acrescenta que, antes ou depois de morrer, soube-se diante de Deuse lhe disse: "Eu, que tantos homens fui em vão, quero ser um e eu". A voz de Deus lhe respondeu, em um torvelinho: "Eu tampouco o sou; sonhei o mundo como sonhaste tua obra, meu Shakespeare, e entre as formas de meu sonho estás tu, que como eu és muitos e ninguém".
Ninguém existiu nele; por trás de seu rosto (que mesmo nas pinturas ruins da época não se assemelha a nenhum outro) e de suas palavras, que eram copiosas, fantásticas e agitadas, não havia senão um pouco de frio, um sonho não sonhado por ninguém. No início pensou que todas as pessoas fossem como ele, mas a estranheza de um companheiro com o qual começara a comentar essa fatuidade revelou-lhe seu erro e fez com que sentisse, para sempre, que um indivíduo não deve diferir da espécie.
Certa vez pensou que nos livros encontraria remédio para seu mal e então aprendeu o pouco latim e menos grego de que falaria um contemporâneo; depois considerou que no exercício de um rito elementar da humanidade bem poderia estaro que procurava, e deixou-se iniciar por Anne Hathaway, durante uma longa sesta de junho. Aos vinte e tantos anos foi a Londres. Instintivamente, adestrara-se no hábito de simular que era alguém, para que não se descobrisse sua condição de ninguém; em Londres encontrou a profissão para a qual estava predestinado, a de ator, que em um palco brinca de ser outro, diante da afluência de pessoas que brincam de tomá-lopor aquele outro.
As tarefas histriônicas lhe ensinaram uma felicidade singular, talvez a primeira que conheceu; mas, aclamado o último verso e retirado da cena o último morto, o detestável sabor da irrealidade recaía sobre ele. Deixava de ser Ferrex ou Tamerlão e voltava a ser ninguém. Acuado, deu de imaginar outros heróis eoutras fábulas trágicas. Assim, enquanto o corpo cumpria seu destino de corpo, embordéis e tabernas de Londres, a alma que o habitava era César, que ignora o aviso do áugure, e Julieta, que se aborrece com a cotovia, e Macbeth, que conversa na planície com as bruxas que também são as parcas.
Ninguém foi tantos homens como aquele homem, que à semelhança do egípcio Proteu pôde esgotar todas as aparências do ser. Às vezes, deixou em algum canto da obra uma confissão, certo de que não adecifrariam; Ricardo afirma que em sua única pessoa faz o papel de muitos, e lagodiz com curiosas palavras "não sou o que sou". A identidade fundamental do existir, sonhar e representar inspirou-lhe passagens famosas. Durante vinte anos persistiu nessa alucinação dirigida, mas certa manhã oassaltaram o tédio e o horror de ser tantos reis que morrem pela espada e tantosamantes infelizes que convergem, divergem e melodiosamente agonizam.
Naquele mesmo dia resolveu a venda de seu teatro. Antes de uma semana havia regressado à cidade natal, onde recuperou as árvores e o rio da infância e não os vinculou àqueles outros celebrados por sua musa, ilustres de alusão mitológica e de vozes latinas.Tinha de ser alguém; foi um empresário aposentado que fez fortuna e a quem interessam os empréstimos, os litígios e a pequena usura. Nesse personagem ditou o árido testamento que conhecemos, do qual deliberadamente excluiu todo traçopatético ou literário. Costumavam visitar seu retiro amigos de Londres, e ele retomava para eles o papel de poeta.
A história acrescenta que, antes ou depois de morrer, soube-se diante de Deuse lhe disse: "Eu, que tantos homens fui em vão, quero ser um e eu". A voz de Deus lhe respondeu, em um torvelinho: "Eu tampouco o sou; sonhei o mundo como sonhaste tua obra, meu Shakespeare, e entre as formas de meu sonho estás tu, que como eu és muitos e ninguém".
segunda-feira, 19 de agosto de 2013
Em busca da mentirosa posse de verdade
Schopenhauer fala em "Art of Controversy" que o homem conversa em consonância, atê que encontra um ponto em que discorda do outro. E nisso, naturalmente assume que o outro está errado, independente de uma racionalidade subjacente ao fato.
Da incapacidade humana de controlar o ímpeto próprio de assumir que o outro está errado ao invés de rever a própria teoria a partir daquilo que foi proposto pelo outro em busca de inconsistências, inúmeros debates são entravados com o intuito único de provar que o outro está errado. Deixa-se de lado completamente qualquer compromisso com a verdade, ou ao menos a construção de uma opinião mais elaborada e madura.
Não que toda conversa tenha de ser assim, uma palestra. Eu sei também que a Verdade é um sonho impossível, ou um "cobertor muito curto, que se você pode puxar para cobrir o rosto, destapa os pés".
O que incomoda são as contradições óbvias que destroem a lógica antes do debate de fato começar, e a posterior reivindicação de uma lógica para o discurso - que já antes de começar foi impossibilitada. Seja por alguma falácia inadvertida, algum ataque sofista, alguma erística ou babaquice mesmo (ataque pessoal).
Pra quê, me digam, todo esse esforço lógico se não há compromisso algum com racionalidade - senão aquela que vai fazê-lo parecer correto?
O campo ideológico de debate se torna um mero campo de batalha, e, as palavras, armas. Temos uma disputa territorial instaurada.
O mundo, desse ponto de vista, parece ao primeiro olhar, apenas um zoológico de humanóides - as grades são sistemas de crenças. Mas são as regras que fazem o jogo, são as limitações que fazem a forma.
Não sei o que seria do homem sem suas contradições.
Da incapacidade humana de controlar o ímpeto próprio de assumir que o outro está errado ao invés de rever a própria teoria a partir daquilo que foi proposto pelo outro em busca de inconsistências, inúmeros debates são entravados com o intuito único de provar que o outro está errado. Deixa-se de lado completamente qualquer compromisso com a verdade, ou ao menos a construção de uma opinião mais elaborada e madura.
Não que toda conversa tenha de ser assim, uma palestra. Eu sei também que a Verdade é um sonho impossível, ou um "cobertor muito curto, que se você pode puxar para cobrir o rosto, destapa os pés".
O que incomoda são as contradições óbvias que destroem a lógica antes do debate de fato começar, e a posterior reivindicação de uma lógica para o discurso - que já antes de começar foi impossibilitada. Seja por alguma falácia inadvertida, algum ataque sofista, alguma erística ou babaquice mesmo (ataque pessoal).
Pra quê, me digam, todo esse esforço lógico se não há compromisso algum com racionalidade - senão aquela que vai fazê-lo parecer correto?
O campo ideológico de debate se torna um mero campo de batalha, e, as palavras, armas. Temos uma disputa territorial instaurada.
O mundo, desse ponto de vista, parece ao primeiro olhar, apenas um zoológico de humanóides - as grades são sistemas de crenças. Mas são as regras que fazem o jogo, são as limitações que fazem a forma.
Não sei o que seria do homem sem suas contradições.
quarta-feira, 3 de julho de 2013
Dualidade
O elétron e as partículas menores são partícula e onda simultaneamente. Tipo um filme.
Um filme é composto de imagem e som. Se você dá pause, você tem uma imagem estática. A cinemática visual é uma sucessão de imagens estáticas, que em ritmo correto, dão a ilusão de movimento. A imagem é partícula.
Se você dá pause, o som pára. Você não pode dar pause no som de uma forma que mantenha-se uma unidade estática. O som só existe quando é fluido. O som é onda.
A vida é tipo uma música. Você não pode dar pause nela.
Um filme é composto de imagem e som. Se você dá pause, você tem uma imagem estática. A cinemática visual é uma sucessão de imagens estáticas, que em ritmo correto, dão a ilusão de movimento. A imagem é partícula.
Se você dá pause, o som pára. Você não pode dar pause no som de uma forma que mantenha-se uma unidade estática. O som só existe quando é fluido. O som é onda.
A vida é tipo uma música. Você não pode dar pause nela.
sábado, 27 de abril de 2013
segunda-feira, 1 de abril de 2013
Tempo
Leva tempo para curar,
leva tempo para fechar feridas,
para se desprender do passado,
para entender que não existe futuro,
para aprender a ficar no presente,
para ver que o Tempo é uma ilusão que dá sentido ao falso eu, que morre,
para ver que tem algo eterno além.
Leva tempo, mas todo dia o sol renasce e se põe,
todo dia o mar vem e vai, suavizando as curvas na areia,
todo ano cristo morre e renasce na páscoa,
todo dia fazemos alguma coisa que nos ensina algo importante,
e se ainda continuamos sofrendo com as mesmas coisas de sempre, é que tem alguma coisa que não aprendemos.
Leva tempo, mas surge às vezes alguém pra mostrar que existe sim amor em São Paulo,
para mostrar que tem coisa pela qual vale apena viver, ao invés de sobreviver de sedativos,
para mostrar que nem todo mundo cede quando sente dor,
para mostrar que honra não é algo bom nem ruim; apenas honra-se coisas boas ou ruins,
para mostrar que ninguém precisa te mostrar nada disso, você mesmo pode ver por si,
para mostrar que não podemos ficar à expectativa de que os outros resolvam as nossas coisas por nós,
e que não podemos resolver nada por ninguém, apenas ajudar a quem se ama a resolver por si.
A guerra acaba,
a paz volta a de fato ser, por algum tempo,
as perdas são incontáveis, insubstituíveis,
mas nunca são realmente perdas.
A paciência de deus vive sendo testada, mas sempre está certa no final,
Por que o tempo não passa de uma ilusão para o que é eterno, aqui e agora.
Levará tempo, mas vai haver um momento
em que todos nós saberemos que existe um deus dentro de cada um de nós,
através do qual a coisa certa sempre é feita,
de um jeito ou de outro.
Será que vai levar tempo,
para que as nossas feridas curem,
para que a gente aprenda a não se atormentar por imagens falsas criadas na mente ou memórias e suas associações, e continue a viver no passado,
e sobre apenas o que de fato somos,
aquilo que não pode ser retirado, movido ou modificado,
o eterno e essencial, o espírito,
um com o todo?
Depende de quanto tempo para você leva de agora para agora.
O tempo é só uma ilusão.
leva tempo para fechar feridas,
para se desprender do passado,
para entender que não existe futuro,
para aprender a ficar no presente,
para ver que o Tempo é uma ilusão que dá sentido ao falso eu, que morre,
para ver que tem algo eterno além.
Leva tempo, mas todo dia o sol renasce e se põe,
todo dia o mar vem e vai, suavizando as curvas na areia,
todo ano cristo morre e renasce na páscoa,
todo dia fazemos alguma coisa que nos ensina algo importante,
e se ainda continuamos sofrendo com as mesmas coisas de sempre, é que tem alguma coisa que não aprendemos.
Leva tempo, mas surge às vezes alguém pra mostrar que existe sim amor em São Paulo,
para mostrar que tem coisa pela qual vale apena viver, ao invés de sobreviver de sedativos,
para mostrar que nem todo mundo cede quando sente dor,
para mostrar que honra não é algo bom nem ruim; apenas honra-se coisas boas ou ruins,
para mostrar que ninguém precisa te mostrar nada disso, você mesmo pode ver por si,
para mostrar que não podemos ficar à expectativa de que os outros resolvam as nossas coisas por nós,
e que não podemos resolver nada por ninguém, apenas ajudar a quem se ama a resolver por si.
A guerra acaba,
a paz volta a de fato ser, por algum tempo,
as perdas são incontáveis, insubstituíveis,
mas nunca são realmente perdas.
A paciência de deus vive sendo testada, mas sempre está certa no final,
Por que o tempo não passa de uma ilusão para o que é eterno, aqui e agora.
Levará tempo, mas vai haver um momento
em que todos nós saberemos que existe um deus dentro de cada um de nós,
através do qual a coisa certa sempre é feita,
de um jeito ou de outro.
Será que vai levar tempo,
para que as nossas feridas curem,
para que a gente aprenda a não se atormentar por imagens falsas criadas na mente ou memórias e suas associações, e continue a viver no passado,
para que a gente aprenda a amar sem medo, sem necessidade de sacrifícios senão a própria renúncia ao ego, que é fonte do sofrimento,
para que a gente se dessintonize das frequências ruins,
para que deixemos de ser tudo aquilo que não somospara que a gente se dessintonize das frequências ruins,
e sobre apenas o que de fato somos,
aquilo que não pode ser retirado, movido ou modificado,
o eterno e essencial, o espírito,
um com o todo?
Depende de quanto tempo para você leva de agora para agora.
O tempo é só uma ilusão.
sexta-feira, 29 de março de 2013
Bulletproof
Não é irônico que as feridas invisíveis aos olhos sangrem por eles?
A música é o contrário da matemática. Matemática é linguagem sem significância.
Se eu tenho (x - y)² = (x + y)(x - y). Tanto faz quem é y ou x. Digamos que x seja 2 e y seja 3 - dois, três o quê? Dois, três quilos de queijo? Não importa o que seja, sempre é.
Não na música. Lá só o que importa é o que realmente é. Música é significância sem linguagem.
Todas as músicas que eu escrevo faziam um sentido quando eu escrevi, hoje fazem outro, amanhã farão outro, e a cada dia eu descubro novos significados para elas. E todos eles são o mais profundamente verdadeiros que qualquer exatidão matemática.
Por que somos todos apenas humanos: nós falhamos, e está tudo bem - assim como a matemática na fronteira do paradigma ou da interpretação.
E aí, a música é a única coisa que realmente cura a dor, que nada mais é do que o vazio, seja ele deixado em uma ferida pela falta da carne, seja ele deixado entre as palavras tortas pela falta de significado.
Nós seremos um para sempre, mas lembre-se de ter cuidado com o que fazem.
Por que nenhum de nós é à prova de bala.
quarta-feira, 27 de março de 2013
Neo, enfim, morre
Neo morreu.
Os agentes os encurralaram num corredor e correndo para a salvação em um telefone, ele arromba uma porta. E nela, Smith o esperava com a pistola apontada para o coração.
Smith atira uma vez. Neo sangra. E surge o segundo, o terceiro, o quarto tiro, quantos mais forem necessários para garantir a morte.
Mas o escolhido é aquele que tem o poder de fazer o que quiser. E então o beijo de amor verdadeiro acorda a vida que sempre houve dentro dele.
Neo não morreu. Mr. Anderson morreu. O falso eu, cheio de dúvidas, descrenças, inseguranças, medos, morre.
Agora sim, Neo, de fato, vive.
Os agentes os encurralaram num corredor e correndo para a salvação em um telefone, ele arromba uma porta. E nela, Smith o esperava com a pistola apontada para o coração.
Smith atira uma vez. Neo sangra. E surge o segundo, o terceiro, o quarto tiro, quantos mais forem necessários para garantir a morte.
Mas o escolhido é aquele que tem o poder de fazer o que quiser. E então o beijo de amor verdadeiro acorda a vida que sempre houve dentro dele.
Neo não morreu. Mr. Anderson morreu. O falso eu, cheio de dúvidas, descrenças, inseguranças, medos, morre.
Agora sim, Neo, de fato, vive.
terça-feira, 19 de fevereiro de 2013
O que não foi dito
Eu acho que entendi por que não conseguia sentir algumas coisas que são apenas perceptíveis aos mais sensíveis.
É por que a dor é grande demais.
Pra fugir dela, vivemos com sedativo debaixo da pele, sem esperança por uma cura.
Estivemos sedados mesmo da percepção de qual seria a cura.
E eu não vi que a cura para a dor, obviamente, não poderia ser o sedativo.
Vivendo de colecionar figurinhas de aprovação que sedam a pele quando coladas.
Vivemos de fotos que guardam o passado e não vivemos o presente.
A dor é grande demais. E quando é assim, às vezes o passado continua voltando.
Se eu abraçar a dor, ninguém mais poderá me machucar, por que a dor é parte de mim, eu sei. Mas eu queria mesmo que ela fosse embora, ela é um parente indesejado.
Um pouquinho a mais um pouquinho a menos não vai fazer muita diferença agora.
Ou será que vai? Será que parar de alimentá-la, ela morre de fome?
Mas qual é a diferença entre fazer isso e se sedar?
A dor é grande demais. Isso está nas músicas e em tudo mais.
Quando a gente projeta em alguém ou algo, parece que é um pedaço de nós que vai embora junto com esse algo ou alguém, quando ele vai.
E a dor é o vazio que resta, como que a carne que falta em uma ferida.
Parece que tem sempre uma ferida sangrando, sempre uma rua por onde eu ando, e esses algos e alguéns, eu sei, nunca voltarão.
E mesmo se eles voltassem, será que a ferida estancaria?
Como eu posso me despedir dessas memórias para viver no presente e cessar a dor, se ela me continua a lembrar delas?
Talvez pudesse ajudar a curar as feridas um pouco de amor. Mas o fato de amar alguém te faz querer que a pessoa seja feliz de verdade, independente de ser com você.
O que não foi dito é que, na verdade eu não consegui evitar de projetar dessa vez, mesmo tendo sido relembrado disso. Eu não consegui evitar nada. Eu estive sob sedativo esse tempo todo.
A ferida sempre esteve aberta, exposta, mas sedada... até que algo encostou na minha ferida de novo.
O que não foi dito é que, na verdade, eu nunca entendi direito nada disso, sempre fui como um moleque curioso que cola adesivos no seu caderno da banda favorita, mas não entende nada de música. Sedado, nem poderia.
O que não foi dito é que eu acreditei cegamente por que eu não tinha outra escolha, era isso ou o fim, e eu me convenci a continuar (eu diria que você me convenceu, mas isso tem cara de projeção). Mas eu não poderia acreditar de verdade em algo que não entendo, e tenho que confessar: duvidei inúmeras vezes de tudo, por conta disso. E é por isso que eu e ele continuamos sem avançar, sem vontade, por que nós não fizemos nada além de nos sedar.
O que não foi dito é que, no entanto eu sou profundamente grato por tudo, mesmo. Talvez isso soe incoerente, mas eu sempre quis dizer isso do fundo do coração e nunca tive coragem.
O que não foi dito é que eu sinto a dor agora. Eu acordei com ela no peito, e na garganta.
O que não foi dito é que eu fiz o que fiz achando que era a coisa certa, mas eu estou morrendo de dor, por que ela não está aqui. Na verdade, ninguém está mais aqui.
No final, sou escravizado pelo meu sonho de encontrar as figuras do passado e reviver os momentos de felicidade, de uma maneira que eu não consigo viver no presente direito. O presente é como um grande sonho torto do qual eu não sei acordar. Achei que soubesse, mas eu só estava me sedando.
O que não foi dito é que eu amo profundamente a todos esses alguéns em quem eu projetei, apesar da projeção. Você com quem eu converso toda noite, vocês que me ajudaram a salvar a mim mesmo, vocês que parecem comigo na dor. Eu sou só um cara e não pude evitar. Eu diria que eu sou mais do que isso, mas eu não sei o que é pra dizer de verdade.
Desculpem, mas a dor era grande demais.
O sofrimento agora acaba, desistindo dele e de tudo que dele vem.
Talvez pudesse ajudar a curar as feridas um pouco de amor. Mas o fato de amar alguém te faz querer que a pessoa seja feliz de verdade, independente de ser com você.
O que não foi dito é que, na verdade eu não consegui evitar de projetar dessa vez, mesmo tendo sido relembrado disso. Eu não consegui evitar nada. Eu estive sob sedativo esse tempo todo.
A ferida sempre esteve aberta, exposta, mas sedada... até que algo encostou na minha ferida de novo.
O que não foi dito é que, na verdade, eu nunca entendi direito nada disso, sempre fui como um moleque curioso que cola adesivos no seu caderno da banda favorita, mas não entende nada de música. Sedado, nem poderia.
O que não foi dito é que eu acreditei cegamente por que eu não tinha outra escolha, era isso ou o fim, e eu me convenci a continuar (eu diria que você me convenceu, mas isso tem cara de projeção). Mas eu não poderia acreditar de verdade em algo que não entendo, e tenho que confessar: duvidei inúmeras vezes de tudo, por conta disso. E é por isso que eu e ele continuamos sem avançar, sem vontade, por que nós não fizemos nada além de nos sedar.
O que não foi dito é que, no entanto eu sou profundamente grato por tudo, mesmo. Talvez isso soe incoerente, mas eu sempre quis dizer isso do fundo do coração e nunca tive coragem.
O que não foi dito é que eu sinto a dor agora. Eu acordei com ela no peito, e na garganta.
O que não foi dito é que eu fiz o que fiz achando que era a coisa certa, mas eu estou morrendo de dor, por que ela não está aqui. Na verdade, ninguém está mais aqui.
No final, sou escravizado pelo meu sonho de encontrar as figuras do passado e reviver os momentos de felicidade, de uma maneira que eu não consigo viver no presente direito. O presente é como um grande sonho torto do qual eu não sei acordar. Achei que soubesse, mas eu só estava me sedando.
O que não foi dito é que eu amo profundamente a todos esses alguéns em quem eu projetei, apesar da projeção. Você com quem eu converso toda noite, vocês que me ajudaram a salvar a mim mesmo, vocês que parecem comigo na dor. Eu sou só um cara e não pude evitar. Eu diria que eu sou mais do que isso, mas eu não sei o que é pra dizer de verdade.
Desculpem, mas a dor era grande demais.
O sofrimento agora acaba, desistindo dele e de tudo que dele vem.
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013
Enfim só
Venho metaescrever da contraditória vontade de se dizer que se está de bem com o silêncio.
Estou sozinho e sem mente ligada. E assim não existe nada. Por que, não sendo eu um indivíduo - como um braço não é - nada pode perceber o resto senão como a si, de uma maneira que não é externa (EX iste), o que faz com que nada exista.
Somos pernas que ouvem sobre os meios dos braços, os quais ouviram sobre os meios dos olhos, que ouviram sobre os meios do cérebro e do coração. Até quando estaremos seguindo os passos de outros?
As minhas projeções nos outros deixam de existir quando eu deixo de existir. Então assim será.
Não interessa a composição àquele que não tem necessidade de se expressar e nem necessita de ouvir senão a verdade que há no silêncio. Assim como a música da vida pode ter inúmeras passagens com propósitos diversos, o propósito da música ainda é a própria música - o propósito divino da criação é ser.
E no silêncio eu não mais existirei, apenas seremos.
Estou sozinho e sem mente ligada. E assim não existe nada. Por que, não sendo eu um indivíduo - como um braço não é - nada pode perceber o resto senão como a si, de uma maneira que não é externa (EX iste), o que faz com que nada exista.
Somos pernas que ouvem sobre os meios dos braços, os quais ouviram sobre os meios dos olhos, que ouviram sobre os meios do cérebro e do coração. Até quando estaremos seguindo os passos de outros?
As minhas projeções nos outros deixam de existir quando eu deixo de existir. Então assim será.
Não interessa a composição àquele que não tem necessidade de se expressar e nem necessita de ouvir senão a verdade que há no silêncio. Assim como a música da vida pode ter inúmeras passagens com propósitos diversos, o propósito da música ainda é a própria música - o propósito divino da criação é ser.
E no silêncio eu não mais existirei, apenas seremos.
segunda-feira, 7 de janeiro de 2013
Approval Junkies
Os peixes agressivos aprenderam a comer pequenos pedaços dos rabos de seus semelhantes para não morrerem de fome.
"There is something about yourself that you don't know. Something that you will deny even exists, until it's too late to do anything about it. It's the only reason you get up in the morning. The only reason you suffer the shitty boss, the blood, the sweat and the tears. This is because you want people to know how good, attractive, generous, funny, wild and clever you really are. Fear or revere me, but please, think I'm special. We share an addiction. We're approval junkies. We're all in it for the slap on the back and the gold watch. The hip-hip-hoo-fuckin' rah. Look at the clever boy with the badge, polishing his trophy. Shine on you crazy diamond, because we're just monkeys wrapped in suits, begging for the approval of others."
sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
Quadro Branco
Eu tentei, meu amor, dar aquilo que eu tenho de mais precioso: essa coleção de pedaços da verdade, uma bela paisagem de liberdade separada em fragmentos e pó de estrelas.
A minha honestidade sempre foi a minha mais bela qualidade, e é por isso que eu a digo em frase, sem ego nenhum - pois nos momentos que eu a deixei de lado, tive os momentos mais tristes da minha vida, e quando ela brilhou, foram os mais felizes.
É pela honestidade que eu tenho que me demito. Eu desisto de tudo que não posso carregar nem cumprir. Eu sabia que não poderia, mas é da minha natureza tentar.
Por que eu acho a esperança um sentimento bonito, apesar de ser triste. Para haver a esperança, tem que haver a dor, e a paisagem na mente, o mar lá a levar as grossas manchas da roupa que toca a praia, porém nunca por completo.
As roupas e o mar não existem. São só inverdades propositalmente colocadas lá, para que a dor estancasse, do mesmo jeito que band-aid não é pele. São mentirinhas, como a história do lobo-mau, e talvez a da humanidade.
Eu estou deixando a tela para você pintar, como você quiser. Pode ser que eu tenha esperança que você pinte com o coração, mas não há mais espaço para a dor, então eu deixarei apenas como é para que você descubra naturalmente como se faz.
A criança dentro de nós não nos deixa ser adultos até que tenhamos nos divertido o suficiente para que a terra nos deixe alcançar o céu sem precisar voar de verdade, e ele é que vem até nós brincar também.
Eu te amo e é por isso que lhe deixarei apenas ser, de hoje em diante.
Nossa dor deixará de existir aos poucos, e do solo escuro nascerão as flores que levaram amor de um coração a outro entre os jardins da nossa miragem, da nossa pintura.
Seremos um, e então apenas o fato de ser será.
A minha honestidade sempre foi a minha mais bela qualidade, e é por isso que eu a digo em frase, sem ego nenhum - pois nos momentos que eu a deixei de lado, tive os momentos mais tristes da minha vida, e quando ela brilhou, foram os mais felizes.
É pela honestidade que eu tenho que me demito. Eu desisto de tudo que não posso carregar nem cumprir. Eu sabia que não poderia, mas é da minha natureza tentar.
Por que eu acho a esperança um sentimento bonito, apesar de ser triste. Para haver a esperança, tem que haver a dor, e a paisagem na mente, o mar lá a levar as grossas manchas da roupa que toca a praia, porém nunca por completo.
As roupas e o mar não existem. São só inverdades propositalmente colocadas lá, para que a dor estancasse, do mesmo jeito que band-aid não é pele. São mentirinhas, como a história do lobo-mau, e talvez a da humanidade.
Eu estou deixando a tela para você pintar, como você quiser. Pode ser que eu tenha esperança que você pinte com o coração, mas não há mais espaço para a dor, então eu deixarei apenas como é para que você descubra naturalmente como se faz.
A criança dentro de nós não nos deixa ser adultos até que tenhamos nos divertido o suficiente para que a terra nos deixe alcançar o céu sem precisar voar de verdade, e ele é que vem até nós brincar também.
Eu te amo e é por isso que lhe deixarei apenas ser, de hoje em diante.
Nossa dor deixará de existir aos poucos, e do solo escuro nascerão as flores que levaram amor de um coração a outro entre os jardins da nossa miragem, da nossa pintura.
Seremos um, e então apenas o fato de ser será.
quarta-feira, 31 de outubro de 2012
Quando a contradição faz sentido
A melancolia é o prazer por sentir tristeza.
Quando todos os problemas do mundo, que sou eu, cessarem, então estarei em paz.
Mas até lá, a música é a minha única arma nesse nível de existência escrava, onde sou meu próprio capataz - e não sei como me livrar dessas amarras.
Na música eu sou Deus. Eu sou mais do que o mundo - eu sou aquilo que ele queria ter sido.
Quando todos os problemas do mundo, que sou eu, cessarem, então estarei em paz.
Mas até lá, a música é a minha única arma nesse nível de existência escrava, onde sou meu próprio capataz - e não sei como me livrar dessas amarras.
Na música eu sou Deus. Eu sou mais do que o mundo - eu sou aquilo que ele queria ter sido.
domingo, 24 de junho de 2012
We saw in lies there was some truth
Em tempos de frio e escuridão, o trabalho do artista é lembrar às pessoas que elas têm um coração - e que nele se esconde tudo o que se precisa.
As pessoas não tem coragem de dizer muitas verdades. Algumas até as negam por conta disso.
Até que vem alguém e diz,
de forma bonita,
e ela passa a aceitar.
Em meio a algumas mentirinhas achamos algumas verdades.
As pessoas não tem coragem de dizer muitas verdades. Algumas até as negam por conta disso.
Até que vem alguém e diz,
de forma bonita,
e ela passa a aceitar.
Em meio a algumas mentirinhas achamos algumas verdades.
quarta-feira, 23 de maio de 2012
O que o tempo realmente reservou a nós
Eu gostava de fingir pra mim mesmo às vezes que eu precisava de uma razão pra viver, só por que a minha cabeça não conseguia entender que porra é essa chamada vida.
Criei amores pra amar como se fosse validar a vida. Mas a validação é da razão, não do coração.
Criei histórias para viver como se fosse capaz de simular o mundo dentro de uma ficção que imita a própria vida em si. Grande idéia, superada apenas pela sua monumental falha, que consiste no codeterminismo irracional da primeira, e por óbvia consequência, da segunda.
Criei músicas, que na tentativa de exportar essa grande vontade de achar a verdade dentro de mim, foram bem-sucedidas ao invés disso em achar verdades aonde não seria possível afora - mas todas elas apontavam que, fatalmente, aquilo que eu procurava nelas, nos amigos, nos inimigos e em tudo aquilo mais era nada menos que eu mesmo - e todas as respostas que já estavam dentro de mim, mas eu não conseguia ver.
Não é por que eu criei eles que nenhum deles existiu - muito pelo crontário, foram muito verdadeiros, e puramente da minha vontade. Mas a vontade é algo controverso - pode ser coisa do ego às vezes, pode ser coisa do espírito, pode ser coisa dos outros que você acha que é sua, e nisso as coisas se misturam, pois na maioria das vezes é um pouco de cada.
Cada um dos eus diz a verdade de maneira diferente, mas acho às vezes que existe uma forma mais pura da verdade, aquela que de tão pura, escancarada, chega a ser cruel, mas que tem a capacidade insubstituível de libertar a qualquer ser que a valorize.
Eu inventei que eu te amava por que eu vi uma parte de mim mesmo em você, e se não foi você que me libertou, então fui eu mesmo, impresso em você por mim mesmo.
Não existe nenhum amor que seja falso - só existe falsidade nas coisas que inventam acerca dele, que, particularmente, são muitas. Amor falso é amor que não existe.
Se o amor é que me fez as inventá-las ou se foram as invenções que trouxeram o amor, eu não faço idéia. Mas eu tenho certeza que você não queria se apegar a mim, ou a ninguém, por que fatalmente todos nós queremos nos libertar, e tenho convicção de que esse não é o caminho.
Você, o meu "eu" em você, e esse eu que eu criei, sendo ele possivelmente a soma de todos os meus "eus" que eu enxerguei e coloquei como uma etiqueta em todas as pessoas que eu fui conhecendo até esse momento, todos eles estão na minha música. Todos são parte de uma história, igualmente inventada, e representada em acordes, melodias, tristes, felizes, supreendentes, aconchegantes, questionantes.
O que não quer dizer que ela seja falsa. A essência sempre estará lá. Você não pode falsificá-la, pois não é deus. E mesmo que pudesse, o destino se encarregaria de impedí-lo, pelo seu próprio bem, de vivê-la. Se você a viveu, foi real, foi necessário, foi você.
O destino então nos reservou aquilo que sempre quisemos e o melhor que podíamos dentro do que tínhamos a cumprir.
Quando eu falo com você, estou falando comigo mesmo, nesse doido sonho que acontece dentro de uma mente - todos são eu, pois isto é um sonho, e acontece na minha mente. Mas todos eles têm a certeza única e indissolúvel que são outros - e portanto o são.
É hora de eu me libertar do sonho de ser você e você do sonho de ser a mim. Talvez assim, sejamos um dia, livres de verdade para amar por si só.
Talvez seja, na verdade, o único caminho que nos resta. Por que não é possível adiar para sempre a responsabilidade pela escolha de fazer o que é certo ou o que é fácil.
E alguém não é aquilo que escolhe, porém escolhe aquilo que é. As escolhas não nos definem, pelo contrário - nós é que definimos as escolhas, mesmo que deterministicamente. A sutileza dessa diferenciação diz se um homem é um assassino ou se um assassino é um homem, e mais ainda - por quanto tempo é preciso se manter preso numa ilusão até aprender o que ela tem a comunicar.
Eu queria terminar o texto de maneira épica, mas o amor é uma coisa sutil, e não essa coisa trágica romântica de que só se ama com fatalidades presentes - fato que leva a vida das pessoas a um grande espiral de tédio e prisões, pois ávidos pelo grandioso, pelo ardente, pelo que é mortal, desapercebem-se do que é vital, primaveril, humilde.
Então eu faço melhor terminando assim:
e foram felizes para sempre.
quarta-feira, 9 de maio de 2012
Manifesto
O direito é mera escolha política. Saí da faculdade convencido disso. A maior lição que aprendi lá é a que, organizando um sistema dotado de um parâmetro lógico, qualquer matéria pode ser considerada direito. Por isso conseguimos dizer que a Sharia é direito e que o que temos no Ocidente é direito, sendo que ambos os sistemas “jurídicos” são meras escolhas políticas derivadas de uma análise basal feita com o que Schopenhauer denomina princípio de razão, ou seja, a tentativa de dotar as relações entre os homens e destes com seu mundo de alguma lógica fundada em princípios derivados de uma realidade ilusória. A única coisa em que diferem são as fontes. De um lado temos um homem que acreditava que um anjo lhe ditava a verdade. Do outro, uma “lógica pura” (inexistente) baseada na crença de que o homem nasce com direitos que lhe são intrínsecos e que devem ser protegidos. Dos dois, admito, prefiro acreditar no homem que diz ouvir um anjo.
O único direito que nasce com o homem é a liberdade e, obviamente, por isso é o primeiro (e único) a ser perdido. A única forma de evitarmos esta perda é identificarmos a sua origem. Hobbes conseguiu identificá-la com clareza : a força coatora, que se impõe sobre o mais fraco, hoje concentrada no Estado e em suas elites, que são as mesmas há dois milênios.
Apesar de ter meus problemas com Rousseau, admito que em seu “Discurso sobre a Desigualdade entre os Homens”, fez pontuações corretas. Além da força coatora nos privar do único direito com o qual nascemos, ela também nos priva do único modo de sobrevivermos, a terra. Da terra tiramos tudo que é necessário para vivermos, mas se ela pertence toda a elite que comanda a força coatora do Estado, como sobreviveremos?
Mas é possível existirmos sem a força coatora? Não. Nós temos que diminuir seus poderes, mas não acabar com eles. Acabar com eles traria de volta o “omnium bellum omnes” de Hobbes, o estado de guerra total e os mais fortes novamente preponderariam e reinstalariam a força coatora sob seus próprios moldes.
Por isso renego as teorias utópicas anarquistas, libertárias e mesmo comunistas que pregam o fim do Estado. Quero um Estado menor, com menor poder de influência ou decisão na vida de um cidadão. Quero uma nova elite, uma elite dos intelectualmente mais aptos, pois o intelecto é o instrumento supremo do homem e, ao mesmo tempo que, através de sua faceta intuitiva, podemos tirar da observação do sublime que há na natureza representando a quintessência da verdade divina, podemos construir relações mais justas neste mundo de ilusões em que vivemos, posto que a justiça é uma virtude, e virtudes só podem ser praticadas no convívio com outros seres humanos e, mais que tudo, pode ser ensinada.
Quero uma elite que torne a educação ampla, para aqueles que a quiserem, e profundamente meritocrata, pois políticas afirmativas, quando fundada sobre paradigmas esdrúxulos, imiscuem os dotados de superioridade e favorecem os medíocres.
Quero uma reforma agrária ampla e revolucionária, fundada sobre os princípios distributivistas de Chatterton e Belloc, de forma que não falte a ninguém no Brasil e, se depender de mim, no mundo, o que comer.
Quero o fim da distribuição de renda, que dá a economia um aspecto ilusório e que representa, para ela, um castelo de cartas.
Quero o fim da exploração das matas brasileiras de forma absoluta e irrevogável, doa a quem doer.
Quero um Estado que influa o mínimo possível na economia, mas o suficiente para evitar a formação de monopólios e manter a saúde econômica do país, garantindo assim que os cidadãos tenham acesso aos melhores produtos pelos menores preços.
Quero mecanismos regulatórios probos eficientes e não quero que a justiça se meta com eles.
Por fim, quero uma justiça que, como já foi dito, por ser uma opção política, opte por deixar cada individuo viver a sua vida como bem entender, desde que não atrapalhe a vida de seus pares.
Quero um Estado que, não se metendo com o individuo, não faça com que todos os outros tenham que arcar com as escolhas erradas que cada indivíduo fez.
Quero que os indivíduos tenham seus direitos sempre respeitados e nunca sacrificados em nome de um bem maior. Mas quero que aqueles que sejam culpados de tentar obstruir o aproveitamento destes direitos por cada individuo sejam punidos, até mesmo com a morte, se necessário. Quero que todos vivam. Como cada um bem entender. E que o homem seja em natureza, livre.
Pacta Sunt Servanda.
O único direito que nasce com o homem é a liberdade e, obviamente, por isso é o primeiro (e único) a ser perdido. A única forma de evitarmos esta perda é identificarmos a sua origem. Hobbes conseguiu identificá-la com clareza : a força coatora, que se impõe sobre o mais fraco, hoje concentrada no Estado e em suas elites, que são as mesmas há dois milênios.
Apesar de ter meus problemas com Rousseau, admito que em seu “Discurso sobre a Desigualdade entre os Homens”, fez pontuações corretas. Além da força coatora nos privar do único direito com o qual nascemos, ela também nos priva do único modo de sobrevivermos, a terra. Da terra tiramos tudo que é necessário para vivermos, mas se ela pertence toda a elite que comanda a força coatora do Estado, como sobreviveremos?
Mas é possível existirmos sem a força coatora? Não. Nós temos que diminuir seus poderes, mas não acabar com eles. Acabar com eles traria de volta o “omnium bellum omnes” de Hobbes, o estado de guerra total e os mais fortes novamente preponderariam e reinstalariam a força coatora sob seus próprios moldes.
Por isso renego as teorias utópicas anarquistas, libertárias e mesmo comunistas que pregam o fim do Estado. Quero um Estado menor, com menor poder de influência ou decisão na vida de um cidadão. Quero uma nova elite, uma elite dos intelectualmente mais aptos, pois o intelecto é o instrumento supremo do homem e, ao mesmo tempo que, através de sua faceta intuitiva, podemos tirar da observação do sublime que há na natureza representando a quintessência da verdade divina, podemos construir relações mais justas neste mundo de ilusões em que vivemos, posto que a justiça é uma virtude, e virtudes só podem ser praticadas no convívio com outros seres humanos e, mais que tudo, pode ser ensinada.
Quero uma elite que torne a educação ampla, para aqueles que a quiserem, e profundamente meritocrata, pois políticas afirmativas, quando fundada sobre paradigmas esdrúxulos, imiscuem os dotados de superioridade e favorecem os medíocres.
Quero uma reforma agrária ampla e revolucionária, fundada sobre os princípios distributivistas de Chatterton e Belloc, de forma que não falte a ninguém no Brasil e, se depender de mim, no mundo, o que comer.
Quero o fim da distribuição de renda, que dá a economia um aspecto ilusório e que representa, para ela, um castelo de cartas.
Quero o fim da exploração das matas brasileiras de forma absoluta e irrevogável, doa a quem doer.
Quero um Estado que influa o mínimo possível na economia, mas o suficiente para evitar a formação de monopólios e manter a saúde econômica do país, garantindo assim que os cidadãos tenham acesso aos melhores produtos pelos menores preços.
Quero mecanismos regulatórios probos eficientes e não quero que a justiça se meta com eles.
Por fim, quero uma justiça que, como já foi dito, por ser uma opção política, opte por deixar cada individuo viver a sua vida como bem entender, desde que não atrapalhe a vida de seus pares.
Quero um Estado que, não se metendo com o individuo, não faça com que todos os outros tenham que arcar com as escolhas erradas que cada indivíduo fez.
Quero que os indivíduos tenham seus direitos sempre respeitados e nunca sacrificados em nome de um bem maior. Mas quero que aqueles que sejam culpados de tentar obstruir o aproveitamento destes direitos por cada individuo sejam punidos, até mesmo com a morte, se necessário. Quero que todos vivam. Como cada um bem entender. E que o homem seja em natureza, livre.
Pacta Sunt Servanda.
domingo, 6 de maio de 2012
End();
Bem amigos de Rede Globo, não pera...
Esse é um post bem curto, de despedida mesmo, não tem muito o que falar, só que eu agradeço pelo espaço cedido pelo nosso amigo japonês que serviu como um grande deposito de ideias, sentimentos e muita bobagem produtiva huiashiasaihasiusah No entanto nos últimos meses eu não tenho conseguido escrever mais nada e acho que grande parte do proposito que esse blog tinha pra mim acabou, no entanto minha saída não é lá grandes coisas, ao meu ver tudo vai continuar da mesma maneira já que eu postava muito pouco e o foco do blog será mantido de qualquer maneira, mas é sempre bom avisar das decisões que se toma.
Um abraço bem escroto pra todos, risos.
Esse é um post bem curto, de despedida mesmo, não tem muito o que falar, só que eu agradeço pelo espaço cedido pelo nosso amigo japonês que serviu como um grande deposito de ideias, sentimentos e muita bobagem produtiva huiashiasaihasiusah No entanto nos últimos meses eu não tenho conseguido escrever mais nada e acho que grande parte do proposito que esse blog tinha pra mim acabou, no entanto minha saída não é lá grandes coisas, ao meu ver tudo vai continuar da mesma maneira já que eu postava muito pouco e o foco do blog será mantido de qualquer maneira, mas é sempre bom avisar das decisões que se toma.
Um abraço bem escroto pra todos, risos.
terça-feira, 24 de abril de 2012
Justificativa para publicação do texto "The Fatalist"
O texto que eu acabei de publicar foi fundamental para minha conversão ao fatalismo. Não porque ele apresente de fato uma desculpa ou mesmo um pretexto lógico para a crença. Muito pelo contrário. Creio que as obras de arte tenham, como disse Schopenhauer, a capacidade de iluminar a mente humana para que esta, desviando-se dos artifícios delusórios da razão, alcance a realidade transcendente ao mundo de sombras que vivemos, ainda que utilizando-se meramente da sensibilidade do leitor ao talento do escritor.
Quando eu li pela primeira vez este conto devia ter uns dezesseis, dezessete anos, e foi o que mais me tocou de uma coleção de contos russos que ganhei de aniversário. De alguma forma, ele abriu as portas da minha mente para entender que, ainda que nós não pudéssemos saber nosso Destino, Deus, em sua onisciência, o sabia. Por temermos a impotência, nos recusamos a acreditar nisto, o que é na verdade uma prova do quão fraco e pouco sapiente o homem é em relação a natureza e a harmonia da Criação com o Criador.
Minha crença na onisciência divina e meu refutar do livre-arbítrio não fez com que duvidasse em nenhum momento de minhas ações, ou achasse que elas estavam sendo controladas, nem nunca me permitiu que desculpasse alguém sob esta alegação ou mesmo me desculpasse ou me colocasse em uma posição de miséria sob este pretexto. Creio que assim que É e nada pode ser feito para que mude, a não ser viver.
De qualquer forma, anos depois entrei em contato com o livro do qual saiu este texto (Gueroi nashevo vremeni - Um herói do nosso tempo, 1839, Mikhail Lermontov. Texto em inglês: http://www.eldritchpress.org/myl/hero.htm - da onde os trechos retirados provém) e salvei-o como um dos favoritos no meu computador. Passado um ano deste ato de salvar, resolvi ler o livro. Desde a primeira página, me encantei pela obra, pelo autor e pelo personagem, que considero quase um alter-ego de mim mesmo. Tamanha é a genialidade do livro e do autor, bem como minha identificação, que selecionei alguns trechos, para deixar os leitores deste blog, que foi, por sinal, construído como meio para divulgar a crença de seus autores no determinismo (crença esta que, como disse, passei a ter depois de ler o texto postado logo antes em uma ótima tradução feita por José Augusto Carvalho para o livro "Contos Russos Eternos"), com vontade de ler a obra:
"'Perhaps,' I thought, 'that is why you loved me, for joy is forgotten, but sorrow never . . .'"
"But far from it! Hence this is not the restless craving for love that torments us in the early years of our youth and casts us from one woman to another until we meet one who cannot endure us; this is the beginning of our constancy--the true unending passion that may mathematically be represented by a line extending from a point into space, the secret of whose endlessness consists merely in the impossibility of attaining the goal, that is, the end."
"And yet to possess a young soul that has barely developed is a source of very deep delight. It is like a flower whose richest perfume goes out to meet the first ray of the sun. One must pluck it at that very moment and, after inhaling its perfume to one's heart's content, discard it along the wayside on the chance that someone will pick it up. I sense in myself that insatiable avidity that devours everything in its path. And I regard the sufferings and joys of others merely in relation to myself, as food to sustain my spiritual strength. Passion is no longer capable of robbing me of my sanity. My ambition has been crushed by circumstances, but it has manifested itself in a new form, for ambition is nothing but lust for power, and my greatest pleasure I derive from subordinating everything around me to my will. Is it not both the first token of power and its supreme triumph to inspire in others the emotions of love, devotion and fear? Is it not the sweetest fare for our vanity to be the cause of pain or joy for someone without the least claim thereto? And what is happiness? Pride gratified. Could I consider myself better and more powerful than anyone else in the world, I would be happy. Were everybody to love me, I'd find in myself unending wellsprings of love. Evil begets evil; one's first suffering awakens a realization of the pleasure of tormenting another. The idea of evil cannot take root in the mind of man without his desiring to apply it in practice. Someone has said that ideas are organic entities: their very birth imparts them form, and this form is action. He in whose brain the most ideas are born is more active than others, and because of this a genius shackled to an office desk must either die or lose his mind, just as a man with a powerful body who leads a modest, sedentary life dies from an apoplectic stroke."
"I thought for a moment and then said, taking on a deeply touched face: 'Yes, such has been my lot since childhood. Everyone read signs of non-existent evil traits in my features. But since they were expected to be there, they did make their appearance. Because I was reserved, they said I was sly, so I grew reticent. I was keenly aware of good and evil, but instead of being indulged I was insulted and so I became spiteful. I was sulky while other children were merry and talkative, but though I felt superior to them I was considered inferior. So I grew envious. I was ready to love the whole world, but no one understood me, and I learned to hate. My cheerless youth passed in conflict with myself and society, and fearing ridicule I buried my finest feelings deep in my heart, and there they died. I spoke the truth, but nobody believed me, so I began to practice duplicity. Having come to know society and its mainsprings, I became versed in the art of living and saw how others were happy without that proficiency, enjoying for free the favors I had so painfully striven for. It was then that despair was born in my heart--not the despair that is cured with a pistol, but a cold, impotent desperation, concealed under a polite exterior and a good-natured smile. I became a moral cripple; I had lost one half of my soul, for it had shriveled, dried up and died, and I had cut it off and cast it away, while the other half stirred and lived, adapted to serve every comer. No one noticed this, because no one suspected there had been another half. Now, however, you have awakened memories of it in me, and what I have just done is to read its epitaph to you. Many regard all epitaphs as ridiculous, but I do not, particularly when I remember what rests beneath them. Of course, I am not asking you to share my opinion; if what I have said seems ridiculous to you, please laugh, though I warn you that it will not annoy me in the slightest.'"
"[...] most passions begin that way, and we frequently deceive ourselves when we think that a woman loves us for our physical or moral qualities. True, they prepare the ground, dispose the heart to receive the sacred flame, but nevertheless it is the first physical contact that decides the issue."
"''Fools should be so deep-contemplative,'' [...]"
"I run through my past life in my mind and involuntarily ask myself: Why have I lived? For what purpose was I born? There must have been a purpose, and certainly fate must have something noble in store for me, for I am conscious of untapped powers within me . . . But I didn't figure out my destination. I allowed myself to be carried away by the temptation of vain and frivolous passions. I emerged from their crucible hard and cold like iron, but gone forever was the ardor of noble aspirations--life's finest flower. How often since then have I played the role of an ax in the hands of fate! Like an instrument of execution I have fallen upon the heads of the condemned, often without malice, always without regret . . . My love has never made anyone happy, for I have never sacrificed anything for those I loved; I have loved only for myself, for my own pleasure. I have striven only to satisfy a strange craving of the heart, greedily absorbing their emotions, their tenderness, their joys and sufferings--and have never been fully satisfied. I have been like the starving man who falls into a stupor from sheer exhaustion and dreams of luxurious foods and sparkling wines--exultingly he shovels in these ephemeral gifts of the imagination, and seems to feel better--but when he awakes the vision is gone . . . and redoubled hunger and despair remain!
Perhaps I will die tomorrow, and there won't be anyone left on earth who understands me fully. Some think of me worse, others better, than I really am. Some will say: he was a good fellow; others: he was a scoundrel. And both will be wrong. Is it worth the trouble to live after this? And yet you go on living--out of curiosity, in expectation of something new . . . How ludicrous and how vexatious!"
"After this, no one can tell me that the soul is not dependent on the body!"
"My soul has spent all its treasures, its tears and hopes on you. She who has once loved you cannot but regard other men with some measure of contempt, not because you are better than they--oh no!--but because there is something unique in your nature, something peculiar to you alone, something so proud and unfathomable. Whatever you may be saying, your voice holds an invincible power. In no one is the desire to be loved so constant as in you. In no one is evil so attractive. In no one's glance is there such a promise of bliss. Nobody knows better than you how to use his advantages, and no one else can be so genuinely unhappy as you, because nobody tries so hard as you to convince himself of the contrary."
The Fatalist
Texto retirado de http://www.eldritchpress.org/myl/hero.htm
I happened once to spend two weeks in a Cossack village on the left flank. A battalion of infantry was stationed there, and the officers used to meet at each other's quarters in turn, playing cards in the evenings.
One time at Major S----'s, having tired of boston, we threw the cards under the table and sat on talking until late, for this time the conversation was interesting. We were discussing the Moslem belief that the fate of man is preordained in heaven, which was said to find many adherents among us, Christians, too. Each of us had some unusual occurrences to relate pro or contra.
"All you have been saying, gentlemen, proves nothing," said the old major. "After all, none of you witnessed any of the strange happenings which you try to use to support your views, did you?"
"Of course not," several said. "But we have it on reliable authority!"
"Nonsense!" someone said. "Where is the reliable authority who has seen the scroll on which the hour of our death is appointed? And if there is such a thing as predestination, why have we been given will and reason? Why are we held accountable for our actions?"
At this point an officer who had been sitting in a corner of the room stood up, walked slowly over to the table, and surveyed us all with a calm, solemn look. He was a Serb by birth, as you could tell from his name.
Lieutenant Vulic's appearance was in keeping with his character. His tall stature and the swarthiness of his complexion, black hair, black, piercing eyes, and the large but regular nose typical of his nation, the cold, melancholy smile that eternally played on his lips--all this was as if designed to endow him with the appearance of an unusual person, incapable of sharing his thoughts and emotions with those whom fate had made his comrades.
He was brave, he spoke little but bluntly. He confided his intimate and family secrets to no one. He scarcely ever drank any wine, and he never paid court to the young Cossack women, whose charms must be seen to be appreciated. It was said nevertheless that the colonel's wife was not indifferent to his expressive eyes, but he was always angered by hints to that effect.
There was only one passion that he didn't conceal--his passion for gambling. At a green-topped table he was oblivious to the world. He usually lost, but persistent bad luck only fed his obstinacy. It was said that one night, during an expedition, when he was keeping the bank on a pillow and having a terrific run of luck, shots suddenly rang out, the alarm was given, and everyone sprang up and rushed for their weapons. "Stake the pool!" cried Vulic, who had not moved, to one of the most involved players. "Seven!" replied the latter as he dashed off. In spite of the general confusion, Vulic dealt to the end; he turned up a seven for the player.
When he reached the skirmish line, the firing was already heavy. Vulic paid no attention either to the bullets or the Chechen sabers. He was searching for his lucky player.
"It was a seven!" Vulic shouted, catching sight of him at last in the firing line, that was beginning to dislodge the enemy from a wood. Going up to him, he pulled out his wallet and gave it to the winner, in spite of the latter's objections to this ill-timed settlement. Having performed this unpleasant duty, Vulic dashed forward at the head of the soldiers and with the utmost calm exchanged fire with the Chechens to the very end of the engagement.
When Lieutenant Vulic walked up to the table everybody fell silent, expecting something original from him.
"Gentlemen!" he said (his voice was calm though it was pitched lower than usual). "Gentlemen, why this idle argument? You wish for proof: I propose we test it out on ourselves whether a man can do what he wants with his own life, or whether the fateful moment has been preordained for each of us . . . Who wants to try?"
"Not I, not I!" was the response from all sides. "What a card! Of all the things to think of!"
"I suggest a wager," I said in jest.
"What sort of a wager?"
"I maintain there is no such thing as predestination," I said, emptying some twenty gold pieces on the table from my pockets--all that I happened to have on me.
"Done!" replied Vulic in a low voice. "Major, you be the umpire--here are fifteen gold pieces. You owe me five, so will you do me the favor of making up the difference?"
"Very well," said the major. "Though I haven't the slightest idea what it's all about, or how you propose to settle the matter."
Without a word Vulic went into the major's bedroom, we following him. Going over to a wall hung with weapons, he took down at random from its nail one of the pistols, of which there were several of different calibers. We didn't realize what he was up to at first, but when he cocked the weapon and primed it, several of us involuntarily stepped up and grabbed him by the arms.
"What are you going to do? Are you mad?" we shouted at him.
"Gentlemen!" he said with deliberation, disengaging his arms. "Which of you would care to pay twenty gold pieces for me?"
Everyone fell silent and drew back.
Vulic went into the next room and sat down at the table. The rest of us followed him. He motioned us to take our seats around the table. We obeyed him in silence, for at this moment he had acquired some mysterious power over us. I looked intently into his eyes, but they met my searching gaze calmly and unwaveringly, and his pale lips smiled; yet in spite of his composure I thought I could read the seal of death on his dull white face. I have observed, and many old soldiers have confirmed the observation, that frequently the face of a person who is to die in a few hours' time bears some strange mark of his inevitable fate, which an experienced eye can hardly fail to detect.
"You will die today," I said to him. He turned sharply to me, but replied with calm deliberation: "I may, and then again I may not . . ."
Then, turning to the major, he asked whether the pistol was loaded. In his confusion, the major couldn't remember exactly.
"That's enough, Vulic!" someone cried. "It must be loaded since it hung at the head of the bed. What sort of a joke is this!"
"A stupid joke!" threw in another.
"I'll wager fifty rubles to five that the pistol is not loaded!" a third shouted.
Fresh bets were made.
I got tired of this endless ceremony. "Look here," I said, "either fire or hang the pistol back in its place and let's go to bed."
"That's right," many exclaimed. "Let's go to bed."
"Gentlemen, I beg of you not to move!" said Vulic, pressing the muzzle of the pistol to his forehead. We were all petrified.
"Mr Pechorin," he went on, "will you take a card and throw it up in the air."
As I recall now, I picked up an ace of hearts from the table and threw it up. We watched with bated breath, our eyes, wide with fear and an indefinable curiosity, shifting back and forth between the pistol and the fateful ace which was now slowly fluttering downwards. The moment it touched the table, Vulic pulled the trigger--but the pistol didn't go off.
"Thank God!" several voices cried. "It wasn't loaded . . ."
"We'll see about that," said Vulic. Again he cocked the weapon and aimed at a cap hanging above the window. A shot rang out and smoke filled the room, and when it dispersed the cap was taken down--there was the hole in the very center of it and the bullet had imbedded itself deep in the wall.
For a good three minutes no one could utter a word. Vulic calmly poured my money into his purse.
Speculation began as to why the pistol did not go off the first time. Some claimed that the pan must have been clogged, others whispered that the powder was damp at first, and that Vulic had afterwards sprinkled some fresh powder on it. I, however, assured them that the latter supposition was incorrect, for I had not taken my eyes off the pistol for a moment.
"You have gambler's luck!" I said to Vulic.
"For the first time in my life," he replied, smiling complacently. "This is better than faro or shtoss."
"But slightly more dangerous."
"Well? Have you begun to believe in predestination?"
"I do believe in it. Only I don't understand why it seemed to me that you were doomed to die today ..."
The very same man, who so short a time before had with supreme indifference aimed a pistol at his own forehead, now suddenly flared up and looked disconcerted.
"That will do!" he said, rising. "Our bet's finished and now your remarks seem out of place to me . . ." He picked up his cap and walked out. His behavior struck me as strange--and rightly so.
Soon everyone left, each giving his own interpretation of Vulic's eccentric behavior on the way home, and, probably, unanimously branding me an egoist for having wagered against a man who wanted to shoot himself--as if he could not have found a convenient opportunity without my help!
I returned home through the deserted side streets of the settlement. The full moon, red as the lurid glow of a fire, was just coming up over the jagged skyline of the housetops. The stars shone placidly in the dark-blue firmament, and I was amused at the thought that there once were sages who believed the heavenly bodies have a share in our wretched squabbles over a tiny territory or some other imaginary rights. Yet these lamps, which they thought had been lighted only to illuminate their battles and triumphs, still burn with undiminished brilliance, while their passions and hopes have long since died out together with them like a campfire left burning on the fringe of a forest by a careless wayfarer. But what strength of will they drew from the certainty that all the heavens with their numberless inhabitants looked down on them with constant though mute sympathy! Whereas we, their wretched descendents, who roam the earth without convictions or pride, without joys or fear other than the nameless dread that constricts the heart at the thought of the inevitable end, we are no longer capable of great sacrifices either for the good of mankind or even for our personal happiness, since we know that happiness is impossible; and we pass indifferently from one doubt to another just as our forebears floundered from one delusion to another, without the hopes they had and without even that vague but potent sense of joy the soul derives from any struggle with man or destiny . . .
Many similar thoughts passed through my mind. I did not hold back their passage, because I don't care to dwell upon abstract ideas--for what can they lead to? In my early youth I was a dreamer. I liked to toy with the images, now gloomy, now radiant, which my restless, eager imagination drew for me. But what have I derived from it all? Only weariness, like the aftermath of a nighttime battle with a phantom, and dim memories filled with regrets. In this futile struggle, I exhausted the fervor of spirit and the constancy of will which are essential to real life. When I embarked on that life, I had already lived it in my mind, and therefore it has become as boring and repulsive to me as a poor imitation of a long-familiar book.
The evening's events had made a rather deep impression on me and worked on my nerves. I'm not certain whether I now believe in predestination or not, but that night I firmly believed in it. The proof had been striking, and regardless of the fact that I had ridiculed our forebears and their complacent astrology, I found myself thinking as they did--but I caught myself in time on this dangerous road, and having made it a rule never to reject anything categorically and never to believe in anything blindly, I cast metaphysics aside and began to watch the ground under my feet. Such caution was timely, for I nearly stumbled over something thick and soft but apparently dead. I bent down--the moon now lit up the road--and what did I see lying in front of me, but a pig sliced into two with a saber . . . I had hardly had time to look at it when I heard footsteps: two Cossacks came running from a side street. One of them came up to me and asked whether I had seen a drunken Cossack pursuing a pig. I told them that I had not met the Cossack, but showed them the unlucky victim of his ferocious skill.
"The bandit!" said the second Cossack. "As soon as he drinks his fill of wine, he's out to cut up everything that comes his way. Let's go after him, Yeremeich; we've got to tie him up, or else . . ."
They went off and I continued on my way more warily than before, at last reaching my quarters safe and sound.
I was staying with an old Cossack non-commissioned officer, whom I liked because of his kindly nature and particularly because of his pretty daughter, Nastya.
She was waiting for me as usual at the gate, wrapped in a fur coat; the moon shone on her sweet lips now blue from the cold of the night. Seeing me, she smiled, but I had other things on my mind. "Good night, Nastya," I said, passing by. She was about to say something in reply, but sighed instead.
I locked the door of my room, lit a candle and flung myself on the bed. Tonight, however, sleep eluded me for longer than usual. The east was already beginning to grow pale when I fell asleep, but evidently the heavens had ordained that I was not to sleep this night. At four o'clock in the morning two fists banged at my window. I sprang up--what was the matter? "Wake up and get dressed!" several voices shouted. I dressed hastily and went out. "Do you know what's happened?" the three officers who had come for me said to me in chorus; they were as white as death.
"What?" "Vulic has been killed." I was stupefied. "Yes, killed!" they went on. "Let's go, quick." "Where to?" "We'll tell you on the way."
We set off. They told me everything that had happened, adding to the story various observations concerning the strange predestination that had saved him from certain death half an hour before he died. Vulic had been walking alone along a dark street, when the drunken Cossack who had slashed up the pig bumped into him, and might perhaps have gone on without paying any attention to him had Vulic not stopped suddenly and said: "Who you looking for, boy?"
"You!" the Cossack answered, striking him with his saber and splitting him from the shoulder nearly to the heart . . . The two Cossacks whom I had seen and who were pursuing the murderer reached the spot, and picked up the wounded man, but he was already breathing his last and mouthed only the words: "He was right!" I alone understood the dark meaning of these words--they referred to me. I had involuntarily predicted the poor man's fate. My instinct had not failed me--I had indeed read on his altered features the stamp of death coming soon.
The murderer had locked himself in a vacant hut at the far end of the settlement, and that's where we went. A large number of women were running in the same direction, wailing as they went. Every now and then a Cossack sprang belatedly out into the street, hurriedly buckling on a dagger, and ran past us. There was a fearful commotion.
At last we arrived on the scene to find a crowd gathered around the hut, whose doors and shutters had been fastened from the inside. Officers and Cossacks were holding a hot argument and the women kept howling and lamenting. Among them I noticed an old woman whose imposing face expressed frantic despair. She was seated on a thick log, her elbows on her knees and her hands supporting her head. She was the murderer's mother. At times her lips moved . . . was it with a prayer or a curse?
In the meantime, some decision had to be made and the perpetrator arrested. But no one was anxious to go in first.
I went up to the window and looked in through a crack in a shutter. The man lay on the floor, holding a pistol in his right hand. A bloodstained saber lay beside him. His face was pale, and his expressive eyes rolled fearfully. At times he shuddered and clutched at his head, as if hazily recollecting the happenings of the previous day. There did not seem to be much resolve in his uneasy glance and I told the major that there was no reason why he shouldn't order the Cossacks to break down the door and rush him, for it would be better to do so now rather than later when the man would've fully recovered his senses.
Just then an old captain of the Cossacks went up to the door and called to the man inside by name. The latter responded.
"You've sinned, brother Yefimych," said the Cossack captain. "So there's nothing you can do but give yourself up!"
"I won't!" replied the Cossack.
"You should fear God's anger! You are not a heathen Chechen, you're an honest Christian. You've gone astray and it can't be helped. You can't escape your fate!"
"I won't give myself up!" the Cossack shouted menacingly, and we could hear the click of the pistol as he cocked it.
"Hey, missus!" the Cossack captain said to the old woman. "You speak to your son--maybe he'll listen to you . . . After all, this sort of thing is only defying God. Look, the gentlemen have been waiting for two hours now."
The old woman looked at him intently and shook her head.
"Vasiliy Petrovich," said the Cossack captain, walking over to the major, "he won't give himself up--I know him. And if we break in the door, he'll kill many of our men. Wouldn't it be better if you ordered him to be shot? There is a wide crack in the shutter."
At that moment, a strange thought flashed through my mind; like Vulic, I thought of putting fate to a test.
"Wait," I said to the major, "I'll take him alive." Telling the Cossack captain to keep him talking and stationing three Cossacks at the entrance with instructions to break in the door and to rush to help me as soon as the signal was given, I walked around the hut and approached the fateful window, my heart pounding.
"Hey there, you donkey!" shouted the Cossack captain. "Are you making fun of us or what? Or maybe you think we won't be able to capture you?" He began hammering at the door with all his strength, while I, pressing my eye to the hole, followed the movements of the Cossack inside, who did not expect an attack from this side. Then I suddenly broke off the shutter and threw myself through the window, head first. The pistol went off next to my ear and the bullet tore off an epaulet. The smoke that filled the room, however, prevented my adversary from finding his saber, which lay beside him. I hugged him in my arms--the Cossacks broke in, and in less than three minutes the criminal was tied up and led off under guard. The people left for home and the officers congratulated me--and indeed they had reason to do so.
After all this, one might think, how could one help becoming a fatalist? But who knows for certain whether he is convinced of anything or not? And how often we mistake a deception of the senses or an error of reason for conviction!
I prefer to doubt everything. Such a disposition does not preclude a resolute character. On the contrary, as far as I am concerned, I always advance more boldly when I don't know what is waiting me for me. After all, nothing worse than death can happen--and death you can't escape!
After returning to the fort, I told Maksim Maksimich everything I had seen and experienced, and wanted to hear his opinion about predestination. At first he didn't understand the word, but I explained it to him as best I could, whereupon he said, wisely shaking his head: "Yes, sir! It's a funny business that! By the way, these Asiatic pistol cocks often miss fire if they are poorly oiled, or if you don't press hard enough with your finger. I must admit I don't like those Circassian rifles either. They are a bit inconvenient for the likes of us--the butt is so small that unless you watch out you can get your nose scorched . . . Their sabers, now, are a different matter--I take my cap off to them!"
Then he added after thinking a little more: "Yes, I'm sorry for that poor man . . . Why the hell did he stop to talk to a drunk at night! I suppose, though, that all that happened to him was already written in that big book when he was born!"
I could get nothing more out of him. In general he doesn't like metaphysical talk.
I happened once to spend two weeks in a Cossack village on the left flank. A battalion of infantry was stationed there, and the officers used to meet at each other's quarters in turn, playing cards in the evenings.
One time at Major S----'s, having tired of boston, we threw the cards under the table and sat on talking until late, for this time the conversation was interesting. We were discussing the Moslem belief that the fate of man is preordained in heaven, which was said to find many adherents among us, Christians, too. Each of us had some unusual occurrences to relate pro or contra.
"All you have been saying, gentlemen, proves nothing," said the old major. "After all, none of you witnessed any of the strange happenings which you try to use to support your views, did you?"
"Of course not," several said. "But we have it on reliable authority!"
"Nonsense!" someone said. "Where is the reliable authority who has seen the scroll on which the hour of our death is appointed? And if there is such a thing as predestination, why have we been given will and reason? Why are we held accountable for our actions?"
At this point an officer who had been sitting in a corner of the room stood up, walked slowly over to the table, and surveyed us all with a calm, solemn look. He was a Serb by birth, as you could tell from his name.
Lieutenant Vulic's appearance was in keeping with his character. His tall stature and the swarthiness of his complexion, black hair, black, piercing eyes, and the large but regular nose typical of his nation, the cold, melancholy smile that eternally played on his lips--all this was as if designed to endow him with the appearance of an unusual person, incapable of sharing his thoughts and emotions with those whom fate had made his comrades.
He was brave, he spoke little but bluntly. He confided his intimate and family secrets to no one. He scarcely ever drank any wine, and he never paid court to the young Cossack women, whose charms must be seen to be appreciated. It was said nevertheless that the colonel's wife was not indifferent to his expressive eyes, but he was always angered by hints to that effect.
There was only one passion that he didn't conceal--his passion for gambling. At a green-topped table he was oblivious to the world. He usually lost, but persistent bad luck only fed his obstinacy. It was said that one night, during an expedition, when he was keeping the bank on a pillow and having a terrific run of luck, shots suddenly rang out, the alarm was given, and everyone sprang up and rushed for their weapons. "Stake the pool!" cried Vulic, who had not moved, to one of the most involved players. "Seven!" replied the latter as he dashed off. In spite of the general confusion, Vulic dealt to the end; he turned up a seven for the player.
When he reached the skirmish line, the firing was already heavy. Vulic paid no attention either to the bullets or the Chechen sabers. He was searching for his lucky player.
"It was a seven!" Vulic shouted, catching sight of him at last in the firing line, that was beginning to dislodge the enemy from a wood. Going up to him, he pulled out his wallet and gave it to the winner, in spite of the latter's objections to this ill-timed settlement. Having performed this unpleasant duty, Vulic dashed forward at the head of the soldiers and with the utmost calm exchanged fire with the Chechens to the very end of the engagement.
When Lieutenant Vulic walked up to the table everybody fell silent, expecting something original from him.
"Gentlemen!" he said (his voice was calm though it was pitched lower than usual). "Gentlemen, why this idle argument? You wish for proof: I propose we test it out on ourselves whether a man can do what he wants with his own life, or whether the fateful moment has been preordained for each of us . . . Who wants to try?"
"Not I, not I!" was the response from all sides. "What a card! Of all the things to think of!"
"I suggest a wager," I said in jest.
"What sort of a wager?"
"I maintain there is no such thing as predestination," I said, emptying some twenty gold pieces on the table from my pockets--all that I happened to have on me.
"Done!" replied Vulic in a low voice. "Major, you be the umpire--here are fifteen gold pieces. You owe me five, so will you do me the favor of making up the difference?"
"Very well," said the major. "Though I haven't the slightest idea what it's all about, or how you propose to settle the matter."
Without a word Vulic went into the major's bedroom, we following him. Going over to a wall hung with weapons, he took down at random from its nail one of the pistols, of which there were several of different calibers. We didn't realize what he was up to at first, but when he cocked the weapon and primed it, several of us involuntarily stepped up and grabbed him by the arms.
"What are you going to do? Are you mad?" we shouted at him.
"Gentlemen!" he said with deliberation, disengaging his arms. "Which of you would care to pay twenty gold pieces for me?"
Everyone fell silent and drew back.
Vulic went into the next room and sat down at the table. The rest of us followed him. He motioned us to take our seats around the table. We obeyed him in silence, for at this moment he had acquired some mysterious power over us. I looked intently into his eyes, but they met my searching gaze calmly and unwaveringly, and his pale lips smiled; yet in spite of his composure I thought I could read the seal of death on his dull white face. I have observed, and many old soldiers have confirmed the observation, that frequently the face of a person who is to die in a few hours' time bears some strange mark of his inevitable fate, which an experienced eye can hardly fail to detect.
"You will die today," I said to him. He turned sharply to me, but replied with calm deliberation: "I may, and then again I may not . . ."
Then, turning to the major, he asked whether the pistol was loaded. In his confusion, the major couldn't remember exactly.
"That's enough, Vulic!" someone cried. "It must be loaded since it hung at the head of the bed. What sort of a joke is this!"
"A stupid joke!" threw in another.
"I'll wager fifty rubles to five that the pistol is not loaded!" a third shouted.
Fresh bets were made.
I got tired of this endless ceremony. "Look here," I said, "either fire or hang the pistol back in its place and let's go to bed."
"That's right," many exclaimed. "Let's go to bed."
"Gentlemen, I beg of you not to move!" said Vulic, pressing the muzzle of the pistol to his forehead. We were all petrified.
"Mr Pechorin," he went on, "will you take a card and throw it up in the air."
As I recall now, I picked up an ace of hearts from the table and threw it up. We watched with bated breath, our eyes, wide with fear and an indefinable curiosity, shifting back and forth between the pistol and the fateful ace which was now slowly fluttering downwards. The moment it touched the table, Vulic pulled the trigger--but the pistol didn't go off.
"Thank God!" several voices cried. "It wasn't loaded . . ."
"We'll see about that," said Vulic. Again he cocked the weapon and aimed at a cap hanging above the window. A shot rang out and smoke filled the room, and when it dispersed the cap was taken down--there was the hole in the very center of it and the bullet had imbedded itself deep in the wall.
For a good three minutes no one could utter a word. Vulic calmly poured my money into his purse.
Speculation began as to why the pistol did not go off the first time. Some claimed that the pan must have been clogged, others whispered that the powder was damp at first, and that Vulic had afterwards sprinkled some fresh powder on it. I, however, assured them that the latter supposition was incorrect, for I had not taken my eyes off the pistol for a moment.
"You have gambler's luck!" I said to Vulic.
"For the first time in my life," he replied, smiling complacently. "This is better than faro or shtoss."
"But slightly more dangerous."
"Well? Have you begun to believe in predestination?"
"I do believe in it. Only I don't understand why it seemed to me that you were doomed to die today ..."
The very same man, who so short a time before had with supreme indifference aimed a pistol at his own forehead, now suddenly flared up and looked disconcerted.
"That will do!" he said, rising. "Our bet's finished and now your remarks seem out of place to me . . ." He picked up his cap and walked out. His behavior struck me as strange--and rightly so.
Soon everyone left, each giving his own interpretation of Vulic's eccentric behavior on the way home, and, probably, unanimously branding me an egoist for having wagered against a man who wanted to shoot himself--as if he could not have found a convenient opportunity without my help!
I returned home through the deserted side streets of the settlement. The full moon, red as the lurid glow of a fire, was just coming up over the jagged skyline of the housetops. The stars shone placidly in the dark-blue firmament, and I was amused at the thought that there once were sages who believed the heavenly bodies have a share in our wretched squabbles over a tiny territory or some other imaginary rights. Yet these lamps, which they thought had been lighted only to illuminate their battles and triumphs, still burn with undiminished brilliance, while their passions and hopes have long since died out together with them like a campfire left burning on the fringe of a forest by a careless wayfarer. But what strength of will they drew from the certainty that all the heavens with their numberless inhabitants looked down on them with constant though mute sympathy! Whereas we, their wretched descendents, who roam the earth without convictions or pride, without joys or fear other than the nameless dread that constricts the heart at the thought of the inevitable end, we are no longer capable of great sacrifices either for the good of mankind or even for our personal happiness, since we know that happiness is impossible; and we pass indifferently from one doubt to another just as our forebears floundered from one delusion to another, without the hopes they had and without even that vague but potent sense of joy the soul derives from any struggle with man or destiny . . .
Many similar thoughts passed through my mind. I did not hold back their passage, because I don't care to dwell upon abstract ideas--for what can they lead to? In my early youth I was a dreamer. I liked to toy with the images, now gloomy, now radiant, which my restless, eager imagination drew for me. But what have I derived from it all? Only weariness, like the aftermath of a nighttime battle with a phantom, and dim memories filled with regrets. In this futile struggle, I exhausted the fervor of spirit and the constancy of will which are essential to real life. When I embarked on that life, I had already lived it in my mind, and therefore it has become as boring and repulsive to me as a poor imitation of a long-familiar book.
The evening's events had made a rather deep impression on me and worked on my nerves. I'm not certain whether I now believe in predestination or not, but that night I firmly believed in it. The proof had been striking, and regardless of the fact that I had ridiculed our forebears and their complacent astrology, I found myself thinking as they did--but I caught myself in time on this dangerous road, and having made it a rule never to reject anything categorically and never to believe in anything blindly, I cast metaphysics aside and began to watch the ground under my feet. Such caution was timely, for I nearly stumbled over something thick and soft but apparently dead. I bent down--the moon now lit up the road--and what did I see lying in front of me, but a pig sliced into two with a saber . . . I had hardly had time to look at it when I heard footsteps: two Cossacks came running from a side street. One of them came up to me and asked whether I had seen a drunken Cossack pursuing a pig. I told them that I had not met the Cossack, but showed them the unlucky victim of his ferocious skill.
"The bandit!" said the second Cossack. "As soon as he drinks his fill of wine, he's out to cut up everything that comes his way. Let's go after him, Yeremeich; we've got to tie him up, or else . . ."
They went off and I continued on my way more warily than before, at last reaching my quarters safe and sound.
I was staying with an old Cossack non-commissioned officer, whom I liked because of his kindly nature and particularly because of his pretty daughter, Nastya.
She was waiting for me as usual at the gate, wrapped in a fur coat; the moon shone on her sweet lips now blue from the cold of the night. Seeing me, she smiled, but I had other things on my mind. "Good night, Nastya," I said, passing by. She was about to say something in reply, but sighed instead.
I locked the door of my room, lit a candle and flung myself on the bed. Tonight, however, sleep eluded me for longer than usual. The east was already beginning to grow pale when I fell asleep, but evidently the heavens had ordained that I was not to sleep this night. At four o'clock in the morning two fists banged at my window. I sprang up--what was the matter? "Wake up and get dressed!" several voices shouted. I dressed hastily and went out. "Do you know what's happened?" the three officers who had come for me said to me in chorus; they were as white as death.
"What?" "Vulic has been killed." I was stupefied. "Yes, killed!" they went on. "Let's go, quick." "Where to?" "We'll tell you on the way."
We set off. They told me everything that had happened, adding to the story various observations concerning the strange predestination that had saved him from certain death half an hour before he died. Vulic had been walking alone along a dark street, when the drunken Cossack who had slashed up the pig bumped into him, and might perhaps have gone on without paying any attention to him had Vulic not stopped suddenly and said: "Who you looking for, boy?"
"You!" the Cossack answered, striking him with his saber and splitting him from the shoulder nearly to the heart . . . The two Cossacks whom I had seen and who were pursuing the murderer reached the spot, and picked up the wounded man, but he was already breathing his last and mouthed only the words: "He was right!" I alone understood the dark meaning of these words--they referred to me. I had involuntarily predicted the poor man's fate. My instinct had not failed me--I had indeed read on his altered features the stamp of death coming soon.
The murderer had locked himself in a vacant hut at the far end of the settlement, and that's where we went. A large number of women were running in the same direction, wailing as they went. Every now and then a Cossack sprang belatedly out into the street, hurriedly buckling on a dagger, and ran past us. There was a fearful commotion.
At last we arrived on the scene to find a crowd gathered around the hut, whose doors and shutters had been fastened from the inside. Officers and Cossacks were holding a hot argument and the women kept howling and lamenting. Among them I noticed an old woman whose imposing face expressed frantic despair. She was seated on a thick log, her elbows on her knees and her hands supporting her head. She was the murderer's mother. At times her lips moved . . . was it with a prayer or a curse?
In the meantime, some decision had to be made and the perpetrator arrested. But no one was anxious to go in first.
I went up to the window and looked in through a crack in a shutter. The man lay on the floor, holding a pistol in his right hand. A bloodstained saber lay beside him. His face was pale, and his expressive eyes rolled fearfully. At times he shuddered and clutched at his head, as if hazily recollecting the happenings of the previous day. There did not seem to be much resolve in his uneasy glance and I told the major that there was no reason why he shouldn't order the Cossacks to break down the door and rush him, for it would be better to do so now rather than later when the man would've fully recovered his senses.
Just then an old captain of the Cossacks went up to the door and called to the man inside by name. The latter responded.
"You've sinned, brother Yefimych," said the Cossack captain. "So there's nothing you can do but give yourself up!"
"I won't!" replied the Cossack.
"You should fear God's anger! You are not a heathen Chechen, you're an honest Christian. You've gone astray and it can't be helped. You can't escape your fate!"
"I won't give myself up!" the Cossack shouted menacingly, and we could hear the click of the pistol as he cocked it.
"Hey, missus!" the Cossack captain said to the old woman. "You speak to your son--maybe he'll listen to you . . . After all, this sort of thing is only defying God. Look, the gentlemen have been waiting for two hours now."
The old woman looked at him intently and shook her head.
"Vasiliy Petrovich," said the Cossack captain, walking over to the major, "he won't give himself up--I know him. And if we break in the door, he'll kill many of our men. Wouldn't it be better if you ordered him to be shot? There is a wide crack in the shutter."
At that moment, a strange thought flashed through my mind; like Vulic, I thought of putting fate to a test.
"Wait," I said to the major, "I'll take him alive." Telling the Cossack captain to keep him talking and stationing three Cossacks at the entrance with instructions to break in the door and to rush to help me as soon as the signal was given, I walked around the hut and approached the fateful window, my heart pounding.
"Hey there, you donkey!" shouted the Cossack captain. "Are you making fun of us or what? Or maybe you think we won't be able to capture you?" He began hammering at the door with all his strength, while I, pressing my eye to the hole, followed the movements of the Cossack inside, who did not expect an attack from this side. Then I suddenly broke off the shutter and threw myself through the window, head first. The pistol went off next to my ear and the bullet tore off an epaulet. The smoke that filled the room, however, prevented my adversary from finding his saber, which lay beside him. I hugged him in my arms--the Cossacks broke in, and in less than three minutes the criminal was tied up and led off under guard. The people left for home and the officers congratulated me--and indeed they had reason to do so.
After all this, one might think, how could one help becoming a fatalist? But who knows for certain whether he is convinced of anything or not? And how often we mistake a deception of the senses or an error of reason for conviction!
I prefer to doubt everything. Such a disposition does not preclude a resolute character. On the contrary, as far as I am concerned, I always advance more boldly when I don't know what is waiting me for me. After all, nothing worse than death can happen--and death you can't escape!
After returning to the fort, I told Maksim Maksimich everything I had seen and experienced, and wanted to hear his opinion about predestination. At first he didn't understand the word, but I explained it to him as best I could, whereupon he said, wisely shaking his head: "Yes, sir! It's a funny business that! By the way, these Asiatic pistol cocks often miss fire if they are poorly oiled, or if you don't press hard enough with your finger. I must admit I don't like those Circassian rifles either. They are a bit inconvenient for the likes of us--the butt is so small that unless you watch out you can get your nose scorched . . . Their sabers, now, are a different matter--I take my cap off to them!"
Then he added after thinking a little more: "Yes, I'm sorry for that poor man . . . Why the hell did he stop to talk to a drunk at night! I suppose, though, that all that happened to him was already written in that big book when he was born!"
I could get nothing more out of him. In general he doesn't like metaphysical talk.
Assinar:
Postagens (Atom)