segunda-feira, 10 de setembro de 2007

O Início

O destino está mais escrito que parece.
É sobre uma conversa que eu, Don Juan Aux Enfers, Lord of Metsu(encachaçado) e uma senhorita tivemos algum dia desses, me foge a data. Oceano's Bar. Foi produtivo, e resolvi sintetizar algumas idéias.

Esse assunto sobre destino, determinismo, coisas do gênero, surgiu da pequena observação empírica de que a pessoa escolhe sempre a melhor opção que pode em qualquer circunstância em que lhe é posta a escolha. Isto significa que a escolha dependeu apenas do acaso e da capacidade de análise e abstração da pessoa. A escolha não existe no conceito popular da palavra – as outras alternativas já haviam sido descartadas, quando elas vieram naquelas circunstâncias. Pois como a alternativa que seria escolhida seria a melhor, e dentro do mesmo contexto, ela sempre seria a melhor desta maneira. É claro que se deve levar em conta que cada pessoa tem prioridades de escolha diferentes. Mas ninguém escolheria algo pior quando se pode escolher algo melhor, ninguém escolhe se ferrar. A não ser que se ferrar seja o melhor, e novamente estamos no mesmo caminho.

Tomamos, para facilitar, um exemplo do dia-a-dia(o mesmo do qual falamos lá no dia): Suponha que um sujeito vá a um bar. O infeliz deverá voltar para casa dirigindo, portanto corre riscos se beber em excesso. E uma das “escolhas” que ele deve enfrentar no evento seria por exemplo o quê exatamente ele vai ou não beber no bar. Exemplos:


  1. Suco de Uva “Ma+s”


  2. Coca-cola


  3. Cerveja


  4. Cachaça
1. Suponha que ele tenha escolhido beber suco. Vai ver o cara é um natureba. Comparando com as outras alternativas, o suco é a mais saudável. É a melhor escolha considerando apenas “Saúde”. Pode ser que o sujeito não possa tomar nada além disso por doença, dieta, celulite. Então essa nesse caso seria a melhor escolha.
2. Coca-cola. Ele pode não gostar de suco. Se for jovem, natural é que ele não se preocupe com danos causados por refrigerante à saúde, afinal a vida é longa. Ou suco parece muito careta para ele, ou para os amigos na verdade, e há a pressão social. Essa escolha leva em conta aspectos diferentes da outra, como 'sabor', 'socialização', leva menos em conta o aspecto saúde. E nesse caso seria a melhor escolha.
3. Bem, o palhaço tem que dirigir, mas escolhe beber assim mesmo. Às vezes é uma latinha só, ou sei lá. Se está todo mundo bebendo cerveja, ou é simplesmente uma choppada, ficar de fora pode ser ruim. Pressão social novamente, ou quem sabe sabor da bebida.
4. Enfiar o pé na jaca(pode ser com cerveja mesmo). Eita, ele não devia dirigir? Que se dane saúde, responsabilidade e segurança, os quesitos “Diversão”, “Tirar onda”, “Fazer merda”, “Ficabebãoébão” vêm antes na escala de prioridades. Considerando esses quesitos apenas, realmente eles são uma escolha melhor que o suquinho, certo? Ou se o cara é um alcoólatra, ele escolhe alimentar seu vício em detrimento de fazer o que é certo. É o que ele acha ser a melhor escolha nesse caso.

Isso serve para exemplificar de uma maneira relativamente genérica o que eu quero dizer: a formulação da "escolha" não é nada além de processamento das sensações e comparação com dados armazenados na mente no momento da escolha. As sensações são a impressão que geramos da situação, tanto em termos de sentidos quanto de sentimentos.

É como disse o Merovíngio em Matrix – Escolhas? Você já as fez. Você está aqui para entender porquê as fez. 

Todos os seres optam sempre pelo que acham ser o melhor sob as circunstâncias da situação apresentada. Óbvio, ninguém vira e diz “Rá, vou me Ferrar só de sacanagem”. Se te dão a possibilidade de escolher entre uma nota de 100 reais e uma maleta com 10 milhões, sem quaisquer condições influentes, é claro que você vai na maleta.

Para "realizar" as escolhas, cada ser possui um paradigma mental para operar o que eu chamaria de um quadro de prioridades, que é formado pelas suas experiências e influenciado pela genética e pelos sentimentos(ou aquelas substâncias químicas que afetam nosso rendimento, se você preferir).

Existe grande importância da criação do sujeito nisso, é claro. Sob esse aspecto os pais são vetores responsáveis pelas ações que influenciam direta e indiretamente o quadro de prioridades do sujeito. Inúmeras são as situações onde os pais são obrigados a escolher entre punir e dar mais uma chance, “deixar mais um pouco o futebolzinho” como solicitado ou mandar “logo pro banho, porra” etc. Na verdade as primeiras experiências de aprendizado costumam ser desencadeada pelos pais.

Dizer que existe destino soa exagero, mas é inevitável. No fim até o escolhido acabou concordando com isso.

Então que porra é essa, estamos sendo testados? Pra ver se se estamos fazendo bom uso do dom que nos foi dado?

Uma observação é que, sob essa ótica, aparentemente estaríamos sendo guiados pelo meio e não teríamos liberdade. O que pode nos fazer pensar que não existe também a noção de responsabilidade e culpa, pois fato é que costumamos associar a liberdade à responsabilidade pelas nossas escolhas, o fato de poder arcar com elas, coisa e tal.

Isso se soluciona vendo a liberdade como algo mais estático, de caráter mais classificatório do que conectivo (dentre eventos). O grau de liberdade de um agente seria proporcional apenas ao grau de restrição da escolha, em determinado evento. Ter mais ou menos liberdade significa que as escolhas têm menos ou mais restrições apenas, o que garante o caráter natural da culpa e a noção básica de responsabilidade, eu creio, mesmo considerando a inevitabilidade das situações e o fato de que somos a soma de tudo que já nos aconteceu.